Vou chorar. Devia mentalizar-me de que é grave o que me aconteceu, é triste. Arrepender-me dos sorrisos alegres vertendo vertigens verdes. Encarnando um dia de novembro de 2006 em que voltava para casa e crê-se que adormeci embatendo num plátano. De manhã, numa vivenda do banzão batem e 'sr. Belo, não vimos trazer uma boa notícia: o seu filho teve um acidente e está em coma'. 'desculpe?' ginja aparece a bater a cauda, uma festinha e 'ginja, o teu dono emigrou e está longe.'
'teresaaaaaaaaaaaaaaa', vem espavorida, assustada e vê o guarda e uma cara dum fernando desconhecida 'o que foi?', fernando abraça-a e chora 'o nosso filho...' 'morreu?' 'ainda não mas teve um acidente e está em coma, o que fazemos?' teresa diz a chorar 'avisamos familía e amigos', o agente diz em jeito de retirada 'está em são francisco xavier, qualquer coisa não hesitem, 4º andar! desculpem o despertar'...'obrigado',
Telefone: 'para quem ligamos?', quem liga!? e para quem!? nem sei se acredito...ginja, pára quieta! ela parece estar a sentir...'
Abraçam-se a chorar e juntam-se lágrimas...
Ora estávamos deitados a dormir, eu até sonhei com ele, e ontem ele estava palpável, vivo e bateu um cabum...
Vou chorar.
4 comentários:
ola:Não foi bem assim (se se conseguer dizer como as coisas acontecem) e não começámos a chorar:ficámos suspensos,vestimo-nos e viemos para o Fr. xavier; disseram-nos para esperarmos à entrada da urgência: uma médica grávida esperava por outra(percebi que não nos queria falar sózinha)e disse-nos para esperarmos até te podermos ver já nos cuidados intensivos.
A manhã estava fria e com sol e ficámos na rua à espera e então, aí,decidimos a quem íamos telefonar.
Chegaram a tia São, o tio Zé e depois Tiago e a Ricardina e o tempo continuava suspenso nessa manhá fria e com sol de Inverno.
Bebi chá no bar (que nos iria acolher durante dias e dias) à espera de te podermos ver:estavas calmo como se estivesses a dormir serenamente e não sabíamos ainda os caminhos que viriam a ser descobertos com luzes tão diversas até hoje e sempre,porque sim.
Tens muita coragem. Gosto muito de ti, desde o céu até à lua.
Contado por mim, o que me lembro bem é das pancadas na aldrava da porta, com força, às 8 da manhã de sábado. Vir à porta e serem dois guardas da GNR: 'é o senhor F.A.Belo?' 'Sou'. 'Pai de J.M.J.Belo?' Meio acordado, pressenti que chegara 'em pessoa' o que tantas vezes temera pelo telefone. 'O seu filho José Maria teve um acidente', deve ter dito, mas já não me lembro das palavras. A Teresa veio logo, atrás de mim, suspensa também das palavras deles. Quanto ao estar em coma, foi a minha pergunta antes de eles irem embora: 'não sabemos, estávamos a regular o trânsito'. Não chorámos nessa altura, despachámo-nos a vestirmo-nos e abalar. A conversa com os guardas demorou um bocadinho, íamos fazendo perguntas, disseram-nos que tinham serrado a porta para o tirar, e mais coisas, mas eu tenho tentado, não consigo lembrar-me de quase nada. Mesmo da 2ª pergunta, se eu era o teu pai, não estou certo da formulação. E também não pensámos em telefonar à São e ao Zé senão depois de te termos visto. Ela perguntou, disso lembro-me: 'o que é que nós podemos fazer?' 'Venham cá ter', e vieram. Depois, levaram-nos a casa deles, almoçámos numa tasca ao lado. Aí, na sala deles, sozinho, é que chorei. Depois, já no hospital, a caminho de te visitarmos outra vez, é que tive uma espécie de sensação física, não sei explicar como, que me deu a certeza de que não morrias, de que as coisas iriam. E nunca mais duvidei.
Parece que finalmente estás a conseguir saber o que realmente se passou nessa madrugada fatídica de Novembro, em especial na forma como aqueles que te adoram souberam e reagiram ao brutal primeiro impacto.
Espero que reviver esses momentos seja uma outra forma de vos fortalecer cada vez mais, de modo a que a esperança nunca se esfume...
Da minha parte continua viva.
Um abraço
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