o Nélson Delgado

			o olhar

cheguei ao andar do Nelson no Hospial Amadora Sintra e ele estava à nossa espera na cadeira eléctrica, ao fundo, à espera de medir a tensão.

vi-o ao fundo.

ainda não o tinha visto numa cadeira, estava sempre deitado nas anteriores visitas (vai fazer um ano lá dia 02 de Outubro): ele é o contrário da expressão 'coitadinho!'

Tem grande força/alma!

Não sei se já ia de tripé ou não, se não ia passei a estar.

Lembra-me que dei uns passos sem apoio, ele merece, pensei.

É incrível o olhar alegre forte que ele deu...

Gosto mesmo dele! Gosto muito!

Espero que o meu olhar tb dissesse isso!!!

Estamos cá uns para os outros, senti!

O Nélson tem uma leveza que dá espaço, junto a ele podes Ser/Existir; encanta tanta melodia e harmonia, tem um movimento que jinga e incentiva. Tem 32 anos. É africano de segunda geração, português, como o mundo anda já somos e cada vez mais, com tanta interação e internacionalização, mundiais. Já o conheci depois do mergulho mal dado e pelo qual ficou paraplégico e dizer isto não é indiferente, as quedas impulsionam Pessoas. Não sei que transformações existiram nele por ter passado por ali mas sabes/entendes que ver uma pessoa circular numa cadeira de rodas como tendo uma experiência parecida na diferença e em algumas dificuldades contigo. Por um lado, não queremos valorizar o que nos aconteceu, por outro lado, há alguma aproximação, de pessoas como o Nélson, valorizada pela volta nas nossas vidas. Viver bem com elas é um talento e ajuda-nos a perceber que é tudo muito rápido: hoje aqui assim, amanhã ali doutra maneira não pior mas diferente. Há qualquer coisa que é acrescentada, além da cadeira, claro, à identidade de alguém que perde mobilidade ou que passa pela deficiência. Talvez surja como estranho falar em movimento quando falamos em alguém paraplégico mas encontra-se formas e modos de estar e de comunicar apreciáveis.

Venho falar-vos de UM Amigo: Nélson Delgado de seu nome!

Um Amigo admirável, fascinante pessoa, tem qualquer coisa de ingrediente favorito, etc, etc....

Dá vida conhecê-lo: pelo brilho otimista no olhar marcante!

É tetraplégico mas queria ver a maior parte das pessoas que encontro/vejo/conheço sorrirem à vida com aquela Alegria com o rabo sempre sentado numa cadeira de rodas.

Tenho muito prazer ao cruzar o olhar com ele como quem diz: ‘estamos cá vivos e com prazer a disfrutar!’.

E de novo tenho prazer (admiração por fazer parte de um grupo que já passou por lá…) em ser cadeira ólico J

Dá prazer no otimismo, ao lado dele eu que me gabo de ser otimista sinto-me envergonhado.

Pessoas como ELE deviam ter programas de TV: é abismal o sorriso que ELE dá, corajoso e alegre à vida!

E de novo tenho vaidade por ter Amigos fortes e bons como ELE!

Estou um lírico: A vida real é mágica, as pessoas encontram nas falhas encontrar ganhos, não era preciso quedas mas se acontecem cabe-nos a nós admirá-la À vida!

"Ser um artista é falhar, como mais ninguém se atreve a falhar...

Tentar outra vez.

Falhar outra vez.

Falhar melhor."

(Samuel Beckett)

Hoje encontrei esta piada: o Nélson devia ser terapeuta da fala MAS o bom terapeuta da fala ouve melhor do que fala e o Nélson é um orador exemplar!

Dá gosto ouvi-lo pensar.

Eu não sei como mas ele devia estar na berlinda: quero recordar contigo ambos velhinhos estas histórias de vida: A Gente vai Continuar!

Venho sempre apaixonado, podia ser de mim que a pancada do acidente e o TCE (Traumatismo Crânio Encefálico) foi mais grave e alucinante do que se pensa mas esteja com quem esteja tenho sempre conversas elogiosas sobre o dito cujo: NÉLSON DELGADO de seu nome, de sua estirpe. 

Ai Ana (a namorada…), tens concorrência!