Há um
mundo ficcional dentro de cada um de nós, um mundo habitual de espaços e
passos, momentos movimentos emoções e palavras. Temos pessoas em nós
mesmos que inventar e ficcionar, pessoas que existem. Os sonhos são criados com
alusões ao passado e despertares de futuros em aberto, por fechar e concluir.
Temos a responsabilidade
(parecia tudo muito bonito não era!?) de criar mundos melhores para nós e para
os outros. E (é engraçado) inventar, fazer acreditar na viagem; sermos
realizadores ou escritores burlões: caracterizar para onde queremos ir e voar em
novos amanhãs por inventar.
Temos,
à nossa disposição um leque de atores com quem estamos habituados a ser movidos
e ideias a pensar a serem estimuladas.
Inventávamos
provérbios, nos tempos modernos por WhatsApp:
A Sónia
‘tornava as suas fragilidades em aprendizagens’ e
ganhava nisso confiança. Estivera na conversa com a amiga Teresa que estava
reformada e era professora e força ganha no telefonema, na conversa que nutria as
duas.
A tia
Isabel partira o braço e não lhe faltava movimento à volta por entre o
Diogo, o Jorge e o Francisco. Quem o avisara fora a Sylvia era a sobrinha bem
prática, entre outras coisas, muito mais que uma auxiliar e tinha energia quase sem querer. A sua atividade era um monólogo que ligava todos as outras
ficções.
O treinador principal pela primeira vez, um mister
na gíria futebolística dissera ‘ainda não começou o campeonato e
temos uma equipa fraquinha’; ‘ora essa, o futebol é, como qualquer desafio,
muito o momento e tens de criar neles a ficção que podem ganhar todos os jogos
se tiverem vontade e carácter’; ‘pois, tens razão, este pessimismo nem parece
meu, perder antes do jogo começar.
O afilhado
Miguel deixara o convite por escrito, já falado oralmente ‘Querido ZM,
para celebrar os 44 gostava de juntar alguns amigos num jantar tranquilo este
sábado dia 18 às 20h no restaurante no mercado. Posso contar convosco? Abraço’
Claro
que sim querido afilhado, comigo e com a mãe e amiga Teresa tinha sido a
resposta matinal.
Olá,
Zé Maria, estás bom? No outro dia disseste no nosso grupo de primos que
gostavas de arranjar uma ocupação profissional. Envio-te este encontro / feira
de emprego na universidade nova Sbe. E promovida por uma amiga
minha que me enviou e sugeriu que tu fosses. Acho que
era uma boa para ti. Vou dar conhecimento a tua mãe para te ajudar na logística
da ida. Grande abraço
Assim enfrentava
o mundo com suas ficções e invenções.
Não
sei se a ideia de que o mundo real era uma burla o alegrava.
Estavam
no meu WhatsApp estes indivíduos e começaram a falar uns com os outros como que por magia: a Sónia, a Sylvia, a Isabel, a Teresa, os Miguéis e eu.
Isabel:
As coisas às vezes acontecem não é porque queremos, não sabemos porquê, vou
muito bem a andar, de repente tropeças não tens onde te amparar e depois
fica-se numa situação sem podermos: parti um braço. Já não tenho como dizer mais.
Eu: E
esse 'não saber porquê" é que é mágico. Sylvia: eu queria ver se achavas
mágico ter o braço com gesso agarrado ao peito!?
Eu: Se
soubéssemos tudo e tivéssemos tudo controlado era mais aborrecido! Assim ficas
com mais histórias giras para contar. E podes vir connosco ao encontro que o
primo Miguel falou?
Miguel: faz falta ao mundo quem se empregue!
A Isabel indignada: eu!? Acha?
Universidades novas em Carcavelos, estou muito bem onde estou, na creche, que
já trabalhei muito, com muito movimento à volta…
Sónia a rir: Zé, isso é para nós, gente mais nova que temos idade para tornar as nossas fragilidades em aprendizagens, a tua tia já encontrou o seu ninho.
Sylvia sempre hiper realista: achas que ela agora que encontrou o emprego de sonho perto de casa ia para longe?
Pedro com ar maduro e culto, mão a segurar no queixo: é o
que digo sempre aos meus miúdos; vamos para a guerra com as armas que temos.
Miguel: hrumpf, o mundo não é uma guerra
Pedro: foi uma analogia mal
encontrada, mais em voga, desafio.
Teresa:
às vezes, no nosso mundo os desafios são muito desequilibrados com combates
no WhatsApp entre gente analfabeta. É engraçado como atualmente quem é
analfabeto, não sabe escrever está muito mal servido para viver.
Pedro:
é bem pior, que ser anão. Diz, encolhendo os ombros…
Miguel: está tudo associado, quem, não sabe ler, normalmente não tem emprego.
Sylvia, realista: não há falta de pontos negativos nesta vida, neste telemóvel
Zé Maria: ouch, o meu telemóvel não é negativo, normalmente,
tem dias de manhã ao acordar horríveis, mas vocês são animados a maior parte do
tempo e não está tão desequilibrado como isso. Para um nascimento, há sempre
uma morte e cada ferida tem uma crosta, e lágrimas têm sorrisos.
Amanhã
há sempre um sol que nasce.
Começam todos a vibrar e acaba a conversa: estou? Bom dia, Samuel,
como vai isso?
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