09 setembro 2016

a cerimónia de abertura dos jogos paralimpícos deu gosto mas esta gentinha mete nojo

Joaquim Vieira
Sou só eu a achar que os Jogos Paralímpicos são um espectáculo grotesco, um número de circo para gáudio dos que não possuem deficiência, apenas para preencher a agenda do politicamente correto?
 
Esta pessoa tem esta opinião. Uma das informações registada no seu Facebook é de que ocupa o cargo de... presidente do Observatório da Imprensa. Já trabalhou na RTP e no jornal Expresso. Ah! E tem 4992 amigos nesta rede social. Não estou a inventar nada.

Todos temos a nossa opinião mas quando ela implica com a vida dos outros, espera lá!!!

SR. Joaquim Ferreira,

Ensinaram-me há uns tempos que não devemos dar importância ao que não 
tem importância mas você serve-me como mote para abordar um assunto 
sobre um tema que merece a nossa atenção: 
 
o direito à diferença e sua liberdade. 
 
 
Recebi isto no email: 
 
Sou só eu a achar que os Jogos Paralímpicos são um espetáculo grotesco, 
um número de circo para gáudio dos que não possuem deficiência, apenas 
para preencher a agenda do politicamente correto? 
 
Dizia que tinha sido escrito no facebook.
 
Entre as pessoas com quem me dou, felizmente, ÉS! Nem todos temos a  sorte de não 
nos cair em cima tamanho preconceito.
 
Os paralímpicos?

Vi a sessão de abertura e fiquei admirado por tanta dignidade e coragem 
que aquela Gente teve num espectáculo comovente. Você sabe o que custou a 
cada um daqueles homens e mulheres estar ali? Pode parecer fácil mas custa
tanto ou mais do que a qualquer pessoa 'normal' e 'eficiente' superar aquelas 
adversidades.

Depois li o seu comentário e pensei:
 
‘está tudo louco? Em que mundo é que nós vivemos!?’ 
 
Temos a mania de colocarmos adversidade em vez de complemento (somos 
todos diferentes, felizmente!): 
 
- mulheres e homens; 
- culturas;
- raças;
- religiões; 
- jovens e adultos e idosos; 
- deficientes e eficientes 
- e por aí. 
  
PAZ: como o corpo funciona todo em vista aos mesmos objetivos também 
nós vivemos juntos e a melhorar. 
 
Vê-se por aqui o mundo de opiniões contrárias em que vivemos, ninguém 
gosta de ser deficiente. É vida: não adianta discutir com ela, todos
temos trajectos com mais e/ou menos buracos, curvas, mais chuva, vento 
e Ela torna-nos mais fortes e capazes de vencer adversidades a que todos 
– uns mais que outros - sujeitos mas por circunstâncias da vida tornar-nos
menos aptos/eficientes ao mundo padronizado para um modelo ‘normal’! 
 
A QUALQUER UM PODE ACONTECER!
 
Tenho alguma dificuldade para lidar com Ses; ah, eu explico: tive um acidente
em Novembro de 2006 e entrei na classe dos deficientes (podia ter sido 
diferente: melhor ou pior; podia ter morrido), ganhei interesse pela força que 
ganhamos quando em adversidade e desde lá evoluo…

O seu comentário no facebook meteu-me nojo, senti-me maltratado, como tu por 
seres homem e jornalista, tornei-me deficiente e tenho brio/orgulho nisso, 
tenho conhecido gente muito forte deficiente e na parte médica, de outra forma, provavelmente, 
nunca teria conhecido tantos nem dado este valor à vida que agora  dou...

Você nunca deve ter tido ninguém muito próximo com quem se preocupar e de quem 
cuidar ‘politicamente correctamente!’ 
 
A política como você fala  criou as guerras raciais por exemplo, a polis é onde 
todos vivemos e convivemos melhor e/ou pior, pobre ou rico, alto ou baixo, magro 
ou gordo, feio ou bonito, homem ou mulher, novo ou velho, TODOS devemos viver juntos 
a tentar tirar o máximo prazer em comum.

Faltou-lhe uma experiência importante e que não observou: a de viver numa sociedade 
padronizada onde temos de ser todos ‘normais’ ou ser cuidador (amigo e/ou família, 
ter alguém que amasse a precisar de apoio) e por isso fala em Grotesco. 
A experiência de te sentares numa poltrona do cinema após bilhete comprado e 
virem-te dizer no escuro ‘hoje pode ficar assim mas numa próxima vez você terá 
que se sentar na  sua cadeira de rodas por favor. Não é permitido usar uma nossa. 
A experiência de te sentires descriminado!!!

Aquela gente tem direito a viver como tu e eu e estão ali a dar espectáculo com 
muito menos dinheiro e mais dificuldades em tudo: tomar banho sozinho e passear 
por exemplos mais banais.

O MAL não é seu, é de uma sociedade (e o jornalismo também deve ter essa função 
Sr. presidente do Observatório da Imprensa) em que se observa pouco.

Olhamos pouco para o lado, vemos pouco, entendemos pouco mais do que o que se 
passa com o nosso umbigo. 
 
 

Sem comentários: