06 janeiro 2023

Catarina e a beleza de matar fascistas


«A Catarina… de Tiago Rodrigues tem as melhores características da tragédia. Assim, inspira o sacrifício individual, é dialética e não didática, discute qual o melhor destino para o coletivo e é insensível quanto à sorte dos seus heróis. E, importante, relembra a importância do ritual no estabelecimento e manutenção das comunidades humanas.» – Rui Pina Coelho, Sinais em linha

 

Esta família mata fascistas. É uma tradição com mais de 70 anos que cada membro da família sempre seguiu. Hoje, reúnem-se numa casa no campo, no Sul de Portugal, perto da aldeia de Baleizão. Uma das mais jovens da família, Catarina, vai matar o seu primeiro fascista, raptado de propósito para o efeito. É um dia de festa, de beleza e de morte. No entanto, Catarina é incapaz de matar ou recusa-se a fazê-lo. Estala o conflito familiar, acompanhado de várias questões. O que é um fascista? Há lugar para a violência na luta por um mundo melhor? Podemos violar as regras da democracia para melhor a defender?



(Tiago Rodrigues pensa muito bem, diálogos do melhor)

O mais recente espetáculo de Tiago Rodrigues chega esta quarta-feira a Lisboa. "Catarina e a Beleza de Matar Fascistas" estará no Porto em fevereiro de 2021

Quase três meses depois da estreia mundial, que teve lugar no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, a 19 de setembro, "Catarina e a beleza de matar fascistas", a mais recente e aclamada criação de Tiago Rodrigues, sobe ao palco do Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB). As duas récitas estão marcadas para as 19 horas

Em "Catarina e a beleza de matar fascistas", conhecemos uma família que tem por tradição matar fascistas. No espetáculo, reúnem-se numa casa no campo, no Sul de Portugal, para que Catarina, uma das mais jovens da família, possa matar o seu primeiro fascista, raptado de propósito para o efeito.

É um dia de festa, de beleza e de morte. No entanto, Catarina é incapaz de matar ou recusa-se a fazê-lo. A partir daí, estala o conflito familiar, acompanhado de várias questões que o espetáculo levanta: O que é um fascista? Há lugar para a violência na luta por um mundo melhor? Podemos violar as regras da democracia para melhor a defender?

A peça conta com interpretações de António Fonseca, Beatriz Maia, Isabel Abreu, Marco Mendonça, Pedro Gil, Romeu Costa, Rui M. Silva e Sara Barros Leite

Ontem (05.01.2023) no local habitual no CCB (guardado para pessoas deficientes), na primeira fila via-se muito melhor que um concerto onde se veem sobretudo as pernas dos músicos, por haver mais espaço para os agentes, peça muito bem conseguida com um elenco que abusava da qualidade.

Ver teatro é outra coisa, o elenco era bestial, do melhor e a peça estava muito bem pensada com vários atos, percetíveis pela mudança no espaço e adereços.

Numa altura, em que partidos fascistas (Chega) e seu líder ocupam demasiado tempo na comunicação social é bom ver que não estamos (todos) desatentos e o que foi não volta a ser.

O público era maioritariamente de esquerda como se viu pela reação final ao discurso a solo fascista. Matar ou não matar um fascista era a questão, um fascista vivo é um perigo sempre latente e eminente; mas matar não tem beleza mesmo fascistas e Catarina acha que não quer/consegue. 

Entramos então num dilema, explicado pelo tio de Catarina com um comboio entre matar todos ou matar a mãe, Catarina responde com um suicídio, pondo-se à frente do comboio.

A analogia matar o fascismo ou a sociedade, a resposta de Tiago Rodrigues é que devemos deixar o público (a sociedade) educar as maçãs podres.

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