Há um monte de tradições na festa do Natal; foram-se acumulando ao longo dos séculos e tiveram origens bens diferentes. Mas o conjunto de todas até nem é mau de todo.
Ora vamos lá ver:
- Festa do nascimento do Sol invencível – instituída pelo imperador romano, Aureliano, em 25 de Dezembro de 247 D.C.
Sendo por essa altura o solstício do inverno, o Sol, tido como divindade, começa a subir. A festa incluía fogueiras que ainda hoje perduram em muitos sítios. Como sucedâneos temos as iluminações mais vistosas e caras; mas os seus alicerces com referência ao Sol, era bom que não se perdessem.
Festa do nascimento de Jesus. A igreja de Roma, para os cristãos não alinharem nessa festa do Sol, batizou-a. Como não se sabia ao certo a data do nascimento de Jesus, o papa Júlio I, em 350, decidiu que no dia 25 de Dezembro se festejaria o nascimento de Cristo, o verdadeiro sol da vida para os cristãos; o cristianismo tinha-se divulgado por todo o Império e a festa do Natal de Jesus também.
No sec. XIII S. Francisco de Assis faz um presépio ao vivo numa festa de Natal e a ideia falou ao coração do povo. A imagem do presépio, julgo, fez nascer no meio do povo uma infinidade de expressões do presépio, algumas com muita arte,
e de maravilhosas canções de Natal. Só por isso quase que valeu a pena, e também por toda a fantasia das crianças e de adultos à volta do Natal.
No cristianismo das regiões pertencentes ao Império Romano do Oriente, o nascimento de Jesus celebrava-se a 6 de Janeiro e teve como inspiração bíblica a visita dos Magos; no meu entender, também a oferta das prendas de Natal vem daí.
A tradição do Natal em Dia de Reis, foi trazida pelos visigodos, povo imigrante vindo das regiões gregas e com tradição cristã do Império do Oriente, que se enraizou em Espanha e aí deixou a sua cultura.
A árvore de Natal vem de tradições antigas de países do norte da Europa, zonas de florestas, onde árvores eram tidas como seres divinos.
A árvore entra na tradição do Natal pelo sec. XVI.
Natal é pois festa com muitas raízes. Há nela crenças religiosas que deixaram suas marcas sobretudo do ambiente festivo: luzes, presépios, árvore, flores, música, fogueiras, manjares e guloseimas, ritos…
Ah! Faltou-me uma coisa: o Tio Patinhas achou que a festa do Natal podia render milhões. Sem mais, inventa um simpático velho de barbas, talvez inspirado na tradição do São Nicolau, bem enraizada na Holanda; diz a tradição ser ele um velho bispo nascido na Turquia em 280 D.C., homem de bom coração que ajudava os pobres deixando saquinhos com dinheiro junto às chaminés. Assim cria o Pai Natal, que não é bispo nem nada, e ainda bem!; fez dele seu gestor de marketing, passou ele a ser quem dá presentes ricos aos meninos e gente rica e presentes pobrezinhos aos meninos pobres, e o Menino Jesus fica limpo dessa fama nada simpática e que não tinha nada a ver com Ele.
Mas, e o que é que há de profundo na festa de Natal, para além de todo o cenário festivo e tão envolvido em dinheiro?
Uma procura de humanidade, sentimento esse nascido da mensagem de Jesus Cristo. É esse sentimento que leva a dizer que o Natal deve ser todos os dias, em todo o lado e sempre.
Recordo aqui o Natal de 73, que deixou marcas muito profundas cá no fundo de mim: Eu tinha sido preso no dia 12 de Dezembro, por se julgar que transportava armas no meu carro!
Fiz a tortura do sono e, uma semana depois, era Natal. Eu estava sozinho numa cela; era padre e decidi celebrar o Natal com missa e tudo. Tinha pão e vinho (Pedras Negras!) que guardara da ceia que tinha sido boazinha, tinha a Bíblia e estava eu. Juntei a mim os amigos que estavam por ali presos e tanta outra gente que me povoava o espirito: paroquianos, crentes e não crentes, doentes e sãos, novos e velhos, amigos, tantos…
O guarda prisional não deu por nada, mas foi um encontro extraordinário.
Isto não é para me armar em herói, mas para deixar aos meus filhos e netos, e talvez a mais gente, que é
preciso ”renascer” sempre.
Como diria um meu extraordinário professor de filosofia, citando Carlos Queirós, poeta transmontano, “Ver só por fora é fácil e vão,/Por dentro das coisas é que as coisas são”. Também é
necessário saber ver o Natal por dentro.
Para terminar: há anos ouvi uma reportagem na TV, que nunca mais esqueci: Júlio Isidro, o entrevistado, contou que então era sozinho. Na noite de Natal ia pela cidade, encontrou uma mulher da rua; abordou-a dizendo que não queria servir-se dela; apenas a convidava para irem jantar juntos, pois era a noite de Natal. E assim foi.
Valeu a pena ser Natal.
António Correia
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