30 julho 2019

conceitos falíveis


Podemos escolher olhar para os defeitos que tem ou para as vantagens que 
trazem, uma visão optimista ou pessimista, simplista:

Digamos, que à partida sei que qualquer uma destas palavras (escolhidas 
aleatoriamente) mereciam mais que um parágrafo desafiador de debate de 
ideias mas foi giro o exercício e fez-me pensar.

1) Cada carro: 
Mobilidade ou poluição; velocidade/pressa ou trânsito/acidentes;

2) O trânsito: 
Linguagem comum aos condutores/acessibilidades e filas

3) Cada governo: 
Corrupção ou organização; cada casa, rua, freguesia, local, nacional, 
continental, mundial

4) Cada país: 
Cultura ou sobrevivência, História, Fronteiras.

5) Cada população: 
Qualidades e/ou defeitos

6) Cada corpo: 
Uma coisa tão bem pensada só pode ter sido feita por deus no corpo de uma 
mulher; amontoado de órgãos por vezes: ‘há quem viva sem dar por nada, há 
quem morra sem tal saber’ (José Afonso)

7) Cada órgão e membro: 
Quando falha sente-se a perfeição de tudo tão bem orquestrado; há gente tão
 descoordenada… mas quando somos coordenados é tão maravilhoso.

8) Cada olhar: 
Quando te põem uma venda sentes  os restantes órgãos aparecer; a cegueira é
 ver/sentir outro mundo; é como a entrada por onde sai o Amor, transmites 
energias.

9) O falar: 
É assombrosa a linguagem; todos precisamos de encontrar nossas estratégias 
para comunicar se falha e a barulheira que fazemos por vezes.

10) O andar: 
Estão as pernas responsáveis por transportar o corpo; 
Andar nunca é só andar.
11) Um computador: 
Já houve um tempo em que não existiam? Há quem viva sem eles? São um rival do viver ao ar 
livre?

12) Cada receita: 
Retira gosto à improvisação, é uma forma de combater inaptidões; pode-se 
melhorar cada gesto.

13) Cada cozinha: 
É ao jeito de quem cozinha. Tanto sal, como açúcar, calma e rapidez.

14) As casas: 
São quem vive nelas, nem sempre isto, nem sempre aquilo; há casas matinais,
 nocturnas e diurnas, casas sociais, individuais, de época, de idade ou 
género e que mudam muito ou pouco, há de tudo!

15) O mar: 
É sempre belo e tem vida própria, e sempre visto de onde vês, tem correntes, 
marés e ondas; e diz poesia se paras a escutar; pode ser horrível e afogar 
casas e pessoas;

16) A política: 
Se disser que somos todos políticos arrisco-me a levar uma berlaitada; todos
 vivemos uns com os outros a cuidar da nossa Polis comum; a democracia é o 
melhor de todos os sistemas com excepção de todos os outros (SG Gigante) a 
abstenção tem crescido e aparecido outras formas de fazer política (redes 
sociais); esquerda – direita; comunismo – capitalismo; individualismo 
socialismo: organizar o todo é bem se fosse fácil não tinha piada!

17) A Internet: 
É larga e é o mundo, consagra nela todos os defeitos e qualidades do ser 
humano; é usurpadora das ruas com gente, dos passeios;

18) A escrita: 
Vivemos num tempo em que quem não sabe escrever ou/e ler é deficiente mas há 
tantas formas diferentes de a usar que nem sempre é bom ser escritor e leitor; escrever 
precisa de tempo e atenção;

19) As regras: 
Viver sem regras é impossível, com excesso delas é complicado e para jogar bem o jogo 
necessário compreendê-las; vejam-se os árbitros neste nosso mundo, posição ingrata, pois!

20) As máquinas: 
Inventadas pelos humanos são por vezes úteis, por vezes, potenciadoras e/ou castradoras das 
potencialidades deles;

21) A televisão: 
É uma forma de te tornar social e entreter, mas torna-te sentado a tempo inteiro; por outro 
lado pode ser estimuladora de ideias e agora a televisão moderna tem tanta coisa;

22) O telefone: 
Há quem seja comunicador por excelência, quem não o use, quem se esqueça dele; estar com as 
pessoas já não é uma questão de distância ou talvez o seja cada vez mais.

23) Maternidade: 
Ninguém pode perceber o que representa tal promessa de dar vida futura para outrem, nenhum 
pai, nenhum filho, nenhuma mulher, nem talvez a própria, está para lá de conceitos como o 
ser/existir no mundo; não temos todos que ser pais e mães, não é obrigatório ao ser pessoa!

24) Educação: 
Tem a ver com o cuidado de pôr alguém no mundo; não há regras formatadas: o que pode ser bom 
para um, pode ser castrador para outro; conceitos como a autonomia e a liberdade serão 
sempre duvidosos no educador e no educado, o conceito de bem ou mal educado são tão largos 
como o Número de pessoas existentes no mundo;

25) Sociedade: 
Somos uns dependentes dos outros, somos interdependentes; tradicionais e 
modernas são às vezes paralelas, outras opostas.
Como uma pessoa que cresce e modifica/ganha ou perde características de 
personalidade um Sociedade é isso em expoente por muitas pessoas.
Podíamos viver uns sem os outros!?
Podíamos, uns mais que outros mas não tinha a mesma piada: tem vantagens e 
desvantagens, como tudo!

26) Cinema e televisão: 
É incrível o que nos faz viajar, às vezes, para melhores espaços e ideias, 
por vezes, faz-nos perceber como vivemos bem.

27) Espaço: estão as duas ligadas as duas últimas palavras, o espaço tem 
diminuído e, também, aumentado ao longo do tempo.
Diminuído porque se tem descoberto o que faltava descobrir mas aumentado 
também porque se descobre ainda mais espaço por descobrir. 
Exemplo: o espaço cosmonauta, internético, das personalidades.

28) Tempo: o tempo não existe, o tempo é nossa invenção, no entanto, tem 
ganho cada vez mais peso.

Já houve um tempo em que a luz do sol, da lua e as marés eram bitolas fortes 
no dia a dia de cada um, hoje a vida nocturna tornou-se presente na diária 
de cada um.
Nasceu o stress, os jet lags, as ansiedades,o tempo cronometrizado, os 
atrasos...

Nasceram as épocas festivas, de trabalho árduo, as folgas, os calendários, o 
dia a dia, os relógios, as datas…

Nasceu outro mundo irreconhecível onde todos têm o seu tempo…

29) Sorte: acredito que temos que fazer por ela, se olharmos para a vida 
procurando optimismos és sortudo, se em tudo encontrares peso és azarento.

30) Amor: põe em tudo Amor, é tremendamente difícil mas deve ser o teu 

objectivo fundamental, viver com altruísmo é a maneira mais óbvia de 
cuidares de ti e seres egoísta; e o amor é-te devolvido como por magia. de ti e seres 
egoísta; e o amor é-te devolvido como por magia.


31) Tudo depende: 

É a coisa mais gira da vida, somos responsáveis (ou não) por controlarmos 
para onde e como vai, pode ir para ali ou não, ser bom ou mau, depende!
Depende de como cuidas de ti essencialmente a vida acontece toda à tua volta, 
de como lidas/crias com as situações, se te deixas ir com a maré ou controlas a
 corrente.

32) Sem preconceito:

Pensamos todos por preconceitos, imagens que criamos dos outros 
previamente!

Não ter preconceito é viver com a cabeça vazia ou com ela noutro lado, os 
conceitos que formamos sobre cada um são condicionados das várias 
dependências a que estamos sujeitos.

32) Trincheira:
Guerra, há gente que passa a vida entrincheirado, protecção, defesa, pausa
para preparação de novo ataque, refúgio, alvo;
Zona escavada na terra onde a frente é protegida por sacos de areia 
amontoados;
 

Trinta e duas palavras/conceitos escolhidas aleatoriamente, a querer destrinçar 
preto/escuro,  do branco/claro mas cada uma é bem mais cores e tons que 
esses. A sensação que me dá é que quanto mais tempo recai sobre estas linhas 
mais ideias/conceitos iam surgir e é tão bom ter esta liberdade de pensar: 
30 é um número redondo e fico por aqui com todo o meu Amor me despeço com um 
Até já!

A MINHA PROPOSTA É QUE DEIXES UM CONCEITO PARA PENSAR NA CAIXA DAS MENSAGENS!

23 julho 2019

Trump e a estratégia do racismo


«A questão racial nos Estados Unidos tem estado omnipresente no debate político norte-americano, desde a fundação do país até à atualidade.

Na génese dos EUA, a casta dominante dos WASPs (acrónimo que em inglês significa Branco, Anglo-Saxão e Protestante), descendente dos primeiros colonizadores europeus do território, tratou de assegurar os privilégios políticos, económicos e sociais face aos demais grupos étnicos. Numa primeira fase os imigrantes europeus não protestantes (e.g. irlandeses, italianos, polacos), foram-se emancipando e, posteriormente, outros tantos grupos étnicos conquistaram o seu espaço nos EUA. Atualmente encontram-se afro-americanos, latinos, judeus, ou asiáticos em todo o tipo de profissões e cargos públicos.

Contudo, importa não esquecer que os EUA são de facto um país jovem. Ainda estão presentes os ressentimentos decorrentes dos grandes conflitos que marcaram a década de 60 do século XX, com o movimento dos direitos civis, ou mesmo a própria Guerra Civil Americana, que ocorreu cem anos antes, onde a questão racial foi um dos temas centrais.

Recentemente o Presidente Donald Trump reanimou o tema de forma calculista, com o polémico tweet dirigido às congressistas Alexandria Ocasio-Cortez, Ilhan Omar, Rashida Tlaib e Ayanna Pressley. Mas não foi o primeiro presidente norte-americano a fazê-lo. A história política dos EUA é fértil em exemplos semelhantes não só do lado republicano, mas também do lado democrata com conhecidos líderes como George Wallace, Governador do Alabama, que até ao final dos anos 70 do século anterior defendeu o segregacionismo de forma populista para agradar ao eleitorado do seu estado.

Apesar das alterações políticas e legislativas que decorreram, a questão racial está longe de estar arrumada no sótão da curta história dos EUA e Donald Trump aproveitou-se disso. Ao contrário do que alguns dos seus críticos pensam, Trump não é um político amador e desajeitado que comunica irreflectidamente. O presidente norte-americano é exímio na forma como decide qual deve ser a agenda política e mediática. Ele coloca os americanos e o mundo a discutir aquilo que ele entende que deve ser discutido no momento.

Trump já está em campanha eleitoral. As suas declarações são pensadas com um único objectivo – ganhar as eleições presidenciais do próximo ano. O “convite” de Trump para as congressistas democratas saírem dos EUA teve várias intenções: posicionar o Partido Democrata o mais à esquerda possível, obrigando-o a fazer a defesa das quatro congressistas conectadas com a ala de esquerda mais radical do partido; seduzir o eleitorado supremacista branco tradicional e a geração mais moderna da alt-right; e retirar da agenda temas que prejudicam a sua eleição (nomeadamente a prisão do seu amigo de longa data Jeffrey Epstein e a investigação sobre o seu alegado envolvimento na intervenção russa durante as eleições de 2016).

Após o polémico tweet, uma sondagem realizada pelo USA Today/Ipsos relevou dois dados importantes: a popularidade de Trump junto do eleitorado republicano aumentou 5% e desceu 2% junto dos democratas; e 70% do eleitorado republicano considera existir má-fé por parte de quem acusa alguém de ser racista. Estes resultados permitem concluir que Trump conseguiu polarizar o debate e cerrar fileiras junto do Partido Republicano para o combate que se advinha cada vez mais aceso. Esta é a guerra que Trump quer levar para as próximas eleições presidenciais – “nós” contra “eles”, em que o “nós” é uma personificação do verdadeiro cidadão americano, liderado por Trump.

O alegado racismo de Trump, alimentado por declarações sugestivas, é uma estratégia que serve o propósito de mascarar o seu populismo clássico.

Trump parte na dianteira da corrida eleitoral. O presidente norte-americano lidera as sondagens para as presidenciais, num momento em que o Partido Democrata ainda não escolheu o seu candidato. Subestimar a sua estratégia e comprar a sua guerra resultará numa reeleição fácil em 2020.»

David Pimenta

18 julho 2019

escola, trabalho e família...


... assim como assim, apesar de tudo, a vida é bem mais que isto, oh se é! 

E cada uma dessas palavras são enormes e o caminho tem muitas velocidades, mais e menos lentas e/ou rápidas e mais curvas, rectas, descidas e subidas!

A vida não é esse caminho previsível e sempre igual

17 julho 2019

Daniel Oliveira numa boa legenda

Porque é que Pedro Nuno Santos vai mesmo ser líder do PS

Aconselho a entrevista que Vítor Gonçalves fez a Pedro Nuno Santos. Não por encontrarem por lá uma cacha ou grande novidade. Nem sequer por o ministro ter desenvolvido um discurso especialmente denso ou sofisticado sobre o futuro do país ou da esquerda, o que se passou nos últimos quatro anos ou o que se passará nos próximos quatro. Apenas porque fica claro porque é que, mais tarde ou mais cedo, Pedro Nuno Santos será líder do PS.

O que causa impacto naquela entrevista é a clareza nas intenções, pouco habitual em dirigentes do PS. Clareza em assumir os aliados como aliados, os adversários como adversários, o campo político da esquerda como lugar de morada, a identidade socialista sem qualquer complexo e a convicção de que é da existência de campos que se apresentam como alternativa que depende a saúde da democracia. A isso, Pedro Nuno Santos juntou a assunção dos bloqueios europeus, contra os quais pouco mais consegue propor do que uma gestão de forças e expectativas. É a sua fragilidade. Para não se confrontar com esses bloqueios em todas as suas consequências, exagerou na capacidade que este Governo mostrou nos embates com Bruxelas e ignorou o papel de Centeno como controleiro do Eurogrupo em Lisboa.

Pedro Nuno Santos acredita que a única forma de salvar a democracia é garantir que ela tem, dentro do seu próprio campo, alternativas políticas. Não estamos a falar de alternância no poder, em que o pessoal político muda para aplicar receitas semelhantes. Isso é o que tem matado a democracia como exercício de escolha entre caminhos divergentes, única forma de a manter aberta. Isto não quer dizer que a democracia não consiga reproduzir nas instituições os consensos que existem na sociedade. Consegue e deve fazê-lo. Quer dizer que a democracia não pode deixar de ter, no campo dos que a defendem, um plano B. Porque se desistirmos disso é fora do campo democrático que esse plano alternativo se construirá.

Em Portugal, os dois blocos terão de ser liderados pelo PS e pelo PSD, não devendo isso corresponder a um bloco central alternante, em que os pequenos se anulam. Isso seria ainda pior do que o passado, porque faria desaparecer a representação política de um quarto dos eleitores, que acabariam por migrar para margens antidemocráticas. Estes blocos têm de corresponder às sínteses dos que os compõem, dependendo essas sínteses do peso eleitoral relativo de cada um.

Teoricamente, António Costa também tem esta posição. Tanto, que foi obreiro da geringonça. Mas, neste tempo de fortíssima hegemonia neoliberal, há uma grande diferença entre considerar que os aliados naturais e estratégicos do PS são o BE e o PCP e apenas defender que BE e PCP devem ser incluídos no leque de alianças que podem construir maiorias, dando aos socialistas mais capacidade de escolha e derrubando um tabu de meio século. A segunda posição foi a de Costa e isso explica porque tem dedicado os últimos meses a tentar abrir o leque de escolhas. Porque há uma diferença entre uma aliança estratégica e uma aliança tática. Uma aliança estratégica não é um compromisso para a eternidade.

Assumindo que não há qualquer área em que não seja possível trabalhar com o Bloco e o PCP, Pedro Nuno Santos explicou a razão programática para a aliança estratégica que advoga: “Defender o Serviço Nacional de Saúde universal, público e tendencialmente gratuito só se faz com o PCP e com o Bloco, não se faz com o PSD e com o CDS. Investir na Escola Pública universal e gratuita só se faz com o PCP e com o Bloco de Esquerda. Travar qualquer tentação de entrega das nossas reformas aos mercados financeiros e até a reforma das fontes de financiamento só se faz com o PCP e com o Bloco de Esquerda, não se faz com o PSD e com o CDS. As reformas mais importantes para proteger o Estado social, que é a melhor e mais importante construção política que o povo português conseguiu em conjunto através do Estado, só se fazem com o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda, não se fazem com o PSD e com o CDS.” Como tem sido óbvio, António Costa não tirou esta consequência estratégica da sua opção táctica.

À clareza estratégica tem de corresponder clareza retórica. Na entrevista, o ministro dedicou bastante tempo a contestar a ideia instalada de que as reformas só o são quando doem aos mais fracos – trabalhadores, desempregados, reformados. Quando há privatização, liberalização e cortes. Só assim são “decisões difíceis”. E disse uma frase que parece ser bastante arrogante: “A direita faz reformas erradas”. Na realidade, a frase é muito menos arrogante do que o discurso que conhecemos de sentido oposto: de que as reformas propostas pela esquerda nem reformas são, porque a realidade as esmaga. A falsa tecnocracia imposta pela direita conseguiu despolitizar a política, transformando os seus dogmas ideológicos, tão estrondosamente desmentidos na crise de 2008, em verdades incontestáveis. Isso sim, é arrogância. Espera-se que alguém ache que o que propõe está certo e, por isso, que as propostas de sentido inverso estão erradas. O que choca em Pedro Nuno Santos é não ter o habitual discurso auto justificativo nem colocar-se como charneira entre o “realismo” da direita e a “utopia” da esquerda. Porque quer liderar um bloco, não quer estar entre os que supostamente representam o possível, e os radicais, que o negam.

Já houve muitos dirigentes da ala esquerda do PS. Mas contentaram-se sempre com o papel de consciência crítica, quase sempre meramente retórica, do PS. Como prémio, tinham direito a uma quota de representação que iam gerindo com burocrático zelo. Nunca se importaram de ser usados para os confrontos com os partidos mais à esquerda, que sempre olharam como concorrência e não como potenciais aliados. Nunca tiveram uma estratégia de poder. Talvez seja uma questão geracional. Pedro Nuno Santos formou-se politicamente num período de derrota dos partidos socialistas à escala europeia. Terá aprendido com isso. E tem mais autonomia, poder interno e ambição do que muitos dos seus jovens turcos.

A passagem pelo Governo garantiu-lhe o tirocínio que lhe faltava: o do poder executivo. Na Secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares, que nunca foi tão importante como neste Governo, foi o pivô da geringonça. Conquistou a confiança dos parceiros e desatou muitos nós. Usando muitas vezes a autonomia política que tem do primeiro-ministro. A sua falta ficou evidente no momento em que saiu, com sucessão de desencontros. Aliás, atribuo a sua saída a uma vontade do primeiro-ministro em começar a encerrar este período. No Ministério das Infraestruturas e da Habitação ainda só teve vitórias semelhantes, provando as suas capacidades negociais. Falta-lhe tudo o resto. Se for reconduzido, e tudo indica que é essa a sua vontade, terá três desafios fundamentais: erguer uma política pública de habitação, vencer a crise dos transportes que o aumento da procura provocado pela redução dos preços dos passes sociais agravou e reerguer a CP, para dar ao transporte ferroviário o papel que deve ter no país. Tudo depende de dinheiro e não é ele quem tem as chaves do cofre.

Pedro Nuno Santos será líder do PS porque a escolha estratégica que propõe é a que sobra a um socialismo em brutal recuo por toda a Europa a que, apesar da ilusão cíclica que vivemos num oásis, não escaparemos. Tem do seu lado o papel que teve na geringonça, assim como as provas que deu de capacidade negocial. Tem do seu lado a correspondência da táctica com a estratégia, da estratégia com o programa e do programa com os aliados que deseja, o que lhe dá uma plataforma política mais sólida do que o PS tem hoje e um discurso muito mais claro. Tem do seu lado o facto de ser o primeiro dirigente da ala esquerda do PS que não se propõe ser a consciência crítica e domada do partido. Tem do seu lado o destino trágico dos partidos socialistas que quiserem permanecer no cómodo lugar de charneira política. E tem do seu lado a ausência de rostos mobilizadores que levem a cabo o programa político de reabilitação da terceira via, proposta por Augusto Santos Silva. Até tem do seu lado a idade e a sua autonomia política. Terá contra si muitos dos poderes que contam neste país e no seu partido e um percurso executivo que depende do dinheiro de Centeno e Costa.


Daniel Oliveira


 

DEScoordenado



Coordenação motora é a capacidade de usar de forma mais eficiente os músculos esqueléticos (grandes músculos), resultando em uma acção global mais eficiente, pratica e económica. 
Este tipo de coordenação permite a criança ou adulto dominar o corpo no espaço, controlando os movimentos mais rudes. Podemos perceber uma boa coordenação motora verificando a agilidade, velocidade e a energia que se demonstra.
Ex.: andar, pular, rastejar, escrever, rolar, etc.


Descoordenação é não ter essa capacidade desenvolvida, é não ser inteligente nesse prisma; não basta ter um corpo, é preciso saber usá-lo bem; e daqui ser preciso algum treino, alguma confiança nesse corpo, alguma prática.


Vamos dançar mas sou muito descoordenado...

As cadeiras de roda funcionam como adereços, dão piada à imagem, é a inclusão no seu sentido mais elementar, porque não podes dançar estando numa cadeira!?

Tendo movimento até terás outros gestos não melhores, nem piores, diferentes!
Olhas o espaço: está preenchido, sim, não e onde; avanças agora ou depois?

Ouve (-te!)!!!




Há ali um espaço vazio que merece ser respeitado e outro preenchido mas incompleto.

Dançar é respeitares os tempos: os teus e do outro porque  o tempo de cada um muda imenso.

Ouve o teu corpo, que te diz? É como uma construção, um poema, tens que sentir a energia que existe, que tens para dar e receber do espaço.

Dançar em cardume é complicado!: Talvez venha daí a sua piada: se fosse fácil não tinha piada!

Sabes que há um líder que comanda e que esse líder vai mudando, rodando, todo o cardume gira e movimenta-se a um mesmo tempo no espaço.

E sobre a dança enquanto arte cada um tem tanto a sentir...

16 julho 2019

gosto mesmo desta menina!!!

 Ana Rita Barata, Directora Artística da Vo’Arte e Coreógrafa da CiM – Companhia de Dança. Falou-nos do Festival InArt, e do que destaca da edição deste ano, dos 10 anos de actividade da CiM, e do papel da inclusão na nossa sociedade.


Quais os principais objectivos do Festival InArt?
O principal objectivo do InArt é promover e divulgar as artes como forma de trabalho artístico, pedagógico, ocupacional e de integração social.
InArt é um festival único a nível nacional. É um evento inovador, inclusivo e acessível que explora novas estratégias de trabalho e interacção das pessoas com deficiência e outras comunidades com menos oportunidades de participação e contacto com as diversas formas de expressão artística.
Sensibilizar profissionais que intervêm com pessoas com deficiência, e outras comunidades, para a importância das artes como ferramenta de combate à exclusão social, promovendo um intercâmbio criativo a nível internacional.
O Festival InArt pretende elevar o conceito de Arte Participativa na cena performática nacional, questionando a presença do corpo participativo em diálogo com o mundo e a forma de o olhar e interpretar, procurando novos desafios através da descoberta da singularidade artística.
Apostar na qualidade e transversalidade de uma programação que reflecte e destaca o trabalho dos artistas com deficiência que desafiam as ideias convencionais através da narrativa e do conteúdo artístico e performático.
InArt cria um lugar de realidades utópicas, cujas reflexões podem​ despoletar ​novos binómios ​acção – emoção, partilhados por todos.
InArt  inova, cria, cruza, partilha e aproxima conceitos, linguagens, movimentos e pessoas na criação de novas paisagens humanas de uma arte que se pretende participativa.
O que destaca da edição deste ano?
Um dos destaques desta edição vai para Monkey Mind, espectáculo de abertura do InArt a 6 de Junho às 21h, na Sala Luís Miguel Cintra. Um espectáculo com a assinatura da coreógrafa Lisi Estaras/ Platform-K e co-produção de les ballets c de la b e CC De Grote Post. Monkey Mind é um encontro intenso entre cinco bailarinos, três dos quais com síndrome Down, que vão além das expectativas, sem inibições de romper tabus.
A coreógrafa alemã Silke Z. volta a Lisboa com a sua mais recente criação, STILL (here), um espectáculo que nos fala sobre o desejo pela juventude eterna e que pretende demonstrar que envelhecimento não rima com imperfeição. No palco, um bailarino de 62 anos confronta uma bailarina de 26, num diálogo de possibilidades. O que esperamos, enquanto público, de um bailarino sénior?
“EU MAIOR”, em estreia absoluta é um dos pontos alto desta edição. Um espectáculo onde as crianças são as estrelas principais e onde cada super-poder ganha vida própria transformando fragilidades em movimentos. Este espectáculo é o resultado do trabalho realizado nas Escolas EB1 nº 72, EB1, JI Engº Ressano Garcia e EB1 de Telheiras, com mais de 1200 crianças durante 2 anos. “EU MAIOR” conta 4 intérpretes profissionais da CiM – Companhia de Dança, 65 crianças e jovens, e com a participação da Orquestra Trifonética, formada por alunos do Regime Articulado da Música que, em parceria com a AMAC – Academia Musical dos Amigos das Crianças, se dedicaram à criação de repertório original.
A não perder ainda a oferta formativa do InArt que promove encontros entre as diferentes comunidades e gerações. São três workshops de dança inclusiva com os coreógrafos/bailarinos, Sophie Bulbulyan DK-BEL (FR), Silke Z., Robbie Synge e Julie Cleves (UK) e o workshop de cinema inclusivo com o realizador alemão Sebastian Heinzel. Destaque ainda para uma a cção coreográfica –  NOT “site specific” –  com Robbie Synge e Julie Cleves no Jardim da Estrela.
A CiM – Companhia de dança comemora este ano 10 anos de actividade. Quais as suas principais conquistas?
Em 2017, no ano da comemoração do 10º aniversário da CiM – Companhia de Dança, a Vo’Arte e a Associação Cultural CiM,  promovem um conjunto de actividades que pretendem re-desenhar, criar e inspirar a inclusão pela arte numa nova perspectiva.
Com um reportório de 12 espectáculos, apresentados em território nacional em mais de 29 cidades e internacionalmente em 12 países distintos, com a participação de 80 artistas com e sem deficiência, e ainda com uma forte componente de formação com 36 workshops e mais de 2 mil participantes, é um percurso longo e recompensador, de grandes conquistas, partilhadas por mais de 200 mil espectadores.
Inovamos a partir de dentro. Partimos do embrião da criação, reformulamos e apresentamos diversidade numa simbiose de linguagens artísticas e cruzamentos geracionais.
Uma das grandes conquistas foi o regresso do InArt – Community Arts Festival ao Teatro São Luiz num formato (re)inventado e em sintonia com os 10 Anos da CiM.
Em pé de igualdade em relação a conquistas, é a recriação do espectáculo “O Aqui” no Teatro São Luiz (20 a 22 Out), no Teatro São João no Porto (27 e 28 Out) e a 9 de Dezembro no Teatro-Cine Torres Vedras, acompanhado pela exposição de pintura e desenhos de João Ribeiro.
Consideramos ainda uma grande conquista o facto de, a convite da Vo’Arte, Alito Alessi, coreógrafo pioneiro, reconhecido internacionalmente pelo trabalho que desenvolve há 30 anos em dança inclusiva, vir pela 1ª vez a Portugal ensinar o método DanceAbility, num curso intensivo de certificação para professores de 2 a 28 de Julho no Ginásio clube Português. Uma iniciativa da Vo’Arte com o apoio da Embaixada dos EUA em Portugal.
A Vo’Arte e a CiM assumem a vanguarda da inclusão pela Arte. Queremos cada vez chegar a mais gente replicando o trabalho da CiM, na área da formação e criação, a nível nacional e internacional
O que é preciso ainda fazer para aumentar a inclusão na nossa sociedade?
O acto de incluir pode ser uma linha muito ténue entre o paternalismo e o potenciar ou ainda a estigmatização e o inovar. Incluir é incluirmo-nos antes de mais a nós. E somos todos nós que criamos a sociedade!
A inclusão passa por uma aceitação. Mas essa aceitação, é aceitação de nós próprios, pelo que somos e como somos, com todas as deficiências e fragilidades possíveis que encontramos.
Só podemos incluir quando nos incluímos a nós mesmos. Não passa apenas por incluir o outro, mas sim por partilhar essa inclusão com o outro. É olhar para o real, ler com olhos mas também com a pele que nos constitui e construir uma verdade, uma verdade nossa, acreditar nela e transmiti-la. Os limites estão na nossa mente e corpo, estão onde o olhar não alcança, e por isso, por vezes, não sabemos incluir, não sabemos sonhar o impossível. Quando deixamos de sonhar o impossível, apenas fazemos o que é possível e isso é redutor. Enquanto cidadãos e agentes de mudança temos o poder de repensar o significado de inclusão e trabalhar em propostas concretas de participação activa, neste caso através da dança e do movimento, estendendo o leque de oportunidades às mais diversas comunidades.
O trabalho com a CIM é um bom exemplo de participação activa e de abertura a oportunidades.
Enquanto coreógrafa, ensinou-me a ver outro tempo, outro medos, outras formas de estar, outras realidades, outras tristezas, outras forças, mas mais do que tudo, possibilitou me sonhar e acreditar na mudança! Aprendi com a CIM a escutar, a ter o prazer de esperar, de ter paciência, de olhar sem limites, aprendi a incluir me na vida através deles também.
E é isso que falta à sociedade! Olhar para além do paradigma e dos convencialismos impostos, não ter medo de arriscar, agarrar o desafio e incluir, partilhando! Replicar e semear a ideia que sonhar o impossível torna tudo possível.

14 julho 2019

Colonialismo e crueldade


«De 1922 a 1927, George Orwell serviu o império britânico no norte da Birmânia, como oficial da polícia. Dele é a frase: “O passado pertence aos que controlam o presente.”

Eric Blair, nascido em 1903, vinha da baixa classe média, ou de uma classe média sem dinheiro, mas entrou em Eton, a mais elitista das escola, a escola dos príncipes. Foi vítima de bullying, e sobreviveu às sevícias e humilhações, mas não tentou frequentar Oxford ou Cambridge. Os cinco anos de snobismo e complexo de casta chegaram. Aos 19 anos, estava na Birmânia. Logo se apercebeu da situação colonial, uma exploração cruel dos nativos pela supremacia branca. Dessa experiência birmanesa resultou um livro, um romance, “Dias da Birmânia”, e dois ensaios de génio, “Shooting an Elephant” (Matar um Elefante) e “A Hanging” (Um Enforcamento). São textos que retratam, com a empatia e compaixão que caracterizavam a escrita seca e precisa de Orwell, a tragédia da exploração capitalista colonial e do racismo. O romance, “Dias da Birmânia”, está escrito num estilo soberbo, enfeitado, que Orwell depois renegou (era o primeiro romance e tinha os vícios habituais) e descreve exemplarmente os tipos coloniais. Não é tanto a crueldade mas a suprema indiferença pelos nativos, os asiáticos, a sua invisibilidade, a prestação esclavagista vista de cima para baixo como um direito do funcionário, do comerciante ou do proprietário colonial. Os nativos, escreveu Orwell, eram para os colonialistas, nativos. Interessantes mas, finalmente, inferiores.

O império estava no estertor, em breve a Índia escaparia das algemas e com ela o Paquistão, e, claro, a Birmânia. A tragédia dos rohingya não é compreensível sem conhecer estes capítulos do colonialismo britânico, que sempre se reclamou, em relação ao português, mais avançado e mais culto, menos brutal e troglodita. Basta ler os guias da Índia para ver como os portugueses são acusados, na sua missão cristianizadora, de terem destruído os belos templos das cavernas da ilha de Elephanta, a que demos o nome, em frente a Bombaim, transformando-os em campos de tiro. As estátuas das divindades hindus estão desfiguradas pelas balas dos portugueses, numa selvajaria profana contra os profanos. Sagrado era o que os cristãos diziam que era sagrado. Quem não fosse cristão, ou se convertia ou era destruído. Este foi o modelo da cristandade portuguesa durante séculos. O padrão e a cruz. Deixámos, por esse mundo fora, um império construtor de fortalezas e igrejas, e legiões de cristãos de pele diferente da nossa. Cristãos católicos da Ásia a África, fomos os responsáveis primeiros.

O colonialismo português, com a sua dose maciça de coragem, aventura, crueldade e exploração, de esclavagismo e ignorância, de indiferença e desconsideração, nem sequer achava os nativos interessante. Achava-os fungíveis e sub-humanos. Carne para criadagem, cozinha, cama.

Este colonialismo, com as tropelias e guerras da fase do estertor, nunca produziu um escritor que, como Orwell, tivesse a empatia e a lucidez de o descrever. Nem sequer um Kipling. Ou um Forster. Não produziu nada de extraordinário depois das epopeias, tragédias e relatos do século XVI e XVII. Certamente, nada de extraordinário nos séculos XIX e XX. Exceto o poema de Jorge de Sena, ‘Camões na Ilha de Moçambique’, “pequena aldeia citadina de brancos, negros, indianos e cristãos, e muçulmanos, brâmanes e ateus”.

O colonialismo foi depois amalgamado numa teoria de lusotropicalismo recheado de imbecilidades como as que ouvi dizer a alguns diplomatas e académicos de antanho. Os ingleses fizeram a guerra e nós fizemos amor, make love not war, e assim mestiçámos. Uma orgia de violação, uso e abuso das mulheres nativas e das escravas mascarada de humanismo sexualizado. A nossa sociedade colonial descambou no modelo ainda em vigor na sociedade brasileira, onde os negros são vistos como servos naturais dos brancos.

Luanda era descrita como a grande cidade branca de África, a mais evoluída, a mais arquitetada, a mais pensada, e como um símbolo da glória do império português. A Cidade do Cabo também era gloriosa, mas não tínhamos apartheid, éramos mais “humanos” porque mais mestiçados. Na verdade, a mestiçagem dava jeito e o apartheid, compondo a rigorosa separação das raças e condenando a mestiçagem como um crime, impossibilitava o abuso sexual das mulheres e dos homens que serviam o capitalismo colonial.

O salazarismo, nunca tendo Salazar arredado a manta e o fogareiro e posto um pé nas terras dos selvagens onde mandou combater os ‘turras’ dos movimentos de libertação, sacrificando os mancebos portugueses a uma guerra que não entendiam e da qual nada sabiam, tinha a convicção de que aquilo era nosso por direito próprio e que a posse da terra tinha dentro dela o direito a dispor de uma raça inferior. A Índia nunca lhe interessou tanto, por remota e exótica, ou os longínquos Timor e Macau, como África, Angola e Moçambique. Menos, Cabo Verde, e talvez tenha sido uma sorte para os cabo-verdianos. E a Guiné, onde a guerra seria mais fácil de ganhar.

O colonialismo português teve os seus capítulos de glória nas conquistas e caravelas mas atravessou o século XX, o século das descolonizações, de olhos vendados. Nas escolas, a História de Portugal era uma lenda e uma narrativa mentirosa, arranjada para manter o regime como o defensor dos valores da cristandade em terras de bárbaros. Construíamos a escola e a igreja ao lado e deixávamos o esgoto a céu aberto e o casebre. Já Eusébio era velho, visitei o bairro onde ele nasceu no Maputo, Mafalala. Era isto. O amigo moçambicano que lá me levou não odiava os portugueses. Pelo contrário, tinha vindo educar-se a Portugal e gostava muito de Lisboa. Ele e a mulher são cultos, ela estudou literatura, ele escreveu livros, e assim são os amigos deles. Sempre pasmei da ausência de ressentimento tanto nos intelectuais como na gente simples de um país que condenámos à miséria e à corrupção. Isto deve-se à tal empatia, à humanidade, à educação e à consideração de que somos todos parte de uma raça, a humana.

Não nos odeiam. Nós, temos por cá uma gente que odeia pretos, e ciganos, como temos gente que odeia mulheres, e homossexuais, e doentes com sida, e muçulmanos, e judeus, e por aí fora. Quando se começa a odiar nunca mais se para. É esta gente que tem de ser educada. É esta gente que tem de ler uns livros e sair do canto provinciano e mesquinho das suas cabeças. De ler George Orwell e o que escreveu contra os totalitarismos e autoritarismos de que o colonialismo faz parte. Temos de deixar de controlar o passado.»

Companhia de dança inclusiva, a CIM: a dança liberta!

"Again and again we are reborn. It is not enough simply to be born of the mother's womb. Many births are necessary.
Be reborn always and everywhere. Again and again."


Tatsumi Hijikata


Descobri o SPOT (link)E a dança... tu não tens noção, sinto-me mesmo mais leve, de  melhor com o mundo precisava de alguma coisa em que me empenhar e aquilo surgiu do nada e é gente mesmo fixe, partilhas cansaço, imagens, corpos, energia, amor...

    Podemos? Claro, que podemos!!!



    «À maneira de Fanon: sou mulher, sou negra. Não sou vítima nem brinquedo. Não sou um objeto de proteção ou de defesa condescendente. Não sou uma potencialidade de algo, sou plenamente o que sou. Reconheço-me um só direito: o de exigir do outro um comportamento humano. Um só dever. O de não renegar a minha liberdade nas minhas escolhas.

    O racismo existe em Portugal. A sua instrumentalização, independentemente dos motivos subjacentes, é também uma das suas faces. Num momento em que se lança um debate, eventualmente interessante, sobre a discriminação positiva para as minorias étnico-raciais, nada como um artigo de opinião naturalizando a discriminação.

    Não estranhei a opinião. Não é nada de novo. Faz parte do meu quotidiano. Do quotidiano de muitos africanos, ciganos; enfim, de muitos seres humanos.

    Um parêntesis para algumas clarificações. As opiniões individuais práticas e racistas não me incomodam. Preta! Não, não considero ofensivo. Não, não peço desculpa por não considerar ofensivo. Sou absolutamente indiferente a essa alienação cromática de considerar branco como positivo e negro como negativo. Talvez pelo conhecimento de um dos mais belos textos de Agostinho Neto que cito sem pretensão de rigor: se ser branco é chicotear negros, se ser negro é ser chicoteado, então eu prefiro ser negro.

    Não consigo considerar ofensivas as considerações a propósito dos “africanos”, sou absolutamente alheia à alienação geográfica de quem porventura ignora que também foi por decreto que muitos dos africanos que residem em Portugal deixaram de ter a nacionalidade portuguesa. Normalmente e felizmente também ignoram o que é o continente africano, a sua variedade, as suas culturas, os seus contributos para a humanidade. Também ignoram que muitos africanos são eurodescendentes, alguns godos, outros germanos e ainda outros simplesmente desterrado-descendentes (não, não ri enquanto escrevi).

    Dou de barato que muitos dos pretos, perdão, africanos portugueses, são segundas e terceiras gerações e se tiverem ascendentes das antigas colónias, perdão, províncias ultramarinas, carregam em si mais de 500 anos de cultura portuguesa.

    Fecho o parêntesis evitando repetir o que décadas de lusotropicalismo deixaram como marca irrefutável: o português (nós, porque também o sou) foi o colonizador bonzinho, destemido, aberto a novas culturas e gentes que catalogou numa artística palete de cores, e que somos todos amigos, amantes do fado e do Benfica (e é verdade... tenho muitos amigos brancos, perdão, europeus, gosto de fado de Coimbra e sou benfiquista).

    Sem querer ser maniqueísta mas aproveitando despudoradamente as generalizações feitas no artigo, a opinião da articulista reflete a representação social e cultural do negro em Portugal, um (in)consciente coletivo solidário com os mitos e os arquétipos que associam o negro à obscuridade — negros são selvagens, estúpidos, analfabetos, inferiores.

    Mas neste (in)consciente coletivo existe, também, algo que é familiar a todos os negros em Portugal que, por um motivo ou outro, não cabem nos estereótipos citados no artigo. Deixam de ser verdadeiros negros para serem considerados evoluídos. A cor torna-se equívoco, de preto só a aparência, e essa dilui-se rapidamente. Talvez seja o pior tipo de racismo; se o negro bem-sucedido perde a cor negra, temos uma sociedade que reafirma a sua superioridade cromática eliminando a cor do outro, reafirmação que visa e torna possível a manutenção do preconceito.

    Imaginemos por um segundo que a articulista deu aulas de História... Não preciso de imaginar, basta-me voltar ao 11.º ano e lembrar um professor de Filosofia que abriu a primeira aula afirmando-se racista. Vá-se lá saber porquê, não gostou da resposta, “Eu também. Não gosto de estúpidos”, e fui obrigada a anular a matrícula... Eu e vários colegas europeus!

    Mais violenta do que a bastonada da polícia é a paulada do professor que se admira de ter um negro como melhor aluno da turma, transmitindo a ideia de anormalidade ou milagre intelectual, ou, do colega que aceita perfeitamente a tareia no basquete, mas não no xadrez.

    Não desperdicemos as raras ocasiões em que o racismo se torna visível com altercações estéreis ou incidentais. Tipo: pululam portugueses europeus com quem não partilho os mais elementares valores morais e não têm sequer ideia do que é civismo, ou, os portugueses europeus não descendem dos Direitos Universais do Homem decretados pela Grande Revolução Francesa de 1789, aliás, não fossem os europeus anglófonos imporem pela força o fim do tráfico, ainda continuariam a traficar pessoas. Forte, não é? Pois é, mas é incidental e estéril.

    O problema não é conhecer a realidade, mas transformá-la. Por melhor que seja, nenhuma política resiste aos preconceitos de quem a executa ou dos seus beneficiários. O diferencial de tratamento por motivos étnicos, de género, de opção sexual e outros continuará presente ou latente se não trilharmos caminhos que são longos, de preferência resistindo às tentações de condescendência, de mitigação ou exacerbação, consoante os interesses.

    Fugindo ao politicamente correto da reafirmação dos direitos humanos para um grupo vulnerável, o desafio que temos em mãos é o da eliminação do preconceito. Preconceito que tolhe e envenena.

    Um trabalho titânico aguarda todos os que queiram fazer passar os seus preconceitos pelo crivo da objetividade. Negros ou brancos. Uma responsabilidade que é mútua. Nunca na perspetiva do branco que vai dizendo vamos incluir os pretos, vamos elevá-los à condição humana ou do negro que vai dizendo os brancos são todos racistas e inumanos, mas num processo repartido de respeito e reconhecimento do outro. Mas podemos? Claro que podemos.»

    Antiga ministra da Justiça e da Administração Interna de Cabo Verde
    .

    13 julho 2019

    ESTÁ NA HORA DE AGIR!

    O planeta (link importante), nossa casa, está a morrer e necessita do nosso cuidado: vejam pequenos gestos a fazer no link inicial!

    07 julho 2019

    Em Lyon...


    Os EUA são e sempre foram a maior potência mundial do futebol feminino: muito estranho este facto... um desporto de história europeia face ao Basket, ao Hóckey no gelo e ao Basebol.

    As mulheres andam sempre à frente nas modernidades!

    Ganharam quatro Mundiais em oito possíveis (e nunca ficaram abaixo do terceiro lugar).

    Frente aos campeões da Europa, a Holanda, os campeões do mundo, venceram por 2 - 0 com um primeiro golo de um penalty apontado após ver o VAR.

    Com Sari van Veenendaal, a guarda rede holandesa a adiar o inevitável. 

    Os Holandeses muito certeiros nos passes, nunca tiveram o domínio claro do jogo, e tiveram sempre um futebol mais horizontal e menos vertical mas a constituição física das americanas foi fundamental no último terço do terreno. 

    A melhor notícia é que Megan Rapinoe, a capitã americana (link) é uma activista na luta pela igualdade e não irá à Casa Branca receber as honras de estado.



    indignação

    Quando (link) isto aparece ontem de uma jornalista do Público (jornal com ideais nobres e que bem formados nos formam) parece estar tudo ao contrário.

    Estamos em 2019, cara senhora, e artigos como o seu inflamam uma sociedade em que queremos que se viva bem, felizmente que não é o mais comum, no nosso dia a dia palavras como a sua xenófobas e racistas!

    Pelo que vejo/sei contra um pedregulho seu sugiram vários de todo o lado contrários porque Vale a pena reagir sem ser discriminatório, felizmente!

    Quando se pensa que anda tudo adormecido a pensar em férias, ou já nelas comprova-se que não andamos todos a dormir. A propósito do texto de Maria Fátima Bonifácio escreve hoje Manuel de Carvalho um editorial indignado (link)

    O espírito conservador da senhora faz-nos mal a todos, tenho pena de alguém que vê as coisas assim...

    morreu João Gilberto com 88 anos!!!



    Mas a música que deixou tornam-no imortal; a Saudade que nos deixa é boa, só sentimos falta do que nos melhora e engrandece: Não deixes de tocar para nós!

    A morte/o fim é que dão sentido a cada respirar mais profundo, se não houvesse morte era fácil e aborrecido, não tinha piada ESTE desafio de andar cá alegre


    05 julho 2019

    estamos sempre à espera de algo...

    E ainda bem, responderam-me!

    É uma vida cheia de esperança!

    Ou de fins de semana, de refeições, de leituras, de livros, de séries e filmes, de ir ao cinema, de projectos. de emprego, de telefonemas, de ideias, de piqueniques, de amigos ou de férias ou Terapias e mais terapias ou de Amooor, ou de... imagens clássicas, recordações, de sonhos, do próximo passo ou palavra!

    Do aniversário em que prendemos porque estamos felizes de ter  a tua vida connosco.

    E dança com cadência, solto, liberta-te e voa alto, desliza como quem corre.

    De tanta coisa é feita a vida que não há como fartar!

    Podes esperar gente, muita gente diferente... 

    PESSOAS:

    Há pessoas mais e menos ansiosas,

    Pessoas com ritmos muito oscilantes,

    Sempre parecidos,

    Mais matinais,

    Mais sempre pronto para as refeições,

    Mais nocturnas,

    Mais leitores,

    Mais televisivas,

    Mais calmas mas no trânsito desvendam furões escondidos,

    Mais abrem as janelas a aspirar o ar em vez do ar condicionado,

    Mais viciados em segredos.

    Mais privados,

    Mais públicos.

    Mais privados e íntimos,

    Mais públicos e sociais,

    Mais sempre activas/os,

    Mais parados,

    Mais racionais,

    Mais físicos,

    Mais sensíveis,

    Mais sensoriais,

    Mais rotinas constantes,

    Há de tudo e neste jogo da sociedade lidamos uns com os outros, todos, com muito menos confusão do que seria de esperar...