19 setembro 2023

Chovera e o mundo mudara.

Era uma vez isto da VIDA!!!

Era por vezes calma, tranquila e suave, outras agitada, apressada e áspera, a vida tinha tantas cores como as que quiseres pintar, escura ou clara ou com meio tons; era barulhenta, harmónica e musical; desarrumada ou organizada estilo preceptora inglesa; era tantas coisas diversas como os momentos!

Por vezes ação e arte, teatros e cinemas, televisões; informação e jornalismo, no papel, na rádio, televisão, Internet, reportagens, culturas e desportos, saberes, conhecimentos, filosofias, interesses, sabores, culinárias de todo o mundo geográfico, religiões, meditações, valores, mistura de cores clareiam. Por vezes, no dia a dia e na rua comum também.

Outras vezes, amizades e amores, confiança, respeito, família, filhas, mães e avós; heranças do passado passando do presente para o futuro.

A morte e a nascença e entre elas a vida é tudo o que acontece.

Há quem tenha a capacidade de sobreviver, de deixar vidas, filmes, livros e histórias que ultrapassam gerações e gerações; gente que é forte a atuar nos mais diferentes espaços e tempos e a fazer de conta que é outros quando não é ele mesmo; de passar memórias, de ocupar lugares ofuscando os outros, erguendo o egoísmo invés do altruísmo.

Todos temos de a criar com mais ou menos interesse, com mais ou menos piada, de a aproveitar e usufruir, ter essa consciência, ainda que por muitos momentos, era importante para bem viver, viver com tudo.

É a nossa responsabilidade criá-la ao nosso jeito, trazê-la para o nosso gosto e aproveitá-la para crescer e melhorar dentro dela...

Tínhamos a responsabilidade de criar a nossa histórias reais ou imaginadas, músicas e/ou concertos, edifícios, arquiteturas e/ou cidades, invenção ou novidade se possível ainda, filosofias e discotecas, o mundo suburbano onde existem pessoas!

A vida tinha a capacidade de ser sempre irrepetível e mágica; consoante a perspetiva.

E as condicionantes mudavam consoante as vidas: os nomes, os nascimentos, os locais, as idades, as maturidades, as relações de amor, ódio, de amizade e inimizade, as doenças, acidentes, as histórias, o dia a dia e muitas outras coisas, etceteras.

Cada pessoa era um e cada um era diferente.

E as vidas iam crescendo diversas em assuntos, nos elevadores, táxis em cada dia de sol, de chuva, cinzento ou mais colorido, nevoeiro, densidade, temperatura, alturas, já quase não se conversava mas escrevia-se e lia-se, muito mais do que em qualquer altura na História.

Isto da vida requeria muita imaginação, boa disposição e cada qual solucionava com seus gestos individuais para juntar ao geral.

Havia gente muito tímida, individual; que se sentia muito bem em grupos e no social; gente que variava muito e era tanto tímido como aberto ao mundo.  

Havia ricos e pobres, ricos em saúde, beleza física e espiritualidade, saber; pobre em amigos, imagens, esperança. Era um mundo muito rico, fascinante em histórias e imaginações, pobre em tempo e noção dessa riqueza.

Podia ser melhor, sem dúvida mas, felizmente, que essa riqueza é rara e não é facilmente obtida.

E o conhecimento vinha passando mas sempre com dificuldades na dispersão. Não era fácil formar conjunto, nem nos temas, nem nos interesses, nem nas gerações, géneros; havia muita coisa a dispersar...

Não era fácil/simples de congregar em palavras, sendo a escrita uma forma mágica de organizar mais facilmente os diferentes conceitos.

Era complicado erguer uma personalidade sem contradições, iam sendo formadas gradualmente, nunca estando completas mesmo depois de envelhecidas e mortas.

Ciências, Artes, Economia e Humanidades e cada dia se iam encontrando e conhecendo novos conhecimentos e saberes contrários; já se ultrapassara uma fase em que a experiência e o erro eram qualidades ou não.

Há sempre fases novas, cada pessoa é um mundo com um tempo próprio; fotografias, refeições, piqueniques e modas.

Cada conversa tem novas palavras e modos de dizer; havendo um palavreado comum habitual e ritos próprios que rotinam os gostos e o bem viver.

Há pequenas comunidades que se criam/formam em gestos comuns: às vezes profissionais, outras etárias, geográficas e temporais: uma pessoa de 1923 que viva em Lisboa se fosse deixada hoje em dia na mesma cidade teria dificuldades em reconhecer os cantos, ruas e lugares.

Seria tudo diferente, até os gestos; comer por exemplo não seria fácil de reconhecer/de recriar; os automóveis, os móveis, as divisões, os prédios, as roupas; seria um rico e complicado filme de ficção;  andar para a frente no tempo ia ser complicado mais que regressar ao passado porque temos história escrita e na memória; é uma bela invenção a escola e a escrita.

E tudo isto da vida implicava muitas velocidades diferentes... e indescretiveís, sem ser escritas... é a vida!

14 setembro 2023

Acho que somos balões! (André Pereira)


A família é a base de qualquer pessoa mas nem sempre a família compreende quem somos e nos aceita. Quando desistimos da família, o que resta de nós? Quem somos sem aqueles que são do nosso sangue!? o que nos faz termos de cortar com a nossa família?

Vou tentar descobrir a família que conheço. Há como base a todas as famílias um casal, do qual podem ou não vir filhos, e consequentes gerações. Agora, são públicos e respeitados os amores homossexuais, por exemplo. E só na Roma antiga eram aceites também. São um exemplo de modernidade e pensar fora da caixa. E dizem que, a História não pode nunca ser travada ou repetida mas as mudanças ocorrem. Estaremos cá para descobrir novas mudanças, para responder a elas.

Durante imenso tempo da História a sociedade dividiu-se em três ordens sociais: povo, clero e nobreza! Era complicado passar de umas para outras mesmo que se quisesse.

A natureza tem condições para se modificar, como tem dado provas disso mesmo; a reação ao COVID por exemplo foi assombrosa nos exemplos de humanismo.

Todas as alturas mais complicadas (guerras, fomes e doenças, etc.) são geradoras de ligações fortes de amor entre as pessoas.

E a sociedade, foi criando colos onde se aninhar com o tempo.

Vou, de seguida, tentar responder ao que me é proposto no parágrafo inicial a itálico.

Ora, quem é que NÓS somos sem a família!?

É uma pergunta muito conservadora. A família tradicional é conservadora!? a família de sangue! Talvez seja a melhor forma de conservarmos a espécie humana que somos Nós!

Mas a abordagem à família que a pergunta faz transparece que não somos muito mais que pais e filhos, avós e netos, tios e sobrinhos.

E somos desportistas, escritores, leitores, amigos, pensadores e muito mais...


Quando desistimos da família, o que resta de nós?

Não é habitual, em Portugal, talvez menos, a família viver separada/afastada de Nós.

Parece que sem família pouco ou nada somos e não é verdade, para começar temos todos que descobrirmos quem queremos ser individualmente, é para cada um essa tarefa, todos nós somos muitas mais coisas no nosso dia: cuidadores e/ou cuidados, alunos e/ou mestres, imaginadores/ideólogos/práticos/criadores; se começo a escrever tudo o que podemos ser duraria uma vida e ocuparia bem mais que o espaço que o usual nestas crónicas. É fascinante não haver duas pessoas iguais na História e na espécie humana, por exemplo.

Quem somos sem aqueles que são do nosso sangue!? Não somos apenas corpos físicos e sanguíneos, genes, órgãos, a pulsar e respirar; sem eles seremos órfãos, solteiros, viúvos mas  dificilmente sozinhos, é difícil estar sozinho mesmo querendo...

Ou, claro que a família não é conservadora mas há novas formas de família que ultrapassam o organismo físico, o corpo e o sangue ou sempre existiram formas de fazer comunidades diferentes. A família tradicional nascida num casal, com heranças, gerações e mais gerações é cada vez menos comum.

Quem somos sem a família de sangue? Ora, a família social é mais válida hoje do que nunca (!?), há cada vez mais igualdade entre géneros, classes, grupos sociais e raças.

Não há formas de viver corretas, nem fórmulas para viver melhor.

Todos nós somos produto de onde nascemos, dos nossos lares, das nossas escolhas.

Há quem precise de fazer novas vidas, diferentes e quem se identifique sempre com o lar/família onde nasceu. Cada pessoa é uma vida, uma escolha, não há vidas iguais.

E as famílias também são produto do cruzamento escolhido entre um homem e uma mulher ou dois homens/duas mulheres que se produzem num casal.

Somos letras e palavras escritas, cores e imagens, ternuras e carícias, músicas e sons, ocupações e funções, amores e desamores, ocupações e profissões, idades e seres, somos muita coisa diferente.

Tudo vem do tempo e das escolhas produzidas no passado, somos no presente futuro do que passámos. E somos nos espaços, agora com a internet, os telemóveis e telefones fixos somos cada vez mais comunicadores à distância e o mundo tem um espaço mais pequeno, curto e apertado.

Numa época, em que é comum seres divorciado há cada vez mais cruzamentos e irmãos que não têm os mesmos pais.

Isto, talvez, seja o mais diferente: é comum o divórcio, faz cada vez menos sentido o até que a morte nos separe!



A amizade traz-nos grande parte da família moderna também.

É conhecida a designação de Manos entre amigos e colegas da escola.

Grandes relações amorosas raramente duram uma vida, nos dias de hoje, são exceções que confirmam a regra.

Ser raro é bom, ser difícil faz parte de querer ser melhor.

Podemos ver a família de sangue só uma vez por ano no natal; ou todos os fins de semana ao almoço.

Normalmente, as mães têm relações mais incarnadas com os filhos mas não há regras. Cruzamentos de classes, nacionalidades, etnias, culturas: tudo é possível hoje em dia. Há Liberdade para te reinventares e seres vários EU’s.

Grande parte das pessoas atuais são solteiras e/ou vivem em casal sem laços de sangue. A família é muitas vezes quem menos nos compreende e/ou aceita

Quando desistimos da família não me faz sentido porque não é uma prisão ou se desistimos de algo é porque não nos interessa, restam-nos amores, amigos, colegas de trabalho... A sociedade dá-nos outras famílias, sem ser de sangue!

Nunca somos só família de sangue. E Sempre teremos liberdade de escolher diferente, o que mais nos interesse.

Nascemos nela, somos criados nela, bem e/ou mal, mas a nossa vida não tem que ser feita em função dela (consoante as idades...); se não nos aceita e compreende porquê negarmos quem somos.

Teremos razão em sermos como somos e não nos importa negarmos quem o EU é socialmente, não só biologicamente. Não temos que ser sempre compreendidos, nem aceites...  ou não somos só compreendidos e/ou aceites nas famílias!

Se quisermos ser mais utópicos: é que sendo irmãos da natureza! Teremos animais no ar, na terra, no ar, debaixo do chão: onde houver células temos famílias.

O amor homossexual não é abrangido pela noção de Família tradicional e há, de certa forma, uma exclusão. Há muita gente fora da norma!

E não temos que ter regras/normas que carregamos desde o nascimento na família até ao funeral, não há uma linha unívoca!

A instituição casamento foi uma criação antiga numa altura em que a sociedade de ordens: povo, clero e nobreza era rígida no respeitante às heranças e filiações; coisas como o casamento homossexual e/ou as uniões de facto eram impensáveis!!!

Acho que temos evoluído (a meu ver, bem) e quando as pessoas estão juntas em festivais, reuniões, concertos, jornadas políticas, jogos grandes em estádios, festas internacionais de Erasmus, SVE, Leonardo, comícios se sente o toque familiar.

A minha conclusão é que se é preciso geração de um ser na família, é importante essa libertação e autonomia.

 



07 setembro 2023

Quando te encontras contigo!


Summerland




Natureza Urbana 



"Quando a minha mãe morreu e me despediram do salão, recebi tanto tempo livre que não sabia onde o pôr, a quem o dedicar, o que fazer com ele. A minha única ambição era aprender a andar devagar."

Ao se ver sozinha, de repente, diante de um mundo imenso, uma mulher decide se livrar de tudo o que não é essencial. Sem afazeres e reduzindo suas necessidades materiais, agora ela se dedica a contemplar a paisagem urbana que a cerca, resignificando sua relação com a natureza, que se infiltra pelos desvãos da cidade. A partir de então, passa a perceber o que sempre escapou ao seu olhar apressado.

Joana Bértholo nasceu em Lisboa, em 1982. Formou-se em Belas-Artes, em Design, e doutorou-se em Estudos Culturais. A sua escrita diversifica-se em formatos como o romance, o conto, o ensaio, peças de teatro e literatura infantil e juvenil. Muitos desses textos tratam tanto do reflexo quanto das reflexões que a crise climática suscita no nosso tempo. A nossa relação com ideias de Natureza e o papel da linguagem nessa relação são temas que se encontram no romance Ecologia, publicado pela Dublinense em 2022, mas também neste Natureza urbana.

www.joanabertholo.pt