22 dezembro 2024

25 de Dezembro: hoje é Natal


Há um monte de tradições na festa do Natal; foram-se acumulando ao longo dos séculos e tiveram origens bens diferentes. Mas o conjunto de todas até nem é mau de todo.

Ora vamos lá ver:

- Festa do nascimento do Sol invencível – instituída pelo imperador romano, Aureliano, em 25 de Dezembro de 247 D.C.

Sendo por essa altura o solstício do inverno, o Sol, tido como divindade, começa a subir. A festa incluía fogueiras que ainda hoje perduram em muitos sítios. Como sucedâneos temos as iluminações mais vistosas e caras; mas os seus alicerces com referência ao Sol, era bom que não se perdessem.

Festa do nascimento de Jesus. A igreja de Roma, para os cristãos não alinharem nessa festa do Sol, batizou-a. Como não se sabia ao certo a data do nascimento de Jesus, o papa Júlio I, em 350, decidiu que no dia 25 de Dezembro se festejaria o nascimento de Cristo, o verdadeiro sol da vida para os cristãos; o cristianismo tinha-se divulgado por todo o Império e a festa do Natal de Jesus também.

No sec. XIII S. Francisco de Assis faz um presépio ao vivo numa festa de Natal e a ideia falou ao coração do povo. A imagem do presépio, julgo, fez nascer no meio do povo uma infinidade de expressões do presépio, algumas com muita arte,
e de maravilhosas canções de Natal. Só por isso quase que valeu a pena, e também por toda a fantasia das crianças e de adultos à volta do Natal.
No cristianismo das regiões pertencentes ao Império Romano do Oriente, o nascimento de Jesus celebrava-se a 6 de Janeiro e teve como inspiração bíblica a visita dos Magos; no meu entender, também a oferta das prendas de Natal vem daí.

A tradição do Natal em Dia de Reis, foi trazida pelos visigodos, povo imigrante vindo das regiões gregas e com tradição cristã do Império do Oriente, que se enraizou em Espanha e aí deixou a sua cultura.

A árvore de Natal vem de tradições antigas de países do norte da Europa, zonas de florestas, onde árvores eram tidas como seres divinos.
A árvore entra na tradição do Natal pelo sec. XVI.
Natal é pois festa com muitas raízes. Há nela crenças religiosas que deixaram suas marcas sobretudo do ambiente festivo: luzes, presépios, árvore, flores, música, fogueiras, manjares e guloseimas, ritos…

Ah! Faltou-me uma coisa: o Tio Patinhas achou que a festa do Natal podia render milhões. Sem mais, inventa um simpático velho de barbas, talvez inspirado na tradição do São Nicolau, bem enraizada na Holanda; diz a tradição ser ele um velho bispo nascido na Turquia em 280 D.C., homem de bom coração que ajudava os pobres deixando saquinhos com dinheiro junto às chaminés. Assim cria o Pai Natal, que não é bispo nem nada, e ainda bem!; fez dele seu gestor de marketing, passou ele a ser quem dá presentes ricos aos meninos e gente rica e presentes pobrezinhos aos meninos pobres, e o Menino Jesus fica limpo dessa fama nada simpática e que não tinha nada a ver com Ele.

Mas, e o que é que há de profundo na festa de Natal, para além de todo o cenário festivo e tão envolvido em dinheiro?

Uma procura de humanidade, sentimento esse nascido da mensagem de Jesus Cristo. É esse sentimento que leva a dizer que o Natal deve ser todos os dias, em todo o lado e sempre.

Recordo aqui o Natal de 73, que deixou marcas muito profundas cá no fundo de mim: Eu tinha sido preso no dia 12 de Dezembro, por se julgar que transportava armas no meu carro!

Fiz a tortura do sono e, uma semana depois, era Natal. Eu estava sozinho numa cela; era padre e decidi celebrar o Natal com missa e tudo. Tinha pão e vinho (Pedras Negras!) que guardara da ceia que tinha sido boazinha, tinha a Bíblia e estava eu. Juntei a mim os amigos que estavam por ali presos e tanta outra gente que me povoava o espirito: paroquianos, crentes e não crentes, doentes e sãos, novos e velhos, amigos, tantos…
O guarda prisional não deu por nada, mas foi um encontro extraordinário.
Isto não é para me armar em herói, mas para deixar aos meus filhos e netos, e talvez a mais gente, que é
preciso ”renascer” sempre.

Como diria um meu extraordinário professor de filosofia, citando Carlos Queirós, poeta transmontano, “Ver só por fora é fácil e vão,/Por dentro das coisas é que as coisas são”. Também é
necessário saber ver o Natal por dentro.

Para terminar: há anos ouvi uma reportagem na TV, que nunca mais esqueci: Júlio Isidro, o entrevistado, contou que então era sozinho. Na noite de Natal ia pela cidade, encontrou uma mulher da rua; abordou-a dizendo que não queria servir-se dela; apenas a convidava para irem jantar juntos, pois era a noite de Natal. E assim foi.

Valeu a pena ser Natal.

António Correia

11 de Janeiro às 15h

Está a ser preparada uma grande manifestação em Lisboa contra as operações de segurança criadas pelo governo em lugares como o Martim Moniz. Será dia 11 de janeiro, às 15h. É importante sermos muitos. Passa a mensagem e tenta ir também: 

Unir as pessoas de bem, na maior manifestação do pós 25 de Abril. É esse o nosso objetivo. Vamos mostrar a esta gente que somos Liberdade, e que não nos vergamos ao fascismo.

O fascismo é uma minhoca
Que se infiltra na maçã
Ou vem com botas cardadas
Ou com pezinhos de lã

(Sérgio Godinho)



Manifestação 11 de Janeiro - Almirante Reis e encher toda a Alameda - TODOS JUNTOS!

DIA 11/1/2025 - 15h (ponto de encontro - Alameda) vamos em marcha encher a Praça do Martim Moniz. 

NÃO DEIXES QUE TE ENCOSTEM À PAREDE, MARCHA. 
CONTRA O RACISMO, CONTRA A XENOFOBIA, CONTRA O PRECONCEITO.

14 dezembro 2024

A vida tem que ter algo tempestuoso





contrária ao Amor


à tranquilidade e serenidade



para valer a pena:


algum erro

alguma falha


algum frio


alguma guerra


alguma sujidade


algum medo


algo feio


algo escuro e sujo


para (então) aproveitar a dança...

09 dezembro 2024

Texto que o Daniel Calado enviou para o Público no dia 4 e que até agora não foi publicado (cartas ao Director)


Assinalou-se no passado 3 de Dezembro o dia internacional das pessoas com deficiência, data assinalada pela ONU desde 1992, com o objetivo de promover uma maior compreensão dos assuntos respeitantes à deficiência e para mobilizar a defesa da dignidade, dos direitos e o bem estar das pessoas.

O Secretário-geral da ONU (que realça a necessidade de trabalhar com as pessoas com deficiência para alcançar um futuro inclusivo e sustentável para todas as pessoas) e o Presidente da República (que considerou que este dia constitui um desafio a derrubar barreiras, na construção de um futuro sustentável que atende ao potencial de todos os cidadãos) foram dos poucos que assinalaram o dia. Mas nem por isso com grande visibilidade.

Outra iniciativa, até agora ignorada pelos meios de comunicação, foi promovida pelo Centro de Vida Independente (https://vidaindependente.org/dia-nacional-reclamacao/), o Dia Nacional da Reclamação, que visou dar a conhecer a dimensão da discriminação a que as pessoas com deficiência estão sujeitas em todo o país.

Infelizmente, nenhuma destas iniciativas teve qualquer destaque por parte dos meios de comunicação. 

O insuficiente apoio público às pessoas mais vulneráveis devido a problemas de saúde é uma realidade que, apesar de ser reconhecida quase unanimemente, escapa ao escrutínio e à atenção dos media.

Quantas vezes os governantes são confrontados com a incúria e com os indesculpáveis atrasos nas necessárias respostas? Quase nunca.

Quantas vezes há intervenções de atores relevantes que são olimpicamente ignoradas pelos meios de comunicação, incluindo pelo Jornal Público? Exemplos não faltam.

A Provedora de Justiça tem vindo a alertar, sem qualquer sucesso, para os atrasos na atribuição de produtos de apoio por parte da Segurança social e na realização de juntas médicas. São anos de espera para obter apoios essenciais como cadeiras de rodas, próteses, camas articuladas, andarilhos, etc., bem como para serem reconhecidos os graus de incapacidade, este que é frequentemente o primeiro passo necessário para a obtenção de qualquer apoio público. 

Em Agosto, foi noticiado neste jornal o atraso na execução do programa financiado pelo PRR, Acessibilidades 360º, para a realização de obras de adaptação das habitações de pessoas com mobilidade reduzida. Foram identificados atrasos de anos e sugerida uma solução pela Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR. Nada se passou nestes 6 meses. Não houve alteração às regras nem notícias sobre a persistência dos atrasos. 

A discussão do OE25 é outro bom exemplo de como não é dada relevância a esta temática. Os partidos da oposição apresentaram 48 propostas de alteração, tendo o PSD votado contra 45, sem que tivesse havido grandes protestos por parte dos partidos proponentes, nem sido dado qualquer relevo por parte da Comunicação social. 

Poder-se-ia, infelizmente, continuar a enumerar problemas com que as pessoas com deficiência se deparam, os quais variam em função das suas diferentes necessidades: o montante reduzido da prestação social para a inclusão, a falta de resposta do Modelo de apoio à vida independente, a falta de resposta do sistema nacional de saúde, a falta de oportunidades no sistema profissional, as barreiras arquitetónicas que dificultam a circulação de pessoas com mobilidade reduzida, a falta de conteúdos televisivos adaptados para invisuais e auditivos, etc.

A falta de interesse generalizado, incluindo dos media, não deixa de ser chocante e de reforçar o isolamento das pessoas que, num momento de vulnerabilidade, mais precisavam de apoio. 

Perante a dimensão dos problemas e da sua relevância para a sociedade, o esperado seria uma atenção mediática contínua, com reflexão sobre os problemas, pedagogia destinada à sociedade em geral, pressão sobre os governantes e entidades públicas quando as soluções tardam.

O mínimo dos mínimos que se espera dos meios de comunicação de referência, é que haja uma qualquer sinalização nas datas simbólicas.

Daniel Calado