05 maio 2021

ORADOR na comemoração do Dia Europeu da Vida Independente pelo CAVI de Almaçã

Olá! Boa tarde! 

Espero que estejam todos bem!

O meu nome é Zé Maria!

Este é o Fernando, o meu Assistente Pessoal 
(link para este mesmo texto)
E esta senhora é a minha mãe, Teresa Passo a explicar o que vamos tentar fazer: a minha mãe vai ler o texto que eu, escrevi para
esta ocasião, para vocês; o Fernando ainda está há poucos meses em Portugal e o português 
escrito ainda é limitado, ele vai ajudar na tradução oral seguinte no debate e nisso ele é muito 
forte.

Quero agradecer, antes demais, este convite para participar nesta sessão ao CAVI de Almasã: 
Obrigado!

É incrível o cuidado e amor que trocamos uns com os outros numa qualquer sociedade 
moderna, por exemplo, as inúmeras pessoas que fazem parte de uma qualquer vida; neste 
texto enunciei um curto número que pessoas e já são imensas.

Foi-me pedido e passo a citar: para partilhar o meu testemunho enquanto destinatário a 
usufruir de Assistência Pessoal pelo CAVI da AlmaSã, tendo a possibilidade de abordar a sua 
experiência pessoal de maior independência, do que mudou com o serviço disponibilizado pelo 
CAVI: oportunidades e constrangimentos. 

Antes de tudo, acho o projeto da Vida Independente, um projeto de grande justiça! 

E funciona para exercer para quem, por percalços da vida, perdeu autonomia, mas acha-se 
capaz de exercer seus direitos e deveres como pleno cidadão.

É um elogio para os tempos modernos que haja uma sociedade em que existem cuidadores/as 
pagos para funcionar como substitutos das limitações, e funcionam como a voz, os braços e as 
pernas para quem não os tem ou funcionam pior. 

Muito se lutou para aqui chegar, não foi sempre um direito adquirido… é recente!

Se se deve elogiar muito desta vida, a invenção deste projeto-piloto se funcionar bem está na 
linha da frente: o monte de pessoas que ganham alguma atividade, saem de onde estavam 
escondidos/as, guardados/as, enclausurados/as.

Querer eliminá-lo é não perceber nada do cuidado que a vida nos pede a todos/as, é excluir, é 
criar cidadãos de primeira e cidadãos de terceira...

- PARABÉNS VIDA INDEPENDENTE! -



Passemos ao meu caso pessoal/particular:

A 18 de novembro de 2006 o Zé Maria teve um TCE (Traumatismo Crânio Encefálico) grave 
devido a um acidente de viação causado por sonolência ao volante.

Perdi mobilidade e ganhei uma fala mais personalizada. 

Foi a entrada num mundo novo de reaprendizagens constantes e novidades: um desafio maior!

Vou falando e andando melhor com subidas e descidas numa progressão algo inconstante mas 
sempre positiva num processo longo, qual maratona vitoriosa!

A assistência pessoal sempre sentira como um projeto muito à frente, muito arrojado, mas 
de que não precisava, não queria: era  genial mas como ir à lua.

O Assistente Pessoal Fernando tem sido fundamental, por exemplo, entre outras coisas, para a 
minha mãe Teresa;o Fernando tem sido fundamental para a nossa autonomia mútua.

Sempre achei que tornar-me mais dependente de outros era algo que não queria, (coisa de 
miúdo, como o vírus tem demonstrado): somos todos interdependentes; não fala e não anda 
mas não morri e estou cada vez mais vivo.

De facto, percebo agora que é dar dois passos atrás para dar um à frente, qualquer pessoa é 
um misto de órgãos, sensações, sentires, muita coisa; não se percebendo bem o que é o todo,
por vezes. 
E sendo eu um ser que precisa muito de pessoas, adapta-se a mim este projeto como uma 
mãe a um filho. 
Quando o primeiro passo foi dado ia receoso e confiante; 
receoso porque tinha medo de perder intimidade; 
confiante porque tinha visto como funcionava bem com um grande amigo meu (uma pessoa 
incrível, o Eduardo Jorge) e funcionava muito bem: dava-lhe vida, nem sabia o quanto isto 
iria ser importante para mim.

Como todas as novidades só sabes se é bom depois de experimentares e a uma reunião 
estranha via zoom com o Fernando, seguiu-se uma reunião presencial mais animadora; ficara 
acordado avançar com o projeto: o próximo passo seríamos só nós dois. 
Ele sorria muito, sorria bonito, fazia acreditar no momento!
O Fernando é brasileiro; fala mais vocálica, aberta, o que é bom para mim; digamos que vem 
doutro mundo, do outro lado do Oceano; era desconhecido; moreno, paulista, entroncado, 
mais novo que eu e bem disposto, sorriso fácil: começou bem, não roubava espaço, 
extremamente humilde, bastante recetivo e tão prestável que me deixava pouco à vontade, 
dizia ele: você vai ter que ter paciência para eu não o entender, 
pensava eu: já vou estando habituado. 

A Fala como é hábito tem-se desenvolvido bem pelo contacto no dia a dia e tem ganho 
expressões brazucas bacanas como tudo jóia, moleque e legal.

Os antecessores apoios a tempo inteiro tinham alto nível e exigência: 

- um pai também Fernando sorridente que só a morte nos separou;
- um tio ZÉ cúmplice, outro pai, que mora no alentejo (Vale de Milhaços) e vem cá a casa, 
todos os sábados, desde há 15 anos, marido de uma tia materna ;

O nível era alto e exigente e o moleque não se tem dado mal...

Várias indicações o Zé Maria tinha tido:

- de ser preciso manter alguma distância;

- não confundido afetos com o lado profissional;

- manter alguma formalidade;

- não devia criar amizades; quem me conhece sabe como é infrutífero este pedido;
Minha fonte de confiança neste projeto dizia-me: quero alertar-te para a necessidade de seres 
patrão à tua maneira em certas circunstancias.

O AP Fernando tem sido um rever, de novo a vida de privilégios por outros olhos (passeios, 
família e amigos), um constante falar de acabar o dia cansado, um rir até não conseguir falar, 
tem sido autonomia. 

O  Fernando melhorou a minha vida, é (exageradamente) calmo, da paz e dá gosto 
apresentar-lhe amigos de quem gosta e é gostado. 

Tenho ganho mobilidade na cadeira de rodas e treinado a fala acabando o dia cansado; a fala 
tem melhorado muito pelo constante uso; temos ganho um dialeto próprio.

Ganhei um personal trainer a ir ver o mar ao fim da tarde, a andar e querer fazer de mim um 
Cristiano Ronaldo.

Vamos, matinalmente, para começar bem o dia à praia, dar a volta e ver o mar; 

A principio, tinha que estar atento ao caminho, ativo ao trânsito para indicar e mostrar; agora, 
ele conduz muito bem e aprende super rápido, já voltei ao espírito desatento.

Era tudo perfeito se ele tivesse mais horas pagas semanais, todos sabemos, como a vida fora 
do seu país, longe dos seus, é mais difícil; qualquer dia, farta-se e vai-se embora para onde lhe
 paguem mais.

Não é estar mal agradecido este final, pelo contrário: é achar que temos que ser exigentes 
com as coisas que fazemos bem, melhorar: não basta ser um projeto da União Europeia para 
ser bom!

Parabéns vida independente, que vivas por muitos anos, sempre a melhorar!

E um obrigado final a quem mantém este projeto a pé no CAVI AlmaSã pela 
dedicação  que nos melhora a vida: bem hajam!

E um OBRIGADO ao FERNANDO!

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