23 fevereiro 2021

A escrita, a fala e o silêncio... (crónicas do quotidiano)

Para lá do plátano, o teu corpo e a tua fala conheceram dificuldades antes nunca experimentadas, por ti, mas houve algo que nunca se perdeu: o dom da palavra.

Esse dom é essencial à tua liberdade, que falta a tanta gente, que quer dizer o que sente e precisa e não consegue, apesar de andar e falar sem dificuldade. Estarei certa, ou não? 

Acertaste e de que maneira; sinto, algumas vezes, falta de falar melhor mas era bem pior se não escrevesse; escrever é o meu refúgio, meu talento.

Não sei se a minha fala não se desenvolve tanto por 'falar' escrevendo... se não soubesse escrever era bem pior, acho que a Fala não perde por isso, não: tenho um tempo diferente, mais respeitado, 'parem todos que o ZÉ MARIA quer falar e ele tem mais limitações que os outros, sabemos como isto já é complicado para alguém eficiente...'!
A verdade é que não falando bem passo mais tempo a ouvir e, se a minha abrangência espacial diminuiu, circulo por espaços mais calmos mas fazemos demasiado barulho e não só falado mas também: sms's, redes sociais, até na TV há imensas notas de rodapé, uma barulheira, silêncio gosto tanto de ti! 
 

Passo mais tempo calado (relembro que a fala foi afetada aquando do acidente) e ganho tempo a pensar.

Eu sei que a fala dá jeito, mas também estraga muita coisa. Por vezes falar resolve, mas por outras só complica. As pessoas que penso conhecer melhor são pessoas com quem passei muito tempo em silêncio. O silêncio dá muito espaço para sentirmos os outros e os conhecermos mais por dentro. A fala mantém tudo mais na superfície, mais à distância. É o que sinto.

Comunicar calado, falar olhando é intimidade e é bom, revela confiança/segurança!

Passear, estar, pensar, olhar, movimentar, dançar, concentrar, equilibrar.

Se a fala estraga muita coisa, concordo, mas a falar é que a gente se entende.

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