A
receita é infalível. Basta continuar no caminho actual.
Em primeiro
lugar deve-se continuar sem consultar os povos. Evitar ao máximo que
ocorram referendos. E quando estes derem resultados errados é repeti-los
até as pessoas acertarem na resposta certa. Sobretudo cada vez que a
vontade de um povo for de rejeição do que as elites propõem nunca
hesitar em propor mais do mesmo ou até um aprofundamento mais sério e
empenhado da política de integração. Por exemplo: os povos não querem
mais união política? Que obtusos! Avance-se com mais federalismo!
Em
segundo lugar desrespeitar ao máximo o princípio da subsidiariedade.
Porquê deixar aos parlamentos nacionais aquilo que se pode fazer no
Parlamento Europeu ou decidir na Comissão?
Então o mundo não é global?
Deus nos livre de cada país ser independente! Sabe-se lá o que esses
povos, deixados a si mesmos, podem fazer… única excepção: quando em
alguma matéria quase dois milhões de cidadãos europeus (no caso a
primeira vez em que o instituto da Iniciativa Europeia de Cidadãos era
usado) se dirigirem à Comissão Barroso, pedindo a protecção do embrião
humano, chutar para canto, não cumprir a lei europeia e dizer que a
matéria deve ser regulada a nível nacional.
Em terceiro lugar há
que legislar a torto e a direito, uniformizando sem hesitações. Da
curvatura do pepino à acidez das maçãs, das medidas das embalagens ao
tamanho dos envelopes, da estrutura dos cursos universitários ao mais
simples dos assuntos, temos de ser europeus, ter as mesmas normas, ser
tudo igual. Mesmo que isso destrua os campos, conduza ao desperdício,
aniquile indústrias ou simplesmente tire graça à vida. Claro que isto
exige uma estrutura burocrática e pesada. Ideal para que ninguém consiga
opor-se, para ninguém ser questionado ou responsabilizado. Em cada país
haverá sempre uns serventuários a explicarem: estamos na Europa, tem de
ser assim…quanto mais tropeçarmos no caminho, mais veloz se deve ir em
frente.
Em quarto lugar, haja respeitinho. “A França é a França” e
a Alemanha é a Alemanha. Regras e sanções são para os pequenos. Somos
todos iguais mas há uns que são mais iguais do que outros. Quem paga,
manda. E isto que é uma lei da natureza e justa até, não pode nunca ser
dito, mas deve ser observado. Importante repetir à exaustão que os
países são todos iguais, que todos contam e todos decidem. Se porventura
algum país se opuser a isso ou ameaçar sair há que ser implacável:
desenhar um cenário catastrófico, dizer que vai ser o fim do mundo,
esconder que ninguém vai querer acabar com um mercado comum nem com as
vantagens verdadeiras da paz, da livre circulação e da liberdade. Não
esquecer de omitir que se pode fazer parte da Europa, sem se fazer parte
da União Europeia.
Em quinto lugar, fazer tudo o possível para
omitir as raízes cristãs da Europa (foi o cristianismo que deu origem a
um continente que não é físico mas cultural) e todas as consequências
chatas desse facto: primado da dignidade humana, respeito da lei e da
democracia, solidariedade. Neste ponto ter o cuidado de transformar as
instâncias europeias no lugar onde se possa ganhar na secretaria o que
se perde ou se pode perder no jogo nacional: todas as questões
fracturantes, a inteira agenda lgbt, o paganismo animalista, etc. Não
esquecer, e a propósito, de diabolizar qualquer país que não alinhe pelo
diapasão do politicamente correcto, mesmo e sobretudo, se assim é pela
vontade do respectivo povo. Se resistirem, dar-lhes ideologia do género a
rodos…
Assim procedendo, se acabará seguramente com a União
Europeia. Dando aos populistas uma vitória que nunca alcançariam sem a
preciosa ajuda do europeísmo cego e antidemocrático. Uma ditadura do
politicamente correcto que esmaga a liberdade dos povos. Até ao dia em
que estes dizem basta e de tão fartos catapultam onde nunca chegariam os
mais disparatados dos políticos e as mais irrazoáveis das propostas.
Será que é desta que aprendemos a lição? Ou isto é mesmo necessário para
que a Europa recupere a sua alma?
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