Olá! Boa tarde!
Espero que estejam todos bem!
O meu nome é Zé Maria!
Este é o Fernando, o meu Assistente Pessoal
(link para este mesmo texto)
E esta senhora é a minha mãe, Teresa
Passo a explicar o que vamos tentar fazer: a minha mãe vai ler o texto que eu, escrevi para
esta ocasião, para vocês; o Fernando ainda está há poucos meses em Portugal e o português
escrito ainda é limitado, ele vai ajudar na tradução oral seguinte no debate e nisso ele é muito
forte.
Quero agradecer, antes demais, este convite para participar nesta sessão ao CAVI de Almasã:
Obrigado!
É incrível o cuidado e amor que trocamos uns com os outros numa qualquer sociedade
moderna, por exemplo, as inúmeras pessoas que fazem parte de uma qualquer vida; neste
texto enunciei um curto número que pessoas e já são imensas.
Foi-me pedido e passo a citar: para partilhar o meu testemunho enquanto destinatário a
usufruir de Assistência Pessoal pelo CAVI da AlmaSã, tendo a possibilidade de abordar a sua
experiência pessoal de maior independência, do que mudou com o serviço disponibilizado pelo
CAVI: oportunidades e constrangimentos.
Antes de tudo, acho o projeto da Vida Independente, um projeto de grande justiça!
E funciona para exercer para quem, por percalços da vida, perdeu autonomia, mas acha-se
capaz de exercer seus direitos e deveres como pleno cidadão.
É um elogio para os tempos modernos que haja uma sociedade em que existem cuidadores/as
pagos para funcionar como substitutos das limitações, e funcionam como a voz, os braços e as
pernas para quem não os tem ou funcionam pior.
Muito se lutou para aqui chegar, não foi sempre um direito adquirido… é recente!
Se se deve elogiar muito desta vida, a invenção deste projeto-piloto se funcionar bem está na
linha da frente: o monte de pessoas que ganham alguma atividade, saem de onde estavam
escondidos/as, guardados/as, enclausurados/as.
Querer eliminá-lo é não perceber nada do cuidado que a vida nos pede a todos/as, é excluir, é
criar cidadãos de primeira e cidadãos de terceira...
- PARABÉNS VIDA INDEPENDENTE! -
Passemos ao meu caso pessoal/particular:
A 18 de novembro de 2006 o Zé Maria teve um TCE (Traumatismo Crânio Encefálico) grave
devido a um acidente de viação causado por sonolência ao volante.
Perdi mobilidade e ganhei uma fala mais personalizada.
Foi a entrada num mundo novo de reaprendizagens constantes e novidades: um desafio maior!
Vou falando e andando melhor com subidas e descidas numa progressão algo inconstante mas
sempre positiva num processo longo, qual maratona vitoriosa!
A assistência pessoal sempre sentira como um projeto muito à frente, muito arrojado, mas
de que não precisava, não queria: era genial mas como ir à lua.
O Assistente Pessoal Fernando tem sido fundamental, por exemplo, entre outras coisas, para a
minha mãe Teresa;o Fernando tem sido fundamental para a nossa autonomia mútua.
Sempre achei que tornar-me mais dependente de outros era algo que não queria, (coisa de
miúdo, como o vírus tem demonstrado): somos todos interdependentes; não fala e não anda
mas não morri e estou cada vez mais vivo.
De facto, percebo agora que é dar dois passos atrás para dar um à frente, qualquer pessoa é
um misto de órgãos, sensações, sentires, muita coisa; não se percebendo bem o que é o todo,
por vezes.
E sendo eu um ser que precisa muito de pessoas, adapta-se a mim este projeto como uma
mãe a um filho.
Quando o primeiro passo foi dado ia receoso e confiante;
receoso porque tinha medo de perder intimidade;
confiante porque tinha visto como funcionava bem com um grande amigo meu (uma pessoa
incrível, o Eduardo Jorge) e funcionava muito bem: dava-lhe vida, nem sabia o quanto isto
iria ser importante para mim.
Como todas as novidades só sabes se é bom depois de experimentares e a uma reunião
estranha via zoom com o Fernando, seguiu-se uma reunião presencial mais animadora; ficara
acordado avançar com o projeto: o próximo passo seríamos só nós dois.
Ele sorria muito, sorria bonito, fazia acreditar no momento!
O Fernando é brasileiro; fala mais vocálica, aberta, o que é bom para mim; digamos que vem
doutro mundo, do outro lado do Oceano; era desconhecido; moreno, paulista, entroncado,
mais novo que eu e bem disposto, sorriso fácil: começou bem, não roubava espaço,
extremamente humilde, bastante recetivo e tão prestável que me deixava pouco à vontade,
dizia ele: você vai ter que ter paciência para eu não o entender,
pensava eu: já vou estando habituado.
A Fala como é hábito tem-se desenvolvido bem pelo contacto no dia a dia e tem ganho
expressões brazucas bacanas como tudo jóia, moleque e legal.
Os antecessores apoios a tempo inteiro tinham alto nível e exigência:
- um pai também Fernando sorridente que só a morte nos separou;
- um tio ZÉ cúmplice, outro pai, que mora no alentejo (Vale de Milhaços) e vem cá a casa,
todos os sábados, desde há 15 anos, marido de uma tia materna ;
O nível era alto e exigente e o moleque não se tem dado mal...
Várias indicações o Zé Maria tinha tido:
- de ser preciso manter alguma distância;
- não confundido afetos com o lado profissional;
- manter alguma formalidade;
- não devia criar amizades; quem me conhece sabe como é infrutífero este pedido;
Minha fonte de confiança neste projeto dizia-me: quero alertar-te para a necessidade de seres
patrão à tua maneira em certas circunstancias.
O AP Fernando tem sido um rever, de novo a vida de privilégios por outros olhos (passeios,
família e amigos), um constante falar de acabar o dia cansado, um rir até não conseguir falar,
tem sido autonomia.
O Fernando melhorou a minha vida, é (exageradamente) calmo, da paz e dá gosto
apresentar-lhe amigos de quem gosta e é gostado.
Tenho ganho mobilidade na cadeira de rodas e treinado a fala acabando o dia cansado; a fala
tem melhorado muito pelo constante uso; temos ganho um dialeto próprio.
Ganhei um personal trainer a ir ver o mar ao fim da tarde, a andar e querer fazer de mim um
Cristiano Ronaldo.
Vamos, matinalmente, para começar bem o dia à praia, dar a volta e ver o mar;
A principio, tinha que estar atento ao caminho, ativo ao trânsito para indicar e mostrar; agora,
ele conduz muito bem e aprende super rápido, já voltei ao espírito desatento.
Era tudo perfeito se ele tivesse mais horas pagas semanais, todos sabemos, como a vida fora
do seu país, longe dos seus, é mais difícil; qualquer dia, farta-se e vai-se embora para onde lhe
paguem mais.
Não é estar mal agradecido este final, pelo contrário: é achar que temos que ser exigentes
com as coisas que fazemos bem, melhorar: não basta ser um projeto da União Europeia para
ser bom!
Parabéns vida independente, que vivas por muitos anos, sempre a melhorar!
E um obrigado final a quem mantém este projeto a pé no CAVI AlmaSã pela
dedicação que nos melhora a vida: bem hajam!
E um OBRIGADO ao FERNANDO!
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