o Augusto Santos Silva deu-me confiança nisto que o João Miguel Tavares diz:
'
Simplesmente patético
Este é um texto arriscado, porque é possível que à
hora que o leitor me estiver a ler alguém tenha conseguido enfim
explicar a António José Seguro – recorrendo a desenhos com lápis de cor,
talvez – porque é que a sua situação é insustentável.
Mas
eu tenho grande confiança nas dificuldades de compreensão do actual
secretário-geral do PS, e portanto acredito que ele ainda esteja por
esta altura a andar em círculos no seu gabinete, meditando acerca da
convocação de um congresso extraordinário.
No início da
noite de ontem, após a reunião dos dois Antónios no Largo do Rato, o PS
emitiu um comunicado dizendo apenas que o secretário-geral “registou” a
opinião de António Costa. Registou mas, pelos vistos, não assimilou.
Perante o desafio de Costa, qualquer líder com dois dedos de testa, um
pingo de coragem e módica confiança no seu poder, diria, antes sequer de
piscar os olhos:
“Vamos à luta.” A sua vitória em congresso
legitimar-lhe-ia a liderança e daria novo fôlego para as legislativas. A
sua derrota provaria que ele não era, de facto, o líder certo para o
PS, e antes o colapso interno em 2014 do que um irremediável estampanço
nacional em 2015. Mas o que fizeram até agora Seguro e os seus fiéis?
Preferiram refugiar-se nos estatutos, que é a versão política do ir a
correr para debaixo das saias da mamã. Lamento dizê-lo: é uma homérica
cobardia política. E se o povo detesta este governo e tudo o que aquilo
que ele tem feito, detesta muito mais políticos tíbios e amedrontados.
Que
Seguro não perceba isto diz muito acerca das suas extraordinárias
capacidades analíticas. Costa pode até não ter as espingardas
necessárias, mas tem o napalm da comunicação social, que vai transformar
Seguro em picadinho nos próximos dias – aliás, já está a transformar
Seguro em picadinho –, por muito que ele tente esconder-se na caserna.
Se o actual líder do PS não se apressar a fazer figura de homem, será
cozido em lume não-assim-tão-brando até ao próximo Conselho Nacional e,
quando lá chegar, já estará devidamente tenrinho e pronto para ser
trinchado pelos comensais. A política não perdoa os meias-tintas.
E
Seguro, infelizmente para ele (e para o país, se continuar a liderar a
oposição), é o rei das meias-tintas. Tem sido meias-tintas nas suas
promessas eleitorais, feitas de juras ao cumprimento do Tratado
Orçamental e de negação da austeridade, um daqueles contorcionismos
político-económicos que só convence mesmo Carlos Zorrinho. Foi
meias-tintas quando recusou a mão que Cavaco Silva lhe estendeu no Verão
Quente de 2013, ao propor um acordo de regime em troca de eleições no
pós-troika. Seguro teve medo da voz grossa de Soares e
companhia e recuou à última da hora. Mas também foi meias-tintas quando
ficou a meio caminho nas críticas ao consulado de Sócrates – o seu
silêncio embaraçoso não lhe permitiu ganhar o respeito da direita, mas
atraiu o ódio dos socráticos, que não lhe perdoaram a distância em
relação ao mestre (mestre, de mestrado). Basta olhar para a forma como
estão agora a reagir nos media e nos blogues. Chegou a hora do ajuste de contas.
Coloque-se
a adornar tudo isto, qual cereja em cima do bolo, o mais patético
discurso da noite eleitoral (“o PS teve uma grande vitória, uma grande
vitória eleitoral!”) e não chega a espantar que António José Seguro
esteja onde está – à beira do abismo. Andar em frente será apenas um
pequeno passo para ele, mas um grande salto para Portugal.'