30 agosto 2020

um texto instalado!

A ideia era escrever um texto sem amarras, livre de tempo e 
espaço, que sirva hoje, ontem e amanhã para quem quer que seja
 ler, viver e saborear: um texto instalado! 

A ideia é improvável de conseguir, não é possível 
tanta abstracção mas ficou bonitinho: 
Era uma quantidade/confusão enorme de acontecimentos a 
passar-se ali ao mesmo tempo, tudo com a serenidade própria 
do tempo querido.

A imaginação dava o poder de viajar para outros lugares e 
outros tempos desconhecidos, por viver – futuros – e já 
vividos - passados, montar imagens.

A fonte incessante das chuvas encheu a lagoa onde 
se ouvem sapos e rãs coaxar; libelinhas, mosquitos
 e outros insectos esvoaçantes; peixes a saltar e 
mergulhar.
O vento parara, escurecera o silêncio, entre os animais e a 
brisa, e tudo apontava pensamentos; a brisa deslizava terna e
 morna ainda repleta do calor do dia de verão.

A cadela meiga e bonita despertara para ir de férias como uma
 lady à espera de outro alimento afectuoso.
Era um torno de existência, como se aquela partida ditasse um
 final e realçasse memórias que a iam querer fazer perdurar 
porque eram memórias fortes e boas.
O pelo dela era preto e castanho.
O olhar dela envelhecido era doce acastanhado, era bonito.

E serenava: ela ia ficar bem com aquela cuidadora, sentia-se 
que gostava do que fazia, G ia arribar: Boas férias e até já!

Ela ia para o bairro alto, muita gente e barulho, não gostava
 muito mas o dono agradava-lhe a companhia; dizia a avó e ela
 lembrava-se bem: o que podia fazer? 
Teimar? 
Protestar? 
Para quê!? 
Mais valia não fazer barulho… havia sempre alguém que 
partilhava consigo um petisco. 

E os gatos!?

Curioso: nenhum aparecera para se despedir e desejar Boas 
férias!
Não devem gostar de despedidas, eram para aí uns doze e nem 
vê-los, nenhum; davam-se bem, sim: cão e gato naquele lar 
comiam do mesmo prato!
Felinos e felizes!

Já tinham vindo quando a cadela era idosa, menos energética e
 com natureza de Avó.

Soltara uma lágrima como se a abandonasse velhota.

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