Por muito que o primeiro-ministro queira
disfarçar, é inegável que o Governo está esgotado. É verdade que Passos
Coelho ainda se sai razoavelmente bem dos debates parlamentares, em
que mostra preparação e domínio dos dossiers. Mas não é menos óbvio que
preside a uma equipa sem energia e sem ideias, cada vez mais propícia ao
disparate e menos capaz do rasgo necessário para ultrapassar os imensos
obstáculos com que se depara um país acabado de sair de três anos de
superintendência externa. Este esgotamento, esta desorientação está
particularmente espelhada no último mês de caos na Justiça e na
Educação, dois sectores nevrálgicos para se avaliar o nível de
desempenho de um governo. Mas é claro que esta espécie de deliquescência
da maioria é ainda mais notória quando se espreita os bastidores da
acção governativa e se percebe que não há coordenação política, que se
acumulam queixas contra a auto-suficiência do primeiro-ministro e que
crescem as desconfianças entre os dois parceiros da coligação. Há muito
que o Governo deixou de ter qualquer mensagem e é sintomático que este
falhanço, que não é de agora, se tenha agudizado com a saída da troika. Por muito que esta constatação incomode as hostes governativas, é inegável que o pós-troika
é uma mão cheia de nada, como se o país inteiro tivesse de se resignar à
apagada e vil tristeza do défice, do desemprego e da pobreza. Nem visão
estratégica para o país, nem capacidade mobilizadora, nem um pingo de
esperança escorre dos discursos de que quem vai ao leme dos destinos do
país. O apelo do Presidente da República à urgência de se preparar o
pós-ajustamento, no seu muito comentado discurso do 25 de Abril de ano
passado, não podia ter caído mais em saco roto. E logo pela mão da sua
família política.
Mas os problemas da maioria não se esgotam na
ausência de mensagem, ou na insistência na mensagem errada. É também
muito visível um certo isolamento do primeiro-ministro. Seja por razões
operacionais, seja por falta de confiança na sua equipa, nota-se que há
défice de partilha de informação dentro do Governo. Apenas a ministra
das Finanças parece manter, intacta, a cumplicidade com o chefe do
executivo. Se isto incomoda os governantes oriundos do PSD, mais mossa
faz na ala centrista comandada por Paulo Portas. Isto conduz à questão
inevitável das desconfianças dentro da coligação e explica porque são
cada vez mais evidentes as acusações de parte a parte. São homéricas as
queixas do CDS sobre a falta de informação interna à volta da elaboração
do Orçamento e é cada vez mais indisfarçável a irritação de Passos
Coelho contra as pressões que Paulo Portas lhe tem feito através dos
jornais. A redução dos impostos tem sido o aspecto mais visível desta
guerra surda, mas a urgência de o CDS garantir a continuidade da
coligação pode vir a agudizar a tensão dentro do Governo e ameaçar, em
definitivo, a estabilidade da actual maioria. Portas sabe que, sem
coligação, precisa de sair rapidamente do Governo para tentar refazer
algum nível eleitoral. A Passos convém manter o CDS amarrado e
dependente até ao limite. Ora, não há maior sinal de esgotamento do que o
tacticismo puro e duro, porque é a prova da total ausência de projecto.
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