BrinCadeiras
"Eu quero acompanhar o meu cantar vagabundo de todos aqueles que velam pela alegria no mundo" (caetano veloso)
20 novembro 2024
- A beleza de ser mulher -
07 novembro 2024
03 de Dezembro: VAMOS FAZER BARULHO!?
Porque a Trumpa precisa de contrabalanço e equilíbrio: UNAMO-NOS!
05 novembro 2024
a Trumpa versus a Kamala
Nos Estados Unidos parecia-me
evidente: Kamala Harris versus George Trump; qualquer um/a venceria frente
aquele ser, aquele monstro feio e gordo, aquela coisa deplorante.
Mas os Estados Unidos são
estranhos, muita gente, muito pensamento confuso.
O mal contra o bem?
É mulher, afrodescendente, licenciada
em direito e tem uma escola que vem de ter sido ex vice-presidente do ex-Presidente
Georges Biden e é inteligente.
O Trump é um machista com ar de porco e é formado em economia, tem como lema 'Tornar a América grande novamente' e é conhecido por seus envolvimentos menos lícitos com pessoas subversivas como o Putin… e afins! Tem mau perder.
Já
me pareceu melhor, talvez as mulheres tragam inteligência à questão e as piadas
racistas que ele imprimiu na campanha tenham um humor negro.
Mas
a América é tão grande e tem tanta gente que não se saberá hoje. Terá influência
sobre todos nós a eleição de hoje.
03 novembro 2024
Acessibilidade para além das rampas
27 outubro 2024
22 outubro 2024
terapia da fala, ler excertos... devagarinho!!!
O meu nome é Bhoye Diallo. Nasci na Guiné Conacri em 2001. Vivi ali, desde que nasci, com os meus pais e os meus dois irmãos mais novos. Durante a minha infância, tanto o meu pai como a minha mãe trabalhavam e eu e os meus irmãos íamos à escola. Tudo corria bem. Não tenho muitas recordações concretas de momentos passados nesta fase da vida. Lembro-me apenas que, por vezes, o nosso pai nos levava perto do mar, que era calmo e os meninos podiam brincar. Ou dos momentos em que ficávamos com ele a ver televisão e nos explicava o que estávamos a ver. Guardo na memória esta serenidade que ele nos fazia sentir e a curiosidade que aguçava em nós com as suas explicações. Os meus pais, mas sobretudo o meu pai, sempre acreditaram em mim e sempre disseram que eu era uma pessoa capaz de realizar os meus sonhos. Fizeram-me acreditar em mim próprio e desenvolver confiança nas minhas capacidades. Mas tudo mudou quando fiquei sem o meu pai, tinha eu 13 anos. Tinha morrido uma das pessoas que eu mais admirava na minha vida. Uma pessoa muito querida, lutadora e inspiradora para mim. Ele sempre quis que eu me tornasse uma grande pessoa que gostasse de estudar e de aprender. Dizia-me que a educação seria o meu maior trunfo para concretizar o seu sonho de tornar a Guiné Conacri um país melhor. E prometi a mim próprio, e a ele, que me ia esforçar para o concretizar. Esta tragédia marcou-me profundamente. Quando perdi o meu pai, senti-me completamente desesperado. E sempre, mas especialmente nesta fase, a minha mãe foi uma pessoa fundamental para me fazer sentir mais seguro e confiante. Ela esteve sempre comigo e sempre teve as palavras certas para as dizer quando eu precisava de as ouvir: “Não te preocupes, meu filho! Estou aqui, contigo, para o que for preciso! Vamos estar sempre juntos!” Naquela altura, na Guiné Conacri vivia-se um clima de elevada instabilidade. As manifestações populares contra o regime vigente eram diárias e a polícia resolvia a situação atirando a matar sobre as pessoas com armas de guerra. Lembro-me que um dia, a caminho da escola, por volta das 10 horas da manhã, comecei a ouvir as pessoas a gritar: “Vão todos para casa! Polícia! Polícia!” Comecei a correr, cheio de medo, a tentar escolher os caminhos certos para não ver video me cruzar com a polícia. Eu sabia que eles matavam, sem perguntar nada.... Só cheguei a casa às 16h00. Durante 6 horas, andei a fugir enquanto a minha mãe rezava, preocupada, e sem saber se eu ia chegar a casa são e salvo. Tendo em conta o contexto de guerra, a minha mãe não conseguia arranjar emprego e nós não podíamos ir à escola. Então, em 2016, a minha mãe decidiu abandonar o nosso país e ir para a Guiné Bissau, onde supostamente tudo era mais calmo e havia mais oportunidades, para que pudéssemos estudar. Mas a Guiné Bissau também não trouxe à nossa família a estabilidade que procurávamos. Naquela vila tão pequena, a minha mãe não tinha trabalho que permitisse sustentar a família e a minha avó, que era um suporte importante, ficou doente. Em agosto de 2017, a minha mãe sentou-se comigo e disse-me que teríamos de voltar para a Guiné Conacri. Senti-me a viver um pesadelo e percebi que todo o meu futuro estava em risco. Era evidente que o meu sonho, e que o sonho do meu pai, ficava ameaçado se eu voltasse à Guiné Conacri. Nessa noite, não conseguia parar de pensar nas palavras da minha mãe e disse para mim mesmo: “Eu tenho duas opções: posso continuar deitado na cama a sonhar, ou posso levantar-me e lutar para realizar o meu sonho”. E eu sabia que o meu sonho - de ser Presidente da Guiné Conacri para melhorar a situação do país onde nasci – merecia ser levado a sério. Nessa noite, tomei uma decisão muito difícil: de sair do meu país, abandonando a minha família, sem dizer nada a ninguém. Tudo para conquistar a oportunidade de ter e de dar uma vida melhor a todos e para poder continuar a estudar para realizar o meu sonho. O plano era parar no primeiro país que me permitisse isso. Fui de autocarro para o Senegal. Lá permaneci três meses, mas nada foi como eu esperava. Só me confrontei com mais dificuldades. Então continuei em direção à Mauritânia. Aqui, só tinha a oportunidade de estudar na escola corânica – conhecimentos que eu já detinha – e isso não me ajudava a realizar o meu projeto. Decidi continuar e atravessar o deserto do Sahara. As viagens para migrantes atravessarem o deserto ocorrem em condições muito duras e difíceis. Andei pelo deserto numa carrinha de caixa aberta, com mais de vinte pessoas sentadas umas em cima das outras. O espaço era muito pouco e a posição em que estávamos sentados era muito desconfortável, cansativa e dolorosa. Todos comentavam histórias que tinham ouvido sobre aquelas travessias e todos sabíamos que, que se alguém caísse da camioneta, o motorista não pararia e ficaríamos entregues a nós mesmos, à fome, à sede e ao passar do tempo. Em cada viagem, cada passageiro tinha direito a levar dez litros de água, o que é manifestamente pouco para uma viagem que pode durar entre três dias e um mês inteiro, sob o sol quente. No meio de todas estas adversidades, tínhamos que evitar o encontro com os Tuareg que, sem respeitar grandes regras, eram vistos como perigosos ladrões do deserto. O sentimento predominante era o medo. A cada segundo me confrontava com a morte. Quilómetro a quilómetro, ao longo do caminho, se olhássemos conseguíamos ver esqueletos ou ossos isolados de pessoas que já tinham tentado a fazer aquela travessia e não tinham conseguido. Ainda hoje, quando me lembro disso, sinto-me extremamente pequenino. Apesar do perigo, depois de atravessar a Guiné-Bissau, o Senegal, a Mauritânia e o deserto do Sahara, entrei em Marrocos. Eram diferentes e, no entanto, as dificuldades mantinham-se. Os árabes com os quais me cruzei tiveram inúmeras atitudes racistas para comigo. A cada dia em que estive neste país, as crianças atiravam-me pedras e insultavam-me, só por causa da minha cor da pele. Faziam isso com todas as pessoas que tinham a pele negra. Lembro-me de um dia em que fui a um restaurante em Tânger, Boukhalef. Estavam quatro jovens sentados a comer e eu sentei-me ao lado deles. Todos se levantaram e saíram do restaurante porque não queriam estar ao meu lado. Um deles até cuspiu na minha cara e as outras pessoas não disseram nada em minha defesa. Na verdade, eu estava sozinho e também não protestei, mas aquele comportamento magoou-me muito. E isto não acontecia só nos restaurantes. Mesmo na mesquita, que devia ser um local de manifestação de fé e de celebração da igualdade, as pessoas trocavam de lugar quando eu entrava para rezar. Eu sempre fui um muçulmano praticante, mas nesta altura questionei a minha religiosidade. Houve alturas em que nem sequer tinha vontade de ir à mesquita só para não me confrontar com aqueles comportamentos. No entanto, depois de refletir, percebi que estava ali para orar a Deus não por eles, por isso não desisti.
Com a Polícia marroquina, as coisas também não eram fáceis. Os refugiados eram humilhados constantemente. Com regularidade destruíam o nosso acampamento, levavam as nossas provisões, queimavam todos os nossos pertences. Mal eles chegavam, nós tínhamos que fugir pois se nos apanhassem, tiravam-nos tudo (o telemóvel, o dinheiro...) e deixavam-nos na fronteira, a 800 quilómetros de distância, sem forma de regressar a Tânger. As dificuldades eram muitas e eu tinha que lutar pela minha sobrevivência, por isso limpava as ruas voluntariamente e acabava por viver da boa vontade das pessoas que me davam algum dinheiro por isso. Mas o meu sonho continuava presente em mim e senti que tinha de continuar o meu caminho. Acabei por tentar atravessar o mar – de Tânger para a Espanha - num barco de contrabandistas. Foi uma viagem muito difícil. Éramos quarenta e oito pessoas e um bebé num barco insuflável e nesta travessia perdemos uma jovem de 15 anos por ter caído ao mar. Mais uma vez me via olhos nos olhos com a morte e com o medo. Mas felizmente, consegui chegar a Espanha. Com as experiências que vivi ao longo desta viagem – nomeadamente as histórias de discriminação e de necessidade – eu queria escolher um país onde pudesse usufruir dos meus direitos como refugiado, mas, acima de tudo, como pessoa. Pesquisei na Internet e Portugal aparecia como um dos países que melhor recebia os migrantes. Fiz tudo para conseguir chegar a Portugal, inclusivamente mentir quanto à minha idade (uma vez que eu ainda era menor) para não me impedirem de viajar. Fui muito bem-recebido em Portugal. Sinto-me bem cuidado pelas pessoas que Deus pôs na minha vida e, finalmente, voltei a estudar (mesmo tendo que aprender do zero uma língua nova, já que, quando cheguei, não dizia uma palavra de português). Mal me foi possível, telefonei à minha mãe. Já não falava com ela há meses e ela achava que eu tinha morrido pelo caminho. É muito difícil e raro sobreviver sozinho a esta travessia. Quando me ouviu começou a chorar. Pedi-lhe desculpa por ter saído sem dizer nada e renovei a minha promessa: vou estudar! Era disse-me, como quando eu era criança, que eu era muito corajoso e que acreditava que eu ia conseguir... que tinha muito orgulho em mim. A Academia de Líderes Ubuntu surgiu após a minha chegada a Portugal e foi muito importante para mim. Mudou completamente a minha vida e perspetiva sobre diversas coisas, ajudando-me a ter uma abordagem mais compreensiva, até sobre a minha própria vida.
Se me perguntarem, hoje, sobre o que é a história do Bhoye Diallo, responderia que é uma história de resiliência. Hoje, sei isso, apesar de já ter tido esta lição, pelo exemplo e boca do meu pai, ainda em tenra idade: Um dia, tinha acabado de chegar da escola e vi que o meu pai estava a plantar duas árvores. Ele virou-se para mim e disse: “Bhoye, vamos fazer uma experiência? Vou plantar uma destas árvores dentro de casa e a outra no exterior. Na tua opinião, qual é que crescerá mais rápido?”. Depois de um momento de reflexão, eu respondi: “Acho que será aquela que vai crescer dentro de casa. Evitará o vento forte e o sol quente. A vida dela será mais fácil”. Surpreendentemente, meu pai apenas respondeu: “Isso é o que veremos…”. O tempo passou e eu nunca mais me lembrei das árvores! Mas enquanto me esquecia da existência destas árvores, o meu pai continuava a cuidar delas atentamente ao longo dos anos. Três anos depois, houve um dia em que recordei este momento e pedi ao meu pai para ver o resultado. Ele mostrou-me as duas árvores e perguntou: “Então, o que é que achas? Qual é a maior?” E eu respondi: “A maior é a que cresceu fora de casa, mas não percebo porquê! Ela enfrentou muito mais provações do que a outra!” “Estás certo!” - respondeu-me. “E foram precisamente essas dificuldades que permitiram que ela se tornasse tão forte e imponente. Achas que valeu a pena passar por tudo isso? “Completamente!” - exclamei. “É evidente como os ramos se erguem majestosamente para o céu”. Neste dia, o meu pai ensinou-me uma lição de vida que nunca esquecerei. Disse-me: “Contigo passar-se-á exatamente o mesmo. Se tu optares por não fazer nada, começarás a murchar. O caminho da facilidade só te levará à mediocridade. Foram as dificuldades pelas quais esta árvore passou que a fizeram tão alta e bonita. Então, em todas vezes que tu sentires que estás a desesperar numa situação difícil, não te esqueças: sairás mais forte e maior…”.
08 outubro 2024
Liberdade
Nos meus cadernos de escola
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome
Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome
Nas imagens redouradas
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome
Nas jungles e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
No céu da minha infância
Escrevo teu nome
Nas maravilhas das noites
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome
Nos meus farrapos de azul
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome
Nas campinas do horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome
Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome
Até na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome
Nas formas resplandecentes
Nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome
Nas veredas acordadas
E nos caminhos abertos
Nas praças que regurgitam
Escrevo teu nome
Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome
No fruto partido em dois
De meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome
Em meu cão guloso e meigo
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome
No trampolim desta porta
Nos objetos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome
Em toda carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome
Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome
Em meus refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome
Na ausência sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome
Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome
E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar
Liberdade
Paul Éluard
Tradução de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira
Sur mes cahiers d’écolier
Sur mon pupitre et les arbres
Sur le sable de neige
J’écris ton nom
Sur toutes les pages lues
Sur toutes les pages blanches
Pierre sang papier ou cendre
J’écris ton nom
Sur les images dorées
Sur les armes des guerriers
Sur la couronne des rois
J’écris ton nom
Sur la jungle et le désert
Sur les nids sur les genêts
Sur l’écho de mon enfance
J’écris ton nom
Sur les merveilles des nuits
Sur le pain blanc des journées
Sur les saisons fiancées
J’écris ton nom
Sur tous mes chiffons d’azur
Sur l’étang soleil moisi
Sur le lac lune vivante
J’écris ton nom
Sur les champs sur l’horizon
Sur les ailes des oiseaux
Et sur le moulin des ombres
J’écris ton nom
Sur chaque bouffées d’aurore
Sur la mer sur les bateaux
Sur la montagne démente
J’écris ton nom
Sur la mousse des nuages
Sur les sueurs de l’orage
Sur la pluie épaisse et fade
J’écris ton nom
Sur les formes scintillantes
Sur les cloches des couleurs
Sur la vérité physique
J’écris ton nom
Sur les sentiers éveillés
Sur les routes déployées
Sur les places qui débordent
J’écris ton nom
Sur la lampe qui s’allume
Sur la lampe qui s’éteint
Sur mes raisons réunies
J’écris ton nom
Sur le fruit coupé en deux
Du miroir et de ma chambre
Sur mon lit coquille vide
J’écris ton nom
Sur mon chien gourmand et tendre
Sur ses oreilles dressées
Sur sa patte maladroite
J’écris ton nom
Sur le tremplin de ma porte
Sur les objets familiers
Sur le flot du feu béni
J’écris ton nom
Sur toute chair accordée
Sur le front de mes amis
Sur chaque main qui se tend
J’écris ton nom
Sur la vitre des surprises
Sur les lèvres attendries
Bien au-dessus du silence
J’écris ton nom
Sur mes refuges détruits
Sur mes phares écroulés
Sur les murs de mon ennui
J’écris ton nom
Sur l’absence sans désir
Sur la solitude nue
Sur les marches de la mort
J’écris ton nom
Sur la santé revenue
Sur le risque disparu
Sur l’espoir sans souvenir
J’écris ton nom
Et par le pouvoir d’un mot
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommer
Liberté
04 outubro 2024
Não há novidades se não forem negativas
Há um sócio muito engraçado que escreve uns livros:
Alain de Botton e tem uma escola de autoconhecimento chamada https://www.theschooloflife.com/
Confesso que não tenho grande pachorra para este tipo de
pessoas, que acham ter ciências exatas para todo o tipo de pessoas e vidas, mas
comecei a ler e batia certo.
Resolvi passar este amor a vocês com o risco de ser gozado:
todos temos olhares e sorrisos juntos que lembram as nossas amizades, façamos o
nosso melhor por dar Bons dias cheios de vida
O ódio a si mesmo disse logo à entrada para eu em vez de matar quem fui e sou
para procurar os teus/meus pontos fortes e tentar trazê-los de volta para
ti/mim.
Passamos muito tempo a jogar contra nós mesmos e a matar quem
somos em vez de tentar viver bem connosco e aproveitar as nossas virtudes e
qualidades.
Amemos quem somos e queremos ser em vez de cairmos no ‘ódio
a nós mesmos’.
Estou em crer que vos estou a pedir o contrário do que o
livro nos conduzirá, mas se fizer nascer 20 sorrisos estúpidos agora, já
terá valido a pena ou talvez não.
O mundo não é tão feio como os telejornais fazem
crer/parecer: aquilo é só a perspetiva mais negra, há muitas cores no
arco-íris.
Há um mundo negro de hospitais, trânsito, de guerras, mortes,
soldados, envenenado, cinzento, pesado, há!
Mas também há poesia e gente que nasce, textos que se
escrevem, olás, em amor, abraços, gente que aprende, mundos leves e claros que
acalmam e dizem paz.
Invenções, música, crescer, liberdade, orquestras, sinfonias,
plantas a nascer radiantes e comunidades a tornar comum.
Vamos reformular ou apostar em quem fomos, somos e queremos
ser?
Se não estamos satisfeitos porque será que continuamos a
errar?
30 setembro 2024
O gosto pela escrita
24 setembro 2024
apetece oferecer a toda a gente, ao mundo
19 setembro 2024
Parece procurar o que está por detrás das coisas.
Com 78 anos morreu Maria de Fátima Andrade Belo
de Carvalho que todos tratavam por Quica.
Morreu o corpo físico de mulher: tinha o dom de passar paz em seu redor, estando com ela tinhas mais probabilidades de ser feliz.
Transpirava no seu olhar terno sabedoria antiga dos que souberam viver a vida, ganhá-la, conquistá-la e vencê-la com muita ternura.
Não tem jeito para morrer, deixar de estar entre nós.
Filha mais nova de uma família de nove irmãos que reunia como um dom agregador que a vida lhe dera e juntava amigos, filhos, cunhados, irmãos, marido, netos, e sobrinhos em festas anuais.
Nunca se resignara a ser deixada de lado pela idade, por ser a mais nova; alimentara esse estar rebelde, mas tranquilo algo infantil em cada altura, em cada momento e sorria sempre muito inocente como quem procura e pede o melhor de nós.
Ela era em cada encontro, cada momento, cada instante força que recolhe, transmite e passa.
Junta à volta do olhar que tinha e jorrava energia, tem qualquer coisa de desafio aquele encanto.
Não se coaduna com a morte, é muito vida.
Ganhou o dom de se multiplicar em sorrisos, memórias, no olhar mais bonito, ficará para sempre na memória sorridente entre os que ama e por quem é amada.
Era assim brincadeiras, travessuras, doces, mergulhos no mar, abraços e amor!
A vida para ter sentido tem de envelhecer, ter um final, acabar, mas o teu espírito brincalhão virá muitas vezes à memória e sonhar conosco cores claras e fantasia.
Longa vida a
quem foste na tua memória sempre sorridente que só deixará ser em nós no tempo
e no espaço físico.
Quem acreditou tanto nas pessoas como TU, ganhou a vida e vence a morte, como se nota no teu ensino a ser melhor dia a dia.
Não foste, só mais uma, a mais nova, que a tua vida e energia sirvam de exemplo para todos nós!
Paz à sua alma tia Quica!!!
23 agosto 2024
Agora só daqui a um ano, se nos voltarem a deixar (Bruno Nogueira)
As férias são o presente que recebemos por termos passado o ano a envelhecer a dobrar com o trabalho que depositaram em cima de nós. Achamos que são sempre curtas, que ficam mais pequenas de ano para ano, mas aceitamos, porque somos bons a queixarmo-nos, mas melhores a obedecer.
ANDAMOS A ARRASTAR o ano inteiro às costas na esperança de depois sermos livres, seja lá o que isso quer dizer. Até lá somos o que podemos, enquanto podemos. Acordamos e vamos resolver os problemas que estão à nossa espera no trabalho, uma secretária cheia de respostas por dar, pontos de interrogação à nossa volta, outros de exclamação a espetarem-nos as costas, e nós de cabeça erguida a lutar contra o tempo e contra todos. Somos traídos pela miragem dos dias de férias, um céu magenta que vai ficando cada vez mais longe quando damos sinais de o querermos agarrar; e como um cavalo cansado que segue o caminho que conhece sem pensar, enfiamos a cabeça no computador para que até lá o tempo não tenha o peso do tempo todo que ainda falta.
As férias são o presente que recebemos por termos passado o ano a envelhecer a dobrar com o trabalho que depositaram em cima de nós. Achamos que são sempre curtas, que ficam mais pequenas de ano para ano, mas aceitamos, porque somos bons a queixarmo-nos, mas melhores a obedecer. Somos fáceis, dão-nos pouco e sabe-nos a muito. Se ainda trabalhamos é porque queremos que cheguem os dias em que finalmente nos vemos livres de tudo, em que acordamos e temos as horas todas por nossa conta, sem que nos digam o que fazer com elas. A recompensa é curta, para o tanto que custou a lá chegar. Nas férias somos felizes porque podemos fazer de conta que mandamos em tudo o que somos. É uma gloriosa ilusão, que nos agiganta e contesta tudo o que fizeram de nós até lá chegarmos. E então, como um grito de alegria contra a avalanche que é o peso dos dias, vingamo-nos sendo melhores pais, melhores amigos, melhores maridos e mulheres, melhores tudo, porque podemos enfim ser aquilo que desde pequeninos achámos que era isto de ser adulto. Dá muito trabalho conseguir chegar inteiro até ao solitário mês de férias que nos espera, depois de uma batalha campal que se arrastou pelos outros onze. São longos meses a contrariar o que o corpo quer, e o que a cabeça precisa. E depois, quando finalmente lá chegamos, fazemos o máximo que conseguimos, tentamos que eles estiquem até ficarem do tamanho dos outros tantos que nos roubaram. Vingamo-nos em excessos, a tentar compensar as muitas horas em que a nossa cabeça achou que não ia conseguir mais, em que o nosso corpo se arrastava entre a casa e o trabalho, numa coreografia cansada de quem já não pensa, só faz, para que não haja nada a apontar. Será que no fim, quando se fizerem as contas, não nos vamos sentir roubados?
Assaltam-nos o pouco tempo que temos para andar por cá, e ainda esperam que andemos por aí com a alegria de quem é dono de si. A que porta é que vamos bater quando percebermos tudo o que perdemos? As férias são um parêntesis, uma sombra de descanso que tenta como pode disfarçar o peso do que nos espera lá fora, na vida real. Agarramos na alegria toda que andámos a juntar, e andamos pela rua com a leveza ilusória de quem sabe que amanhã é tudo nosso outra vez. Estamos tão mal-habituados que damos por nós a fazer contagens decrescentes de cabeça, para tentar perceber quanto é que ainda nos resta até à apneia dos dias de trabalho. Passamos a vida a obedecer, à procura de aprovação, que nos achem mais e melhores do que aquilo que achamos de nós próprios. Somos tão frágeis, tão perigosamente frágeis, dependentes dos outros para que possamos fazer qualquer coisa de nós. Só somos verdadeiramente livres quando nascemos, a partir daí é sempre a perder. Há dias em que achamos que ninguém manda em nós, era o que faltava, agora vai ser outra pessoa a dizer o que faço, o que sou, quando sou. Mas depois de nos passar o delírio, lá voltamos a responder ao email antes que nos despeçam, antes que já não nos queiram mais. Só somos livres quando nascemos e quando morremos, entre uma coisa e outra somos o melhor que conseguimos. É por isso que as férias valem tanto – devolvem-nos a fantasia de controlarmos os dias, a frágil ideia de sermos o que prometemos a nós mesmos, de sermos o que queríamos, donos e senhores de nós.
E no fim arrumamos a custo tudo no carro, porque já sabemos aquilo que nos espera. Fazemo-nos à estrada, e levamos na memória aquilo que conseguimos juntar nos dias felizes que estão a ficar para trás com a paisagem. Chegamos a casa, e vemos em todo o lado as marcas dos dias repetidos que estiveram ali à nossa espera. As contas costumam bater certas: o descanso há-de durar o mesmo tempo do bronze que temos na pele. Ou menos, muito menos.
Foi tão bom que custa a acreditar que agora só daqui a um ano, se nos voltarem a deixar.
Texto escrito segundo o anterior acordo ortográfico