30 janeiro 2017

assina contra Trump: Allô Trump, está aqui o mundo...

meus caros,

porque ele é como alguém louco sem carta ao volante de um Ferrari ou Lamborghini...

porque não queremos ter alguma responsabilidade nas Trumpas que esta figura possa fazer...

porque ele ali piora o nosso mundo comum.

porque tudo o que venha dali só pode ser mau...

porque o planeta, casa partilhada da família humana, na sua bio diversidade (animais e plantas) agradece.

porque só não vê quem não quer.

juntemos a nossa voz a esta CARTA (atenção ao link):

 Caro Sr. Trump,

Você não tem os ingredientes com que se cozinham os grandes homens.

O mundo rejeita o Teu medo do outro, as Tuas chamadas para o ódio e a Tua intolerância. TU legitimas a tortura, chamas à morte civis e incentivas a violência em geral e nós não queremos isso! 


TU denigres mulheres, muçulmanos, mexicanos e milhões de outras pessoas, porque eles não se parecem contigo, não falam como TU ou não rezam para o mesmo Deus que TU: nós não queremos isso!!!

Enfrenta os teus medos, nós escolhemos compaixão. Enfrenta o teu discurso catastrófico, nós escolhemos a esperança. Face à tua ignorância, nós fazemos a escolha da abertura.



Estamos unidos contra suas tentativas de divisão.

Atenciosamente,

Cidadão do Mundo

29 janeiro 2017

A Vida é Longa




Da União se faz a força!?



Nós, Portugal, somos como os Trás os montes da Europa, outros serão Faro, Montemor,  Lisboa, Porto, Braga e/ou Ceia... qualquer um dessas terras valem por si próprias mas sozinhas perdem importância. Qualquer um dos países europeus é mais fraco se não tiver a Europa com ele.

A UE tenta congregar povos de vontades diferentes numa única maioritária e dessas diferenças fazer um conjunto de qualidade com força.

E tenta ser um esteio do mundo com suas ideias congregadas: uma boa equipa faz-se de muitos bons jogadores bons!!!

acompanhou-me...



António Pinho Vargas - Dança Dos Pássaros

Uma sala pequenina com vinte músicos (todos muito sóbrios): maestro (muito humilde), piano, bateria, contra baixo (os três em destaque pelo tamanho dos instrumentos mas também pelo talento), viola (nada do que se espera na forma de estar de um homem de viola) e duas filas de sopros (que avançaram à vez quase todos para solos); depois foi magia. 

Orquestra de jazz do Hot Clube de Portugal Toca a Música de António Pinho Vargas "A Dança dos Pássaros"

Em 2014 foi desafiada para, em conjunto com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, levar a palco repertório de António Pinho Vargas. Foram feitos novos arranjos dos temas de jazz deste compositor, por músicos da Orquestra de Jazz do Hot Clube de Portugal, nomeadamente Tomás Pimentel, Luís Cunha, Óscar Graça e César Cardoso.

“A Dança dos Pássaros”, nome do cd agora editado e um dos temas mais conhecidos do repertório deste compositor, contribuirá certamente para que a música de António Pinho Vargas continue a ser parte fundamental da cultura musical portuguesa.




António Pinho Vargas - Tom Waits

28 janeiro 2017

pelas novas pessoas e vidas que nascem vamos!



Das coisas piores que existem é não ter imaginação, por oposição das coisas melhores que existem é poder imaginar e viver essas imagens.

Queremos pintar o quadro da vida mais bonito, colorido e leve e  menos carregado, feio e escuro também faz parte da nossa responsabilidade para com a vida comum, para connosco e com os outros.

Na verdade, nada é tão desagradável em nós como parece (e se parece...), há ou já foi sempre pior e podemos sempre pintar melhor: é connosco decidirmos como queremos pintar a Nossa vida.

Fecha os olhos e imagina Amor e Alegria e tens a possibilidade de tornar a realidade mágica...

E, se bem que não vivemos bem só de imaginação não palpável e sonhada, o melhor é fazermos a nossa construção realizando nosso cantinho melhor que ontem e pior do que amanhã, pelas novas pessoas e vidas que nascem vamos!

27 janeiro 2017

Consegue ler este artigo até ao fim sem se distrair?

Andamos cada vez mais distraídos, a saltar de tarefa em tarefa e a reagir a estímulos de forma impulsiva. Mas quais são as consequências deste "zapping" mental? E como trabalhar a atenção?
  1. Atenção, distração e dopamina. Como desenrolar este novelo?
  2. Falta de foco: como isto nos afeta
  3. Vale a pena treinar a atenção plena?
  4. Multitasking: amigo ou inimigo?
Um e-mail acabado de chegar, um telefonema inesperado e um chat, de Facebook ou de Whatsapp, que volta e meia dá de si. Para onde quer que olhe, é provável que haja focos de distracção, e também é provável que não chegue ao fim deste artigo sem se distrair uma única vez — afinal, a caixa de e-mail está no separador do lado, o telemóvel no seu campo de visão e as redes sociais… bem, as redes sociais parecem estar em toda a parte.

Atenção, distracção e dopamina. Como desenrolar este novelo?


Estamos cada vez mais impulsivos a reagir a estímulos e o nosso cérebro processa a informação de forma cada vez mais rápida, mas não retém a memória toda. As palavras são do neuropsicólogo clínico Fernando Rodrigues.
É ele quem assegura que o olho humano (e os mecanismos visuais) estão mais rápidos e mais sensíveis a estímulos luminosos, realidade que pode advir do bombardeamento de informação de que somos alvo diariamente. “Há 10 anos não tínhamos o número de estímulos visuais que temos hoje”, continua, explicando que a luz é um forte captador de atenção e que o limiar de atenção está cada vez mais curto.

A internet está projetada para ser um sistema de interrupção, uma máquina voltada para dividir a atenção”, disse ao The New York Times, em novembro de 2015, Nicholas Carr, autor do livro Os Superficiais — O que a internet está a fazer aos nossos cérebros, publicado em Portugal pela Gradiva. À data, Carr afirmou que estamos dispostos a aceitar a perda de concentração e de foco em detrimento das informações atraentes e/ou divertidas que circulam online. E, já agora, estar sempre conectado não é propriamente bom, pelo menos para o cérebro. Um estudo da Universidade de Londres descobriu que estar-se continuamente ligado pode ter tanto impacto no nosso QI como perder uma noite de sono ou consumir marijuana.
"O ser humano, por natureza, não tem a capacidade de se concentrar."
Pedro Ferreira Alves, neuropsicólogo

No entanto, é importante não cair no erro clássico de olhar para as novas tecnologias como a grande culpada, até porque, tal como diz Pedro Ferreira Alves, o “ser humano por natureza não tem a capacidade de se concentrar”. Ao Observador, o neuropsicólogo no Instituto Terapêutico Analítico Psicologia Aveiro (ITAPA) explica que a educação, a socialização e até a aquisição da linguagem são fatores importantes para se alcançar a atenção voluntária que é, preto no branco, a nossa capacidade de controlar a atenção. As novas tecnologias podem, no entanto, ser encaradas como um novo desafio para a exigência da nossa atenção.

A isso acrescenta-se que a atenção não é igual para todos e que esta é, para surpresa ou não de muitos, limitada. Dito isto, importa tentar esclarecer que a atenção está associada aos circuitos de recompensa, que são mediados pelos circuitos dopaminérgicos (mas não só). A dopamina, recordamos, é um dos neurotrasmissores mais polémicos na comunidade científica e é também uma “substância gulosa”, tal como refere Fernando Rodrigues. “A surpresa é a forma mais interessante para ocorrer o disparo de dopamina”, esclarece. Ou seja, por norma a surpresa atencional tem um privilégio maior sobre a tarefa anterior — e, já agora, ter um novo estímulo vai degradar a qualidade de atenção prestada ao estímulo anterior.
Imagine que está a conduzir um carro e que recebe uma SMS. Pega no telefone para ver ou responder à mensagem, mas consegue continuar atento/a à condução. No entanto, já não vai prestar atenção caso surja um estímulo novo, que pode ser uma criança a atravessar a estrada.

Para tentar deixar as coisas mais claras, o neuropsicólogo introduz mais um termo científico, “cegueira cognitiva”. Imagine que está a conduzir um carro e que, num instante, recebe uma SMS. Pega no telefone para ver ou responder à mensagem, mas consegue continuar atento/a à condução. Disto isto, já não vai prestar atenção caso surja um estímulo novo, este que pode ser uma criança a atravessar a estrada.



O "multitasking" permite-nos fazer mais coisas, mas também nos deixa mais vulneráveis a cometer erros. 

Mais, a distracção pode ser encarada como um mecanismo de recentração atencional, tal como o neuropsicólogo Fernando Rodrigues lhe chama. Vamos a outro exemplo: talvez seja mais fácil para si estar mais focado num trabalho num ambiente com mais estímulos do que o contrário. Imagine que vai para um café fazer um trabalho, os estímulos à sua volta passam a ser secundários e ajudam-no a recentrar a sua atenção (e não concentração, uma vez que esta implica estar-se atento a uma única tarefa). Pelo contrário, um ambiente sem estímulos é capaz de prejudicar a criatividade. É que há dois tipos de estímulos diferentes: os que exigem o nosso processamento cognitivo ou emocional, como receber uma SMS, e os que não exigem, como um desconhecido entrar no café onde estamos a trabalhar.

Falta de foco: como isto nos afecta

Fernando Rodrigues, que também é professor universitário, diz que observa um facto irrefutável, isto é, que as pessoas têm uma atenção cada vez mais curta. É isso que atesta dentro da sala de aula, quando os alunos sacam do telemóvel para responder a uma mensagem como se nada fosse. “O telemóvel é hoje uma espécie de extensão do corpo humano”, diz, para depois atirar: “Já não conseguimos controlar os nossos impulsos.” É por esse motivo que se apressa a argumentar que o modelo de aulas deveria ser alterado — duas horas é muito tempo para se permanecer atento e reter toda a informação dada. “Os alunos têm períodos de atenção muito curtos e os conteúdos dados de forma doseada têm mais impacto.”
Da sala de aula para o escritório, Fernando Rodrigues defende que, em consequência da cada vez menor capacidade de atenção e do impulso em reagir a estímulos, está-se a assistir a quebras de produtividade no mercado de trabalho. O fenómeno é relativamente recente e, se antes as empresas bloqueavam o acesso a determinados sites ou chats, agora os telemóveis estão dotados de todas essas tecnologias. Nem de propósito, o típico funcionário de um escritório é capaz de trabalhar apenas 11 minutos entre cada interrupção, sendo que demora em média 25 minutos a regressar à tarefa original. Estes são, pelos menos, os dados recolhidos por Gloria Mark, da Universidade da Califórnia. A falta de atenção está por toda a parte: num escritório perto de si, mas também em casa.




"As pessoas estão menos inteiras nas relações com os outros e isto acontece de pais para filhos, de maridos para mulheres."

Filipa Jardim Silva, psicóloga clínica 
É a psicóloga clínica Filipa Jardim Silva que escolhe falar da atenção distribuída versus atenção mais focada. Se a primeira, seja por via dos vários estímulos que nos afetam diariamente ou pelo modo multitasking que tendemos a assumir, tende a afetar as dinâmicas familiares, a segunda é a opção preferível e menos recorrente. “As pessoas estão menos inteiras nas relações com os outros e isto acontece de pais para filhos, de maridos para mulheres”, argumenta a profissional da Oficina de Psicologia. É o velho cliché: o corpo está aqui, a mente nem por isso.
A falta de presença (ou de atenção) é responsável por uma cada vez menor tolerância ao desconforto e à frustração. Mas não só: nas relações assiste-se, de um modo geral e empírico, à fraca capacidade de ouvir realmente o outro. Para solucionar essas tensões, a proposta da psicóloga passa por dirigir a nossa atenção consciente a apenas um estímulo, mas também reduzir os vários estímulos à nossa volta — talvez esteja na hora de fazer um detox tecnológico. Deixar o telefone à porta de casa, combinar a hora em que vão finalmente pegar nos smartphones ou privilegiar a interação familiar em detrimento dos equipamentos tecnológicos são algumas ideias. Até para evitar aquilo a que Filipa Jardim Silva chama de solidão acompanhada nas famílias: “Falamos sobre muita coisa, mas não falamos sobre nós.”
Uma coisa é (in)certa: o neuropsicólogo Fernando Rodrigues não sabe dizer o que está em causa, se o défice de atenção está subdiagnosticado, se esta é uma mutação geracional ou, então, uma patologia.

Vale a pena treinar a atenção plena?

Para falar da importância e do poder da concentração, o The New York Times chegou a evocar a figura de Sherlock Holmes, tido como um dos detetives mais “inativamente ativos” por ficar simplesmente quieto, sentado e de cachimbo na boca, a pensar na melhor forma de resolver mais um enigma. Isto tudo para falar de mindfulness. No artigo de opinião datado de dezembro de 2012, a publicação abordou o facto de o mindfulness originar do budismo e argumentou que, no contexto da psicologia experimental, o conceito está mais voltado para a concentração do que para a espiritualidade.
“A tecnologia é excelente mas provoca uma série de solicitações e interrupções que não aconteciam antes. Há mais dificuldade em manter o foco e a atenção”, alega também Luís Carvalho, professor certificado de minduflness desde 2008, que cita vários estudos que mostram uma mesma realidade: cerca de metade do tempo em que estamos acordados é passado em distração.
É aqui que a meditação associada ao mindfulness entra — esta é tida como a forma de praticar a habilidade de estar presente e de ir ganhando foco, seja através de práticas formais (meditação em si) ou informais (como passear no jardim e sentir o vento no corpo e/ou o sol na cara). Tanto num caso como no outro é importante perceber quando perdemos o foco e, sem culpa, trazer a atenção de volta.
Nem de propósito, no artigo que o Observador dedicou ao mindfulness, o especialista Vasco Gaspar, autor do livro Aqui e Agora, explicou que apesar da prática do minfulness estar associada à meditação, esta não implica necessariamente o estar-se focado, mas antes fazer o esforço da atenção plena. “A meditação é como ir ao ginásio. São práticas artificiais, para cultivar, coisas que não fazemos no nosso dia a dia”, garantiu à data. Vale a pena repetir: o minfulness é a capacidade de estar presente, de estar consciente do que se passa à nossa volta, das nossas emoções e do nosso próprio corpo. Talvez por isso seja algo a considerar num mundo que cada vez mais distrai e cada vez anda mais distraído.

"Quando estamos com atenção num momento presente, temos toda a atenção do que está a acontecer e isso permite-nos tomar as decisões mais adequadas."
Luís Carvalho, professor certificado em mindfulness 
Mas porque é tão importante estarmos presentes? “Quando estamos com atenção num momento presente, temos toda a atenção do que está a acontecer e isso permite-nos tomar as decisões mais adequadas. Quando estamos distraídos, há muitas coisas que nos podem escapar e podemos ter reações baseadas em hábitos e perceções incompletas ou interpretações erradas”, responde Luís Carvalho. Outro exemplo? É como ir no carro e virar no sítio errado porque aquele é, na verdade, o nosso caminho habitual. “Isso acontece porque houve um momento de distração e quando estamos distraídos a tendência é para seguirmos os nossos hábitos.”

Multitasking: amigo ou inimigo?

No artigo de opinião acima referido lê-se ainda que o mindfulness pode ajudar contra “a praga da existência moderna”, entenda-se o multitasking. “Gostaríamos de acreditar que a nossa atenção é infinita, mas não é. Multitasking é um mito persistente. O que realmente fazemos é mudar rapidamente a nossa atenção de tarefa em tarefa”, escreveu Maria Konnikova, autora do livro Mastermid: How to Think Like Sherlock Holmes.



O termo "multitasking" está cada vez mais a perder terreno para o "monotasking". 

Multitasking, esse estrangeirismo que é utilizado para descrever a capacidade de fazer mais do que uma tarefa ao mesmo tempo, pode estar a perder terreno para o monotasking, já considerado o termo do século XXI para prestar atenção. De acordo com um estudo publicado em 2014 no Journal of Experimental Psychology, interrupções de apenas dois ou três segundos eram o suficiente para os participantes duplicarem os erros cometidos durante determinada tarefa. A isso acrescenta-se a investigação da Universidade da Califórnia, que mostrou que as pessoas chegam a trocar de tarefas cerca de 400 vezes por dia, daí estarem tão cansadas à noite.

Escreve a Harvard Business Review que o multitasking permite-nos fazer mais coisas, mas também nos deixa mais vulneráveis a cometer erros, ao passar ao lado de informação ou de pistas interessantes e a reter menos informação. Já Fernando Rodrigues associa o multitasking à memória de trabalho e às funções executivas, nas quais se inclui o shifting, isto é, a capacidade de alternar entre tarefas. Refere ainda que o período atencional é muito forte nos primeiros cinco minutos e nos últimos cinco minutos de uma determinada tarefa. “A memória de trabalho vai identificar o que é ou não importante. O que estamos a observar é que a atenção é cada vez mais curta, inclusive nestes mecanismos de trabalho. As próximas gerações podem vir a ser mais voláteis, ainda que com melhores avaliações ao nível da inteligência.”

“Hoje em dia os jovens conseguem fazer mais coisas ao mesmo tempo, mas perdem qualidade de tarefa em tarefa. As gerações anteriores eram mais focadas nas tarefas e retiravam mais pormenores e riqueza de estímulo. Agora, as gerações mais novas detetam mais rapidamente os estímulos mas perdem essa riqueza”, diz Fernando Rodrigues, sem conseguir confirmar qual das situações é preferível. No entanto, faz ainda outra observação com um ponto de interrogação no final: o que será da criança que não consegue captar assim tantos estímulos?
"Hoje em dia os jovens conseguem fazer mais coisas ao mesmo tempo, mas perdem qualidade de tarefa em tarefa. As gerações anteriores eram mais focadas nas tarefas e retiravam mais pormenores e riqueza de estímulo. Agora, as gerações mais novas detetam mais rapidamente os estímulos mas perdem essa riqueza."
Fernando Rodrigues, neuropsicólogo

Álvaro Carvalho, diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental/DGS, confirma que atualmente existem mais solicitações do que há uns anos, dada a tecnologia que nos acompanha no dia a dia, mas assegura que este não é um fenómeno novo e relembra que também Napoleão Bonaparte era capaz de fazer cinco coisas ao mesmo tempo. A isso acrescenta que as crianças rápida e facilmente passam de uma ocupação para outra, sendo esta uma forma de estar numa sociedade que valoriza a novidade.

Há uma tendência cada vez maior para que as crianças se portem simplesmente bem, atira Conceição Tavares, psicóloga e psicanalista. A também assessora do Programa Nacional para a Saúde Mental da DGS refere que o tipo de aprendizagem mais tradicional não tem em conta a criatividade e os ritmos diferentes das crianças, o que pode estar relacionado com a hiperatividade. “A uniformização da educação traz consequências. Porque os bebés têm de dormir todos aos mesmo tempo e trocar de fraldas também ao mesmo tempo”, assegura. E que consequências são essas? “Distração, défice de atenção…”

No entanto, importa também referir o que disse o pediatra Pedro Gomes à agência Lusa em março de 2015, quando afirmou que a hiperatividade está mal diagonisticada em Portugal: “Estas doenças e expressões [Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA)] aparecem porque o pessoal de saúde está mais sensível, mais atento às perturbações de comportamento do que há uns anos. (…) Há crianças hiperdiagnosticadas e outras crianças hipodiagnosticadas”.

Por outro lado, assiste-se à massificação da informação. Não descurando as “vantagens fantásticas” da internet, o excesso de informação que esta proporciona não ajuda à seleção pelo que, hoje em dia, somos menos seletivos e também menos pacientes. “Hoje é tudo muito automático [rápido e fácil], e isso pode dificultar o facto de os jovens se focarem num só objetivo. Há uma tolerância diferente à frustração”, continua Conceição Tavares, fazendo uma última anotação pessoal como contraponto do que hoje se assiste nas gerações mais novas: “Ainda me lembro de esperar pela época dos morangos”.

22 janeiro 2017

E se Trump fosse, também, uma vacina?

 
Trump arrisca-se a ser, contra aquilo que desejava, o factor de união que faltava à Europa para tomar consciência de si própria.
Sim, e se Trump fosse – apesar dos tremendos perigos que faz correr aos Estados Unidos, ao mundo e à Europa – uma vacina providencial contra as ameaças de desordem, caos e desagregação dos equilíbrios internacionais que ele prenuncia? É essa, porventura, a última oportunidade que nos resta para ser optimistas face ao pessimismo histórico suscitado pela sua eleição e a sua tomada de posse na passada sexta-feira. Agora que estamos obrigados a viver com ele, como encarar, de forma minimamente positiva, as consequências da sua actuação – se exceptuarmos, claro, um remake do Dr. Strangelove, o filme visionário de Stanley Kubrick, em que a demência de um cientista influente no poder americano precipita o mundo numa guerra termonuclear (com Trump a carregar nos códigos secretos que poderiam desencadeá-la)?
Uma resposta possível é-nos fornecida por Stephen Skowronek, um professor de ciências políticas da Universidade de Yale, em entrevista à revista The Nation e citado por Nicolas Colin no L’Obs (o novo nome do Nouvel Observateur). Skowronek evoca dois precedentes históricos: Hoover, que não foi capaz de enfrentar a crise de 1929 e entregou o destino da América a Roosevelt, desacreditando o Partido Republicano por várias gerações, e Jimmy Carter, que "precipitou o Partido Democrata numa crise durável e abriu o caminho à revolução conservadora" (de Reagan). Ora, Trump poderia funcionar como "disjuntor", ou seja, para "desacreditar enfim o Partido Republicano e abrir, em quatro anos, uma nova fase de reconstrução por um novo Presidente democrata".
Optimismo excessivo, considerando que os quatro anos de mandato de Trump teriam consequências irreparáveis? Eis uma questão pertinente. Mas talvez os excessos indomáveis do novo Presidente lhe criem – estão já a criar, aliás – um ambiente insustentável face aos poderes institucionais americanos, com um Congresso onde os democratas e os republicanos hostis a Trump poderão eventualmente desenvolver um cenário favorável a um impeachment. Por muito menos foi o que chegou a acontecer a Bill Clinton.

Tendo em conta as contradições gritantes, manifestadas nas audições no Congresso, entre Trump e membros relevantes da sua equipa governativa, além das incompatibilidades escabrosas entre os negócios privados do novo Presidente e os interesses do Estado, esse cenário não é inverosímil. Finalmente, os contrapoderes alicerçados no princípio da liberdade de imprensa – hoje postos em causa pela pós-verdade dos slogans telegráficos de Trump nas redes sociais – ainda conservam um estatuto constitucional que, de resto, Obama evocou na sua última conferência de imprensa para justificar um regresso ao combate político depois de deixar a presidência.  

Numa das suas últimas declarações antes de tomar posse, Trump apresentou-se como um cruzado do "Brexit" e da desconstrução da União Europeia (UE), identificando-se com as posições eurocépticas e o extremismo de direita na Europa. Mas os efeitos anunciados do "Brexit" na Grã-Bretanha, apesar da atitude seguidista e cega da primeira-ministra britânica, só têm reforçado a convicção de que são os britânicos quem terá mais a perder no confronto com a UE, considerando não só os prejuízos contabilizáveis dos dois lados do canal mas até o cenário de desunião no Reino Unido (com a hipótese de um novo referendo para a independência da Escócia).

Afinal, Trump arrisca-se a ser, contra aquilo que desejava, o factor de união que faltava à Europa para tomar consciência de si própria. As duas expressões típicas da pós-verdade – Trump e o "Brexit" – poderão contribuir, ultrapassando todas as vontades dispersas e contraditórias na UE, para que aquilo que parecia impossível se torne finalmente viável: uma Europa mais solidária, mais coesa, mais autónoma – até no plano de uma Defesa comum – e convergindo no sonho desenhado pelos seus pais fundadores.

19 janeiro 2017

'Humildade' por I Newton

O que sabemos é uma gota e o que ignoramos é um oceano.

Se fiz descobertas valiosas foi mais por paciência que por qualquer outro jeito.

Se vi mais longe foi por estar sobre o ombro de gigantes

18 janeiro 2017

o difícil não está em evitar a morte, mas em evitar fazer o mal.

Sócrates

Em 7 de Maio do ano de 399 a.C., Sócrates foi forçado a suicidar-se com cicuta, por condenação do tribunal dos Heliastas de Atenas. Tinha 70 anos.
O filósofo era acusado de não reconhecer os deuses da cidade e de corromper a juventude com as suas discussões sobre a sabedoria e a virtude. A uma acusação difícil e a um tribunal hostil, Sócrates respondeu com audácia. Fez a sua própria defesa, recusou hipóteses de fuga e denunciou a injustiça. Depois de conhecer a sentença, conta Platão, Sócrates preparou-se para o fim: “Ah! quanto melhor é morrer depois de uma defesa, assim, do que viver por tal preço! Nem eu, nem homem algum, seja perante um tribunal, seja na guerra, deve procurar esquivar-se à morte por todos os meios. Sabe-se que, muitas vezes, em uma batalha, há probabilidades de sobreviver, lançando fora as armas e pedindo misericórdia ao inimigo que nos acossa. Do mesmo modo, em todos os outros perigos, há muitos meios de escapar à morte se uma pessoa se decide a fazer tudo e a dizer tudo. Simplesmente, — prestai atenção a isto, juízes! — o difícil não está em evitar a morte, mas em evitar fazer o mal. O mal, vede, corre atrás de nós mais depressa que a morte. Isto explica que eu, que sou velho e vagaroso, me deixei agarrar pelo mais lento dos dois corredores, enquanto os meus acusadores, vigorosos e ágeis, foram agarrados pelo mais rápido, que é o mal. Quanto à minha sorte e à vossa, qual será a melhor?”
[Platão, Apologia de Sócrates]

Publicados na revista Vida Mundial nos finais do séc. XX escolha efectuada por BELO, André e TAVARES, Rui.

17 janeiro 2017

História emocionante para meninos embelezarem a vida sonhadora


Oiçam lá: que ninguém adormeça, depois não digam que ninguém vos avisou: é bem provável que sonhem com coisas incríveis daquelas de sonhos utópicos e faz parte de cá andarmos sermos responsáveis uns para com os outros, não me vão deixar aqui acordado sozinho, livrem-se de as vossas mães aparecerem aqui e vocês todos a dormir e eu acordado: rico serviço!

Estive a preparar uma leitura emocionante para embelezarmos nossa vida sonhadora:
 
Foi no dia 31 de Dezembro, às 22 horas e 30 minutos em ponto, que apareceram sobre a terra os primeiros seres humanos com as características físicas que ainda hoje têm. Depois disso, tudo aconteceu muito rápido: às 23h46 o fogo estava domesticado. Às 23h59 apareceu a arte rupestre. Vinte segundos depois, foi feita a sensacional descoberta da agricultura. O alfabeto foi inventado às 23h59m20s. Precisamente 37 segundos depois disto nascia Cristo. A Idade Média passou num segundo. E, desde a época do Renascimento, estamos no último segundo do ano cósmico que Carl Sagan propôs como escala do tempo que decorreu desde a origem do universo. Para se ter uma ideia: o big-bang deu-se a 1 de Janeiro; o sistema solar apareceu a 9 de Setembro; a Terra, a 14 de Setembro; a vida, a 25 de Setembro; o oxigénio na atmosfera, a 1 de Dezembro; os peixes, a 19 de Dezembro; os dinossauros, a 24 de Dezembro; os primatas, a 29 de Dezembro; e, já no último dia do ano e com a noite bem entrada, surgiu o género humano.

Uma praga de gafanhotos chegou a Lisboa no dia 8 de Novembro de 1639. «Corriam de poente para o Oriente, eram muito grandes, e de cor que tirava a vermelha, com 6 pés e 4 asas. Viram-se entre eles, desde as 10 horas da manhã até às 4 da tarde, duas grandes aves de asas negras, e peitos pardos, que saíam e voltavam, como condutores daquele volátil numeroso exército, o qual gastou em passar, não menos de 11 dias.»
[Anno Historico, Diario Portuguez, vol. 3, Lisboa, 1744]

Esta coisa de adormecer crianças não é brincadeira e implica direitos de autor: textos (de boa literatura:) publicados na revista Vida Mundial nos finais do séc. XX escolha efectuada por BELO, André e TAVARES, Rui.

09 janeiro 2017

Soares é fixe!!!


Ele há gente que é tão forte em vida que continua vivo quando morre!!!



Soares e o futuro


08 janeiro 2017

o que aprendeste hoje?



Por duas troca de mensagens, sms e e-mail; com duas pessoas com pouco a ver uma com outra (idade, meio, origem, independência, ...) a não ser na alegria de viver e curiosidade, percebi que é preciso estímulos para não nos tornarmos velhos e aborrecidos e manter a Criança que existe em cada um de nós viva.

Encontrar estímulos?

Este blogue: leres e escrever nele deve funcionar como estímulo, gostava de saber quais as razões porque me lêem vocês, elevado público?

Andar e falar melhor; aproveitar com mais sabor a gente com que tenho o privilégio de viver, distrair-me menos; dar mais tempo ao tempo com qualidade; quero criar um esquema de vir cá diariamente responder a esta pergunta: o que é que aprendeste hoje!?

Pensei num esquema, escrever uma frase por dia, tipo:
segunda feira

terça feira

quarta feira

quinta feira

sexta feira

não na escola, nas aulas, mas na tua vida... a brincar, com a gente do mundo, sei lá, comigo, com quem quiseres...
era uma coisa que fazia com a minha Hidroterapeuta e que tinha piada: se pensarmos bem encontramos sempre alguma coisa gira para partilhar;
O nosso corpo (cada órgão é muito bem construído) tem um mundo enorme dentro e nele vivemos, distrair-nos de nós permite-nos descontrair-mo-nos e cada gesto sai mais solto; por outro lado, pensar no outro permite-nos descansar de Nós: se non é vero... é ben trovato!

04 janeiro 2017

escrever faz/sabe bem!!!

Escrever demonstra teu interior, tua personalidade, quem és; rigidez e/ou volatilidade;

Pela escrita compreendes melhor quem és, falas contigo;

Também mostra tua disposição: chateado e pesado, ansioso, animado, eufórico ou leve e descontraído, etc..., etc..., etc...; mas o que é melhor é a liberdade de escrevermos sobre o que e quem quisermos; a capacidade de escrever sobre o que quisermos.

Escrever é sempre criativo: pensas sobre coisas chatas e obrigatórias de registos e notários, para esses ainda é preciso mais criatividade para não te aborreceres mas também podes procurar ser original.  

É consensual e gratificante perceber que todos temos a capacidade criativa, e que ela deve ser melhor desenvolvidas.

Pela escrita posso fugir daqui para onde imaginar, criar imagens.

Gosto muito de escrever e gostava que descobrisses essa vontade também.

A escrita como coisa gira e divertida que desejas, com que gostas de passar o tempo, porque tens vontade de escrever, como um jogo viciante onde vais por impulso e não como obrigação chata e porque tem de ser.

Passar palavras ao papel porque nem sempre somos bons a conversar, escrever dá jeito para pensar; dá trabalho escrever bem, não se nasce com isso, não é como ter os olhos bonitos; é preciso treino e teres bons objectivos.

Escolher palavras de que gostamos mais porque não gostamos de todas e pintar frases mais bonitas para não ser aborrecido lerem-nos.

Kusturica é sempre um mundo inesperado...




Sabemos sempre que nos vai surpreender e surpreende mesmo, não adianta estar preparado para a surpresa, ver um filme do Kusturika é muito à frente, mudamos de mundo.

Cor, som, mundo, formas de funcionar, tudo muda; parece  que demonstra sempre  que 'life is a miracle!' : on the Milky Road ou a via láctea é Kusturika...

A amada morreu num campo com cordas atadas a minas, Emir, o actor, prepara-se para morrer, para suicidar-se rebentando outra mina e quando ia dar o pontapé final é agarrado: 'então!? não podes morrer: quem guardaria a memória dela e do vosso Amor se morresses!?' 


Emir Kusturica (n. 1954) é um realizador controverso que, como poucos, suscita as mais extremadas opiniões. E é assim controverso por duas ordens de razões. Por um lado as propriamente cinematográficas, pela adesão ou rejeição imediata, epidérmica mesmo, que suscitam a desmesura e imaginário figurativo dos seus filmes. E, por outro, pela sua trajectória política durante a guerra na ex-Jugoslávia e suas sequelas, bem como pelas suas idiossincrasias megalómanas – e note-se que estas últimas são matérias de facto e não da subjectividade de apreciações.

Kusturica destacou-se logo com Recordas-te de Dolly Bell?, Leão de Ouro para a melhor primeira obra em Veneza em 1981 e foi consagrado com O Papá Está em Viagem de Negócios, Palma de Ouro em Cannes em 1985, muito claramente duas obras de “jovem cineasta”, duas revisitações sob prisma íntimo da História  da Jugoslávia comunista de Tito, os anos 60 na perspectiva de um adolescente, no primeiro filme, a de 1950 narrada por um miúdo, no segundo.

O seu cinema evoluiu entretanto num sentido desmesurado que, podendo até nalguns casos estar inscrito em matérias do real e da História ou, na mesma ordem de razões, da cultura e sentir de uma comunidade específica, no caso os ciganos, é feito de excesso e “para além” do real, num “sobre-real” mesmo, quando não até taxativamente “surrealismo”. E assim se sucederam O Tempo dos Ciganos (1989), a viagem americana de Arizona Dream (1993) e dois absolutos delírios, a apoteose de Underground (nova Palma de Ouro em Cannes, 1995) e o regresso aos ciganos com Gato Preto, Gato Branco (1998).


Só que ocorreu com Kusturica o horizonte negativo dos cineastas, dos artistas, que operam nesse estreito fio de risco que são a desmesura e o excesso. A Vida é um Milagre (2004) era (é) uma catástrofe também ela absoluta, e Promise me this (2007, nunca estreado em Portugal e um fracasso internacional) um “monumento” de auto-indulgência e auto-citação insuportavelmente repetitivo.

O realismo íntimo dos primeiros filmes, Lembras-te de Dolly Bell? e O Papá Está em Viagem de Negócios
Seria Kusturica “um caso arrumado”? Deve haver uma prevenção genérica com este tipo de catalogação e ter a disponibilidade suficiente para ainda se deixar ser surpreendido – já me ocorreu mais que um caso em que considerei um realizador já “assunto encerrado” e depois haver um filme que me levava a reconsiderar. Além disso´, e no caso concreto, com Na Via Láctea Kusturica, qual Fénix, renasce das cinzas, ou das misérias em que havia caído o seu cinema, com uma prodigiosa obra-prima, absolutamente espantosa, que é o seu filme mais arriscado e também uma súmula, convocando inúmeras memórias dos anteriores e incitando à sua revisão e reconsideração.

  Pegar ou largar




Este é, por demais claramente, um caso de “pegar ou largar”. Compreendo que haja rejeições veementes do filme mas por mim estou “pegado”, e não sou eu que “pego” o filme, é ele que se “pega” a mim, logo desde o assombroso primeiro plano do falcão na montanha – fica-se “colado” ao ecrã. Este é um daqueles raríssimos casos em que temos de repor a questão de base, perdida na sucessão de visões de filmes, ou até na voracidade do consumo: o que é o Cinema?
 
O aparato e a arte cinematográfica têm uma capacidade ímpar de indagar, captar e registar os indícios do Real e da História, constituindo-se como uma experiência do mundo tanto mais relevante quanto é rápida e alargada a sua possibilidade de difusão. Mas a arte cinematográfica é também espectral e fantasmática, propiciadora de espantos e assombrações. São de algum modo, ainda que transfigurados, os dois polos existentes desde os primórdios, Lumière ou o real, Méliès ou a ilusão.

E porque se repõe a questão com Na Via Láctea? Porque o filme anuncia-se, num cartão logo ao princípio, ser baseado em histórias reais, e aborda uma iniludível tragédia real, a das guerras na ex-Jugoslávia (inclusive de modo muito mais frontal que Underground, que tinha supostamente como quadro a II Guerra Mundial, embora não deixe de ser óbvia que era uma metáfora das turbulências do desmembramento do antigo país, que se torna explicito no final, com o bocado de terra que se separa e a derradeira frase, “era uma vez um país”), e todavia transcende em absoluto qualquer realismo, de modo inaudito e até “miraculoso”.

O cinema Kusturica extravasando para além do real, com alucinações, hipnoses, sonhos, levitando: O Tempo dos Ciganos e Underground. Eis também o que nos conduz a uma “digressão” pela obra de Kusturica. Ele estudou na FAMU, a famosa escola de Praga, e nessa sua obra cedo se dá a ver a decisiva influência dos filmes checos de Milos Forman (antes da invasão soviética e do seu exílio), o “realismo íntimo” mas também de implicações geracionais e sociológicas dos maravilhosos O Ás de Espadas (1964) e Os Amores de uma Loira (1965), depois a dança incendiária e carnavalesca de O Baile dos Bombeiros (1972). Lembras-te de Dolly Bell? evoca irresistivelmente O Ás de Espadas e de modo mais lateral Os Amores de uma Loira, e não foi nada fortuito que a inesperada Palma de Ouro a O Papá Está em Viagem de Negócios tenha sido atribuída por um júri presidido por Forman.



 
Só que com as personagens principais de um e outro já havia práticas ou ocorrências que, ainda que não saindo do quadro do real, eram de âmbito digamos que “para-normal”: o Dino de Dolly Bell praticava “hipnose, auto-sugestão”, inclusive com o seu coelho (começo logo no “anunciador” primeiro filme do inacreditável bestiário que Kusturica foi reunindo), o Malik de O Papá tornava-se sonâmbulo.

Mas havia ainda outra recorrência. O primeiro plano do primeiro filme era um homem, o “controleiro”, o pregador do partido, com grossos óculos escuros e o encarregado que se ocupava dos miúdos era chamado de “Quatro Olhos” pelos seus espessos óculos; isso tinha também Mirza, o irmão mais velho de O Papá….

Ou seja, desde os primeiros filmes Kusturica punha em cena uma condição “reforçada” de visão, mas também distorcida, o que voltava a acontecer com o rapaz que é personagem principal do filme seguinte, O Tempo dos Ciganos, que também usa óculos muito graduados, com a particularidade acrescida de a lente esquerda estar tapada - e o Kosta interpretado pelo próprio Kusturica de Na Via Láctea reforça a visão com um monóculo!

E, claro, desde os primeiros filmes havia a música, as cançonetas e os bailes, em roda-viva, que nos dois filmes de guerra, Underground e este agora, se tornam delirante dança macabra.



PÚBLICO -
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Na Via Láctea é um filme que nos faz “acreditar” que o cinema pode ser “um milagre” Marcel Hartmann Crucial na filmografia foi a opus seguinte, O Tempo dos Ciganos: não só o cinema de Kusturica, já para além do real, “entrava em levitação” (estado que a partir daí nunca faltaria), coma a estrutura precisamente do tempo deixava de estar comprimida e uniforme, antes havendo cenas e sequências longuíssimas que, nos seus melhores momentos, neste filme e nos posteriores, têm o caracter de alucinações hipnóticas. E começava a ser patente a proximidade com o universo de Fellini – mas disso já falaremos. O circo privado Alucinações, hipnoses, sonhos (Arizona Dream se chama o belíssimo filme americano – mesmo que o realizador tenha antes achado a experiência um pesadelo), fantasmagorias – o real e o “sobre-real”, quando não ocorre ser taxativamente “surrealismo”, afirmam-se como o universo distintivo do autor. É um cinema de “visões”: se há muitas personagens com questões de vista (neste agora há um olho de vidro), os ângulos de visão multiplicam-se até ao uso recorrente da grande angular (mas como é possível filmar intensamente em exteriores com essa lente?, o que sucede em Na Via Láctea, e é um dos mais destacados prodígios ou “milagres” do filme), e há com frequência “visões”.

E, em paralelo, há o continuado bestiário: o coelho, a pomba e os cães em Dolly Bell, os pombos e os cães de O Papá…, o peru e o gato do Tempo dos Ciganos, as tartarugas e o porco de Arizona Dream, o macaco, o papagaio, os gansos, etc.., etc…em Underground, os gatos, cães, peru, patos… de Gato Preto





Seria Kusturica “um caso arrumado”? Deve haver uma prevenção genérica com este tipo de catalogação e ter a disponibilidade suficiente para ainda se deixar ser surpreendido. Ocorre haver animais em filmes, muitos cães, cavalos, pombos e gatos sobretudo, mas nada que se assemelhe ao circo zoológico de Kusturica. Cabe sim mencionar que há dois animais que “são” personagens principais de filmes e até lhe dão título, evidentemente o burro de Au Hasard Balthazar (1966) de Robert Bresson e o falcão de Kes (1970) de Ken Loach. Um burro e um falcão, que coincidência, vem a calhar… Por muitos animais que haja em filmes de Kusturica, não há precedente para o estatuto que ele dá em Na Via Láctea ao falcão, ao burro, ao urso e à serpente, Inclusive creditando-os como intérpretes no genérico final. A serpente é um caso particular. A história que a envolve (mais que uma vez aliás) é dramaturgicamente da maior importância e o realizador refere-a sempre como um dos acontecimentos reais em que se baseou, o de um soldado russo que no Afeganistão foi enrolado por uma serpente que de facto o salvou de um tiroteio. Mas a serpente não é propriamente “ensaiável” e controlável, e nessas cenas há efeitos especiais de tratamento digital. Mas os outros, com quem obviamente Kosta/ Kusturica tem uma “relação pessoal”, são mesmo animais dele, parte do “circo privado” que mantém e com o qual até se desloca. Pode-se suspeitar aliás que essa foi uma razão determinante para uma das maiores dificuldades do filme, o facto de Kusturica ser também protagonista. Mas como conseguiu ele estar atrás da câmara, com movimentos extremamente complexos e incríveis “orquestrações” de figuras e eventos, e estar ao mesmo tempo frente a ela, como actor principal?! É da ordem do prodígio, mas se é de um virtuosismo imenso não é reduzível a isso, é o espantoso “investimento pessoal” do autor neste filme. Fica-se boquiaberto e rendido – eu por mim fico.

Como conseguiu ele estar atrás da câmara, com incríveis “orquestrações” de figuras e eventos, e estar ao mesmo tempo frente a ela, como actor principal?! (eu diria que ele precisa de estar à frente da câmara para sentir o filme: é ele o jogador que organiza e marca os golos sendo pouco ficar no banco).

A peculiaridade do “circo privado” leva-nos às idiossincracias de Kusturica e à sua megalomania. O narcisismo vedetista da pose de rock star com que ele andou à frente da No Smoking Band (até fez um documentário sobre ele e o grupo) é coisa menor comparado com a construção de uma cidade para a rodagem de A Vida É um Milagre, a qual, chamando-se Andricgrad, em homenagem ao Prémio Nobel da Literatura Ivo Andric, autor de A Ponte sobre o Drina (a “cidade” fica junto aos locais referidos no romance), é uma “kusturicalândia”, uma Disneylândia nos Balcãs.

E que interessa isso para a consideração do seu cinema? Importa porque coloca a interrogação desse cinema não ser mais que exibicionista (o que muitas e respeitáveis pessoas acham), suscitando a tal questão da característica felliniana, inegável em Kusturica. Ora “felliniano” é coisa que não sou de todo, o que não me impede de achar que há filmes, e esses são obras-primas (Amarcord, E la Nave Va… ou a tocante homenagem ao circo que é I Clown) em que ele se “transcendeu”.

“Transcendência” é um conceito que ocorre a propósito de Na Via Láctea, sobretudo depois dos dois imensos desastres anteriores.

Citei dois polos do cinema, Lumière e Méliès. Cabe referir, a título de paradigmas, um outro, Dreyer e Buñuel, o ascético e crente e o surrealista e herético. O título Na Via Láctea deriva de ser pelo leite que a misteriosa mulher ordenha das vacas e entrega a Kosta que se estabelece a proximidade entre os dois, mas remete também para a desmesura cosmológica do filme, no modo como intenta criar um universo.

O tão surrealizante Kusturica não podia contudo desconhecer que Na Via Láctea se chama o mais herético dos filmes daquele que é “o” cineasta surrealista, Buñuel. Não podia desconhecer, note-se, mas pelo contrário o epílogo até é com a conversão de Kosta em monge ortodoxo. Não é por esse religioso final que se invoca um paradigma com Dreyer, mas porque um prodígio maior do filme é fazer-nos “acreditar” nele, questão de “crença” portanto. Não é de modo nenhum preciso ser crente para acreditar no milagre em A Palavra de Dreyer. De outro modo de todo diferente e sem estar a fazer comparações, Na Vida Láctea é um filme que nos faz “acreditar” nele, em que o cinema pode ser “um milagre”.

Mais importante é a possível objeção ética ao filme como não só legitimação da posição pró-sérvia do autor (e, de resto, até da sua conversão ao cristianismo ortodoxo) como, mais grave, de branqueamento de crimes de guerra. Não é nada inocente, antes pelo contrário é motivo de perplexidade, que Kusturica tenha situado o filme na Krajina, “república sérvia” em território croata, em que houve gravíssimos crimes, ou proceda ao seu “ajuste de contas” com a intervenção ocidental nas guerras da Jugoslávia, apresentando como “a má da fita” uma brigada da  SFOR (Stabilisation FORce), os destacamentos enviados pelo Nato, embora ao abrigo de uma resolução do Conselho de Segurança..

Compreendo a objecção e respeito-a, mas ainda assim acho que o cerne é outro. “Esta guerra não é connosco” diz a velha aldeã, e o par da “Noiva” e Kosta não estão envolvidos na guerra, são sim cercados por ela. Não sendo nada fortuito que este seja o filme em que Kusturica enfrenta directamente as feridas das guerras na Jugoslávia, é divergente o fio da narrativa: “é possível o amor em plena guerra?”.

02 janeiro 2017

carta para alguém com a Neura

  


Prezado Amiga/o,

Há muito, muito tempo, que ando para falar contigo sobre um assunto incómodo: o teu humor, escolheres sempre os momentos habituais e rotinados das Festas para estares chateado/de mal com a vida.

Parece que alguém te tratou mal e merece ser maltratado por ti!

Não gostamos de te sentir cá obrigado ou melhor queremos sentir-te motivado para melhorares os momentos conjuntos.
Para te dizer que estares triste é profundamente injusto e Egoísta: temos alguma responsabilidade por andarmos cá alegres e animados.

Não só por Nós mas também: por quem vive connosco; vivemos numa comunidade que queremos tornar melhor.

Nem sequer posso estar triste/chateado quando me apetece!?, perguntas tu. Não é por vontade minha que fico assim... 

Pois não mas há um esforço por ficares bem que cada um tem que fazer, que ninguém pode fazer por nós, nem por ti, aos poucos tens tendência para ir melhorando.

Tens sempre o truque de pensares em coisas animadas e bem dispostas. 

Há muitas mais razões boas para alegrar que para nos entristecermos: há qualquer coisa que merece o nosso empenho nela, na vida!!!
Ensinaram-me que mesmo para estar sem fazer nada é preciso arte e isto da vida é demasiado curta para andarmos tristes: todos têm a sua cruz e importa saber carregá-la com algum charme e estilo.
Há múltiplas razões para pensarmos e imaginarmos sem sairmos daqui deste espaço que ocupamos, por muito diminuído que esteja o nosso corpo parece que se um membro é afectado os outros tentam substituí-lo. 
Como o Zeca cantava na Mulher da Erva: 'há quem viva sem dar por nada e há quem morra sem tal saber!'

Anda lá, faz por nós todos e anima-te!!!
ABRAÇOS!

copo meio cheio

As perguntas....
 


1)      Devemos estar pessimistas ou optimistas para o ano que entra?

Optimistas, sempre.
Estar optimista ajuda a viver melhor.
O Optimismo puxa as coisas melhores!!!
O Optimismo não é contrário ao realismo mas uma forma de agir sobre a realidade acreditando que a podemos melhorar.


2)      Porquê?

Porque o futuro é imprevisível e há mais tendência para as coisas boas se aproximarem do sentimento que se exprime pelo sorriso... O trânsito e suas regras são das coisas que melhor exemplo dão de como viver em sociedade pode ser giro e bem pensado.

Nacional: Porque temos um PR e um governo como desde que me lembro funcionam em comum pelos que os elegeram.
A diferença está bem expressa pela variedade deste governo: jovem, aberto e moderno; trabalhador, experiente e humilde; previdente, pensa no futuro (porque isto é limitado) e nos animais e plantas como forma de vida como a nossa; que luta por uma sociedade mais solidária e tolerante. Passa confiança e faz acreditar no futuro!

Internacional: Porque a ONU tem lá um novo secretário que vai tornar as nações mais unidas. O Trump e os Eua não poderão fazer tanto mal esperado; as sociedades vivem para lá dos governos.

Os conflitos e guerras têm tendência para acabar: ninguém consegue manter o manto guerreiro muito tempo; os humanos são mais pela paz.

3)      Para que datas (ou personalidades) devemos olhar com mais atenção em 2017?

O monte de crianças que têm surgido e elogiam o passado construído e deixam boas perspectivas de futuro.

4)      Que prioridade tem para o ano novo?

Olhar mais pelos meus e menos por mim: Gente forte.