“Eu não sou como os outros, disseram-me. Mas não é por culpa minha, também me disseram isso”.
(Anne Sylvestre, “La chanson de toute seule”)
Quando falamos de diversidade e/ou variabilidade, lembramo-nos de muita coisa: da cor dos olhos, do cabelo, da altura, da obesidade ou da magreza, da cor da pele, da etnia, da cultura, de ser mulher, de ser homem, da idade e até da deficiência.
Apregoamos muitas vezes que há homens e mulheres e que as mulheres com deficiência são duplamente discriminadas.
Quando falamos de diversidade também nos lembramos do outro lado, ou seja, da diversidade social: ser pobre, ser rico, ser toxicodependente, ser recluso, ser doente mental, ser homossexual, ser negro, ser asiático, de um país nórdico, ser estrangeiro, ser instruído/grau de instrução, empregado, desempregado, solteiro, casado, divorciado, viúvo, órfão, o que for.
De tudo isto nós nos lembramos, mais ou menos vezes, uns mais outros menos.
Não interessa.
Do que ninguém se lembra e até fica espantado quando é confrontado com uma situação dessas, é dos cidadãos com deficiência que para além disso são também negros ou de outra etnia, são também reclusos, ou toxicodependentes, são também homossexuais ou doentes com sida., são também doentes mentais, sem abrigo, prostitutas e prostitutos, ricos ou pobres, instruídos ou não, empregados ou não, casados ou não.
Se as pessoas sem deficiência, podem ser tudo isto, o que dizer dos cidadãos com deficiência?
Que tem muito mais propensão para ser tudo isto, comparativamente aos outros.
Eu resumiria tudo numa palavra: transparência.
São pessoas transparentes, no sentido em que nunca nos lembramos que elas existem.
Não fazem sequer parte do nosso imaginário coletivo.
Não fazem sequer parte do nosso imaginário coletivo.
Por isso não vou falar sequer em discriminação ou em dupla discriminação.
Falo antes de espanto, no pior sentido que isso possa ter porque pertence ao inimaginável.
Em suma: é como se não existissem.
Mia Couto escreveu no seu livro “JesusAlém": “Todo o silêncio é música em estado de gravidez”. Parafraseando Mia Couto, eu diria: Toda a transparência é música em estado de gravidez. Porque ainda nem sequer nasceu, para o comum dos mortais.
Como escreveu Heidegger, um filósofo alemão: “Mas aonde há perigo cresce também o que salva”.
É essa a nossa força, a nossa esperança, o nosso saber viver e estar.
Façam o favor de dar à luz.
Clara Belo
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