16 julho 2019

gosto mesmo desta menina!!!

 Ana Rita Barata, Directora Artística da Vo’Arte e Coreógrafa da CiM – Companhia de Dança. Falou-nos do Festival InArt, e do que destaca da edição deste ano, dos 10 anos de actividade da CiM, e do papel da inclusão na nossa sociedade.


Quais os principais objectivos do Festival InArt?
O principal objectivo do InArt é promover e divulgar as artes como forma de trabalho artístico, pedagógico, ocupacional e de integração social.
InArt é um festival único a nível nacional. É um evento inovador, inclusivo e acessível que explora novas estratégias de trabalho e interacção das pessoas com deficiência e outras comunidades com menos oportunidades de participação e contacto com as diversas formas de expressão artística.
Sensibilizar profissionais que intervêm com pessoas com deficiência, e outras comunidades, para a importância das artes como ferramenta de combate à exclusão social, promovendo um intercâmbio criativo a nível internacional.
O Festival InArt pretende elevar o conceito de Arte Participativa na cena performática nacional, questionando a presença do corpo participativo em diálogo com o mundo e a forma de o olhar e interpretar, procurando novos desafios através da descoberta da singularidade artística.
Apostar na qualidade e transversalidade de uma programação que reflecte e destaca o trabalho dos artistas com deficiência que desafiam as ideias convencionais através da narrativa e do conteúdo artístico e performático.
InArt cria um lugar de realidades utópicas, cujas reflexões podem​ despoletar ​novos binómios ​acção – emoção, partilhados por todos.
InArt  inova, cria, cruza, partilha e aproxima conceitos, linguagens, movimentos e pessoas na criação de novas paisagens humanas de uma arte que se pretende participativa.
O que destaca da edição deste ano?
Um dos destaques desta edição vai para Monkey Mind, espectáculo de abertura do InArt a 6 de Junho às 21h, na Sala Luís Miguel Cintra. Um espectáculo com a assinatura da coreógrafa Lisi Estaras/ Platform-K e co-produção de les ballets c de la b e CC De Grote Post. Monkey Mind é um encontro intenso entre cinco bailarinos, três dos quais com síndrome Down, que vão além das expectativas, sem inibições de romper tabus.
A coreógrafa alemã Silke Z. volta a Lisboa com a sua mais recente criação, STILL (here), um espectáculo que nos fala sobre o desejo pela juventude eterna e que pretende demonstrar que envelhecimento não rima com imperfeição. No palco, um bailarino de 62 anos confronta uma bailarina de 26, num diálogo de possibilidades. O que esperamos, enquanto público, de um bailarino sénior?
“EU MAIOR”, em estreia absoluta é um dos pontos alto desta edição. Um espectáculo onde as crianças são as estrelas principais e onde cada super-poder ganha vida própria transformando fragilidades em movimentos. Este espectáculo é o resultado do trabalho realizado nas Escolas EB1 nº 72, EB1, JI Engº Ressano Garcia e EB1 de Telheiras, com mais de 1200 crianças durante 2 anos. “EU MAIOR” conta 4 intérpretes profissionais da CiM – Companhia de Dança, 65 crianças e jovens, e com a participação da Orquestra Trifonética, formada por alunos do Regime Articulado da Música que, em parceria com a AMAC – Academia Musical dos Amigos das Crianças, se dedicaram à criação de repertório original.
A não perder ainda a oferta formativa do InArt que promove encontros entre as diferentes comunidades e gerações. São três workshops de dança inclusiva com os coreógrafos/bailarinos, Sophie Bulbulyan DK-BEL (FR), Silke Z., Robbie Synge e Julie Cleves (UK) e o workshop de cinema inclusivo com o realizador alemão Sebastian Heinzel. Destaque ainda para uma a cção coreográfica –  NOT “site specific” –  com Robbie Synge e Julie Cleves no Jardim da Estrela.
A CiM – Companhia de dança comemora este ano 10 anos de actividade. Quais as suas principais conquistas?
Em 2017, no ano da comemoração do 10º aniversário da CiM – Companhia de Dança, a Vo’Arte e a Associação Cultural CiM,  promovem um conjunto de actividades que pretendem re-desenhar, criar e inspirar a inclusão pela arte numa nova perspectiva.
Com um reportório de 12 espectáculos, apresentados em território nacional em mais de 29 cidades e internacionalmente em 12 países distintos, com a participação de 80 artistas com e sem deficiência, e ainda com uma forte componente de formação com 36 workshops e mais de 2 mil participantes, é um percurso longo e recompensador, de grandes conquistas, partilhadas por mais de 200 mil espectadores.
Inovamos a partir de dentro. Partimos do embrião da criação, reformulamos e apresentamos diversidade numa simbiose de linguagens artísticas e cruzamentos geracionais.
Uma das grandes conquistas foi o regresso do InArt – Community Arts Festival ao Teatro São Luiz num formato (re)inventado e em sintonia com os 10 Anos da CiM.
Em pé de igualdade em relação a conquistas, é a recriação do espectáculo “O Aqui” no Teatro São Luiz (20 a 22 Out), no Teatro São João no Porto (27 e 28 Out) e a 9 de Dezembro no Teatro-Cine Torres Vedras, acompanhado pela exposição de pintura e desenhos de João Ribeiro.
Consideramos ainda uma grande conquista o facto de, a convite da Vo’Arte, Alito Alessi, coreógrafo pioneiro, reconhecido internacionalmente pelo trabalho que desenvolve há 30 anos em dança inclusiva, vir pela 1ª vez a Portugal ensinar o método DanceAbility, num curso intensivo de certificação para professores de 2 a 28 de Julho no Ginásio clube Português. Uma iniciativa da Vo’Arte com o apoio da Embaixada dos EUA em Portugal.
A Vo’Arte e a CiM assumem a vanguarda da inclusão pela Arte. Queremos cada vez chegar a mais gente replicando o trabalho da CiM, na área da formação e criação, a nível nacional e internacional
O que é preciso ainda fazer para aumentar a inclusão na nossa sociedade?
O acto de incluir pode ser uma linha muito ténue entre o paternalismo e o potenciar ou ainda a estigmatização e o inovar. Incluir é incluirmo-nos antes de mais a nós. E somos todos nós que criamos a sociedade!
A inclusão passa por uma aceitação. Mas essa aceitação, é aceitação de nós próprios, pelo que somos e como somos, com todas as deficiências e fragilidades possíveis que encontramos.
Só podemos incluir quando nos incluímos a nós mesmos. Não passa apenas por incluir o outro, mas sim por partilhar essa inclusão com o outro. É olhar para o real, ler com olhos mas também com a pele que nos constitui e construir uma verdade, uma verdade nossa, acreditar nela e transmiti-la. Os limites estão na nossa mente e corpo, estão onde o olhar não alcança, e por isso, por vezes, não sabemos incluir, não sabemos sonhar o impossível. Quando deixamos de sonhar o impossível, apenas fazemos o que é possível e isso é redutor. Enquanto cidadãos e agentes de mudança temos o poder de repensar o significado de inclusão e trabalhar em propostas concretas de participação activa, neste caso através da dança e do movimento, estendendo o leque de oportunidades às mais diversas comunidades.
O trabalho com a CIM é um bom exemplo de participação activa e de abertura a oportunidades.
Enquanto coreógrafa, ensinou-me a ver outro tempo, outro medos, outras formas de estar, outras realidades, outras tristezas, outras forças, mas mais do que tudo, possibilitou me sonhar e acreditar na mudança! Aprendi com a CIM a escutar, a ter o prazer de esperar, de ter paciência, de olhar sem limites, aprendi a incluir me na vida através deles também.
E é isso que falta à sociedade! Olhar para além do paradigma e dos convencialismos impostos, não ter medo de arriscar, agarrar o desafio e incluir, partilhando! Replicar e semear a ideia que sonhar o impossível torna tudo possível.

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