Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
"Eu quero acompanhar o meu cantar vagabundo de todos aqueles que velam pela alegria no mundo" (caetano veloso)
26 julho 2020
Liberdade
23 julho 2020
Amália Rodrigues
Estranha forma de vida (1965)
EM BOAS MÃOS
21 julho 2020
Quando sabe bem encontar
Antes Dela Dizer Que Sim (link)
Resultados da procura
Resultado de conhecimento
Tem medo de perguntar
Ela é como atriz de novela
Que ele gosta de ver sonhar
Tem medo de perguntar
E se as promessas coradas
Foram bebida a falar
Mas ela não escondeu
Com quem a noite passou
Jura ela o seu Romeu
Ela também
Talvez por isso nesse dia
Ele foi vê-la á luz do dia
E ela diz que ele tem bom ar
O mundo finge não saber
Que ele não é rapaz de fiar
Mas medo de o partilhar
Ele gosta mais do que é preciso
De a desafiar
As moças mais fáceis
Engates mais rascas
Com medo de ser
Só mais um rabo de saias
Dormem juntos só a dormir
Gosta dela de pijama
E ela de o corrigir…
20 julho 2020
O meu diário: Quem quer casar com um profissional de saúde?
Helena Vasconcelos
Médica | hml.vasconcelos@gmail.com
A propósito do programa quem quer casar com o agricultor lembrei-me de propor este desafio para as pessoas entenderem uma vez por todas o que faz a malta nos hospitais.
Entramos às 8h ou às 4 ou às 11 ou a qualquer hora que se lembrem que podemos dar rendimento.
Saem quando calha, que a saúde está primeiro. Estão proibidos de comer, bocejar ou demonstrar indiferença perante o outro. São sempre acusados de serem pagos pelos outros como se existisse alguma profissão que fosse paga pelo próprio. Todos descontam para nós e nós não descontamos para ninguém. Eu cá farto-me de descontar para a fruta, para o talho, para a EDP e as águas e então para a Galp nem se fala. Desconto para a Zara e desconto muito, mas mesmo muito para o bem comum.
Não temos privilégios de feriados ou férias quando queremos, e as festas dos filhos e amigos estão sempre na corda bamba. Somos tratados com desprezo e com atitudes de fiscalização como se à nossa profissão se sobrepusessem sempre os nossos interesses pessoais. Passam a vida a googlar os nossos diagnósticos, as nossas posturas e conselhos e todos sabem um pouco daquilo que nós fazemos. Se o electricista estivesse sempre debaixo deste escrutínio tinha um burnout que daria cabo dos fusíveis. Temos de enfrentar as medicinas alternativas. Os bruxos, os esotéricos, que não são regulados, por nenhuma ordem laboral e a quem ninguém exige resultados. Enfrentamos o vizinho que aconselhou este medicamento e a revista, o programa do Goucha ou da Cristina que disseram que este medicamento era muito perigoso.
Temos de cumprir horários e escalas produzir debaixo de stress e receber doentes e familiares como se nada fosse. Temos de demonstrar empatia mesmo pelas personalidades mais esquinadas, e oferecer a outra face quando nos batem. Somos apelidados de não termos coração, de não sermos humanos, de sei lá que mais. Nos últimos tempos somos como os jogadores da bola, (mas com ordenados de miséria) quando estamos a ganhar ao vírus somos heróis quando estamos a perder tiram-nos as capas e acusam-nos de pouco profissionalismo.
Casem lá com um profissional de saúde e vão ver que é mais difícil do que dar comer ao porco e mondar o milho. Fica o desafio.
(Artigo publicado na edição de 2 de julho de 2020 do REGIÃO DE LEIRIA)
19 julho 2020
contra o movimento anti blogues
nasceu em 1957 e morreu em 1995 com 38.
O céu agrada-me pensar
Luís Miguel Nava
Poesia Completa 1979-1994
Publicações D. Quixote, 2002
17 julho 2020
as pessoas olham e sorriem naturalmente
16 julho 2020
Pequeno poema de após a chuva
13 julho 2020
DEZ RÉIS DE ESPERANÇA
Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.António Gedeão
12 julho 2020
O que Te dá esperança?
Estamos numa fase de transição que gera medos e tensões. Existem riscos e perigos, prisioneiros que estamos dos guardiões da carcaça do sistema socioeconómico que nos rege, que passam o tempo a dizer-nos que não é possível a mudança.
A esperança tem muito que se lhe diga. Para uns pode ser alienação. Supõe a
ausência de objeto, podendo por isso encerrar ilusão. Enquanto
para outros a
maior tragédia deste tempo é a falta dela.
Nos últimos meses moderei uma série de conversas, no âmbito da
Boca Bienal,
onde se refletiam impasses e cenários de mudança no contexto atual,
e onde
endereçava a mesma questão no final: o que lhe dá esperança?
“A vida”,
respondeu a artista Grada Kilomba.
“As pessoas e as relações intersubjetivas”, afirmou a ministra da Cultura Graça
Fonseca. “A capacidade humana de ver mais além em situações que
nos põem
em contacto com a fragilidade do que edificámos”, refletiu
Alexandre Farto (Vhils)
. “Acredito nos outros, em nós, na interdependência”, disse a
realizadora Salomé
Lamas, enquanto os artistas João Pedro Vale e Nuno Alexandre
Ferreira
expuseram que as crises provocam sempre rupturas, embora nem
sempre
existam alternativas. Lida-se com a realidade e é tudo. A ex-eurodeputada Ana Gomes evocou as “pessoas” e a sua
resiliência,
enquanto a coreografa brasileira Lia Rodrigues, que desenvolve
projetos
artísticos e pedagógicos nas favelas do Rio, nomeou aqueles com
quem trabalha.
"“Vejo-os de máscara, se ajudando e cuidando. Essas ações concretas são o que me dá
esperança, ver essa solidariedade em prática.” Na mesma linha, o ativista
Miguel Duarte, que participou em missões de resgate de refugiados no
Mediterrâneo, evocou essa experiência. “Vi gente perder a vida à minha frente,
mas também vi pessoas em situação precária a praticar a solidariedade. Vi o
horror, mas também a empatia, e acredito que a maioria, podendo escolher, age
com compaixão, apesar da minoria que provoca sofrimento.”
Já a cantora e ativista brasileira Linn da Quebrada foi taxativa:
“Não tenho esperança. A esperança nos mantém esperando, e
esperando e
esperando. Cansei de esperar. A esperança é mais uma dessas
ferramentas de
manutenção do sistema. Tenho raiva e indignação e elas são
produtivas. É isso
que me movimenta e me faz pensar no que precisa de ser destruído
nesse
mundo para que possamos projetar novos caminhos. Não acredito no
amor, nem
na esperança, porque são ferramentas do amo e é impossível
destruir o amo
com as suas próprias ferramentas. O amor e a esperança beneficiam
essas
mesmas pessoas que já estão no poder. Precisamos construir novos
afetos, sem
esperança.” É possível identificarmo-nos com todas estas respostas, apesar
dos sentidos
diversos. Havia alguém que dizia que somos conservadores, e
resistimos à
mudança, até nos apaixonarmos. Percebe-se a ideia. Quem não
preferia mudar
por amor, como enunciam algumas respostas? Que fosse o amor a
derrotar o que
corrói a democracia? Que fosse o amor-próprio e pelos outros,
por todos os seres
vivos e pelo planeta, a dar-nos força para as mudanças
individuais e coletivas?
Mas às vezes as transformações acontecem por inevitabilidade e é
tudo, como
enuncia João Pedro Vale. E noutras ocasiões, é necessário procurar
e lutar pelas
ruturas, como expõe Linn. Estamos há anos numa fase de transição que gera medos e tensões.
Existem
riscos e perigos, prisioneiros que estamos dos guardiões da
carcaça do sistema
socioeconómico que nos rege, que passam o tempo a dizer-nos que
não é
possível a mudança, ou dos que percebendo a complexidade dos
desafios,
adotam uma orientação derrotista. E agora, eis a pandemia, global,
ameaçadora,
vergando certezas antigas, exigindo a projeção de outros
horizontes.
Pode ser que soe a mera abstração, ou a récita de auto-ajuda,
junto de quem já
não tem força para acreditar, ou das classes intermédias que já só
se conseguem
arrastar, sobrevivendo num penoso processo de erosão. Mas desta vez não parece que seja possível ludibriar a realidade.
Somos confrontados com os limites do que edificámos. Há uma
necessidade
prática de construir algo mais próximo do bem comum. É preciso
transferir com
lucidez para a política as coisas que valem a pena, sem noções
ingénuas de um
mundo perfeito que nunca existirá, percebendo o que é passageiro e
irrelevante
como hipótese de superar o desencanto, porque as condições
adversas não são
naturais, nem eternas, ao contrário do que nos fazem acreditar.
A esperança é, afinal, a representação de um desejo de mudança, já
presente no
subconsciente individual ou coletivo. É a manifestação de uma
verdade que já
existe, mas ainda não ganhou expressão definida. É preciso, por
isso, discuti-la
e atribuir-lhe sentido.
07 julho 2020
é como deve ser um filme
A Juventude (Legendado) - Trailer
04 julho 2020
um dos nossos ( Bruno Lage) pelo azar do Kralj
Vou tratar-te por tu porque sinto que és um dos nossos, apesar de já não seres o nosso treinador. De certeza que não te lembras de mim, mas tive o prazer de te cumprimentar numa visita ao Seixal. Nesse dia éramos mais que muitos a querer apertar-te a mão e desejar boa sorte para o que faltava do campeonato. O 37 ainda não era real, mas a esperança e o otimismo eram mais que muitos. Estávamos apaixonados.
Lembro-me que, depois de confirmado o 37, tinha elaborado mentalmente uma série de agradecimentos que partilharia se por acaso voltasse a cruzar-me contigo. Pelo título, claro, mas também pela cultura desportiva e pelos momentos dentro do 37: a reviravolta no primeiro jogo, a vitória no Dragão, o 10-0, outra reviravolta contra o Portimonense, uma das celebrações mais viscerais que este estádio da Luz viveu. Essa oportunidade de agradecer nunca surgiu, e hoje faço-o usando o melhor megafone que possuo.
A coisa bateu de tal forma que eu perdi a cabeça e criei uma igreja para celebrar o milagre que foi a recuperação da época passada. E os devotos não pararam de chegar. Foi um feito quase tão improvável quanto a sucessão de resultados que te afastou do cargo. Hoje crucificam o criador da igreja e o seu deus, mas o criador é só um tipo com acesso à internet que pode fechar o website e não fazer mais caso disso. Já tu és um bom tipo a quem, como deveria ser sempre, aconteceram coisas boas, e a quem entretanto aconteceram umas quantas más, quase inexplicáveis de tão estranhas e catastróficas que se foram tornando.
Há uma frase da qual tão cedo não me vou esquecer. Depois da vitória no Dragão, uma daquelas que dá a um treinador aquele capital que os benfiquistas reservam para os grandes, disseste humildemente que os jogadores fizeram de ti treinador. Tudo aquilo soou estranhamente decente no contexto do futebol português e foi-se prolongando ao ponto de até os adeptos dos rivais reconhecerem essa qualidade, um acontecimento muito raro por cá.
Não sei se os mesmos jogadores que fizeram de ti treinador campeão decidiram fazer de ti, por agora, treinador sem clube. Não sei exactamente em que parte do caminho é que te perdeste, ou se era eu que estava demasiado inebriado pelo milagre da época passada para ver o que estava à nossa frente. Talvez seja um pouco das duas coisas.
Suspeito que um dia saberemos todos melhor o que se passou e porque é que, de forma meio angustiante, te foste tornando parte do problema. Será que aceitaste ser parte do problema? Ou será que parte desse problema te foi imposto? Sinceramente ainda não percebi, mas uma coisa é evidente: acabaste por ser a única parte do problema que esta direcção pareceu interessada em resolver, ou seja, resolvendo pouco ou nada. Tu dirás de forma simples que é a vida de um treinador. E a vida de um adepto do Benfica é pedir a tua cabeça quando se ganha 2 jogos em 13. Faz parte. É um final triste, mas tenho a certeza que foi um dos maiores privilégios da tua vida.
Disseste uma vez, quase sem voz na noite mais feliz da tua passagem pelo clube, que era importante reconhecer a mais valia do adversário no momento das derrotas para que este reconhecesse a nossa mais valia no momento das vitórias. Obrigado pela decência que emprestaste ao cargo na maioria dos momentos. Não serviu para ganhar todos os jogos, mas penso que conquistou o respeito de muitos benfiquistas.
Felicidades.
Como nota final quero treinar o meu futebolês: o espírito humilde que Bruno Lage deixou na equipa, nos jogadores, no seu sucessor e nos adeptos, como este texto atrás, é o lado mágico do futebol, da pessoa, Obrigado por isso!
O que se passou não teve nada que ver com a pessoa que está no banco, Bruno Lage continua a ser admirado por todos, não era mal querido, mas nestas coisas das pessoas é preciso um abanão por vezes, a tal chicotada psicológica e um golo dá outra tranquilidade e confiança.