A nossa tentação de omnipotência é uma ilusão que, com maior ou menor estrondo, acaba por tombar.
Mais cedo ou mais tarde, estamos destinados a fazer experiência da vulnerabilidade.
Não há quem não sinta, a certo momento, que a porção ou a forma de existência que lhe coube é demasiado pesada para as forças que tem; que é capaz, com facilidade, de realizar umas coisas, mas outras não; que fracassa completamente onde julgava garantido o sucesso; que precisa de tempo para se refazer, como o oleiro emprega tempo a reparar os vasos quebrados.
Mesmo se, constrangidos pela necessidade ou absorvidos pelo prazer, prolongamos as etapas, há um momento em que levantamos a cabeça, porque precisamos desse gesto. E colocamo-nos de pé, sacudimos as pernas (ou sentimos vontade disso), propomos uma trégua, uma pausa, por pequena que seja, para respirar novo ar.
Parar e refazer-se tornam-se uma exigência, se quisermos progredir com a vitalidade necessária.
Há dimensões da vida que só se conhecem assim, aprofundando o significado da concavidade vazia das mãos, reconhecendo a sua impotência, mais frequente do que pensamos.
Mas só aceitando esse modo chegaremos a escutar em profundidade a irresistível pulsação da vida.
Cardeal D. Tolentino Mendonça
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