Era uma vez, um menino-pai q crescia e parecia ter tomado algo q o rejuvenescia na alma, melhor q rejuvenescia-o sempre enquanto envelhecia!
De facto, n se percebia bem se o mundo havia sido criado para brincar com o ele ou se ele havia nascido para brincar com o mundo.
Nasceu em S. Mamede. Cresceu na elite de campo de Ourique, foi-se afastando daí sempre deixando lá apoio! Meteu-se nas teologias, aprimorou-se, aprendeu o q era a pessoa, ganhou sensibilidade
Daí o Nan passara a um ser mais racional no técnico, que aquilo da universidade não era brincadeira, ganhara lá o toque genial de cruzar a perna enquanto lia o jornal.
Farto de armar aos cucos, meteu-se na palavra e na revolução, cresceu-lhe a barba, deu-se com Zecas e tal.
Descobriu, às tantas, q a conversa fazia pensar, ora aquilo, deu-lhe para escrever, descobriu q até tinha jeito para ensinar e q ensinando aprendia! Descobriu q viver podia ser divertido!
Descobriu isto enquanto comia uma torrada cheia de manteiga. Derretendo-se lentamente, a manteiga e ele. Depois foi-se embora. Foi de S. Mamede que partiu? Ia para Campo de Ourique? Já não me lembro. Só me fixei na torrada e nos pormenores que derretem. Seria preciso toda uma viagem na memória dele, refazer mil coisas e mesmo isso não bastaria: seria preciso, direitamente, dobrar o tempo ao contrário.
A única coisa que retive do que aconteceu depois foi isto que ele que me disse: "à chaque jour suffit ça peine". Em francês e tudo. Caraças. De início percebi mal e entendi: "à chacun suffit ça peine". Mas não era isso. Mais tarde percebi que não podia ser essa a frase, até porque não era verdade. Alombamos com as nossas penas e com as dos outros também. Portanto, cheguei à conclusão que a frase correta só podia ser a outra. Aliás, fui chegando à conclusão. Uma pena por dia. É. Foi assim mesmo:
descobri isso por mim mesmo muito depois de ele ter dito. Tudo isto demora muito tempo, muitos dias, algumas penas. Na verdade, temos menos penas do que dias, e ainda bem. Acho que ele também podia ter dito isto
Mas ele era assim. Dizia coisas com razão antes de poder ter razão, o que, vendo bem as coisas, é normal no paternal ofício.
Enquanto acabava de escrever isto, um bocadinho de manteiga pingou da minha torrada distraída e encheu-me de gordura a parte vital do teclado. Zero. Delete. Crash.
Telefonei à minha irmã — uma notória especialista em teclados — a pedir ajuda...
Era uma vez um pai que gostava de ser menino, talvez por isso tenha descoberto a sua vocação mais tarde do que a maioria das pessoas, enquanto deambulava pelas engenharias, teologias e afins.
Era uma vez um pai que gostava de aliar força e doçura: "convém a um homem aliar força e doçura, ser forte sem ser bruto, ser doce sem ser fraco". Fraca é coisa que ele não é, pois quem foi capaz de fazer as rupturas que fez e os caminhos que percorreu é tudo menos fraco.
Era uma vez um pai que se tem revelado de uma força extraordinária e de um amor incondicional, acompanhando a recuperação de um filho.
Era uma vez um pai que gostava de conversar e que nesse gostar induziu nos filhos o gosto pela curiosidade, tendo sido o melhor professor que os seus filhos tiveram.
Era uma vez um pai que também gostava de ler e escrever, o que fez com que os seus filhos fossem também-todos-um pouco literários.
Era uma vez um pai que tinha alguma dificuldade em demonstrar a afectividade, o que talvez se devesse à educação que teve, mas que com a idade amadureceu.
Era uma vez um pai que pelo olhar se vê a bondade que vai no seu interior.
Era uma vez pai que me ensinou isto tudo...e muito mais que não se consegue dizer por palavras.
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