29 maio 2023

Queridos amigos,



Muito boa tarde!


Sylvia Ferreira é a minha voz hoje: obrigado a ela!

Quero aqui vincar que passo pouco tempo parado, felizmente: muita terapia, cuidar do meu belo corpo dá trabalho: andar e falar dá um trabalhão e tenho os melhores terapeutas do mercado, não é fácil, repito: estive quase morto, de onde eu já vim!!! (embora, as fotos não aparentem...)


Tenho o problema de não conseguir, por limitações próprias do Ser, agradecer a todos condignamente. 


Fisioterapia em casa e com uma expert em Lisboa que veio diretamente do Brasil para cuidar de mim, a Luísa, Terapia Ocupacional com o jovem Carlos, piscina com o Tomás, terapia da fala pela Deusa da Fala, Meca, o Dr. Luís Gonçalves que está cá sempre, há quem lhe chame GOD and last but not the least, Mister R. agradeço a todos o empenho!

Para começar bem e porque me tinha esquecido, devo agradecer à Novamente na pessoa da sua Isabel Andrade pelo seu trabalho em torno das pessoas Traumatizadas Cranianas, que já dão um trabalhão.

 E à Sofia Pires pelo Seeds of Change (Sementes da Mudança na tradução) por tirarem os deficientes de casa e integrá-los na sociedade.

 - Obrigado a elas por me darem a palavra! -



Os deficientes são muitos e nunca tinha dado por a sua dimensão/tamanho, antes do acidente, com 25 anos mas casa roubada e trancas à porta. Mais de um bilião de pessoas em todo o mundo convivem com alguma forma de deficiência. 

Estava ali, na semana passada, deitado na marquesa da fisioterapia do mister, a pensar, que não sei bem falar/escrever sobre um acontecimento que se deu há 17 anos atrás de que não me lembro bem, uma batida que deu origem a um ‘novo’ modo de vida.

Há quem diga que não falo noutra coisa que no bem dito Traumatismo! Ora é simples a resposta: ‘não é verdade mas mesmo que fosse, o meu amigo TCE teve implicações enormes no meu dia a dia, do acordar até ao deitar. Foi como um renascer e todos festejam o parto. A minha vida mudou um bocadinho. Até me pedem para fazer conferências online sobre o dito cujo.’ 

E suponho que é sobre o que originou esse TCE que querem que fale.

Há males que vêm por bem, antes ele que a morte!


Deu-me uma nova vida e ensinou-me a apreciar viver, o ter estado quase morto, bem para lá, ensinou-me que isto é bom, é giro e devo aproveitar: bem dita vida, o tom beato que dão a esta ideia é vosso!

Estamos todos sujeitos a sofrer um TCE e arcar com as consequências dele e desafios que traz e não é um bom objetivo para a vida torná-la pior, mais difícil!?  Talvez sim, talvez não... depende.

A dúvida é devido a ser filho de filósofos.

 Se fosse fácil não tinha piada!, faltava aqui!

Não sei se sou um bom exemplo do que é ter um TCE. Ou não sou quando a ideia é avisar que o TCE é um bicho mau que não queremos conhecer. 


Tive o meu acidente em 18.11.2006 num embate de carro, às 4h da matina; tinha-me queixado do cansaço.

Vivo com o meu há já 17 anos e tenho 42 e estou habituado a este TCE, já não saberia viver sem ele.

E, portanto, não sei quanto da minha personalidade é devido ao TCE e quanta não é.

À partida, não é uma coisa boa de ter, nunca é uma coisa boa de ter mas, um TCE já é quem sou e gosto de ser como sou (quase sempre...) modéstia aparte; ou um terço de vida foi feita em recuperação...


Ter um TCE pode ter ganhos: 

Torna-te mais querido, toda a gente acha piada a ser amigo de um gajo em cadeira de rodas; ganhas uma desculpa para tudo que possas fazer mal;  ganhas apetência por escrever melhor para comunicar bem; andas sempre de rabo bem sentadinho; passas a poder usar o há males que vêm por bem com garbo e etecetera.

Embati num plátano e deu-me vida, ressuscitou-me. Estava cansado e adormeci, no regresso a casa, moro em Sintra, saí da estrada em Galamares, ia a passar um carro, salvou-me; ligou para o 112, ambulância e iniciou um trajeto de 17 anos de recuperação daqui, 2 x em Cuba, até hoje.

Conheço alguns traumatizados cranianos e são todos diferentes, não basta olhar para nós para perceber que temos um TCE e nem queremos que se saiba, o TCE é nosso íntimo.


Cada pessoa é única com TCE ou sem ele.

É um bom passatempo, ocupação dos tempos livres; não sei como teria sido a vida; certamente mais eficiente, duvido que melhor...

Porque podia ter morrido e aqui estou vaidoso do que conquistei! Muita gente médica e cuidados tornaram-se meus amigos:                

Auxiliares, enfermeiros, médicos, terapeutas que passei a designar por Profetas do futuro e vincaram meu jeito mimado: antes mimado que maltratado (Raposa dixit).

Não é só coisas boas ter um TCE, é um mal social, o TCE atingiu-me NÃO só a mim como à minha família mas atinge todas as pessoas que são atingidas com a minha mudança devido ao acidente.

E muda vidas a nossa constante dependência, tinha 25 anos e passei a ter 3/4 anos em corpo de adulto. Não comunicar e não andar foram só os dois desafios maiores.


A sociedade é atingida como um todo por não ter acessibilidade para todos; às vezes, o pormenor de uma rampa é essencial para quem circula em cadeira de rodas.

A vida ganhou um quadro terapêutico a querer regressar à vida normal/eficiente mas o que foi não volta a ser.

Perdes mobilidade e é muito mais complicado dar emprego a uma pessoa com TCE, passas a ser integrado na classe dos deficientes.



Nota final, o melhor para o fim: a motivação que tenho para melhorar vem de um grupo de jovens futebolistas juvenis (15 e 16 anos) de um clube local onde joguei dos 8 aos 25: o União Mucifalense!

A AMIZADE assume-se quando mais precisamos dela, o mister Pedro Figueiredo era meu fã, quando jogava com ele em miúdo, levava-me a sacola e as chuteiras para os treinos e tanto aprendeu com o meu futebol que se tornou mister nas camadas jovens, seguiu o meu sonho e fez-me participar nele!

É extraordinário como é bom estar entre eles: às vezes, é complicado distinguir quem é mais novo: se quem treina ou quem é treinado; é uma saudável juventude, com eles aprendemos a alegria!

Se não tivesse tido o acidente tinha sido treinador de jovens craques: adoro vê-los crescer e fazer parte desse crescimento.

Começou por uma formação sobre Ética em que aprendi o que ensinava a ensinar, foi uma maldade este gozo, era um pouco sarrafeiro enquanto Estrela, menos do que dizem por aí os invejosos da má língua ou tinha outra ética; mais tarde comecei a acompanhar os jogos em casa e depois fora.

Muita magia, uma grande carreira passou ao lado de quem era!



Falar de cada um é realçar individualidades e não quero, os Juvenis da União M. têm um todo nesta equipa que ultrapassa isso, quando penso em vocês/neles nascem sorrisos e felicidade. 

Revivi meus estados de alma neles, escrevi textos motivacionais,  criei um blogue, apaixonei-me; espero que tenham vindo, alguns, pelo menos um,  assistir porque quero fazer uma confissão:

Queridas vedetas, a vossa equipa é muito melhor agora do que eram as minhas dos 9 aos 25 (1988 a 2016) , não têm nenhum jogador com o talento que eu tinha mas vocês são melhores no conjunto.

 É entre os melhores que sabe bem estar!

Fazer este papel de motivador, apesar de me parecer, que pouco ajuda, faz-me sentir parte da mesma equipa vitoriosa que somos, faz-me sentir um de nós.

 Vocês são muito fortes, OBRIGADO!



20 maio 2023

já tudo tinha sido feito, escrito


Alguém tinha dito que era La Palice dizer que era bem mais exigente pensar em coisas boas que falar em más e na guerra por exemplo, mas procurava que se fosse bem mais exigente, então falássemos em coisas boas que fomentavam boas energias.

Volto ao mesmo: se fosse fácil não tinha piada e temos que ser exigentes connosco.

O MAL está feito e raramente numa conversa de carro e/ou café pode ser evitado. O BEM pode ser facilmente alargado/arrastado num café e/ou automóvel. 

18 maio 2023

Bruno Nogueira é irritante: é inteligente, bem parecido, tem humor e escreve bem!!!

A árvore que era da casa da minha avó

Naquele tempo que não volta a acontecer, os verões tinham mais do que três meses, eram do tamanho da minha infância toda, e cabiam lá bicicletas, jogos de futebol, o cheiro a figueira, joelhos esfolados, ladeiras que pareciam fáceis de subir, e amigos que eram só daquela altura do ano.

HÁ ALGUNS ANOS, quando se vendeu aquela que foi a casa de verão da minha infância, onde a minha avó Maria era rainha de nós todos, ficaram memórias e pouco mais. As casas são quem está dentro delas, e quando essas pessoas desaparecem, as casas também morrem sem saber. Levam com elas os cheiros, os recantos onde aconteceram coisas que não voltam a acontecer, mas que darão lugar a que outras pessoas construam nela memórias novas, e que voltem a chamar casa àquele sítio que já não o é para quem um dia a deixou vazia. Naquele tempo que não volta a acontecer, os verões tinham mais do que três meses, eram do tamanho da minha infância toda, e cabiam lá bicicletas, jogos de futebol, o cheiro a figueira, joelhos esfolados, ladeiras que pareciam fáceis de subir, e amigos que eram só daquela altura do ano, até eu voltar para minha casa e esperar impacientemente que voltassem a ser meus amigos no ano seguinte. Vendeu-se a casa, e dividiram-se as memórias por todos, na esperança que trouxessem qualquer coisa daqueles tempos que não voltam a acontecer. Escolhi trazer de lá duas laranjeiras, por ainda estarem vivas no meio de tudo o resto. Tinha sido delas que a minha avó tinha colhido laranjas, mais tarde os meus pais fizeram o mesmo, e depois eu e a minha irmã, numa repetição que, sem saber, viria a fazer dela uma laranjeira genealógica da nossa família. Uma árvore com 70 anos não se deixa levar sem dar luta. As raízes estão firmes, e agarram-se como podem para não mudarem de terra. Por isso, arrancaram-se com o cuidado a que obriga uma operação delicada como esta, e os buracos enormes que deixaram na casa que era da minha avó, faziam parecer que ali tinha rebentado a terra, disposta a engolir quem se atrevesse a passar por cima dela.

Juan Cavia
As duas laranjeiras daquele tempo que não volta acontecer, vieram juntas na sua primeira viagem desde que nasceram, e foram plantadas no jardim da minha casa para começarem uma vida nova e antiga, tudo ao mesmo tempo. Passado um mês, percebi que uma delas tinha desistido; não aguentou as saudades da sua terra de sempre, e secou de tristeza. A outra sofreu tanto como a primeira, mas estava disposta a dar mais luta. A copa secou toda, e dava poucos sinais de querer começar tudo outra vez, 70 anos depois. Quando a vi deixar-se vencer, fui até um horto onde costumo ir, e perguntei à senhora que lá trabalha o que é que podia fazer para que aquela árvore conseguisse viver mais uns tempos, e contrariar-lhe o fim. Levei-lhe uma fotografia para mostrar o estado em que a laranjeira estava, e a senhora explicou-me que havia pouco ou nada a fazer, que uma árvore com tantos anos dificilmente aguenta tamanha violência. A fotografia mostrava um tronco a secar, mas no meio de tanto castanho, um ramo verde e frágil estava a nascer de lado, a querer empurrar a vida cá para fora. Aconselhou-me a cortar os ramos mais grossos que já estavam secos, e a tratar daquele verde com todo o cuidado, para ao menos ter algumas folhas e assim enganar o destino. Disse-me que aquela árvore já não iria dar mais frutos, e mesmo que desse, aquela qualidade de laranjas não tem caroço, e portanto não daria para semear e começar uma história nova, mas que se a árvore tinha uma importância tão grande para mim, que cuidasse dela enquanto ela se aguentasse. Fiz daquele ramo a árvore toda, e tratei-o como se fosse uma nova vida que tinha nascido para contrariar a antiga. O ramo foi crescendo, e foi-se fazendo forte. Dois anos mais tarde, numa manhã que parecia igual às outras, fui até ao jardim. Naquela laranjeira que estava cansada de me fazer a vontade, tinha nascido uma flor, e dessa flor, lá no meio, começava a crescer uma pequena laranja verde, do tamanho de um caroço de cereja. A generosidade da primavera é esta: salvar vidas que não lhe dizem respeito. Pedi por tudo para que o vento não levasse aquela promessa de gomo, para que crescesse e um dia se fizesse laranja da cor dela. No verão desse ano, a árvore que era da casa da minha avó, deu uma laranja na casa que é minha. Arranquei-a como se fosse eu outra vez naqueles verões que eram do tamanho do ano inteiro, e levei-a até à casa da minha mãe. Cortei-a em quatro, e comemos eu, a minha mãe, o meu pai, e a minha filha mais nova. Era ainda mais doce do que quando eu era pequeno, ou se calhar era eu a querer muito que assim fosse. Este ano, a laranjeira que é da família toda, tem muitas laranjas pequenas, do tamanho de muitos caroços de cereja. Não sei o que as espera, porque é muito peso para quem já andou tanto. Mas se esta árvore que era da casa da minha avó nos der aqueles frutos todos, havemos de brindar a quem já não o faz connosco.

E 70 anos depois, aquele tempo que não volta a acontecer, dos verões que não voltam a acontecer, há-de repetir-se enquanto houver gomos. 

05 maio 2023

cuidado!!!


Não percebo o altruísmo, sou mais adepto do egoísmo.

Desde pequeno que sempre me ensinaram a meter-me na minha própria vida mas acho que contrário a viver em sociedade!

E ajudar ajuda, não acho que viver sem cuidado nos melhore.

É inevitável passar pela vida sem fazer parte de grupos: famílias, clubes, escolas, profissões, grupos culturais, sociais ou desportivos.

Somos individuais todos em grupo; há sociedades mais metidas em si mesmas e mais expansivas.

Cuidar de nós é também cuidar do grupo e vice versa: cuidar do outro é tratar-nos bem!

01 maio 2023

Carta de amor do mal (Bruno Nogueira)

Andam aí muitas liberdades e já sabemos no que é que isso dá, a dizeres frases feitas na assembleia, de joelhos na braguilha do populismo, a chupar aquilo tudo até ao fundo da garganta, com o populismo todo enfiado na boca.

ANDA CÁ MEU MENINO, senta-te aqui ao meu colo, deixa-me falar contigo um bocadinho, tu ainda vais fazer grandes coisas, estás a ouvir o que te digo, vais ensinar a estes gajos todos quem é que manda nisto tudo, eles todos a verem-te de fato e gravata a dizeres das boas, deus, pátria, família e trabalho para cima deles, meu lindo Salazar de borracha, meu rico menino, tão pequenino e já a mandar os ciganos para onde eles merecem ir, os pretos que voltem lá para Angola ou para Moçambique ou para Cabo Verde, ou lá para onde eles vivem que aquilo ainda é nosso, cá só queremos aqueles que têm a pele como a tua, que é a pele de quem sabe o que a vida custa, sempre a darmos hipóteses a esses sujos de pele mal-agradecidos, os portugueses de bem que fiquem cá, a tomar conta de ti e de quem estiver ao teu lado. Tão lindo, sempre a dizer o que o desespero quer ouvir, uma igreja universal do reino de deus em forma de gente, um menino que só quer a atenção dos crescidos, sem uma ideia nessa cabecinha, tão bonita essa cabecinha que é um barco à vela, cheio de vontade de brincar aos ditadores, a dar umas palmadinhas nas costas dos grandes ditadores deste mundo, que isto já só lá vai com meninos como tu, a remexer em dois cadáveres ainda quentes para mandar os Afegãos lá para a terra deles, a atirar culpas para todo o lado, os corpos ainda quentes, acabados de ser esfaqueados e tu já ali a esfregares o sangue na cara de toda a gente como se fosse o teu, as famílias a revolverem-se em dor e raiva e tu ali a manchar o luto com cuspo e propaganda, que agora é que se tem de aproveitar para se dar um empurrão aos votos, onde cheira a tragédia cheira a campanha, que orgulho tão grande meu doce menino, nem imaginas, um monstro que vê na morte um trampolim, tu é que sabes andar nisto meu amor, meu grande e pequenino amor, aprendeste comigo, até chorei quando te vi fazeres aquilo acreditas, eu que não me comovo com nada, sabes tão bem ser um cretino, só tive pena que não tivesses ido ao funeral chorar, ias fazer aquilo tão bem, até ia parecer que estavas a sofrer, ias todo de preto como as famílias que perderam os familiares que tu vampirizaste, ias ser o meu orgulho, mas tiveste medo, achaste que se calhar até para um monstro há limites, mas fizeste mal, tu tens o mundo todo à tua frente, não há limites para quem quer ser alguém, meu menino tão lindo, já a conseguir contorcer-se todo, sem coluna nenhuma, uma sanguessuga de fato, um abutre a rondar a morte para encher a barriga, não ligues às críticas, não caias nessa armadilha, eles têm inveja de alguém sem escrúpulos como tu, alguém que vende o corpo para se fazer homem. Estás tão crescido meu pequenino, já sabes ser vazio, pareces mesmo um menino crescido, ali a dizer aquelas frases de quem não tem dignidade nenhuma, de quem já faz o que for preciso para que olhem para ele, uma prostituta do discurso de ódio, por favor olhem para o meu menino, não estão a ver que ele precisa de atenção, ele quer o país dele limpo, mas há mal algum nisso, agora é tudo fascista por menos de nada, aquela de França, aquele do Brasil, todos tão orgulhosos de ti, esses meninos tão lindos que já fizeram tão bem a este mundo, a destruir a alegria e a liberdade, a limpar aquilo, que isto anda arejado demais sabes, andam aí muitas liberdades e já sabemos no que é que isso dá, a dizeres frases feitas na assembleia, de joelhos na braguilha do populismo, a chupar aquilo tudo até ao fundo da garganta, com o populismo todo enfiado na boca, tu sabes o que vende, ser oco de ideias e cheio de populismo vende, já estás pronto, sabes dizer uma coisa asquerosa aqui para dar notícia, e depois ser um cordeirinho manso ali, assim estás bem com deus e com o diabo, sabes que é importante cuspir ódio num jornal com uma frase que chame a atenção daqueles que são como tu, que antigamente é que isto andava bem, agora vieram estes sacanas e deram cabo disto tudo, tu é que vais endireitar o país, a lamber as sarjetas todas, e depois no dia a seguir pões essa carinha que só dá vontade de puxar essas bochechas, de quem afinal não disse nada daquilo que disse ontem, não foi isso que eu disse senhor jornalista, você percebeu mal, és muito habilidoso, porque assim a frase já está dita, és como os lacraus, que se escondem debaixo das pedras, uma pedra não morde, não mexe, é uma pedra caramba, mas se uma criança a levantar leva uma picada do lacrau e fica a torcer-se de dor, até pode morrer, tu és a pedra e o lacrau, sabe-la toda, já fizeste um amigo como tu noutro partido, porque também lhe cheira a poder custe o que custar, atropele quem atropelar, assim são pedras e lacraus juntos, são o melhor dos dois mundos, encontraste um amigo para brincar no recreio, podem trocar cromos no intervalo, ver quem tem o cromo que vale mais sangue, tenho muito orgulho em ti, nunca te esqueças disso, fazes-me lembrar eu com a tua idade, a mergulhar em tudo o que é lodo e a dizer que contigo vai ser tudo diferente, que vais fazer este país grande outra vez, um navegador de tragédias, um perdigueiro da fraqueza, um balão de frases feitas, um catavento da miséria.

Agora descansa, meu menino, descansa que amanhã há mais mal para fazer.

Juan Cavia

o Rui Tavares no 25 de Abril na AR

Porque não se fala mais por exemplo da inteligência desta intervenção:

É preciso que alguém o diga, é preciso que alguém o diga nesta data e é preciso que alguém o diga a partir deste lugar (AR portuguesa). Então não percamos tempo. Di-lo-ei a abrir o debate: a nossa democracia não só não está garantida como vive o maior momento de risco à sua existência desde o período pós-revolucionário. Os 50 anos do 25 de Abril serão a ocasião de celebrar tudo o que conquistámos em conjunto. Estes 49 anos devem servir para alertar para tudo aquilo que podemos perder. Não é inédito. Nenhuma democracia está completa ou é perfeita. Todos os regimes democráticos têm os seus inimigos, mais ou menos competentes, mais ou menos inteligentes, mais ou menos assumidos. Dependendo das circunstâncias e da vontade de poder que nunca lhes falta, aviltar e esvaziar uma democracia não é sequer difícil.

Não procuremos coerência nos novos autoritários, a não ser a vontade desmedida de mandar, porque qualquer coerência seria um entrave a essa mesma vontade desmedida de mandar. Eles dizem-se os mais conservadores de entre os conservadores, mas acabam a invadir o Capitólio e a defecar na Praça dos Três Poderes. Eles afirmam-se patriotas, mas não desdenham enxovalhar o seu país e os dos outros. Eles demonstram ser incapazes de aceitar a mais mínima crítica, mas têm na rua cartazes nos quais misturam suspeitos de crimes e políticos comuns e nos quais insinuam mais ou menos veladamente, mais ou menos descaradamente, a eliminação de adversários. Se um dia houver uma mão mais ou menos transtornada que passe ao ato, eles negarão qualquer culpa.

Mas não nos deixemos encadear pelos casos mais espetaculares. Os mais discretos é que nos hão de preocupar. Conheci bem, por dever de ofício, um desses, dos mais competentes, dos mais inteligentes. Hoje há rádios, jornais e televisões que foram fechados, universidades que foram expulsas, milhares de adversários estão fora do país, todos os tribunais e autoridades independentes foram capturadas, e apesar do discurso anti-corrupção do início — ou se calhar por causa dele... — o genro, o irmão e o pai e até amigos de infância do primeiro-ministro tornaram-se dos homens mais ricos do país, à conta dos fundos europeus que todos pagamos. A propósito: a Presidente que este primeiro-ministro escolheu, sem passar pelo voto popular, visitou este Parlamento ainda há poucas semanas. Ninguém protestou e toda a gente soube respeitar, porque o sentido patriótico e de estado, para a grande maioria de nós, ainda não é opcional.

O principal risco para a democracia não está nos autoritários, que serão sempre uma minoria, mas naqueles que lhes derem a mão. O que é preciso é que todos aqui dentro saibamos é que uns e outros ficarão manchados na história do nosso país.

O principal risco para a nossa democracia é aceitarmos a intimidação e a dominação da agenda pelos autoritários. Por isso, tratemos de esconjurar esse risco, agora e hoje e sempre. Esta tarde estarão na Avenida da Liberdade — certamente com pouca atenção mediática — muitos mais milhares defensores da democracia e do 25 de Abril do que há seus inimigos. Haverá sempre mais portugueses a defender a liberdade do que o autoritarismo. Saibamos confiar nos democratas e dar-lhes confiança. Tenho orgulho de pertencer a um povo que dirá sempre que for necessário: 

- 25 de Abril Sempre! Não voltarão -


Jorge Palma | Vida


E volta a ELA e a ELE!!!

A VIDA INDEPENDENTE TEM DE SER PARA TODA A GENTE


Este ano vai ser decisivo. O Projeto-piloto de apoio à Vida Independente vai terminar no final de Junho. Está prometida legislação que irá regulamentar a versão definitiva da assistência pessoal a pessoas com deficiência até ao fim do corrente ano.

 

É tempo de fazer o balanço desta experiência de 55 meses e retirar lições para o futuro. É tempo das pessoas com deficiência – aquelas que tiveram assistência pessoal e todas as que necessitam dela – dizerem o que desejam e esperam que seja inscrito na lei.

 

É uma altura decisiva porque a lei que virá a ser proposta e aprovada, se não corresponder às nossas necessidades, dificilmente será alterada nos anos mais próximos.

 

Não temos informação sobre como será o acesso e as condições da prestação de Assistência Pessoal em 2024. Quantas pessoas terão direito? Com direito a quantas horas de assistência? Quem vai gerir a assistência pessoal?

 

São muitas as perguntas para as quais ainda não há respostas, mas nós temos uma palavra a dizer.

 

Teremos de ser nós, pessoas com deficiência, e também as nossas famílias, a dizermos o que deverá ser a assistência pessoal no futuro. Porque da nossa vida sabemos nós. Porque sabemos bem o que precisamos.

 

Dia 5 de maio, assinala-se o Dia Europeu da Vida Independente. Um conjunto de organizações promovem marchas pela Vida Independente em Lisboa, Porto e Vila Real, assim como uma concentração em Guimarães. Estas marchas revestem-se este ano de um significado maior. No sábado, dia 6 de maio, às 15 horas, saímos à rua para exigir coletivamente que a assistência pessoal seja para toda a gente que precisa. Que não pode continuar a ser apenas mais um projeto piloto. Para afirmarmos que as horas de assistência a atribuir têm de ser as que verdadeiramente necessitamos, sem perpetuar a dependência de cuidadores informais.

 

Apelamos a todas e todos os que já tiveram assistência pessoal e a todas as pessoas com deficiência que ainda não tiveram mas precisam dela para virem connosco fazer-se ouvir.

 

Quantos mais formos nas marchas, mais nos ouvirão.

 

Juntos somos mais fortes.

 

Pontos de encontro:

  • Lisboa: local a confirmar
  • Porto: Em frente ao Rivoli
  • Vila Real: Av. 5 de Outubro (junto à estação)
  • Guimarães: Parque da Cidade

 

O cartaz será divulgado nas redes a partir de amanhã, às 14 horas.

Luca Argel - Samba de Guerrilha [2021]