Joaquim Vieira
Sou só eu a achar que os Jogos Paralímpicos são um espectáculo grotesco, um número de circo para gáudio dos que não possuem deficiência, apenas para preencher a agenda do politicamente correto?
Sou só eu a achar que os Jogos Paralímpicos são um espectáculo grotesco, um número de circo para gáudio dos que não possuem deficiência, apenas para preencher a agenda do politicamente correto?
Esta pessoa tem esta opinião. Uma das
informações registada no seu Facebook é de que ocupa o cargo de...
presidente do Observatório da Imprensa. Já trabalhou na RTP e no jornal
Expresso. Ah! E tem 4992 amigos nesta rede social. Não
estou a inventar nada.
Todos temos a nossa opinião mas quando ela implica com a vida dos outros, espera lá!!!
Todos temos a nossa opinião mas quando ela implica com a vida dos outros, espera lá!!!
SR. Joaquim Ferreira, Ensinaram-me há uns tempos que não devemos dar importância ao que não
tem importância mas você serve-me como mote para abordar um assunto
sobre um tema que merece a nossa atenção:
o direito à diferença e sua liberdade.
Recebi isto no email:
Sou só eu a achar que os Jogos Paralímpicos são um espetáculo grotesco,
um número de circo para gáudio dos que não possuem deficiência, apenas
para preencher a agenda do politicamente correto?
Dizia que tinha sido escrito no facebook.
Entre as pessoas com quem me dou, felizmente, ÉS! Nem todos temos a sorte de não
nos cair em cima tamanho preconceito.
Os paralímpicos? Vi a sessão de abertura e fiquei admirado por tanta dignidade e coragem
que aquela Gente teve num espectáculo comovente. Você sabe o que custou a
cada um daqueles homens e mulheres estar ali? Pode parecer fácil mas custa
tanto ou mais do que a qualquer pessoa 'normal' e 'eficiente' superar aquelas
adversidades. Depois li o seu comentário e pensei:
‘está tudo louco? Em que mundo é que nós vivemos!?’
Temos a mania de colocarmos adversidade em vez de complemento (somos
todos diferentes, felizmente!):
- mulheres e homens;
- culturas;
- raças;
- religiões;
- jovens e adultos e idosos;
- deficientes e eficientes
- e por aí.
PAZ: como o corpo funciona todo em vista aos mesmos objetivos também
nós vivemos juntos e a melhorar.
Vê-se por aqui o mundo de opiniões contrárias em que vivemos, ninguém
gosta de ser deficiente. É vida: não adianta discutir com ela, todos
temos trajectos com mais e/ou menos buracos, curvas, mais chuva, vento
e Ela torna-nos mais fortes e capazes de vencer adversidades a que todos
– uns mais que outros - sujeitos mas por circunstâncias da vida tornar-nos
menos aptos/eficientes ao mundo padronizado para um modelo ‘normal’!
A QUALQUER UM PODE ACONTECER!
Tenho alguma dificuldade para lidar com Ses; ah, eu explico: tive um acidente
em Novembro de 2006 e entrei na classe dos deficientes (podia ter sido
diferente: melhor ou pior; podia ter morrido), ganhei interesse pela força que
ganhamos quando em adversidade e desde lá evoluo… O seu comentário no facebook meteu-me nojo, senti-me maltratado, como tu por
seres homem e jornalista, tornei-me deficiente e tenho brio/orgulho nisso,
tenho conhecido gente muito forte deficiente e na parte médica, de outra forma, provavelmente,
nunca teria conhecido tantos nem dado este valor à vida que agora dou... Você nunca deve ter tido ninguém muito próximo com quem se preocupar e de quem
cuidar ‘politicamente correctamente!’
A política como você fala criou as guerras raciais por exemplo, a polis é onde
todos vivemos e convivemos melhor e/ou pior, pobre ou rico, alto ou baixo, magro
ou gordo, feio ou bonito, homem ou mulher, novo ou velho, TODOS devemos viver juntos
a tentar tirar o máximo prazer em comum. Faltou-lhe uma experiência importante e que não observou: a de viver numa sociedade
padronizada onde temos de ser todos ‘normais’ ou ser cuidador (amigo e/ou família,
ter alguém que amasse a precisar de apoio) e por isso fala em Grotesco.
A experiência de te sentares numa poltrona do cinema após bilhete comprado e
virem-te dizer no escuro ‘hoje pode ficar assim mas numa próxima vez você terá
que se sentar na sua cadeira de rodas por favor. Não é permitido usar uma nossa.
A experiência de te sentires descriminado!!! Aquela gente tem direito a viver como tu e eu e estão ali a dar espectáculo com
muito menos dinheiro e mais dificuldades em tudo: tomar banho sozinho e passear
por exemplos mais banais. O MAL não é seu, é de uma sociedade (e o jornalismo também deve ter essa função
Sr. presidente do Observatório da Imprensa) em que se observa pouco. Olhamos pouco para o lado, vemos pouco, entendemos pouco mais do que o que se
passa com o nosso umbigo.
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