27 dezembro 2018

Quando Vier a Primavera

Quando vier a Primavera, 
Se eu já estiver morto, 
As flores florirão da mesma maneira 
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. 
A realidade não precisa de mim. 

Sinto uma alegria enorme 
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma 

Se soubesse que amanhã morria 
E a Primavera era depois de amanhã, 
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. 
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? 
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; 
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse. 
Por isso, se morrer agora, morro contente, 
Porque tudo é real e tudo está certo. 

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. 
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. 
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. 
O que for, quando for, é que será o que é. 

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" 
Heterónimo de Fernando Pessoa 

26 dezembro 2018

Vamos Fernar!!!

Reaprender o espanto

PRECISAMOS DE REENCONTRAR O ESPANTO. “Espanto” deriva do latino expaventare, que descreve a forte impressão originada por uma coisa inesperada e repentina. Se procurarmos sinónimos, encontraremos “assombro”, “admiração”, “surpresa”. É o contacto (consciente, fulgurante, desarmado, rendido) com a vida maior do que nós, a vida em aberto, não predeterminada. No espanto, a nova e surpreendente expressão da vida prende a nossa atenção à maneira de um relâmpago, de um rasgão imprevisível. Não conseguimos encaixá-la no nosso quadro habitual, pois o seu carácter inédito torna inúteis todos os saberes.
            Gosto muito da definição de espanto dada por Adorno: “Espanto é um longo e inocente olhar lançado sobre o objeto.” É, de facto, “um olhar longo”, e isso talvez explique porque consideramos hoje tão pouco o espanto, num tempo que nos programa para olhares breves, relances, observações fugidias e utilitárias, cada vez mais simplificadas. E é um “olhar inocente”, isto é, aberto à revelação do próprio objeto, ao que ele pretende de nós e não ao que imediatamente pretendemos dele. O espanto obriga-nos a uma revisão do que sabemos de nós próprios e do mundo. Obriga-nos a recomeçar como se fosse um nascer. O amor, o conhecimento, a poesia ou a santidade principiam com ele.

José Tolentino Mendonça, “O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas”

25 dezembro 2018

nascimento

Seja o que for, Será bom. É tudo”
Daniel Faria

Boas coisas para todos que se todos melhorarem no seu pequenino mundo o mundo respira melhor: mais leve e aberto, mais claro!

Que a vida vos traga sorrisos, olhares iluminados e muito amor!

23 dezembro 2018

Fernar (pensar) é como o mar, Belo!


Pensar: do latim pensare (suspender, pendurar nos pratos da balança, pesar, ponderar)
Pensar: formar ideias; reflectir; imaginar; julgar; dar alimento a; tratar convenientemente; fazer curativo
Pensa nisso! Bem pensado! Não dês que pensar!
Pensar: o mesmo que fernar
Fernar: do alemão fern (remoto, distante). Verbo usado em filosofia e pragmática para nomear o acto de ter pensamentos não evidentes, amiúde fruto de inteligência, experiência e grande curiosidade. Ao contrário de processos mentais que requerem longos períodos de reflexão, o acto de fernar gera pensamentos lestos, capazes de serem exprimidos de forma simples apesar da sua riqueza ou complexidade.
Para bem pensar e fernar é preciso: primeiro ser animal, respirar, ter ânimo, bom sopro, fazer a cama todas as manhãs, ter bom alimento, boa companhia, repartir o pão, aprender, ler, escrever, ensinar, ganhar bom coração, andar juntos, tratar, amparar, rir com os olhos, as bochechas e os dentes, ir ao mar.
Vamos pensando. Vamos fernando!

ASS: ZM

20 dezembro 2018

Para quem busca respostas que servem a todos: Risonhas!


Perguntei ao google sobre o Futuro e... Cerca de 781 000 000 resultados (0,40 segundos)


Estará tão em aberto quanto é possível (e o possível é imenso) 
e passa pela minha vontade e dos que me rodeiam: é por aqui!


Será, felizmente, desconhecido!


Está por criar, pintar, escrever, musicar, ver/olhar...


Não se vê para o alto nem de longe, nem de fato e gravata, nem binóculos.

Nem está no horizonte...


É um ponto de interrogação ao fundo/no cimo de uma estrada


Não se sabe como vai ser, felizmente, mas será nosso!

19 dezembro 2018

boas coisas foi teu adeus


(Fernando Belo)


Quando penso em Pai penso em muitas coisas, cores, imagens fascinantes,

Tuas leituras melhoravam meus textos,

Tua falta de audição tornava exigente a fala,

Passeaste muito ao meu ritmo,

Altruísmo numa terceira idade activa

Como segurança e guarda costas precioso

TU foste gargalhadas ,

És e deixas Alegria, Pensamentos, Brincadeiras, Filosofia,

Jogos, Descoberta da verdade, Intimidades

E queremos estar à altura do que querias que vivêssemos.

Vives em nós, fizeste-nos mais fortes, preparados para o mundo,

Tu e eu, eu e tu

Vivemos muitas birras,

Muitos conflitos,

Tinhas o dom de me irritar como poucos,

Muito Ensino e cinema,

Refeições partilhadas, gostos parecidos, manias contrárias,

O Há males que vêm por bem teve em ti meu cúmplice primeiro,

Bom companheiro, bom amigo, bom desafio,

Tivemos olhares agradecidos e de desculpa,

É a vida!

Foste um pai do Carago: Obrigado!



Deixou-nos dois livros recentemente:

compreender é um espanto! e  Seja um texto de paixão! e uma leitura: Se esta rua falasse de James Baldwin!!!

06 dezembro 2018

Quem não te há-de amar, menino a ti!?



Zeca Afonso - Menino do Bairro Negro


E se até dá gosto cantar, 

Se toda a terra sorri?

Quem não te há-de amar,

Menino a ti!?




Ele era a tua sombra e o tu o reflexo dele.

Ele era a fidelidade e o companheirismo.

Ele fazia crer que a idade era um mero número. 

Ele fazia-me rir.

Ele é um Senhor!


- Está tudo bem Sr. Fernando?

- Tudo bem é para os novos". 

(Sandro Casanova)

voto de pesar da AR


VOTO DE PESAR
PELA MORTE DE FERNANDO BELO


Faleceu no passado dia 3 Fernando Belo.
A vida e a obra de Fernando Belo têm a marca da heterodoxia e do permanente diálogo exigente e culto entre diferentes saberes.
Nascido em 1933, licenciou-se em Engenharia Civil no Instituto Superior Técnico em 1956. Frequentou depois o seminário e, depois da sua ordenação como padre, foi capelão militar da Base da Ota. O seu compromisso político com a luta contra a ditadura esteve na base da sua transferência para a paróquia da Baixa da Banheira.
Em 1968, licenciou-se em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina e pelo Instituto Católico de Paris. Data de 1974 a publicação, em França, da sua obra “Uma leitura materialista do Evangelho de Marcos: narrativa, prática e ideologia” que abriu corajosamente o campo da exegese bíblica ao relacionamento entre os universos do cristianismo e do marxismo e que foi considerada nessa altura uma estratégia exegética visionária. Isso mesmo foi reconhecido pelo Instituto de Teologia Protestante de Paris, que lhe atribuiu o doutoramento honoris causa em 1977.
Foi professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo-se aí doutorado em 1989 com uma importante tese sobre a linguística de Ferdinand de Saussure, campo que continuaria a trabalhar com brilho em obras como “Epistemologia do Sentido” (1991) ou “Filosofia e Ciências da Linguagem” (1993), tendo a sua reflexão e escrita incidido também sobre a relação entre a Filosofia e a Ciência.
A Assembleia da República exprime o seu sentido pesar pelo falecimento de Fernando Belo e apresenta as suas sentidas condolências aos seus familiares.

As bem aventuranças de São Mateus

Mateus 5:3–16

3  Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
4  Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
5  Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
6  Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
7  Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
8  Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus;
9  Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
10  Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
11  Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, falarem todo mal contra vós por minha causa.
12  Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
13  Vós sois o sal da terra; e se o sal se tornar insípido, com que se há de salgar? para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.
14  Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte,
15  Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa.
16  Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.

Homem sábio, homem bom (por Rui Tavares)

Quando penso em Fernando Belo, lembro-me da tríade que compunha a crença dos zoroastras. Essa tríade era simplesmente: bons pensamentos - bons gestos - boas palavras. Como se nada mais fosse preciso.

Conheci Fernando Belo pela primeira vez num debate organizado pela minha prima Irina numa escola secundária de Olivais/Moscavide. Creio que o ano era 1993. O tema era o Maio de 68, nos seus 25 anos. Na mesa estava ele, que viveu em Paris durante o maio de 68, e era à altura padre católico; o historiador e escritor Paulo Varela Gomes; e eu (só sobrevivo eu; é a primeira vez que me acontece).

Lembro-me que os estudantes queriam falar do passado. Paulo Varela Gomes queria falar do presente. E Fernando Belo falou do futuro. De inteligência artificial, do futuro do trabalho, de ecologia e de genética e de muitas outras coisas — temas que hoje estão na moda; em 1993 ainda não era bem assim.
Foi a primeira vez, se não erro, que estive com o filósofo (que fora padre e antes disso fora engenheiro e que pelo meio fora diretor de jornal e creio que até autor de programas televisivos documentais) Fernando Belo. Mas eu já conhecia Fernando Belo antes porque para mim ele não era filósofo nem ex-padre nem nada disso mas simplesmente o pai do meu grande amigo da faculdade André Belo, com quem depois fui para França fazer o doutoramento. E por isso ele se tornou para nós rapidamente também o pai da Clara e do Zé Maria e o companheiro da Teresa Joaquim, também autora e professora. E por isso ele passou a ser, gradualmente, o homem de barbas grandes e olhos curiosos que nos recebia em casa dele e ouvia com abertura e atenção o que tivéssemos para lhe dizer de interessante, independentemente de idade ou trajetória ou origem.
(Um dia, antes de se reformar, estava ele a avaliar testes. “Uma chatice”, dizia. Porquê, os alunos eram ignorantes? “Não, não, é porque quando dizem coisas interessantes fico depois imenso tempo a pensar naquilo e não cumpro com as minhas outras coisas”).
Estou convencido de que a obra de Fernando Belo vai ser muito lida e inspirar muita gente no futuro. Como argumento apresento os seus dois últimos livros, cujos índices ele me mandou por e-mail antes da publicação (saíram recentemente pela Colibri). Um deles é um livro sobre “a unificação dos saberes”, um tema de toda a sua vida, a que costumava chamar “filosofia com ciências”. O outro tem um título belíssimo e um subtítulo mais certeiro ainda: Seja um texto de paixão. Onde se mostra que sem a Filosofia não haveria Europa.
O leitor pode achar que este livro me interessa porque nele se fala de Europa. E não errará. Só que mais importante ainda é o que está por detrás: a filosofia. E mais importante ainda é o que está por detrás da filosofia: o amor, a amizade. Demoramos muitos anos a achar que a parte mais importante da palavra filosofia é a segunda metade, sofia, o conhecimento ou sabedoria, quando o que é decisivo é a primeira parte da palavra, philos, ser amigo ou amante da sabedoria. Com sofia apenas pode ser-se apenas um sofista, ou um sabichão. Para se ter o resto, que é o mais precioso, é preciso ter o ímpeto de amor ou amizade pelo conhecimento sem o qual este não vale a pena.
E o que é esse resto, quando se tem tudo? E nós temos, de certa forma, tudo (está é mal distribuído). Temos um universo de dados potencialmente infinito em todas as direções. Dos dados, podemos extrair informação. Mas a informação não chega. Da informação, podemos extrair conhecimento. Mas o conhecimento não chega. E do conhecimento, ou melhor, do amor ao conhecimento, podemos extrair sabedoria. Mas mesmo a sabedoria não chega se não soubermos ser bons.
Isto para os filósofos da Antiguidade era uma banalidade, porque a filosofia era uma forma de nos ajudar a viver (e preparar a morrer). Para os filósofos da Modernidade é possível que as camadas adicionais de complexidade nos tenham feito perder o fio à meada. O que é necessário agora é — para filósofos como, sobretudo, para não-filósofos — recuperar o valor dessa progressão até à sabedoria e à bondade que era então uma banalidade e que durante séculos se acreditou que poderia levar até à felicidade e à liberdade nesta vida (e não apenas após a morte e o fim do mundo).
Claro, nem todos os filósofos, sejam homens ou mulheres, são bons. E nem todas, sejam mulheres ou homens, são sábias. Mas a necessidade de ser ambas as coisas não pode ser menorizada nem desprezada ao abrigo de um qualquer snobismo ou trollismo contemporâneo.
Quando penso em Fernando Belo, lembro-me da tríade que compunha a crença dos zoroastras (antes dos gregos havia os persas; e o zoroastrianismo em que eles acreditavam já era uma crença velha quando o cristianismo era jovem e até mesmo antes, quando Aristóteles e Platão estavam vivos). Essa tríade era simplesmente: bons pensamentos — bons gestos — boas palavras. Como se nada mais fosse preciso. Se calhar não é.
Estão sempre muitas coisas a acontecer no mundo. Mas se não pararmos para lembrar as pessoas que nos ajudam a fazer sentido delas, limitar-nos-emos a viver aquela vida inconsiderada que segundo os primeiros filósofos não merecia a pena ser vivida. Além disso, Fernando Belo era um leitor atento desta crónica, e foram dezenas as vezes que escreveu ao rapazote que era amigo do filho dele para concordar ou discordar. Hoje é a primeira vez que sei que não o vai fazer. Não sei se concordaria ou não. Mas sei como terminaria a mensagem: “boas coisas!”. E é assim que vou terminar, para ele e para nós: boas coisas.

leituras de um homem bom que fica!!!


Comentário da Amiga Maria Vitória Vaz Pato: 

O Luis Miguel Cintra com quem tive honra de trabalhar numa peça para não actores no teatro da Cornucópia, tornado-nos amigos nessa altura  falamos por acaso de um amigo comum o Fernando Belo  a quem não conseguira convencer vir ver a nossa peça. então oLuis Miguel contou como o FB jovem padre se via com os adolescentes provocadores nas aulas de moral no Liceu . Mas que ele guardava dele grande amizade e que gostaria de voltar  a estar com ele. Organizei um almoço e o teu pai veio a minha casa e encontrara-se  julgo que  em 2018e ficaram os dois muito continentes e julgo o teu enviou-lhe textos depois desse encontro

"De desassombro de amor a alegria  a generosidade a formar um ser humano . Entre mim e ele houve uma cumplicidade que assentou na amizade pelo meu pai (Luis Lindley Cintra) ficou no cemitério minha espera  quando todos sairam no fim do funeral.
 
 Que pena não vou ir a Lisboa estou no Porto e seria muito duro. desculpa não estar mas mando um abraço muito triste”


De Luís Miguel Cintra lido por Maria Vitória Vaz Pato

Sobre a curiosidade, a alegria e a sorte


A curiosidade no pai é cativante e contagiante: constrói como pessoa e como mulher. Leva por caminhos que nunca pensei seguir e faz crescer cada vez mais. As conversas que tínhamos levavam a levantar questões e ajudaram a seguir o que segui. Pelas questões que cresceram. 

Quando ele dizia após uma conversa, que tinha que ler um determinado livro, por vezes, ficava zangada: por já não ter que procurar e descobrir  o livro. De certa forma cortava a pesquisa, principalmente quando eram sobre Biologia. Mas depois percebi que tinha a sorte enorme de ter acesso a tanta coisa, que se calhar de outra forma não descobria. E passei a aproveitar disso e até descobri outros livros. 

Também percebi ao ler os mesmos livros que ele que descobria coisas de que ele não tinha falado, que não tinha descoberto ou dado atenção.

A alegria é outra coisa contagiante, que se alia também à sorte que teve na vida - à custa de muito trabalho é certo - mas também à custa dos riscos que correu e do caminho que fez. Um caminho de que se orgulha, pois fez dele o que é hoje, tendo sido tão diversificado e tão rico que chega a ser comovente. 

Comove-me ser tua filha, pai!


(escrito pela mana Clara para os 85 anos do pai, feitos em dia 30-10.2018)


03 dezembro 2018

ensinaste-nos que isto, da vida, é divertido...


Segunda feira, 03 de Dezembro de 2018
Olha o sol que vai nascendo, anda ver o mar… e se
até dá gosto cantar, se toda a terra sorri… (de
José Afonso)
Cantavas e eu adormecia, sempre foste muito
afinado, é das primeiras imagens que tenho minhas,
enCantador!
A imagem que guardamos tua é clara, alegre, dos
olhos a sorrir, pensativa, é uma imagem forte e
boa que ajuda a viver melhor.
Falavas muito em morte, na tua morte mas nunca nos
habituámos a ela, até gozávamos contigo:
‘pois, pois, já sabemos, vais morrer não é!?’
E, agora, morreste mesmo mas vais voltar em
memórias, leve, magro, a andar devagar e a
responder quando te perguntam: ‘tudo bem? tudo bem
é para gente nova... mas também não está tudo mal...’
Não foi falta de aviso e tiveste uma vida admirável.
Se estamos tristes porque vamos ter saudades tuas,
temos quase o dever de mostrar alegria por quem
foste.
A morte faz parte da vida preparem-se para viver
bem a minha.’
Andaste por tantos mundos muito diferentes,
escreveu-se isto para o próximo natal, para tua
voz ler e melhorar o texto naturalmente:
Fernando (Nan) – o Pensador Divertido
Ora, falemos de mim, Fernando de meu nome, nasci
em 1933, sou acanhado, envergonhado e com pouco
jeito para falar ao público.
Tirei uma licenciatura no Técnico em Engenharia
Civil, dizem as más línguas que foi uma bênção não
ter exercido pela falta de jeito prático que
todos me reconhecem mas são só calúnias,
sou um jeitoso!!!
Fui padre, fui pároco de duas paróquias, Ota e
Baixa da Banheira.
Fiz uma leitura materialista do Evangelho de São
Marcos, o que me deu este ar mais solene.
Deixei crescer o cabelo, fui revolucionário, e fui
perceber como era isto de ser gente lá fora, na
Bélgica e em Paris; casei-me e tornei-me pai duas
vezes: da Clara e do André que me tornou avô de duas

lindas: o malandro!
Lá para França e com uma cultura mediterrânica.
Voltei após o 25 de Abril para ser professor
universitário em Filosofia da Linguagem na
faculdade de letras.
Gosto muito de pensar, ler e escrever; ter ideias;
sou um intelectual.
Divorciei-me e voltei a casar, tenho um trunfo,
alguém que me ensina e ajuda a viver melhor: a
Teresa, a minha vida era tão pior sem ela…
tivemos um filho.
Formei-me já na terceira idade como segurança
vigilante ao meu terceiro filho, o mais novo, o Zé
Maria, num trabalho para reformados.
Uma palavra última para o
Optimismo que nos ensinaste e vive em nós agora e
para sempre.
Boas coisas ensinaste-nos nas despedidas e Boas
coisas soltamos agora na tua despedida e até já

01 dezembro 2018

dia 02, Domingo 14h30/15h em frente à AR!?


Gostava de propor-vos aparecermos todos para dar força ao Eduardo Jorge!? 

Para perceberem a importância do MAVI (Movimento de Apoio à Vida Independente) podem ver hoje uma entrevista com alguém com uma alma que transborda pelas 20h no Jornal do canal um e todos temos alguém à nossa volta em dependência a precisar de um auxiliar ou um cuidador a precisar de emprego...  

E passarem mensagem para sermos muitos!

29 novembro 2018

Por todos nós o Eduardo Jorge


Vai apresentar hoje esta luta no jornal da noite da rtp 1... a ver!

Já começou a dar o que escrever!!! (link)

Para os mais inteligentes, que preferem conversar,  Boa sorte (link)


Para os restantes, que não se sentem à altura do desafio, a leitura:


O Eduardo Jorge é a alma do Movimento de Apoio à Vida 

Independente em Portugal.

O nosso estado gasta dinheiro para pagar instituições onde 

deposita utentes.

Quando podia pagar a pessoas para prestar cuidados e manter 

as pessoas cuidadas em suas casas.

Porque essa mudança É IMPORTANTE peço para apoiarem o Eduardo.

Ele vai passar frio e calor a dormir ao relento entre 1 a 4 de Dezembro (de sábado a terça feira) em frente à Assembleia da República.

Apoiar como?

Indo até lá fazer barulho,

dar ternura,

uma palavra,

um olhar,

um sorriso,

que dê tua presença e solidariedade

É uma luta de todos, não vamos deixá-lo sozinho

Ele espera cuidados:

- do presidente Marcelo Rebelo de Sousa;

- do primeiro ministro António Costa;

- do ministro Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, 

Vieira da Silva: haja esperança!!!


BEM HAJAS Eduardo Jorge por quem és por todos nós!

28 novembro 2018

PORQUE VIVER NÃO É SÓ RESPIRAR...



Mensagem Salvador Mendes de Almeida - Vida Independente


O Eduardo Jorge (link: Puro desespero, senhor primeiro ministro!) e foto (camisola às riscas) parece ser um exemplo do que a aniversariante dizia ontem:

'ninguém é uma pessoa forte por si só, A VIDA tornas-nos fortes!!!'



SEXTA FEIRA sairá no telejornal da RTP!!!

“Hay hombres que luchan un dia y son buenos. 

Hay otros que luchan un año y son mejores. 

Hay quienes luchan muchos años y son muy buenos. 

Pero hay los que luchan toda la vida: esos son los imprescindibles.”


― Bertolt Brecht

24 novembro 2018

não fazem baboseiras...



Jvst Fly⚡️- Não Te Digo

É bom falarem de nós por coisas que fizemos bem: têm pinta!

Não sei como ponho, nem porque ponho mas estes miúdos têm muito que se lhe diga... 

Tenros maduros com vontade de voar; dou-lhes projecção à minha baixa altura!

23 novembro 2018

O mundo está podre...



Uma Guerra Pessoal: Marie Colvin

Esta mulher existiu e esta realidade, talvez com outro olhar, é a de muitas Pessoas todos os dias:

- que coragem!!!

Não era preciso isto para mostrar que a nossa vida é tão rara!

Que mundo filha da puta mas se fosse fácil não tinha piada nenhuma ;)


22 novembro 2018

21 novembro 2018

Fala do filme Sr. Jorge

'às vezes chove, outras vezes faz sol: altamente né!?'


A mudança é importante

Mas a fala é dita sem darmos por ela,
A um miúdo
Por alguém, como todos nós,
À busca de como viver melhor,
Tom paternalista!

Nunca o mar é igual,
A luz muda consoante as horas.
As marés enchem ou vazam,
A areia clareia ou escurece,

Há tanta coisa para escrever,
Para dizer, frio e calor,
E há um ganho nessa imprevisibilidade do futuro,
Não sabemos como nem onde é o amanhã,
Nem com quem, felizmente,

Sabes bem como é viver
com e sem luz,
mais cansada e descansada.
É importante podermos mudar e melhorar,
Voltar à luz e aos amigos,
Sorrir sempre!

porque viver não é só respirar!




DE 1 a 4 de DEZEMBRO de 2018
Frente à Assembleia da República
NUMA CAMA E FECHADO NUMA GAIOLA, AOS CUIDADOS DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, PRIMEIRO-MINISTRO E MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE SOCIAL
 - POR UMA VIDA INDEPENDENTE -

Eu, Eduardo Jorge, tetraplégico dependente de terceiros, com 90% de incapacidade, estarei nos dias 1, 2, 3 e 4 de dezembro de 2018, em frente à Assembleia da República, Lisboa, deitado numa cama, e fechado dentro de uma gaiola, que será aberta somente para permitir a entrada dos governantes convidados, numa ação de sensibilização em favor da Vida Independente.
Proponho-me a ser cuidado durante 4 dias pelo Sr. Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o Sr. Primeiro-ministro, António Costa, e ainda o Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva.
Qualquer ajuda vinda de outra pessoa será recusada.
Em defesa de uma Vida Independente
Com este meu desafio espero que consigam entender a importância da Vida Independente nas nossas vidas. Verificarão o quanto somos inúteis sem apoio de um assistente pessoal e, desse modo, tentar sensibilizá-los para a urgência do projeto se tornar uma realidade.
Esta prometida Vida Independente, criada pelo Decreto-lei nº 129/2017 de 9 de outubro, continua a não sair do papel, pelo que eu, e muitas outras pessoas com deficiência continuamos presos nas nossas casas e em lares de idosos contra a nossa vontade.
Por esta demora em iniciar o projeto-piloto Modelo de Apoio à Vida Independente, encontramo-nos profundamente angustiados pela prisão forçada em que nos encontramos, facto que me leva a ser obrigado a tomar esta medida, num derradeiro esforço de mostrar aos nossos governantes a importância da Vida Independente, para cidadãos dependentes como nós.
Processo paralisado, porquê?
Esta ação de protesto já esteve para ser realizada por mim em Maio de 2017. No entanto, a iniciativa foi anulada porque foram realizadas pelo Governo algumas das alterações solicitadas no Modelo de Apoio à Vida Independente, apresentado na altura, e tudo parecia estar no bom caminho para que o projeto se iniciasse em breve. No entanto, passados 18 meses, nada aconteceu.
Como ativista dos direitos das pessoas com deficiência, e responsável pelo blog tetraplegicos.blogspot.com, e Movimento nas redes sociais “Nós Tetraplégicos” já realizei e participei em várias ações de sensibilização e protesto, entre as quais: vigílias frente à Assembleia da República; greve de fome em 2013; e uma viagem de 180 kms, em cadeira de rodas, durante 3 dias, em 2014. Apesar de todas estas iniciativas, encontro-me neste momento institucionalizado num lar de idosos por falta de um projeto de Vida Independente em Portugal.
PLANO DE CUIDADOS DIRIGIDO AOS GOVERNANTE DESAFIADOS
Exmos Senhores, em maio do ano passado fiz-lhes chegar um desafio, que iniciava assim: “O conceito de Vida Independente foi desconhecido para mim durante anos. A partir do momento que o conheci, prometi a mim mesmo que tudo faria para conseguir a sua implementação em Portugal, mas nos moldes em que me foi dado a conhecer, tal como existe noutros países, e não conforme consta na recente proposta apresentada pelo Governo.”
Desafio consistia em me entregar aos vossos cuidados, numa cama, em frente à Assembleia da República, durante 3 dias.
Anulei a iniciativa porque foram realizadas algumas das alterações solicitadas no modelo de Vida Independente e tudo parecia estar no bom caminho para que o projeto iniciasse em breve.
Mas 18 meses depois a prometida Vida Independente, criada pelo Decreto-lei nº 129/2017 de 9 de Outubro, continua a não sair do papel, e eu, e muitas outras pessoas com deficiência continuamos presos em lares de idosos, e nas nossas casas contra a nossa vontade.
Em Maio de 2016 a Srª Secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, anunciava que até final desse ano, seriam abertas as candidaturas ao financiamento dos Centros de Apoio à Vida Independente (CAVI), estamos em Novembro de 2018, e continuamos a aguardar o inicio do projeto.
Além disso, quem como eu se encontre institucionalizado não poderá beneficiar deste modelo de apoio. Quanto a nós deveria existir um período de transição que permitisse a desconstitucionalização em pleno, mas mais uma vez a nossa reivindicação foi ignorada. Assim como foi ignorada a exigência do aumento de financiamento por CAVI, pois os valores propostos não permitem disponibilizar as horas necessárias de apoio a quem se encontra mais dependente. Todos sabemos que 2 horas e 30 minutos de apoio diário, não é vida independente. Com este número de horas diárias de assistência, ninguém dependente pode autonomizar-se e viver na sua casa.
Na altura referia que pouco valeu a greve de fome que fui obrigado a iniciar em 2013 e a viagem de 180 kms, em cadeira de rodas, durante 3 dias, em 2014 pelo direito à Vida Independente. Também afirmava que a realidade da vida das pessoas com deficiência, dependentes de outros, como eu, é desconhecida da generalidade das pessoas, assim como as nossas necessidades são normalmente esquecidas por quem tem o poder de legislar e decidir sobre as nossas vidas.
Também desabafava que até para poder reivindicar o direito a viver como quero, onde quero, e com quem quero, preciso de assistência pessoal.
Na altura suspendi a ação de protesto, mas como pouco ou nada foi feito até ao momento para efetivar a Assistência Pessoal, resolvi levar a ação avante, desta vez estarei dependente dos cuidados de V. Exas durante os dias: 1, 2, 3 e 4 de dezembro de 2018.
Dia 3 de Dezembro é comemorado o dia internacional da pessoa com deficiência, dia em que geralmente V. Exas se desdobram em ações de comemoração por todo o país. No entanto, nós, pessoas com deficiência, pouco temos para comemorar pois os discursos não combinam com a realidade. No meu caso, vou comemorar da maneira mais real, mostrando como é estar dependente de terceiros, como é mesmo ter uma deficiência. Mesmo estando ciente que será um dia de sofrimento.
Ao colocar-me aos cuidados de V. Exas, ficarão a conhecer as reais necessidades de uma pessoa com deficiência, dependente de terceiros. Terão a oportunidade de verificar através do meu exemplo que não são poucas as necessidades, que terão de assegurar, como a minha higiene, alimentação, posicionamento na cama, transferência da cama para a cadeira, etc. Caso não aceitem o meu pedido, ficarei abandonado, pois não permitirei que outros realizem tais tarefas.
Com este meu desafio, que encaro como uma derradeira forma de sensibilização, vão conseguir entender a importância da Vida Independente nas nossas vidas. Verificarão o quanto somos inúteis sem apoio de um assistente pessoal, e desse modo tentar sensibilizá-los para a urgência de o projeto se tornar uma realidade.
Caso recusem, não aceitarei assistência de outras pessoas. Ficarei entregue a mim mesmo como acontece tantas vezes na minha vida, tal como muitos outros, nas mesmas ou mesmo piores circunstâncias que eu. Não poderei alimentar-me, sair, ou virar-me na cama, ou cuidar da minha higiene, entre outras necessidades.
Note-se que sou um cidadão com plenas capacidades mentai. Tenho o direito de mostrar a minha indignação, e fazer esta escolha.
PLANO DE CUIDADOS DETALHADO
SÁBADO DIA 01 (a cargo do Srº Presidente da República):
Início da ação: 14h00 (deitar-me, o que implica transferir-me da cadeira de rodas para a cama, tirar-me a roupa e posicionar-me na cama em decúbito lateral esquerdo (deixar-me sobre o lado esquerdo do corpo);
18h00 voltar a posicionar-me na cama, desta vez virar-me, e deixar-me sobre o meu lado direito, lavar-me as mãos, e servir-me o jantar que será composto por uma sandes de queijo;
23h00 realizar-me a higiene íntima e posicionar-me em decúbito ventral (de barriga para baixo) e despejar o saco coletor de urina;
03h00 virar-me mais uma vez, desta vez deixar-me virado para o meu lado esquerdo;
07h00 (fim do apoio *) posicionar-me em decúbito dorsal, ou seja deixar-me na posição de costas.
*Como não me assistiu durante a manhã, gostaria de ter o seu apoio também na manhã do dia 04, último dia.
DOMINGO DIA 02 (será o dia de depender do Srº Primeiro Ministro):
09h30 como um banho está fora de questão, preciso que me apoie na higiene matinal que consiste em lavar-me o rosto, tronco, zonas íntimas e desinfetar o cistocateter que serve de dreno da urina da bexiga, e substituir proteção do orifício que leva a sonda até á bexiga, mudar de roupa, servir-me o pequeno-almoço que será um pacotinho de leite simples, e três bolachas de água e sal barradas com marmelada, despejar o saco coletor de urina e deixar-me posicionado sobre o meu lado direito do corpo;
13h00 lavar-me as mãos, servir-me o almoço que será uma sandes de queijo, depois mudar-me de posição, desta vez deixar-me de costas;
17h00 virar-me para o meu lado esquerdo do corpo e servir-me uma banana como lanche;
21h00 realizar-me higiene geral, virar-me para o lado direito, servir-me o jantar que será uma sandes de queijo;
24h00 virar-me de barriga para baixo, e despejar o saco coletor de urina;
04h00 (última tarefa do dia) virar-me para o lado esquerdo do corpo;
SEGUNDA FEIRA DIA 03 (será a vez do Srº Ministro Vieira da Silva):
08h00 virar-me de costas, realizar-me a higiene matinal que consiste em lavar-me o rosto, tronco, zonas íntimas e desinfetar o cistocateter que serve de dreno da urina e substituir proteção do orifício que leva a sonda até á bexiga, mudar a roupa da cama e do corpo, e servir-me o pequeno-almoço que será um pacotinho de leite e três bolachas de água e sal barradas com marmelada, e despejar o saco coletor de urina;
12h00 lavar-me as mãos, servir-me o almoço que será uma sandes de queijo, mudar-me de posição, desta vez virar-me para o lado direito do corpo;
16h00 virar-me para o lado esquerdo, servir-me uma banana como lanche e despejar o saco coletor de urina;
20h00 virar-me de costas, fazer-me higiene, servir-me o jantar que será uma sandes de queijo;
24h00 realizar-me a higiene íntima e posicionar-me de barriga para baixo;
04h00 (último apoio do dia) virar-me para o lado direito e despejar-me a urina.
TERÇA FEIRA DIA 04 (caso aceite, e por só estar a seu cargo durante a manhã do dia 01, a última manhã ficará também por conta do Srº Presidente da República):
09h00 na impossibilidade de tomar banho, realizar-me a higiene matinal que consiste em lavar-me a cara, tronco, zonas íntimas e desinfetar o cistocateter que serve de dreno da urina, e substituir proteção do orifício que leva a sonda até á bexiga, vestir-me, servir-me o pequeno-almoço que será um pacotinho de leite e três bolachas de água e sal barradas com marmelada, despejar o saco coletor de urina e transferir-me para a cadeira de rodas, dando por encerrada a ação.
Mais uma vez refiro que caso V. Exas se recusem a aceitar o proposto, ficarei totalmente sozinho durante o período assinalado.
Gostaria de salientar que não se trata de um ultimato ou chantagem, aceitarei a recusa com naturalidade, pois o que me move é a causa e esta ação é somente isso, mais uma ação.
Neste documentário do jornal Público, podem conhecer melhor o meu dia-a-dia, as razões da minha luta constante, e o que realmente é a Vida Independente que tanto almejamos: http://www.publico.pt/multimedia/video/o-que-e-isso-de-vida-independente-20151013-170549
Nota: todos os alimentos serão adquiridos por mim e colocados à vossa disposição, assim como será da minha responsabilidade todo o material necessário para a realização das atividades.
Embora assistente pessoal, não se possa confundir com cuidador informal, deixo a minha solidariedade para os mais de 800 mil cuidadores informais deste pais, que são obrigados a abdicar das suas vidas, para cuidar dos seus familiares, e travam também uma enorme e justa batalha pelo reconhecimento do seu trabalho, e criação do estatuto do cuidador informal. Nesta reportagem do DN, um pequeno exemplo das suas dificuldades:

Nesta reportagem do DN, um pequeno exemplo das suas dificuldades:

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