vamooooooooooooos fazeeeeeeeeeeeeeeeeeer barulhoooooooooooooooooo!
eu tenho algo a dizer...
saibam que todos sabem pouco de como se vive bem... é preciso confiar na vida, sempre correu bem e tem vindo a melhorar, 'para a frente', disse ela quando leu isto, de alguma forma ela dá-me confiança na vida!
"Eu quero acompanhar o meu cantar vagabundo de todos aqueles que velam pela alegria no mundo" (caetano veloso)
30 junho 2012
29 junho 2012
Assim se vê a força do PC...
É bom ler sem preconceitos....
Uma aventura dentro do comunismo real
"Dizem-se muitas mentiras acerca da Festa do Avante! Estas são as mais populares: que é irrelevante; que é um anacronismo; que é decadente; que é um grande negócio disfarçado de festa; que já perdeu o conteúdo político; que hoje é só comes e bebes.
Já é a segunda vez que lá vou e posso garantir que não é nada dessas coisas e que não só é escusado como perigoso fingir que é. Porque a verdade verdadinha é que a Festa do Avante faz um bocadinho de medo.
O que se segue não é tanto uma crónica sobre essa festa como a reportagem de um preconceito acerca dela - um preconceito gigantesco que envolve a grande maioria dos portugueses. Ou pelo menos a mim.
Porque é que a Festa do Avante faz medo?
É muita gente; muita alegria; muita convicção; muito propósito comum. Pode não ser de bom-tom dizê-lo, mas o choque inicial é sempre o mesmo: chiça! Afinal os comunistas são mais que as mães. E bem-dispostos. Porquê tão bem dispostos? O que é que eles sabem que eu ainda não sei?
É sempre desconfortável estar rodeado por pessoas com ideias contrárias às nossas.
Mas quando a multidão é gigante e a ideia é contrária é só uma só – então, muito francamente, é aterrador.
Até por uma questão de respeito, o Partido Comunista Português merece que se tenha medo dele. Tratá-lo como uma relíquia engraçada do século XX é uma desconsideração e um perigo. Mal por mal, mais vale acreditar que comem criancinhas ao pequeno-almoço.
Bem sei que a condescendência é uma arma e que fica bem elogiar os comunistas como fiéis aos princípios e tocantemente inamovíveis, coitadinhos.
É esta a maneira mais fácil de fingir que não existem e de esperar, com toda a estupidez que, se os ignoramos, acabarão por se ir embora.
As festas do Avante, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas.
É espantoso ver o que se alcança com um bocadinho de colaboração. Não só no sentido verdadeiro, de trabalhar com os outros, como no nobre, que é trabalhar de graça.
A condescendência leva-nos a alvitrar que “assim também eu” e que as festas dos outros partidos também seriam boas caso estivessem um ano inteiro a prepará-las. Está bem, está: nem assim iam lá. Porque não basta trabalhar: também é preciso querer mudar o mundo. E querer só por si, não chega. É preciso ter a certeza que se vai mudá-lo.
Em vez de usar, para explicar tudo, o velho chavão da “capacidade de organização” do velho PCP, temos é que perguntar porque é que se dão ao trabalho de se organizarem.
Porque os comunistas não se limitam a acreditar que a história lhes dará razão: acreditam que são a razão da própria história. É por isso que não podem parar; que aguentam todas as derrotas e todos os revezes; que são dotados de uma avassaladora e paradoxalmente energética paciência; porque acreditam que são a última barreira entre a civilização e a selvajaria. E talvez sejam. Basta completar a frase "se não fossem os comunistas, hoje não haveria"... e compreende-se que, para eles, são muitas as conquistas meramente "burguesas" que lhes devemos, como o direito à greve e à liberdade de expressão.
É por isso que não se sentem “derrotados”. O desaparecimento da URSS, por exemplo, pode ter sido chato mas, na amplitude do panorama marxista-leninista, foi apenas um contratempo. Mas não é só por isso que a Festa do Avante faz medo. Também porque é convincente. Os comunas não só sabem divertir-se como são mestres, como nunca vi, do à-vontade. Todos fazem o que lhes apetece, sem complexos nem receios de qualquer espécie. Até o 'show off' é mínimo e saudável.
Toda a gente se trata da mesma maneira, sem falsas distâncias nem proximidades.
Ninguém procura controlar, convencer ou impressionar ninguém. As palavras são ditas conforme saem e as discussões são espontâneas e animadas. É muito refrescante esta honestidade. É bom (mas raro) uma pessoa sentir-se à vontade em público. Na Festa do Avante é automático.
Dava-nos jeito que se vestissem todos da mesma maneira, dissessem e fizessem as mesmas coisas - paciência. Dava-nos jeito que estivessem eufóricos; tragicamente iluminados pela inevitabilidade do comunismo - mas não estão. Estão é fartos do capitalismo - e um bocadinho zangados.
Não há psicologias de multidões para ninguém: são mais que muitos, mas cada um está na sua. Isto é muito importante. Ninguém ali está a ser levado ou foi trazido ou está só por estar. Nada é forçado. Não há chamarizes nem compulsões. Vale tudo até o aborrecimento. Ou seja: é o contrário do que se pensa quando se pensa num comício ou numa festa obrigatória. Muito menos comunista.
Sabe bem passear no meio de tanta rebeldia. Sabe bem ficar confuso. Todos os portugueses haviam de ir de cinco em cinco anos a uma Festa do Avante, só para enxotar estereótipos e baralhar ideias. Convinha-nos pensar que as comunas eram um rebanho mas a parecença é mais com um jardim zoológico inteiro. Ali uma zebra; em frente um leão e um flamingo; aqui ao lado uma manada de guardas a dormir na relva.
Quando se chega à Festa o que mais impressiona é a falta de paranóia. Ninguém está ansioso, a começar pelos seguranças que nos deixam passar só com um sorriso, sem nos vasculhar as malas ou apalpar as ancas. Em matéria de livre trânsito, é como voltar aos anos 60.
Só essa ausência de suspeita vale o preço do bilhete. Nos tempos que correm, vale ouro. Há milhares de pessoas a entrar e a sair mas não há bichas. A circulação é perfeitamente sanguínea. É muito bom quando não desconfiamos de nós.
Mesmo assim tenho de confessar, como reaccionário que sou, que me passou pela cabeça que a razão de tanta preocupação talvez fosse a probabilidade de todos os potenciais bombistas já estarem lá dentro, nos pavilhões internacionais, a beber copos uns com os outros e a divertirem-se.
A Festa do Avante é sempre maior do que se pensa. Está muito bem arrumada ao ponto de permitir deambulações e descobertas alegres. Ao admirar a grandiosidade das avenidas e dos quarteirões de restaurantes, representando o país inteiro e os PALOP, é difícil não pensar numa versão democrática da Exposição do Mundo Português, expurgada de pompa e de artifício. E de salazarismo, claro.
Assim se chega a outro preconceito conveniente. Dava-nos jeito que a festa do PCP fosse partidária, sectária e ideologicamente estrangeirada. Na verdade, não podia ser mais portuguesa e saudavelmente nacionalista.
O desaparecimento da União Soviética foi, deste ponto de vista, particularmente infeliz por ter eliminado a potência cujas ordens eram cegamente obedecidas pelo PCP.
Sem a orientação e o financiamento de Moscovo, o PCP deveria ter também fenecido e finado. Mas não: ei-lo. Grande chatice.
Quer se queira quer não (eu não queria), sente-se na Festa do Avante que está ali uma reserva ecológica de Portugal. Se por acaso falharem os modelos vigentes, poderemos ir buscar as sementes e os enxertos para começar tudo o que é Portugal outra vez.
A teimosia comunista é culturalmente valiosa porque é a nossa própria cultura que é teimosa. A diferença às modas e às tendências dos comunistas não é uma atitude: é um dos resultados daquela persistência dos nossos hábitos. Não é uma defesa ideológica: é uma prática que reforça e eterniza só por ser praticada. (Fiquemos por aqui que já estou a escrever à comunista).
A Exposição do Mundo Português era “para inglês ver”, mas a Festa do Avante em muitos aspectos importantes, parece mesmo inglesa. Para mais, inglesa no sentido irreal. As bichas, direitinhas e céleres, não podiam ser menos portuguesas. Nem tão-pouco a maneira como cada pessoa limpa a mesa antes de se levantar, deixando-a impecável.
As brigadas de limpeza por sua vez, estão sempre a passar, recolhendo e substituindo os sacos do lixo. Para uma festa daquele tamanho, com tanta gente a divertir-se, a sujidade é quase nenhuma. É maravilhoso ver o resultado de tanto civismo individual e de tanta competência administrativa. Raios os partam.
Se a Festa do Avante dá uma pequena ideia de como seria Portugal se mandassem os comunistas, confessemos que não seria nada mau. A coisa está tão bem organizada que não se vê. Passa-se o mesmo com os seguranças - atentos mas invisíveis e deslizantes, sem interromper nem intimidar uma mosca.
O preconceito anticomunista dá-os como disciplinados e regimentados – se calhar, estamos a confundi-los com a Mocidade portuguesa. Não são nada disso. A Festa funciona para que eles não tenham de funcionar. Ao contrário de tantos festivais apolíticos, não há pressa; a ansiedade da diversão; o cumprimento de rotinas obrigatórias; a preocupação com a aparência. Há até, sem se sentir ameaçado por tudo o que se passa à volta, um saudável tédio, de piquenique depois de uma barrigada, à espera da ocupação do sono.
Quando se fala na capacidade de “mobilização” do PCP pretende-se criar a impressão de que os militantes são autómatos que acorrem a cada toque de sineta. Como falsa noção, é até das mais tranquilizadoras. Para os partidos menos mobilizadores, diante do fiasco das suas festas, consola pensar que os comunistas foram submetidos a uma lavagem ao cérebro.
Nem vale a pena indagar acerca da marca do champô.
Enquanto os outros partidos puxam dos bolsos para oferecer concertos de borla, a que assistem apenas familiares e transeuntes, a Festa do Avante enche-se de entusiásticos pagadores de bilhetes.
E porquê? Porque é a festa de todos eles. Eles não só querem lá estar como gostam de lá estar. Não há a distinção entre “nós” dirigentes e “eles” militantes, que impera nos outros partidos. Há um tu-cá-tu-lá quase de festa de finalistas.
É um alívio a falta de entusiasmo fabricado – e, num sentido geral de esforço. Não há consensos propostos ou unanimidades às quais aderir. Uns queixam-se de que já não é o que era e que dantes era melhor; outros que nunca foi tão bom.
É claro que nada disto será novidade para quem lá vai. Parece óbvio. Mas para quem gosta de dar uma sacudidela aos preconceitos anticomunistas é um exercício de higiene mental.
Por muito que custe dize-lo, o preconceito - base, dos mais ligeiros snobismos e sectarismos ao mais feroz racismo, anda sempre à volta da noção de que “eles não são como nós”. É muito conveniente esta separação. Mas é tão ténue que basta uma pequena aproximação para perceber, de repente, que “afinal eles são como nós”.
Uma vez passada a tristeza pelo desaparecimento da justificação da nossa superioridade (e a vergonha por ter sido tão simples), sente-se de novo respeito pela cabeça de cada um.
Espero que não se ofendam os sportinguistas e comunistas quando eu disser que estar na Festa do Avante foi como assistir à festa de rua quando o Sporting ganhou o campeonato. Até aí eu tinha a ideia, como sábio benfiquista, que os sportinguistas eram uma minúscula agremiação de queques em que um dos requisitos fundamentais era não gostar muito de futebol.
Quando vi as multidões de sportinguistas a festejar – de todas as classes, cores e qualidades de camisolas -, fiquei tão espantado que ainda levei uns minutos a ficar profundamente deprimido.
Por outro lado, quando se vê que os comunistas não fazem o favor de corresponder à conveniência instantaneamente arrumável das nossas expectativas – nem o PCP é o IKEA -, a primeira reacção é de canseira. Como quem diz: ”Que chatice – não só não são iguais ao que eu pensava como são todos diferentes. Vou ter de avaliá-los um a um. Estou tramado. Nunca mais saio daqui.”
Nem tão pouco há a consolação ilusória do 'pick and choose'.
... É uma sólida tradição dizer que temos de aprender com os comunistas...
Infelizmente é impossível. Ser-se comunista é uma coisa inteira e não se pode estar a partir aos bocados. A força dos comunistas não é o sonho nem a saudade: é o dia-a-dia; é o trabalho; é o ir fazendo; e resistindo, nas festas como nas lutas.
Há uma frase do Jerónimo de Sousa no comício de encerramento que diz tudo. A propósito de Cuba (que não está a atravessar um período particularmente feliz), diz que “resistir já é vencer”.
É verdade – sobretudo se dermos a devida importância ao “já”. Aquele “já” é o contrário da pressa, mas é também “agora”.
Na Festa do Avante não se vêem comunistas desiludidos ou frustrados. Nem tão pouco delirantemente esperançosos. A verdade é que se sente a consciência de que as coisas, por muito más que estejam, poderiam estar piores. Se não fossem os comunistas: eles.
Há um contentamento que é próprio dos resistentes. Dos que existem apesar de a maioria os considerar ultrapassados, anacrónicos, extintos. Há um prazer na teimosia; em ser como se é. Para mais, a embirração dos comunistas, comparada com as dos outros partidos, é clássica e imbatível: a pobreza. De Portugal e de metade do mundo, num Portugal e num mundo onde uns poucos têm muito mais do que alguma vez poderiam precisar.
Na Festa do Avante sente-se a satisfação de chatear. O PCP chateia. Os sindicatos chateiam. A dimensão e o êxito da Festa chateiam. Põem em causa as desculpas correntes da apatia. Do 'ensimesmamento' online, do relativismo ou niilismo ideológico. Chatear é uma forma especialmente eficaz de resistir. Pode ser miudinho – mas, sendo constante, faz a diferença.
Resistir é já vencer. A Festa do Avante é uma vitória anualmente renovada e ampliada dessa resistência. ... Verdade se diga, já não é sem dificuldade que resisto. Quando se despe um preconceito, o que é que se veste em vez dele? Resta-me apenas a independência de espírito para exprimir a única reacção inteligente a mais uma Festa do Avante: dar os parabéns a quem a fez e mais outros a quem lá esteve. Isto é, no caso pouco provável de não serem as mesmíssimas pessoas.
Parabéns!"
MIGUEL ESTEVES CARDOSO - Revista 'SÁBADO'
sabe bem ler isto e desfaz preconceitos. tenho saudades disto...
Uma aventura dentro do comunismo real
"Dizem-se muitas mentiras acerca da Festa do Avante! Estas são as mais populares: que é irrelevante; que é um anacronismo; que é decadente; que é um grande negócio disfarçado de festa; que já perdeu o conteúdo político; que hoje é só comes e bebes.
Já é a segunda vez que lá vou e posso garantir que não é nada dessas coisas e que não só é escusado como perigoso fingir que é. Porque a verdade verdadinha é que a Festa do Avante faz um bocadinho de medo.
O que se segue não é tanto uma crónica sobre essa festa como a reportagem de um preconceito acerca dela - um preconceito gigantesco que envolve a grande maioria dos portugueses. Ou pelo menos a mim.
Porque é que a Festa do Avante faz medo?
É muita gente; muita alegria; muita convicção; muito propósito comum. Pode não ser de bom-tom dizê-lo, mas o choque inicial é sempre o mesmo: chiça! Afinal os comunistas são mais que as mães. E bem-dispostos. Porquê tão bem dispostos? O que é que eles sabem que eu ainda não sei?
É sempre desconfortável estar rodeado por pessoas com ideias contrárias às nossas.
Mas quando a multidão é gigante e a ideia é contrária é só uma só – então, muito francamente, é aterrador.
Até por uma questão de respeito, o Partido Comunista Português merece que se tenha medo dele. Tratá-lo como uma relíquia engraçada do século XX é uma desconsideração e um perigo. Mal por mal, mais vale acreditar que comem criancinhas ao pequeno-almoço.
Bem sei que a condescendência é uma arma e que fica bem elogiar os comunistas como fiéis aos princípios e tocantemente inamovíveis, coitadinhos.
É esta a maneira mais fácil de fingir que não existem e de esperar, com toda a estupidez que, se os ignoramos, acabarão por se ir embora.
As festas do Avante, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas.
É espantoso ver o que se alcança com um bocadinho de colaboração. Não só no sentido verdadeiro, de trabalhar com os outros, como no nobre, que é trabalhar de graça.
A condescendência leva-nos a alvitrar que “assim também eu” e que as festas dos outros partidos também seriam boas caso estivessem um ano inteiro a prepará-las. Está bem, está: nem assim iam lá. Porque não basta trabalhar: também é preciso querer mudar o mundo. E querer só por si, não chega. É preciso ter a certeza que se vai mudá-lo.
Em vez de usar, para explicar tudo, o velho chavão da “capacidade de organização” do velho PCP, temos é que perguntar porque é que se dão ao trabalho de se organizarem.
Porque os comunistas não se limitam a acreditar que a história lhes dará razão: acreditam que são a razão da própria história. É por isso que não podem parar; que aguentam todas as derrotas e todos os revezes; que são dotados de uma avassaladora e paradoxalmente energética paciência; porque acreditam que são a última barreira entre a civilização e a selvajaria. E talvez sejam. Basta completar a frase "se não fossem os comunistas, hoje não haveria"... e compreende-se que, para eles, são muitas as conquistas meramente "burguesas" que lhes devemos, como o direito à greve e à liberdade de expressão.
É por isso que não se sentem “derrotados”. O desaparecimento da URSS, por exemplo, pode ter sido chato mas, na amplitude do panorama marxista-leninista, foi apenas um contratempo. Mas não é só por isso que a Festa do Avante faz medo. Também porque é convincente. Os comunas não só sabem divertir-se como são mestres, como nunca vi, do à-vontade. Todos fazem o que lhes apetece, sem complexos nem receios de qualquer espécie. Até o 'show off' é mínimo e saudável.
Toda a gente se trata da mesma maneira, sem falsas distâncias nem proximidades.
Ninguém procura controlar, convencer ou impressionar ninguém. As palavras são ditas conforme saem e as discussões são espontâneas e animadas. É muito refrescante esta honestidade. É bom (mas raro) uma pessoa sentir-se à vontade em público. Na Festa do Avante é automático.
Dava-nos jeito que se vestissem todos da mesma maneira, dissessem e fizessem as mesmas coisas - paciência. Dava-nos jeito que estivessem eufóricos; tragicamente iluminados pela inevitabilidade do comunismo - mas não estão. Estão é fartos do capitalismo - e um bocadinho zangados.
Não há psicologias de multidões para ninguém: são mais que muitos, mas cada um está na sua. Isto é muito importante. Ninguém ali está a ser levado ou foi trazido ou está só por estar. Nada é forçado. Não há chamarizes nem compulsões. Vale tudo até o aborrecimento. Ou seja: é o contrário do que se pensa quando se pensa num comício ou numa festa obrigatória. Muito menos comunista.
Sabe bem passear no meio de tanta rebeldia. Sabe bem ficar confuso. Todos os portugueses haviam de ir de cinco em cinco anos a uma Festa do Avante, só para enxotar estereótipos e baralhar ideias. Convinha-nos pensar que as comunas eram um rebanho mas a parecença é mais com um jardim zoológico inteiro. Ali uma zebra; em frente um leão e um flamingo; aqui ao lado uma manada de guardas a dormir na relva.
Quando se chega à Festa o que mais impressiona é a falta de paranóia. Ninguém está ansioso, a começar pelos seguranças que nos deixam passar só com um sorriso, sem nos vasculhar as malas ou apalpar as ancas. Em matéria de livre trânsito, é como voltar aos anos 60.
Só essa ausência de suspeita vale o preço do bilhete. Nos tempos que correm, vale ouro. Há milhares de pessoas a entrar e a sair mas não há bichas. A circulação é perfeitamente sanguínea. É muito bom quando não desconfiamos de nós.
Mesmo assim tenho de confessar, como reaccionário que sou, que me passou pela cabeça que a razão de tanta preocupação talvez fosse a probabilidade de todos os potenciais bombistas já estarem lá dentro, nos pavilhões internacionais, a beber copos uns com os outros e a divertirem-se.
A Festa do Avante é sempre maior do que se pensa. Está muito bem arrumada ao ponto de permitir deambulações e descobertas alegres. Ao admirar a grandiosidade das avenidas e dos quarteirões de restaurantes, representando o país inteiro e os PALOP, é difícil não pensar numa versão democrática da Exposição do Mundo Português, expurgada de pompa e de artifício. E de salazarismo, claro.
Assim se chega a outro preconceito conveniente. Dava-nos jeito que a festa do PCP fosse partidária, sectária e ideologicamente estrangeirada. Na verdade, não podia ser mais portuguesa e saudavelmente nacionalista.
O desaparecimento da União Soviética foi, deste ponto de vista, particularmente infeliz por ter eliminado a potência cujas ordens eram cegamente obedecidas pelo PCP.
Sem a orientação e o financiamento de Moscovo, o PCP deveria ter também fenecido e finado. Mas não: ei-lo. Grande chatice.
Quer se queira quer não (eu não queria), sente-se na Festa do Avante que está ali uma reserva ecológica de Portugal. Se por acaso falharem os modelos vigentes, poderemos ir buscar as sementes e os enxertos para começar tudo o que é Portugal outra vez.
A teimosia comunista é culturalmente valiosa porque é a nossa própria cultura que é teimosa. A diferença às modas e às tendências dos comunistas não é uma atitude: é um dos resultados daquela persistência dos nossos hábitos. Não é uma defesa ideológica: é uma prática que reforça e eterniza só por ser praticada. (Fiquemos por aqui que já estou a escrever à comunista).
A Exposição do Mundo Português era “para inglês ver”, mas a Festa do Avante em muitos aspectos importantes, parece mesmo inglesa. Para mais, inglesa no sentido irreal. As bichas, direitinhas e céleres, não podiam ser menos portuguesas. Nem tão-pouco a maneira como cada pessoa limpa a mesa antes de se levantar, deixando-a impecável.
As brigadas de limpeza por sua vez, estão sempre a passar, recolhendo e substituindo os sacos do lixo. Para uma festa daquele tamanho, com tanta gente a divertir-se, a sujidade é quase nenhuma. É maravilhoso ver o resultado de tanto civismo individual e de tanta competência administrativa. Raios os partam.
Se a Festa do Avante dá uma pequena ideia de como seria Portugal se mandassem os comunistas, confessemos que não seria nada mau. A coisa está tão bem organizada que não se vê. Passa-se o mesmo com os seguranças - atentos mas invisíveis e deslizantes, sem interromper nem intimidar uma mosca.
O preconceito anticomunista dá-os como disciplinados e regimentados – se calhar, estamos a confundi-los com a Mocidade portuguesa. Não são nada disso. A Festa funciona para que eles não tenham de funcionar. Ao contrário de tantos festivais apolíticos, não há pressa; a ansiedade da diversão; o cumprimento de rotinas obrigatórias; a preocupação com a aparência. Há até, sem se sentir ameaçado por tudo o que se passa à volta, um saudável tédio, de piquenique depois de uma barrigada, à espera da ocupação do sono.
Quando se fala na capacidade de “mobilização” do PCP pretende-se criar a impressão de que os militantes são autómatos que acorrem a cada toque de sineta. Como falsa noção, é até das mais tranquilizadoras. Para os partidos menos mobilizadores, diante do fiasco das suas festas, consola pensar que os comunistas foram submetidos a uma lavagem ao cérebro.
Nem vale a pena indagar acerca da marca do champô.
Enquanto os outros partidos puxam dos bolsos para oferecer concertos de borla, a que assistem apenas familiares e transeuntes, a Festa do Avante enche-se de entusiásticos pagadores de bilhetes.
E porquê? Porque é a festa de todos eles. Eles não só querem lá estar como gostam de lá estar. Não há a distinção entre “nós” dirigentes e “eles” militantes, que impera nos outros partidos. Há um tu-cá-tu-lá quase de festa de finalistas.
É um alívio a falta de entusiasmo fabricado – e, num sentido geral de esforço. Não há consensos propostos ou unanimidades às quais aderir. Uns queixam-se de que já não é o que era e que dantes era melhor; outros que nunca foi tão bom.
É claro que nada disto será novidade para quem lá vai. Parece óbvio. Mas para quem gosta de dar uma sacudidela aos preconceitos anticomunistas é um exercício de higiene mental.
Por muito que custe dize-lo, o preconceito - base, dos mais ligeiros snobismos e sectarismos ao mais feroz racismo, anda sempre à volta da noção de que “eles não são como nós”. É muito conveniente esta separação. Mas é tão ténue que basta uma pequena aproximação para perceber, de repente, que “afinal eles são como nós”.
Uma vez passada a tristeza pelo desaparecimento da justificação da nossa superioridade (e a vergonha por ter sido tão simples), sente-se de novo respeito pela cabeça de cada um.
Espero que não se ofendam os sportinguistas e comunistas quando eu disser que estar na Festa do Avante foi como assistir à festa de rua quando o Sporting ganhou o campeonato. Até aí eu tinha a ideia, como sábio benfiquista, que os sportinguistas eram uma minúscula agremiação de queques em que um dos requisitos fundamentais era não gostar muito de futebol.
Quando vi as multidões de sportinguistas a festejar – de todas as classes, cores e qualidades de camisolas -, fiquei tão espantado que ainda levei uns minutos a ficar profundamente deprimido.
Por outro lado, quando se vê que os comunistas não fazem o favor de corresponder à conveniência instantaneamente arrumável das nossas expectativas – nem o PCP é o IKEA -, a primeira reacção é de canseira. Como quem diz: ”Que chatice – não só não são iguais ao que eu pensava como são todos diferentes. Vou ter de avaliá-los um a um. Estou tramado. Nunca mais saio daqui.”
Nem tão pouco há a consolação ilusória do 'pick and choose'.
... É uma sólida tradição dizer que temos de aprender com os comunistas...
Infelizmente é impossível. Ser-se comunista é uma coisa inteira e não se pode estar a partir aos bocados. A força dos comunistas não é o sonho nem a saudade: é o dia-a-dia; é o trabalho; é o ir fazendo; e resistindo, nas festas como nas lutas.
Há uma frase do Jerónimo de Sousa no comício de encerramento que diz tudo. A propósito de Cuba (que não está a atravessar um período particularmente feliz), diz que “resistir já é vencer”.
É verdade – sobretudo se dermos a devida importância ao “já”. Aquele “já” é o contrário da pressa, mas é também “agora”.
Na Festa do Avante não se vêem comunistas desiludidos ou frustrados. Nem tão pouco delirantemente esperançosos. A verdade é que se sente a consciência de que as coisas, por muito más que estejam, poderiam estar piores. Se não fossem os comunistas: eles.
Há um contentamento que é próprio dos resistentes. Dos que existem apesar de a maioria os considerar ultrapassados, anacrónicos, extintos. Há um prazer na teimosia; em ser como se é. Para mais, a embirração dos comunistas, comparada com as dos outros partidos, é clássica e imbatível: a pobreza. De Portugal e de metade do mundo, num Portugal e num mundo onde uns poucos têm muito mais do que alguma vez poderiam precisar.
Na Festa do Avante sente-se a satisfação de chatear. O PCP chateia. Os sindicatos chateiam. A dimensão e o êxito da Festa chateiam. Põem em causa as desculpas correntes da apatia. Do 'ensimesmamento' online, do relativismo ou niilismo ideológico. Chatear é uma forma especialmente eficaz de resistir. Pode ser miudinho – mas, sendo constante, faz a diferença.
Resistir é já vencer. A Festa do Avante é uma vitória anualmente renovada e ampliada dessa resistência. ... Verdade se diga, já não é sem dificuldade que resisto. Quando se despe um preconceito, o que é que se veste em vez dele? Resta-me apenas a independência de espírito para exprimir a única reacção inteligente a mais uma Festa do Avante: dar os parabéns a quem a fez e mais outros a quem lá esteve. Isto é, no caso pouco provável de não serem as mesmíssimas pessoas.
Parabéns!"
MIGUEL ESTEVES CARDOSO - Revista 'SÁBADO'
sabe bem ler isto e desfaz preconceitos. tenho saudades disto...
27 junho 2012
só tem é que ser...
foi assim que eu e a minha raposa fizemos o telefonema do dia valer, 'não há coitadinhos' também poderia ser...
é fácil isto... ou talvez, tenha o gozo de ser dificíl, todo a situação dificíl é travada com outro labor, afinal d'Os fracos não reza a história' e queremos ganhar, é preciso que nasçam sorrisos; os espanhóis são mais mas a vida é dificíl e melhoramos com as derrotas, 'vamos lá, cambada!'
boa sorte meus niños... hasta luego!!!
é fácil isto... ou talvez, tenha o gozo de ser dificíl, todo a situação dificíl é travada com outro labor, afinal d'Os fracos não reza a história' e queremos ganhar, é preciso que nasçam sorrisos; os espanhóis são mais mas a vida é dificíl e melhoramos com as derrotas, 'vamos lá, cambada!'
boa sorte meus niños... hasta luego!!!
e foi assim que me fui criando do que fizeram
"Hay hombres que luchan un dia y son buenos. Hay otros que luchan un año y son mejores. Hay quienes luchan muchos años y son muy buenos. Pero hay los que luchan toda la vida: esos son los imprescindibles. "
Bertolt Brecht
este Bertold dá-lhe...
"Ser um artista é falhar, como mais ninguém se atreve a falhar...
Tentar outra vez.
Falhar outra vez.
Falhar melhor."
Samuel Beckett
(de cada vez que procuro as 'falhas' do Beckett encontro novas formas de falhar; falhar e melhorar a andar e falar isso é o que quero, depois? bem, depois... é longe e cá vou andando...)
26 junho 2012
carta aos meus filhos sobre os fuzilamentos de GOYA
CARTA A MEUS FILHOS
Sobre os fuzilamentos de Goya
Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente â secular justiça,
para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de urna classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de té-la.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém
está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
multas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E. por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.
Jorge de Sena
Há mulheres que trazem o mar nos olhos pela grandeza da imensidão da alma
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos pela grandeza da imensidão da alma
Pelo infinito modo como abarcam as coisas
e os Homens…
Há mulheres que são maré em noites de tardes…
E calma (Sophia de Melo Breyner Andresen)
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos pela grandeza da imensidão da alma
Pelo infinito modo como abarcam as coisas
e os Homens…
Há mulheres que são maré em noites de tardes…
E calma (Sophia de Melo Breyner Andresen)
25 junho 2012
A invenção do amor
Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor
Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana
Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo
Um homem e uma mulher um cartaz denuncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes
que a invenção do amor se processe em cadeia
Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade
É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas
Fechem as escolas Sobretudo
protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade
Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas
...
É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância Campos verdes floridos
Água simples correndo A brisa das montanhas
Foi condenado à morte é evidente É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta
...
Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência
Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor
Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana
Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo
Um homem e uma mulher um cartaz denuncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes
que a invenção do amor se processe em cadeia
Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade
É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas
Fechem as escolas Sobretudo
protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade
Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas
...
É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância Campos verdes floridos
Água simples correndo A brisa das montanhas
Foi condenado à morte é evidente É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta
...
Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência
Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua
o abraço
arrefece mal-estares.
o meu a ela encobre-a.
deixa-me de queixo assente e olhos fechados.
é meigo.
é carinhoso.
é quente.
é reconfortante.
é como dizer 'cachopa' e 'gaiato'.
por muito carnais que tivessem sido, um abraço nosso é agora quase virginal.
'Falta ao respeito com uma gargalhada
Seus olhos dão mais luz que uma janela
Anda cachopa
Puxa o corpo p´ró mar'
os nossos abraços são tão especiais, mesmo velhotes vão saber como o vinho do porto: 'quanto mais velho melhor', hoje ainda me lembro como ontem eram bons, amanhã não sei se saberei.
ela acha...
dá-se com quatro braços o abraço.
pegas por baixo.
eu por cima.
não sinto desejo.
é disparatado isto.
já lhe disse que não quero nada por favor.
é escusado contrariar-te.
se não acreditas em mim!
acho que os abraços de duas pessoas que se querem bem é irracionalmente bom.
acho que antes de ter existido o que quer que seja já existia abraço, já existia entrega e vontade.
antes do que foi será.
o meu a ela encobre-a.
deixa-me de queixo assente e olhos fechados.
é meigo.
é carinhoso.
é quente.
é reconfortante.
é como dizer 'cachopa' e 'gaiato'.
por muito carnais que tivessem sido, um abraço nosso é agora quase virginal.
'Falta ao respeito com uma gargalhada
Seus olhos dão mais luz que uma janela
Anda cachopa
Puxa o corpo p´ró mar'
os nossos abraços são tão especiais, mesmo velhotes vão saber como o vinho do porto: 'quanto mais velho melhor', hoje ainda me lembro como ontem eram bons, amanhã não sei se saberei.
ela acha...
dá-se com quatro braços o abraço.
pegas por baixo.
eu por cima.
não sinto desejo.
é disparatado isto.
já lhe disse que não quero nada por favor.
é escusado contrariar-te.
se não acreditas em mim!
acho que os abraços de duas pessoas que se querem bem é irracionalmente bom.
acho que antes de ter existido o que quer que seja já existia abraço, já existia entrega e vontade.
antes do que foi será.
não entender pode não ter fronteiras.
'Eu não entendo. Eu não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Eu sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples estado de espírito. Bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser do...ida. É um desinteresse manso, uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: eu quero entender um pouco, não demais. Mas pelo menos entender que eu não entendo."
e que bem que sabe entender que 'isto' é o mais comum na vida em toda a gente... não entender seja a certeza mais comum!
ver alguém com muita confiança leva-me a desconfiar...
e que bem que sabe entender que 'isto' é o mais comum na vida em toda a gente... não entender seja a certeza mais comum!
ver alguém com muita confiança leva-me a desconfiar...
ela sabe dar calma
'estou farto de mim', diz ele com o ar mais infeliz que conseguiu arranjar.
'ai, isso acontece. é por isso que o fernando pessoa inventou vários, assim quando se fartasse de um tinha logo outro disponível!', responde ela com ar de quem teve um almoço de agradecer!
'ai, isso acontece. é por isso que o fernando pessoa inventou vários, assim quando se fartasse de um tinha logo outro disponível!', responde ela com ar de quem teve um almoço de agradecer!
tenho uma vida do carago, altamente.
hoje estive com uma miuda com paralisia cerebral e sorria bué parecendo querer provar que não há razoes para queixas zé... essa menina que vai dar umas voltas comigo chama-se natacha!
por outro lado deu-me noçao que me queixo mt sem razao.
disfruta-a...
aprecia-a...
... A VIDA!
por outro lado deu-me noçao que me queixo mt sem razao.
disfruta-a...
aprecia-a...
... A VIDA!
Tonight, Tonight - smashing pumpkins
Composição: Billy Corgan
Time is never time at all
You can never ever leave without leaving a piece of youth
And our lives are forever changed
We will never be the same
The more you change the less you feel
Believe, believe in me, believe
Believe that life can change
That you're not stuck in vain
We're not the same, we're different tonight
Tonight, so bright
Tonight
And you know you're never sure
But you're sure you could be right
If you held yourself up to the light
And the embers never fade in your city by the lake
The place where you were born
Believe, believe in me, believe
Believe in the resolute urgency of now
And if you believe there's not a chance tonight
Tonight, so bright
Tonight
We'll crucify the insincere tonight
We'll make things right, we'll feel it all tonight
We'll find a way to offer up the night tonight
The indescribable moments of your life tonight
The impossible is possible tonight
Believe in me as I believe in you...
Tonight
17 junho 2012
12 junho 2012
na cadeia e no hospital reconhecem-se os amigos
'A excepção, a crise, o drastico, é quando as pessoas se revelam. É quando se separa o trigo do joio. Se depois do acidente desapareceram uma série de amigos foi porque não eram amigos, eram conhecidos, companhia, atraídos pela tua energia e irreverência. Mas não eram amigos maravilhados com a tua generosidade, a tua vontade de viver e partilhar.' (um afilhado Apadrinha, do ZM) ou 'os amigos são para as ocasiões'
06 junho 2012
regresso
Acessibilidades
Espaço
Falar assim em abstracto é vago.
Ruas largas, avenidas, espaços altos.
Parece que desde que sofri o acidente que passei a ver com outros olhos.
Andar de cadeira de rodas tornou-me mais atento para estas questões.
Todos precisamos de espaço, pense em si no metro em hora de ponta ou num estádio de futebol e diga.
Pense no mar, numa praia vazia, no céu, num sonho!
Estive em Múrcia a trabalhar sobre isto com gente paraplégica e é brutal a distância hoje de nós.
Parece discurso de emigrante.
Murcia é, hoje em dia, a cidade com mais preocupações da península Ibérica à volta deste tema.
Mesmo numa cidade com muitas preocupações sobre matérias como esta (as WC’S adaptadas são outra preocupação neste âmbito); sentimos dificuldades numa cadeira de rodas.
A gente com dificuldades motoras merece uma revolução como as houve de género e racial, não se dá por esta gente que são muitos - ‘um em cada dez pessoas’, OMS, 2002 -proponho um exercício: amanhã vais estar atento, proponho que ou repares nas pessoas em cadeira de rodas ou ainda, melhor, repares nas dificuldades que esta gente sofre.
A simples ideia das rampas em todo o lado.
Escadas não é fácil.
Passeios baixos.
Murcia em MAIO foi...
...foi um passo à frente neste momento, muito específico, do meu estágio de vida (como lhe chamo... tenho a vaidade de confiar com muita força no existir).
Este espaço e tempo de Murcia em Maio serviram-me (‘ajudar os outros, ajuda-nos! ’) como forma de construir uma etapa importante e perceber que há um grupo em cadeira de rodas que está escondido/é invisível; ainda não encontrei uma palavra que se adeque a este estado: deficiente (encontrei gente esmagadoramente ‘eficiente’ em cadeira de rodas), incapaz (sejam tão capazes de aproveitar e priveligiar o estar vivo passando o dia sem poder levantar o rabo da cadeira como certas pessoas que conheço) e outros...
Murcia tem preocupações de futuro, vi mais gente com problemas de mobilidade (em cadeira de rodas) que, normalmente, nos espaços por onde ando e tenho andado por meios muito especifícos, em 2012.
Murcia é exemplar.
Nasceu este SVE em Murcia de uma procura de um projeto que lidasse com a situação em que me encontro (sofri um TCE (Traumatismo Craneo Encefálico), não ando, sem apoio de cadeira de rodas e não falo (ou digo vogais com um tom encantador)).
‘Irreverência‘ foi o que a Rota Jovem me ensinou desde que fiz um projeto Leonardo da Vinci em Berlim em 2006.
E ‘irreverente’ foi este projeto.
De tal maneira foi bom esses quatro meses em Berlim que queria fazer algo novo mesmo depois do acidente, sabendo que, necessariamente, seria diferente.
Logo, precisava de um apoio e de um projeto que me desse alguma segurança.
Depois, havia uma necessidade que parecia desde o início jogar contra isto e que pode parecer banal, mas não é: a necessidade que existe numa relação terapêutica de soltar amarras, a pessoa/a corda que nos dá segurança quer que nos soltemos dela mesmo.
Um pouco como os pais e professores fazem com filhos e alunos, preparam-nos para voar.
Foi um projeto-pioneiro, irreverente.
Encontrámos Murcia faltava compreender que género de projeto iriam ter para mim.
Era necessário alguém que me quisesse apoiar.
Tentámos o mais óbvio, alguém que fosse aluno de enfermagem ou fisioterapia estivesse submetido a um estágio curricular, o SVE (Serviço Voluntário Europeu) cobria as despesas e daria apoio ao Ayuntaimento na Sección de La Juventud de Murcia e ainda a um centro – o ASPAYM, Murcia:
http://www.aspaymmurcia.org/ – uma Associação de Paraplégicos e Grandes Incapazes Fisicos da Câmara Municipal de Murcia. Não resultaram as várias abordagens.
Encontrámos um achado, o Eduardo Sobreiro!
Alguém que desde o inicío me fez ver o raio de luz que entra pela janela ao longe e fugir de mim e do acidente.
Ele é um licenciado em cinema, um city-tour guide, um cozinheiro, um expert em powerpoints, um jardineiro; ele é o Eduardo!
‘La Asociación de Parapléjicos y Grandes Discapacitados Físicos (ASPAYM) de La Comunidad Autónoma de Murcia tiene como seña de identidad, trabajar para mejorar las condiciones de vida Del colectivo de personas con discapacidad en general, y lesionados medulares en particular. Para ello, cada año, renovamos nuestro esfuerzo con programas y actividades en las que participan nuestros socios.’
Além disso, dei apoio linguístico na web da página do ‘Ayuntamento, sección de La Juventud de Murcia’ (uma secção da Camara Municipal).
Murcia são sorrisos, ‘a vida deve ser encarada não como um direito, mas como um privilégio’ (filme 'hotel marigold').
A Maria do Mar foi uma pessoa paraplégica que chegou sem se notar mas que vincou ser Alguém importante em conhecer, no seu cadeirão com a Luna (a cadela), correndo ao lado, vincou ter uma alma Enorme.
Ola e hasta luego
OLA banzao-sintra.
Ola e hasta luego são duas formas simples de obrigar boa disposição e dar sorriso fácil ao outro.
Não que seja preciso obrigar, mas suscitar esse cuidado.
Ninguém é mais giro maldisposto.
Somos todos mais giros bem dispostos.
HASTA-LUEGO Murcia!!!
Mediterrâneo playa, los narrejos
Round one: dps do engate habitual à entrada da água.
Pergunta a Vanessa de oito anos ao Juan de oito anos também:
'queres ser meu amigo?'
'vale!' diz o Juan.
É fácil nascer a amizade...
Round two: a vanessa é a verdadeira predadora da amizade.
Passado pouco tempo lá está ela empoleirada na prancha de bodyboard do seu novo amigo enquanto ele a puxa pelas ondas e ela gaba-se para quem passa:
'o Juan é o meu novo amigo' (como podem ver, digo eu).
Foi um primeiro passo pela Rota Jovem um projeto nesta área que, na minha opinião teve bons resultados e deve ser repetido com outra gente.
Esta ideia foi um passo arriscado, mas que se revelou firme.
‘Pelo sonho é que vamos’ (Sebastião da Gama) parece sobressair deste ‘Maio em Murcia!
Espaço
Falar assim em abstracto é vago.
Ruas largas, avenidas, espaços altos.
Parece que desde que sofri o acidente que passei a ver com outros olhos.
Andar de cadeira de rodas tornou-me mais atento para estas questões.
Todos precisamos de espaço, pense em si no metro em hora de ponta ou num estádio de futebol e diga.
Pense no mar, numa praia vazia, no céu, num sonho!
Estive em Múrcia a trabalhar sobre isto com gente paraplégica e é brutal a distância hoje de nós.
Parece discurso de emigrante.
Murcia é, hoje em dia, a cidade com mais preocupações da península Ibérica à volta deste tema.
Mesmo numa cidade com muitas preocupações sobre matérias como esta (as WC’S adaptadas são outra preocupação neste âmbito); sentimos dificuldades numa cadeira de rodas.
A gente com dificuldades motoras merece uma revolução como as houve de género e racial, não se dá por esta gente que são muitos - ‘um em cada dez pessoas’, OMS, 2002 -proponho um exercício: amanhã vais estar atento, proponho que ou repares nas pessoas em cadeira de rodas ou ainda, melhor, repares nas dificuldades que esta gente sofre.
A simples ideia das rampas em todo o lado.
Escadas não é fácil.
Passeios baixos.
Murcia em MAIO foi...
...foi um passo à frente neste momento, muito específico, do meu estágio de vida (como lhe chamo... tenho a vaidade de confiar com muita força no existir).
Este espaço e tempo de Murcia em Maio serviram-me (‘ajudar os outros, ajuda-nos! ’) como forma de construir uma etapa importante e perceber que há um grupo em cadeira de rodas que está escondido/é invisível; ainda não encontrei uma palavra que se adeque a este estado: deficiente (encontrei gente esmagadoramente ‘eficiente’ em cadeira de rodas), incapaz (sejam tão capazes de aproveitar e priveligiar o estar vivo passando o dia sem poder levantar o rabo da cadeira como certas pessoas que conheço) e outros...
Murcia tem preocupações de futuro, vi mais gente com problemas de mobilidade (em cadeira de rodas) que, normalmente, nos espaços por onde ando e tenho andado por meios muito especifícos, em 2012.
Murcia é exemplar.
Nasceu este SVE em Murcia de uma procura de um projeto que lidasse com a situação em que me encontro (sofri um TCE (Traumatismo Craneo Encefálico), não ando, sem apoio de cadeira de rodas e não falo (ou digo vogais com um tom encantador)).
‘Irreverência‘ foi o que a Rota Jovem me ensinou desde que fiz um projeto Leonardo da Vinci em Berlim em 2006.
E ‘irreverente’ foi este projeto.
De tal maneira foi bom esses quatro meses em Berlim que queria fazer algo novo mesmo depois do acidente, sabendo que, necessariamente, seria diferente.
Logo, precisava de um apoio e de um projeto que me desse alguma segurança.
Depois, havia uma necessidade que parecia desde o início jogar contra isto e que pode parecer banal, mas não é: a necessidade que existe numa relação terapêutica de soltar amarras, a pessoa/a corda que nos dá segurança quer que nos soltemos dela mesmo.
Um pouco como os pais e professores fazem com filhos e alunos, preparam-nos para voar.
Foi um projeto-pioneiro, irreverente.
Encontrámos Murcia faltava compreender que género de projeto iriam ter para mim.
Era necessário alguém que me quisesse apoiar.
Tentámos o mais óbvio, alguém que fosse aluno de enfermagem ou fisioterapia estivesse submetido a um estágio curricular, o SVE (Serviço Voluntário Europeu) cobria as despesas e daria apoio ao Ayuntaimento na Sección de La Juventud de Murcia e ainda a um centro – o ASPAYM, Murcia:
http://www.aspaymmurcia.org/ – uma Associação de Paraplégicos e Grandes Incapazes Fisicos da Câmara Municipal de Murcia. Não resultaram as várias abordagens.
Encontrámos um achado, o Eduardo Sobreiro!
Alguém que desde o inicío me fez ver o raio de luz que entra pela janela ao longe e fugir de mim e do acidente.
Ele é um licenciado em cinema, um city-tour guide, um cozinheiro, um expert em powerpoints, um jardineiro; ele é o Eduardo!
‘La Asociación de Parapléjicos y Grandes Discapacitados Físicos (ASPAYM) de La Comunidad Autónoma de Murcia tiene como seña de identidad, trabajar para mejorar las condiciones de vida Del colectivo de personas con discapacidad en general, y lesionados medulares en particular. Para ello, cada año, renovamos nuestro esfuerzo con programas y actividades en las que participan nuestros socios.’
Além disso, dei apoio linguístico na web da página do ‘Ayuntamento, sección de La Juventud de Murcia’ (uma secção da Camara Municipal).
Murcia são sorrisos, ‘a vida deve ser encarada não como um direito, mas como um privilégio’ (filme 'hotel marigold').
A Maria do Mar foi uma pessoa paraplégica que chegou sem se notar mas que vincou ser Alguém importante em conhecer, no seu cadeirão com a Luna (a cadela), correndo ao lado, vincou ter uma alma Enorme.
Ola e hasta luego
OLA banzao-sintra.
Ola e hasta luego são duas formas simples de obrigar boa disposição e dar sorriso fácil ao outro.
Não que seja preciso obrigar, mas suscitar esse cuidado.
Ninguém é mais giro maldisposto.
Somos todos mais giros bem dispostos.
HASTA-LUEGO Murcia!!!
Mediterrâneo playa, los narrejos
Round one: dps do engate habitual à entrada da água.
Pergunta a Vanessa de oito anos ao Juan de oito anos também:
'queres ser meu amigo?'
'vale!' diz o Juan.
É fácil nascer a amizade...
Round two: a vanessa é a verdadeira predadora da amizade.
Passado pouco tempo lá está ela empoleirada na prancha de bodyboard do seu novo amigo enquanto ele a puxa pelas ondas e ela gaba-se para quem passa:
'o Juan é o meu novo amigo' (como podem ver, digo eu).
Foi um primeiro passo pela Rota Jovem um projeto nesta área que, na minha opinião teve bons resultados e deve ser repetido com outra gente.
Esta ideia foi um passo arriscado, mas que se revelou firme.
‘Pelo sonho é que vamos’ (Sebastião da Gama) parece sobressair deste ‘Maio em Murcia!
Subscrever:
Mensagens (Atom)