15 agosto 2019

Acredito que a verdade não pode ser encontrada só nas maiorias.

Nem todos tivemos a sorte de poder crescer num pedaço de mundo calmo e tranquilo, onde nunca nada faltou.

Sinto que aqueles de nós que tiveram essa sorte, sem nunca nada termos feito para a merecer, têm o dever de contribuir para alargar essas condições ao maior número de pessoas possível. Sinto que temos de contar a história dos que não tiveram e não têm essa sorte, bem como de exigir que quem tem poder para melhorar as coisas, o faça: aqui e assim (link)! 

Preocupa-me o sentido desta coisa a que chamamos vida. 


Pela berma um achismo: acho que não há um único sentido ou há tantos como pessoas, preocupar mo-nos com esse nosso sentido é a nossa responsabilidade a construir.

As várias frases Aqui (link) descobertas pertencem ao Sobre Nós do jornal informal alternativo FUMAÇA que é um sentido invejável descoberto por eles.

10 agosto 2019

Quando vou à terra - Banzão - fico por lá!


Nasci em Lisboa e vivi até à 1ª classe na cidade nova em Odivelas, num 10º andar de que me orgulhava de viver lá no topo; a 2ª classe vim fazê-la no Mucifal, freguesia de Colares, concelho de Sintra e a minha terra tornou-se esta. Dos 07 aos 20 sem tempo correto era assim:

No fim da primária fui para a C+S da Sarrazola 


Onde toda a malta nova da região se juntava, quem andou na Sarrazola fala dela com paixão, não se esquece, havia 6 turmas por ano:

1) Colares
2) Almoçageme
3) Galamares
4) Mucifal
5)  Praia das Maçãs e Azenhas do Mar;
6) Nafarros e Fontanelas;

Era um mundo novo onde dos mais velhos que éramos passámos a ser os mais pequenos com 10 anos.

Inventámos um jogo ou adaptámos o subutteo, fazíamos jogadores em madeira,  éramos verdadeiros artesãos talhando corpos adaptados às funções. 

Equipávamos com fitas isoladoras coloridas e numerávamos, o campo eram velhas alcatifas (maior que os campos de subutteo piriris) marcados a preceito com ferros de soldar, havia torneios internacionais e tudo, prémios, divisões, trocas de jogadores, melhores jogadores, marcadores; as bolas eram retiradas dos rollons desidratantes e secos; as balizas eram construídas, soldadas a ferro e enredadas com sacos de rede de batatas.

Estudávamos desde King, ao trivial, ao sobe e desce a matérias em fases de testes.

Tínhamos o costume de vir após os dois/três kms a pé de retorno desde a Praia das Maçãs e fazer torradas com manteiga e beber chá, havia quem comesse arroz branco aquecido, certa vez, resolvemos alargar o jogo do quarto escuro à casa toda e quando acendemos a luz estava a um canto o jovem do arroz, moçambicano, pele negra e sorriso largo a comer baba de camelo à colherada de uma tigela; certo dia pusemos 17 jovens dentro de um 2 CV de um colega; toda a turma pegou no carro do professor de matemática pela zona de baixo e carregámos o carro para o meio do relvado inclinado

Roubávamos fruta (ameixas, nêsperas e... nabos), dávamos mergulhos em piscinas de casas de verão, ganhávamos dinheiro a apanhar pinha, íamos acampar para a serra, aprendi que jogar bem à bola dava um jeitão para fazer amigos, começámos a ter animais de estimação e torná-los nossos amigos (gatos e cães: Bonjour, Bonsoir, Índia, Leão, Ginja, Félix, Murtillo e etc.); rondávamos as festas de aldeia da região, perto do mar, faltávamos às aulas e éramos dos primeiros banhistas no verão nas motos 50 CC  DTLC mas a terra e escola acabavam em Sintra no secundário era a norma, não se falava em faculdade; 

Mas quando cheguei à faculdade, Lisboa afastou-me da terra, voltava diariamente cansado do dia fatigante de trabalho. 

Tenho ouvido por aí dizer a má língua que em Sintra chove muito e está sempre cinzento, respondo que Todo o jardim para ser bonito precisa de ser regado, gosto muito de cá viver e isso é só inveja a falar, venham lá fazer turismo! Não é para quem quer, é para quem pode!

03 agosto 2019

é urgente abrandar

Vivemos no tempo da pressa. Crescemos depressa. Trabalhamos depressa.
Comemos, bebemos, dormimos depressa.
Esquecemos depressa o que vemos depressa. E quando lemos, lemos depressa.
Amamos depressa. Fartamos depressa. E quando não enviamos emojis, escrevemos dprs.
Depressa não é para a frente. É só… urgente.
Depressa é à pressa.

Nós somos da terra do devagar. 
Devagar tem outro sabor. Devagar é melhor.
Devagar tem respeito.
Devagar é um talento, e vai longe.
Sim, vivemos no tempo da pressa. Mas se tudo o que fizermos for para ontem, o que acontece a hoje e ao amanhã?

Há várias maneiras de andar para a frente. Esta é a nossa.

n'As brumas da memória falava-se em 'escravos do clima'


«Todos os dias alguém diz que “o pior é a carne”, “o pior é a roupa”, “o pior é andar de avião”, “o pior são os transportes”, “o pior é o desperdício”.

No meio do caos sobre o que fazer com as alterações climáticas, as más notícias acumulam-se. Nos últimos dias vi que 1) até o gelo das zonas mais elevadas da Gronelândia está a derreter; 2) ninguém ligou ao alerta do secretário-geral da ONU, António Guterres, de que é preciso reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 45% até 2030; 3) os países do G20 são responsáveis por 80% das emissões poluentes, mas os países em desenvolvimento, responsáveis por 10%, vão suportar 75% dos custos ambientais da emergência climática; 4) em 2000 anos nunca o aquecimento foi tão global; 5) em Junho o desmatamento na Amazónia duplicou em relação a Maio; e 6) se cada americano comesse menos um hambúrguer por semana isso equivaleria a menos dez milhões de carros por ano nas estradas.

Decidi que não vou perder tempo a perceber o que é “o pior”. Muito menos quem tem razão no debate sobre se as alterações climáticas vão ser graduais ou abruptas.

Ao meu nível — cidadã de um dos 31 países desenvolvidos — basta aplicar a fórmula do arquitecto Mies van der Rohe: “Less is more.” Para quê complicar? Menos carne, menos roupa, menos plásticos, menos transportes, menos desperdício.

Não é preciso sacrifício, nem passar a ser vegan, nem aderir ao movimento No Fly. Talvez seja verdade que “o pior é andar de avião”. Por quilómetro, os aviões emitem 285 gramas de dióxido de carbono por passageiro, mais do dobro dos carros. Mas, na prática, deixar de andar de avião seria deixar de viajar. Nunca mais voltaria a Tóquio (218 horas de carro) ou a Nova Iorque (12 dias de barco).

Como não estou sozinha — somos mil e dois milhões e novecentos mil nos 31 países desenvolvidos do mundo —, fico sempre espantada quando me dizem que tanto faz se comemos um bife todos os dias ou compramos uma garrafa de plástico, porque isso é uma gota irrelevante na imensidão dos problemas do planeta. Como tanto faz? Somos 1002,9 milhões de cidadãos ricos.

São as políticas públicas — as regras, as limitações, a legislação — que vão resolver o problema. O professor Viriato Soromenho-Marques explica isso há anos. E têm de ser políticas convergentes. É inútil à segunda-feira tomar uma decisão para mitigar as alterações climáticas e à terça tomar outra decisão que agrava as alterações climáticas. O professor Miguel Bastos Araújo voltou a falar disso esta semana num Lisbon Talk do Clube de Lisboa sobre geoestratégia e alterações climáticas. Mas a lentidão dos decisores políticos não pode ser bode expiatório para a nossa indiferença. Não basta reciclar, é preciso consumir menos.

O Center for a Livable Future, da Universidade Johns Hopkins, concluiu em 2015 que, a manter-se a tendência de consumo de carne no mundo — sempre a subir — entramos no território do “irreversível” em 2050, mesmo que haja até lá uma redução grande das emissões da energia, indústria e transportes. Só a produção pecuária representa 15% das emissões globais causadas pela actividade humana — mais do que todo o sector dos transportes. Destes 15%, 40% são causados pela fermentação entérica, o particular processo de digestão dos animais ruminantes que os faz libertar metano. Quando chegamos a este tipo de números, há sempre alguém que tem argumentos contrários e diz que o metano é “o problema menor”.

Por isso fico-me pelo simples, que parece incontroverso. Esta segunda-feira, o planeta entrou em crédito climático. A 29 de Julho atingimos o limite do uso sustentável de recursos naturais disponíveis para 2019, ou seja, gastámos todo o “orçamento natural” que tínhamos para o ano inteiro nos primeiros sete meses. Chama-se Dia da Sobrecarga da Terra. No ano passado, foi a 1 de Agosto, em 2017 foi a 3 de Agosto, em 2016 foi a 5 de Agosto. É assim desde 1970, o último ano em que não entrámos em défice climático.

Vale a pena ver os gráficos de barras da Global Footprint Network. Em 1973, chegámos à sobrecarga em Dezembro (duas semanas de défice). Em 1979, passámos para Novembro (dois meses de défice). Em 2004, para Setembro (três meses de défice). Em 2017, para Agosto (cinco meses de défice). E agora já estamos em Julho. Para os adeptos do “tanto faz”, procurem os anos da crise. Não é preciso uma lupa. Vêem-se muito bem. Tínhamos menos dinheiro, consumimos menos, a pegada ecológica foi menor.

Numa versão ainda mais simples, a de Miguel Bastos Araújo: “Em média, cada cidadão americano consome o equivalente a ter 150 escravos climáticos. A energia produzida por 150 pessoas que trabalham de graça equivale ao que cada americano gasta em transportes, a aquecer a casa, a usar a Internet e todas as coisas que fazemos no mundo moderno. Estamos a ficar aristocratas medievais, com muitos escravos climáticos a trabalhar para nós.”»