A ideia era escrever um texto sem amarras, livre de tempo e
espaço, que sirva hoje, ontem e amanhã para quem quer que seja
ler, viver e saborear: um texto instalado!
A ideia é improvável de conseguir, não é possível
tanta abstracção mas ficou bonitinho:
Era uma quantidade/confusão enorme de acontecimentos a
passar-se ali ao mesmo tempo, tudo com a serenidade própria
do tempo querido.
A imaginação dava o poder de viajar para outros lugares e
outros tempos desconhecidos, por viver – futuros – e já
vividos - passados, montar imagens.
A fonte incessante das chuvas encheu a lagoa onde
se ouvem sapos e rãs coaxar; libelinhas, mosquitos
e outros insectos esvoaçantes; peixes a saltar e
mergulhar.
O vento parara, escurecera o silêncio, entre os animais e a
brisa, e tudo apontava pensamentos; a brisa deslizava terna e
morna ainda repleta do calor do dia de verão.
A cadela meiga e bonita despertara para ir de férias como uma
lady à espera de outro alimento afectuoso.
Era um torno de existência, como se aquela partida ditasse um
final e realçasse memórias que a iam querer fazer perdurar
porque eram memórias fortes e boas.
O pelo dela era preto e castanho.
O olhar dela envelhecido era doce acastanhado, era bonito.
E serenava: ela ia ficar bem com aquela cuidadora, sentia-se
que gostava do que fazia, G ia arribar: Boas férias e até já!
Ela ia para o bairro alto, muita gente e barulho, não gostava
muito mas o dono agradava-lhe a companhia; dizia a avó e ela
lembrava-se bem: o que podia fazer?
Teimar?
Protestar?
Para quê!?
Mais valia não fazer barulho… havia sempre alguém que
partilhava consigo um petisco.
E os gatos!?
Curioso: nenhum aparecera para se despedir e desejar Boas
férias!
Não devem gostar de despedidas, eram para aí uns doze e nem
vê-los, nenhum; davam-se bem, sim: cão e gato naquele lar
comiam do mesmo prato!
Felinos e felizes!
Já tinham vindo quando a cadela era idosa, menos energética e
com natureza de Avó.
Soltara uma lágrima como se a abandonasse velhota.
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