28 fevereiro 2023

O filme Fissura de Pedro Sena Nunes: 01 de MARÇO no renovado Batalha Centro de Cinema.

Selecção Oficial de Cinema Português
1 de Março
O filme Fissura, de Pedro Sena Nunes, estreia na 43ª edição do Festival Fantasporto, a exibição terá lugar no renovado Batalha Centro de Cinema.
 
Fissura é um filme que convoca o mundo conturbado em que vivemos. A corrida da personagem reclama um mundo utópico que caminhe para a liberdade, um futuro circular, esperançoso e renovado. Dentro do ecrã, as imagens surgem em todos os sentidos, num processo largamente insondável. Socialmente fissurado.

Numa guerra, podemos fugir continuamente, ou ser atingidos. O movimento despoleta os sentidos para além do que se vê e ouve. Fissura apresenta um percurso de (des)construção do real, num ambiente propício a experiências observacionais. Uma presença, uma voz, ecos dos campos antigos de batalha que cravam a ferro e fogo as nossas memórias. 
 
O filme conta com a interpretação de Vicente Senna Nunes, a voz de André Potyeryayko e a montagem e sonorização de João Coroa Justino.
Os filmes da VOARTE continuam a atingir novos públicos
 
Fruta Tocada por Falta de Jardineiro e Pequena Desordem Silenciosa, estrados nas últimas edições do Fantasporto, continuam em destaque e a correr o mundo em Festivais Internacionais.
 
Fruta Tocada por Falta de Jardineiro integrou a selecção oficial do New York Istanbul Short Film Festival e do First-Time Filmmaker Sessions, organizado pelo Lift-Off Global Network.

Pequena Desordem Silenciosa foi seleccionado para o 9th Pambujan International Film Festival.

 

24 fevereiro 2023

Why everything you know about autism is wrong !?

 
Jac den Houting | 

Para Ganhar é preciso ser melhor que nós próprios!!!



APENAS ISSO: JÁ PASSÁMOS IMENSO TEMPO NA 1ª VOLTA À FRENTE COM UMA DERROTA APENAS.

NÃO PERDEMOS QUALIDADE E ATÉ DIRIA QUE GANHÁMOS: SE FOSSE FÁCIL NÃO TINHA PIADA NENHUMA E O DESAFIO É NOSSO SE FIZERMOS POR ELE!

TEMOS 3 DERROTAS POR UM GOLO DE DIFERENÇA: 3 2:  13/11 NA AMADORA; 1-0 EM 05.02 EM MEM MARTINS E 0-1 EM 12.02 1º DEZEMBRO

TEMOS 12 GOLOS SOFRIDOS, SOMOS A MELHOR DEFESA E ISSO É MUITO BOM MAS É PRECISO MARCAR MAIS: TEMOS SÓ 61 QUE É MUITO POUCO COMPARADO COM OS 117 DO RIO DE MOURO E 97 DO E. AMADORA: 1º E 2º CLASIFICADO, É MUITO POUCO E TEMOS QUE MACAR MAIS.

QUEREMOS SUBIR DE DIVISÃO E É CADA UM DE NÓS QUE TEM QUE MOSTRAR VONTADE DE O FAZER!

ESTAMOS NA 17ª JORNADA DE 26 JOGOS, FALTAM 9 JOGOS!

SEM FAZER MAIS CONTAS, TEMOS A EQUIPA MAIS FORTE DESTE CAMPEONATTO; NÃO O QUEREMOS DEIXAR ESCAPAR!!!

22 fevereiro 2023

Há gente e onde há gente há Amor.


É sempre assim!?

 

Pessoas, passos, paisagem, piscina, pontes, pulos: P e S.

 

Não escrever tudo de uma assentada leva a desunires…

 

Escuro, sujo e preto.

 

Horizontes claros.

 

Há um erro no pedido: é errado pedir imaginação!

 

Nem ideias soltas, palavras sem sentido.

 

Dificuldade encontrar a mansidão e pintar multidões.

 

Impedir a ansiedade e o egocentrismo.

 

Muito erro: todas as palavras têm sentido.

 

Como um caminho com demasiadas saídas leva a lugares diferentes.

 

Para onde isto nos vai levar?

 

 Pensa comigo desconhecido que me ouves ler!

 

Todas as cabeças pensam diferente!

 

Têm uma história noutro tempo e espaço, noutro lugar…

 

Nunca saberemos o que é ver, ouvir, falar e tocar para outro.

 

Ninguém sabe como é o interior do outro;

 

Nem os cirurgiões sabem o que vai dentro de cada um…

 

E vai tanta coisa diferente...

Preparar uma viagem.


Pensar num lugar e suas riquezas, espaço.

Pensar em quem vai connosco, gente.

E no tempo.

Nunca saberemos como vai ser por muito que imaginemos e reinventemos.

Uma viagem é sempre a nossa experiência.

Por muito que preparemos tudo, ficará aquém.É coisa burguesa e nobre.

Um pobre não prepara viagens.

Porque não as faz.

Ou talvez, não seja certo.

O fenómeno das emigrações.

Idas em busca de melhores condições de vida.

É um desígnio dos pobres,

E também são pensadas,

Preparadas.

Mas, de outra forma,

Noutro registo.

Os espaços e tempo têm outras condicionantes.

Um olhar para fora pode ser tanta coisa.



Pode falar de/e para dentro e/ou pode falar de/e para fora.

Podem ser mundos, espaços e tempos, podem ser caminhos.

Um mesmo olhar não pode ser único, também pode ser plural e/ou movimento.

Pode ser triste: raramente não é bonito uma expressão de tanto interior.

É incrível cada olhar que vê, ri, chora, parece que fala.

Um podem ser muitos quando imaginas.

Um cego vê de outra maneira.

E imaginar é das melhores coisas que a vida tem e não tem poucas coisas boas.

Tem muitas, viver é tão bom que devia ser mais óbvio viver, até quando custa nos melhora essa dificuldade.

Tudo implica cuidado, viver implica cuidado: é bem bonito sermos elemento de amor.

A sociedade é exigente e temos responsabilidade nela, também pode não ser, é uma escolha nossa.

A exigência connosco vem desde sempre, em tudo o que fazemos

E seremos sempre um olhar para a frente e para cima  porque queremos o melhor da nossa vida!

Sempre?

Sempre é tanta coisa.

Talvez quase nunca... talvez!? 

E nunca é pouca coisa.

 Um corpo humano é tanta coisa que quando falha/falta é que se dá pelo pormenor daquilo na nossa existência.

 Passamos demasiado do nosso tempo a falar do negativo e pouco a falar nas coisas boas que existem e assim perdemos interesse mas passamos preocupação ou talvez não...

ir ao mundo comprar óculos...


Graduação a menos nos óculos e ver o mundo de novo, com mais cores.

Ver de perto e à distância melhor.

Encontrar razões para uma derrota ser positiva.

Porque a outra equipa é de longe muito superior e cresces imenso.

Reconhecer encanto na vida.

No telemóvel, cantar os parabéns a uma amiga com quem vais viajar para o meio do Oceano.

No passado, que recuperas no presente resiliente para um futuro sempre a melhorar.

Na mesma casa desde os 7 anos, que é fria e húmida e encontrar nisso beleza.

Reencontrar uma fisioterapeuta que já não vias há muito tempo e andares sem apoio.

Se é difícil, há 40 anos que nunca foi tão fácil.

Histórias dispersas e nascimentos.

Encontram algum encanto no ter que fazer diferente o futuro.

Sem filhos.

Fugir da norma.

Domingos.

Folgas.

Feriados.

O trabalho quando é interessante.

Tempo abensonhado.

TEMPO!

Encontrar zonas e pessoas amigas onde ser melhor.

Desligar-te do Eu, pensar neles, nos outros.

Encontrar dificuldades para não ter facilidades.

Observar.

Falar com mais tato.

Criar ideias e novidades.

 Que desenhar, que pintar, que imaginar, que sonhar?

Encontrar graça no fazer sempre igual.

Erguer os alicerces onde cresces cada vez melhor.

Procurar se entortas é porque é preciso.

 

Ir ver o jogo. E ganhar.

21 fevereiro 2023

19 fevereiro 2023

UMA VÉNIA A BEM DIZER/ESCREVER

Palavras, falar, pensar, poemas.

Não sei nem bem porquê mas não tenho a sensibilidade ou o afeto 

Para dançar com letras;

Falta-me o toque, um dom, talvez.

É como ter olhos bonitos, minto: 

Não se pode trabalhar a beleza no corpo.

E pode-se trabalhar, encaixar os tons, sons.

A poesia precisa de tema.

Um elogio a poder ter a liberdade de escrever tudo e nada.

Um elogio ao poder dizer, falar escrevendo; pintar signos, largar conceitos!

Esvoaçar no papel, no ecrã, voar e ir leve, voltar sem sair do lugar.

Pelo meio, refletir no ontem.

Que já não sei onde foi, foi a rotina de que gostamos.

Algo diferente...

Mas com outras poesias e encontros semanais.

Amanhã terapias!

Ensinem-me a escrever Poesia!

InspirAction Shot - Eduardo Jorge - Seeds of Change: take yours and spread

 

DOMINGO, 12 DE FEVEREIRO DE 2023

“Se as pessoas com deficiência continuarem a contentar-se com esmolas, não perspetivo grandes mudanças

Entrevista á Plural&Singular...
Conhecido defensor da filosofia da Vida Independente em 2013, avançou com uma greve de fome junto à Assembleia da República, em 2014 desafiou-se a fazer 180 quilómetros em cadeira de rodas entre Concavada, Abrantes, e o Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, em Lisboa. Em 2018 foi protagonista de um novo protesto junto ao Parlamento, onde ficou vários dias deitado dentro de uma gaiola. Agora que desfruta dos direitos conquistados, em entrevista à Plural&Singular o ativista faz o balanço destes últimos anos e partilha a antevisão que faz dos próximos 10.
01 – Quem é Eduardo Jorge: como se vê, como as pessoas o veem?
Eduardo Jorge (EJ) - Tenho 60 anos e estou tetraplégico há 31. Sou uma pessoa tranquila, tímida, grata, avesso a injustiças, amante da natureza, que aprecia as coisas simples da vida e não exijo muito para ser feliz. Os outros talvez me vejam como uma pessoa lutadora que não aceita os “nãos” com facilidade e que não abdica de lutar pelos seus direitos. Sou um privilegiado por trabalhar na área que me formei: Ciências Sociais/Serviço Social. O voluntariado também me dá muito prazer. Vivo sozinho graças à assistência pessoal e tenho a minha deficiência muito bem resolvida. O que me perturba é a sociedade não permitir que viva em condições de igualdade em relação aos demais cidadãos.

02 - Como foram os últimos 10 anos na sua vida?
EJ - De 2019 até ao momento foram anos muito bons. Graças à assistência pessoal libertei-me de um lar de idosos e voltei a viver na minha casa e a ser dono da minha vida. De 2015 até 2019 foram anos muito tristes e humilhantes. Fui obrigado a ser institucionalizado num lar de idosos, período negro da minha vida que nunca esquecerei. De bom também foi ter conseguido um emprego que me preenche.

03 - Quais foram os momentos mais marcantes?
EJ - O dia que pude sair do lar e voltar para a minha casa e a promoção na carreira que tive no meu emprego. Assim como ter capacidade para me aceitar e ter orgulho na minha deficiência.

04 - Como avalia os últimos 10 anos na vida das pessoas com deficiência?
EJ - Embora tenha existido alguns avanços nas politicas relacionadas com a deficiência, muito há ainda para conquistar. Preocupa-me a falta de iniciativa das organizações que deveriam defender os direitos das pessoas com deficiência, mas ainda mais preocupado fico por verificar que os anos passam e as pessoas com deficiência continuam a não conseguir criar um grupo unido e suficientemente forte capaz de exigir direitos. O dia que nos conscientizarmos que somos capazes de exigir em vez de mendigar tudo será mais fácil.

05 - Em que áreas foi mais positiva a evolução?
EJ - Na área da vida independente/assistência pessoal, embora o atual projeto-piloto seja um projeto muito aquém do pretendido e somente ao alcance de alguns. A Prestação Social para a Inclusão também reconheço como tendo alterado o paradigma dos apoios sociais, mas longe de ser o ideal. A aprovação das quotas de emprego também considero uma medida positiva.

06 - O que ficou por fazer?
EJ - Muita coisa infelizmente, como é o caso da lei das acessibilidades por cumprir, ainda predominar a institucionalização contra a vontade das pessoas com deficiência, as falhas na atribuição de produtos de apoio, a educação nada inclusiva, a saúde mental continuar a não ser considerada uma prioridade a nível das políticas de saúde. No fundo faltou cumprir os instrumentos estratégicos nacionais e internacionais em matéria de direitos das pessoas com deficiência, nomeadamente a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada pela Organização das Nações Unidas e retificada pelo nosso país, a Estratégia sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência 2021-2030, da Comissão Europeia, e a Estratégia Nacional para a Inclusão de Pessoas com Deficiência 2021-2025.

07 - A comparação inevitável: como Portugal se posiciona em relação aos restantes países europeus?
EJ - Comparado com os países nórdicos, Espanha, Países Baixos, França, Reino Unido, etc continuamos na cauda da Europa em todas as áreas.

08 - Como acha que vão ser os próximos 10 anos para as pessoas com deficiência?
EJ - Se as pessoas com deficiência continuarem a contentar-se com esmolas, não perspetivo grandes mudanças. Continuaremos a não ser uma prioridade para o Governo. Se nos mentalizarmos que somos capazes de fazer a mudança, temos mais possibilidades de alterar o estado em que nos encontramos.

09 - Como deseja que sejam os próximos 10 anos na sua vida?
EJ - Principalmente continuar livre, a ser dono da minha vida. Com trabalho e vontade de continuar a lutar caso seja necessário.

10 - Que mensagem deixa à Plural&Singular pelos 10 anos de existência?
EJ - Uma mensagem de gratidão pela dedicação à temática da deficiência e de incentivo para não desistir perante as adversidades. Muitos parabéns e sucesso.

11 fevereiro 2023

A feminilidade do mundo assusta...



Elas são mais autónomas e independentes.

Nasces no colo materno e passas de colo para colo, onde tentam parecer uma igualdade justa.

Agora há também os gays, que são independentes.

E as lésbicas no topo.

Talvez não seja nada assim mas teve piada o jogo/ensaio!

10 fevereiro 2023

Para andar na rua é preciso saber certas coisas...

A Associação novamente lançou uma petição pública que solicita ao legislador a regulamentação da obrigatoriedade do uso de capacete durante a utilização de trotinetas.
 
Em 2022, o número de acidentes de trotinetas por mês foi, em média, de 140 e que destes resultaram muitos feridos com lesões graves, nomeadamente, traumatismos crânio-encefálicos que podem provocar danos permanentes no cérebro. Torna‐se, assim, urgente que o legislador considere regras de segurança para quem utiliza estes velocípedes, numa lógica de estímulo a uma condução responsável e segura.

Embora a novamente considere as trotinetas um meio de transporte com inquestionáveis vantagens, considera que a segurança da sua utilização tem sido negligenciada. E, por isso, tomou a iniciativa de submeter uma petição à Assembleia da República, com o objetivo de legislar sobre a obrigatoriedade do uso de capacete em trotinetas elétricas.

A petição pode ser subscrita na página  www.peticaocapacete.pt/

Contamos consigo para subscrever e divulgar esta petição que salva vidas!

Obrigado!

09 fevereiro 2023

Elogio à dúvida (por Bruno Nogueira)

Para todo o lado para onde olho, só vejo certezas. E não são certezas modestas, são certezas absolutas. Tudo é absolutamente preto ou branco, subtraiu-se o cinzento. A falta que faz a dúvida.

Volta e meia era bom que a dúvida tivesse o mesmo palco e a mesma voz que a certeza. Numa altura em que há pouco ou nenhum espaço para duvidar ou para tomar o tempo que for necessário para se ter uma opinião que não ceda ao populismo, nem ao nervosismo, nem a outros “ismos” que não trazem nada de bom ao debate público de discussões importantes, talvez pensar alto, sem julgamento nenhum prévio, seja uma boa maneira de percebermos que estamos todos ainda a aprender uma série de coisas que achávamos que já tínhamos como adquiridas. Estou também a falar para mim. Nesse processo, muitas vezes avança-se, outras vezes atrasa-se tudo o que se tinha avançado. Ninguém tem de terminar o dia a escolher um lado da trincheira, pode antes aceitar que não sabe, está a tentar saber mais, ou que já pensou uma coisa e agora pensa outra. Para todo o lado para onde olho, só vejo certezas. E não são certezas modestas, são certezas absolutas. Tudo é absolutamente preto ou branco, subtraiu-se o cinzento. A falta que faz a dúvida. A dúvida como motor de tudo. A dúvida como princípio de muitas outras dúvidas, até restarem muitas menos.

Na ciência, é ao manter a incerteza em cima da mesa e admitir que não sabemos tudo, que se avança para descobertas que são certezas só por uns tempos, até se redefinir essa certeza e se começar não do zero, mas do pouco que se conquistou com as dúvidas anteriores.

Na democracia a dúvida faz com que de quatro em quatro anos se dê início a novo diálogo, para que a mesma escolha ou uma nova possa acertar agulhas. Todas as certezas que os partidos políticos possam ter, explodem-lhes na cara e vergam frases feitas até serem só pó e interrogações, perante as dúvidas de quem vota.

A certeza de cada um é irrelevante, porque a natureza não contempla espaço para isso, age como tem de agir, apesar de nós. É indiferente ter a certeza absoluta de que o aquecimento global não existe. É indiferente acharmos que a Covid-19 é uma invenção. Repetir muitas vezes uma coisa não a torna verdadeira. A Covid matará os cépticos e os crédulos, e o aquecimento global mudará a vida de todos para sempre, sem olhar a dúvidas e certezas.

É por isto tudo que quando há umas semanas o palco principal do São Luiz foi alvo de um protesto, estranhei tantas certezas absolutas vindas de tantos lados e com tanta rapidez. As redes sociais tornaram-se um pântano de verdades onde não havia tempo para dúvidas. A pressa de ter alguma coisa explosiva para dizer contaminou o espaço que havia para pensar. O resultado foi a morte do debate, e o ataque como verdade única e absoluta.

Imagem sabado_13.tif (17102831) (Milenium)
Imagem sabado_13.tif (17102831) (Milenium)Juan Cavia
No meio das dúvidas que eu possa ter, há algumas certezas que já cá estão antes de qualquer protesto, e até antes de mim: um encenador pode decidir que não quer nenhum homem em palco, e só quer mulheres. Pode decidir que só quer homens e nenhuma mulher. Pode decidir que quer que sejam todos negros, ou que sejam todos indianos. Pode decidir que são todos trans e que é assim que ele imagina aquela peça. Ao espectador caberá decidir o que acha dessas decisões, e é esse o horror e a beleza da arte: o público funciona como caixa de ressonância do que ali se passou. Pode manifestar-se à porta do teatro, mostrando o seu ponto de vista. Se por exemplo o público achar que uma peça é homofóbica, pode reagir não comprando bilhetes, ou saindo a meio do espectáculo, levando a que o encenador e o público reflitam sobre o que ali aconteceu, sem que haja obrigação de alterar absolutamente nada. Subir para cima de um palco e exigir que se mude o que se está a ver, é o princípio de uma coisa que se pode tornar um cadafalso, porque toda a gente tem uma luta que acha que deve ser representada em palco. Se o desespero for carta branca para se interromper uma peça, que perigos é que isso levanta? Outra dúvida é a de não sabermos o que leva um espectador a subir a um palco, nem o que leva com ele. Não sabemos se está armado, se quer agredir, se quer gritar, ou se quer só dizer que a escolha daquele encenador o está a matar por dentro e por fora. E é na sequência disto que vive a minha maior dúvida: um encenador ceder a essa manifestação e mudar o que fez (como aconteceu nesta peça), não irá criar um campo minado para todos os encenadores que se seguem? Porque se essa dúvida se transformar em certeza, talvez seja o princípio do fim da liberdade criativa. Esta é uma das dúvidas que se deve abordar, juntamente com todas as outras que o protesto provocou. Mas como parece haver certezas absolutas, só se pode ser a favor ou contra, e fim de conversa, porque a dúvida é para os fracos. É possível ser-se a favor de uma causa, e não se ser a favor da forma como essa causa se fez ouvir.

Descobre-se mais com a dúvida do que com a certeza. A certeza ata com muitos nós o cérebro, adormece a curiosidade e retira-nos o estrondo que causa o espanto e a descoberta. Descobrir que somos o oposto do que dizemos não é desandar, é reaprender a andar. É aceitar a mais desafiante das certezas, a de que somos múltiplas coisas ao longo da vida, e que no último dia somos todos a mesma. Mas até disso tenho dúvidas.

08 fevereiro 2023

quando tudo é bom!


Cátia Mazari Oliveira (link) meteu o SG no bolso e saiu para passear, e teve muita classe como o fez. Vinham ambos com seus guitarristas a acompanhar Sérgio Mendes (ela) e Nuno Rafael (o maço de tabaco).

Setubalense de escama evitou os narcisismos alheios muito bem.

O ponto alto do concerto foi quando a certa altura tinham decidido preparar uma cantiga do outro em segredo: ele cantou esta música do vídeo e depois ela disse que não tinha sido nada fácil escolher entre as 200 e tantas músicas que ele tinha. 

Tinham chegado às 10 e reduzido para 8 porque uma ele não conseguia tocar e outra ela não conseguia cantar e feito um medley que tocaram e foi lindo.

R. das Marimbas nº 7 (2019) e 2 de Abril (2022) aparecem como dois únicos álbuns desta cantora de grande qualidade ATUAL: A Garota não (link)! É muito leve e discreta: vai-se afirmar, naturalmente, por quem é!!!

A sala estava cheia de boa energia liberta e eu ia com a rapariga mais bonita da sala. 

Que bom presente!!!

06 fevereiro 2023

Há um novo rapaz na cidade.

Chama-se Héctor Bellerín, é jogador de futebol e veio jogar para o Sporting para o lugar de Pedro Porro. É um futebolista improvável: defensor de causas progressistas como a luta LGBTQIA+ e a luta antirracismo. Em vez de carros topos de gama, usa carros elétricos, mas também anda de bicicleta e usa o metro. É vegan e prefere ler livros escritos por mulheres. Gosta de moda, mas, ao contrário da maioria, demonstra percebê-la e saber utilizá-la. Usa marcas caras, mas também compra roupa em segunda mão. Está traçado o perfil de um homem que tem muito para agradar a quem habitualmente não se deixa seduzir pelos protagonistas do futebol.

Mas falta qualquer coisa. Será que a tem? Parece que sim. Bellerín defende o pagamento de impostos e acha que os jogadores de futebol deveriam pagar mais do que o que pagam. E é aqui que está a pólvora.

Na doutrina de Jesus Cristo os ricos não tinham salvação: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus.” Notem que um camelo é uma corda muito grossa, usada nos barcos, e não o animal. Alguma esquerda também estabelece essa diferença inultrapassável entre ricos e pobres e fixando a virtude nos segundos. Já a direita adora falar em hipocrisia relativamente a quem se diz de esquerda, mas ocupa uma classe sócio-econômica privilegiada. Mas será que os ricos não podem ser de esquerda e será que não podem ser virtuosos?

Não é preciso apoiarmo-nos em nenhuma ideologia, qualquer cínico pragmático pode constatar isto: as pessoas que auferem mais rendimentos dividem-se entre aquelas que acham que pagam demasiados impostos e as que reconhecem no momento da tributação uma parte fundamental da vida democrática – aquele em que contribuem para o bem comum e para a redistribuição da riqueza. Sucede que são casos raros.

A maioria das pessoas que aufere muitos rendimentos tende a achar que paga demasiados impostos. E as desculpas para isso são mais do que muitas. Uns dizem que não gostam de pagar impostos, porque não acreditam na boa aplicação desses fundos por parte do Estado, outros manifestam-se contra o racional dos escalões no imposto sobre o rendimento das pessoas singulares, etc. O que existe pouco é quem ganhe muito e diga que deveria pagar mais impostos.

Não é preciso apoiarmo-nos em nenhuma ideologia, qualquer cínico pragmático pode constatar isto: as pessoas que auferem mais rendimentos dividem-se entre aquelas que acham que pagam demasiados impostos e as que reconhecem no momento da tributação uma parte fundamental da vida democrática – aquele em que contribuem para o bem comum e para a redistribuição da riqueza

Bellerín preenche todas as cruzes da agenda multicultural e identitária que, fora da esquerda, muitos afirmam também preencher. Não faltam liberais que se afirmam ambientalistas, feministas, antirracistas e, de um modo geral, progressistas. Já muito se escreveu sobre a inutilidade de agendas multiculturais que não têm apego à luta de classes e a uma visão política e económica da sociedade. Subscrevo. Apregoar causas individualizadas é uma armadilha em toda a linha. Qual a validade da luta feminista, se ela não incidir sobretudo nos direitos das mulheres pobres e que ganham menos?

Pois, e sem teorizar e eventualmente sem querer, um jogador de futebol apresentou uma agenda moderna e cada vez mais consensual da esquerda à direita. Está lá tudo. Do ambientalismo à sustentabilidade, a passar pelas causas identitárias. Esta cartilha de causas e lutas pode ser – e é – por muitos confundida com um menu capitalista, como se fosse possível ser liberal e um acérrimo progressista.

Mas tratou de introduzir um detalhe que obriga muitos a recuarem. É que é muito fácil dizerem que são contra o racismo, apesar de fazerem de conta que não sabem que o preconceito racial está profundamente ligado ao preconceito socioeconómico. É muito fácil tratarem cada luta como sendo individualizada e por isso desligada da necessidade de correção das desigualdades sociais, ou seja, da defesa do pagamento de impostos.

Ser progressista não é uma nova versão de ser capitalista nem tão-pouco de ser despolitizado. Ser progressista exige uma visão política e comprometida do mundo. Em que se traduz essa exigência? Na disponibilidade para pagar impostos. É muito concreto e extremamente simples.

Héctor Bellerín também falou sobre a guerra da Ucrânia, mas relembrando que existem outras a que não ligamos nenhuma. E lamenta sermos assim. O que vos estou a tentar dizer é que estamos perante uma novidade no mundo do futebol. Claro que não devemos tratar a novidade com o velho procedimento: o de criar um mito. Mas podemos concordar que existe uma espécie nova na fauna futebolística, o lateral direito de esquerda.

03 fevereiro 2023

o mar bate eternamente na areia como a rotina

Mas nunca é o mesmo.

Às vezes sopram andorinhas.

Outras o sol bate na areia, 

Nuvens desenham.

As sombras, os tons, as cores.

Claras e escuras.

Por dentro mudam as energias, o silêncio vai e vem.

As pessoas que passeiam.

Conversas à volta distraem.

Os cães.

Os passeios.

As ondas, as marés, as correntes.

Nunca é igual.

Às vezes, é manso, sereno.

Outras revolto nas correntes.

Idas e vidas.