29 maio 2023

Queridos amigos,



Muito boa tarde!


Sylvia Ferreira é a minha voz hoje: obrigado a ela!

Quero aqui vincar que passo pouco tempo parado, felizmente: muita terapia, cuidar do meu belo corpo dá trabalho: andar e falar dá um trabalhão e tenho os melhores terapeutas do mercado, não é fácil, repito: estive quase morto, de onde eu já vim!!! (embora, as fotos não aparentem...)


Tenho o problema de não conseguir, por limitações próprias do Ser, agradecer a todos condignamente. 


Fisioterapia em casa e com uma expert em Lisboa que veio diretamente do Brasil para cuidar de mim, a Luísa, Terapia Ocupacional com o jovem Carlos, piscina com o Tomás, terapia da fala pela Deusa da Fala, Meca, o Dr. Luís Gonçalves que está cá sempre, há quem lhe chame GOD and last but not the least, Mister R. agradeço a todos o empenho!

Para começar bem e porque me tinha esquecido, devo agradecer à Novamente na pessoa da sua Isabel Andrade pelo seu trabalho em torno das pessoas Traumatizadas Cranianas, que já dão um trabalhão.

 E à Sofia Pires pelo Seeds of Change (Sementes da Mudança na tradução) por tirarem os deficientes de casa e integrá-los na sociedade.

 - Obrigado a elas por me darem a palavra! -



Os deficientes são muitos e nunca tinha dado por a sua dimensão/tamanho, antes do acidente, com 25 anos mas casa roubada e trancas à porta. Mais de um bilião de pessoas em todo o mundo convivem com alguma forma de deficiência. 

Estava ali, na semana passada, deitado na marquesa da fisioterapia do mister, a pensar, que não sei bem falar/escrever sobre um acontecimento que se deu há 17 anos atrás de que não me lembro bem, uma batida que deu origem a um ‘novo’ modo de vida.

Há quem diga que não falo noutra coisa que no bem dito Traumatismo! Ora é simples a resposta: ‘não é verdade mas mesmo que fosse, o meu amigo TCE teve implicações enormes no meu dia a dia, do acordar até ao deitar. Foi como um renascer e todos festejam o parto. A minha vida mudou um bocadinho. Até me pedem para fazer conferências online sobre o dito cujo.’ 

E suponho que é sobre o que originou esse TCE que querem que fale.

Há males que vêm por bem, antes ele que a morte!


Deu-me uma nova vida e ensinou-me a apreciar viver, o ter estado quase morto, bem para lá, ensinou-me que isto é bom, é giro e devo aproveitar: bem dita vida, o tom beato que dão a esta ideia é vosso!

Estamos todos sujeitos a sofrer um TCE e arcar com as consequências dele e desafios que traz e não é um bom objetivo para a vida torná-la pior, mais difícil!?  Talvez sim, talvez não... depende.

A dúvida é devido a ser filho de filósofos.

 Se fosse fácil não tinha piada!, faltava aqui!

Não sei se sou um bom exemplo do que é ter um TCE. Ou não sou quando a ideia é avisar que o TCE é um bicho mau que não queremos conhecer. 


Tive o meu acidente em 18.11.2006 num embate de carro, às 4h da matina; tinha-me queixado do cansaço.

Vivo com o meu há já 17 anos e tenho 42 e estou habituado a este TCE, já não saberia viver sem ele.

E, portanto, não sei quanto da minha personalidade é devido ao TCE e quanta não é.

À partida, não é uma coisa boa de ter, nunca é uma coisa boa de ter mas, um TCE já é quem sou e gosto de ser como sou (quase sempre...) modéstia aparte; ou um terço de vida foi feita em recuperação...


Ter um TCE pode ter ganhos: 

Torna-te mais querido, toda a gente acha piada a ser amigo de um gajo em cadeira de rodas; ganhas uma desculpa para tudo que possas fazer mal;  ganhas apetência por escrever melhor para comunicar bem; andas sempre de rabo bem sentadinho; passas a poder usar o há males que vêm por bem com garbo e etecetera.

Embati num plátano e deu-me vida, ressuscitou-me. Estava cansado e adormeci, no regresso a casa, moro em Sintra, saí da estrada em Galamares, ia a passar um carro, salvou-me; ligou para o 112, ambulância e iniciou um trajeto de 17 anos de recuperação daqui, 2 x em Cuba, até hoje.

Conheço alguns traumatizados cranianos e são todos diferentes, não basta olhar para nós para perceber que temos um TCE e nem queremos que se saiba, o TCE é nosso íntimo.


Cada pessoa é única com TCE ou sem ele.

É um bom passatempo, ocupação dos tempos livres; não sei como teria sido a vida; certamente mais eficiente, duvido que melhor...

Porque podia ter morrido e aqui estou vaidoso do que conquistei! Muita gente médica e cuidados tornaram-se meus amigos:                

Auxiliares, enfermeiros, médicos, terapeutas que passei a designar por Profetas do futuro e vincaram meu jeito mimado: antes mimado que maltratado (Raposa dixit).

Não é só coisas boas ter um TCE, é um mal social, o TCE atingiu-me NÃO só a mim como à minha família mas atinge todas as pessoas que são atingidas com a minha mudança devido ao acidente.

E muda vidas a nossa constante dependência, tinha 25 anos e passei a ter 3/4 anos em corpo de adulto. Não comunicar e não andar foram só os dois desafios maiores.


A sociedade é atingida como um todo por não ter acessibilidade para todos; às vezes, o pormenor de uma rampa é essencial para quem circula em cadeira de rodas.

A vida ganhou um quadro terapêutico a querer regressar à vida normal/eficiente mas o que foi não volta a ser.

Perdes mobilidade e é muito mais complicado dar emprego a uma pessoa com TCE, passas a ser integrado na classe dos deficientes.



Nota final, o melhor para o fim: a motivação que tenho para melhorar vem de um grupo de jovens futebolistas juvenis (15 e 16 anos) de um clube local onde joguei dos 8 aos 25: o União Mucifalense!

A AMIZADE assume-se quando mais precisamos dela, o mister Pedro Figueiredo era meu fã, quando jogava com ele em miúdo, levava-me a sacola e as chuteiras para os treinos e tanto aprendeu com o meu futebol que se tornou mister nas camadas jovens, seguiu o meu sonho e fez-me participar nele!

É extraordinário como é bom estar entre eles: às vezes, é complicado distinguir quem é mais novo: se quem treina ou quem é treinado; é uma saudável juventude, com eles aprendemos a alegria!

Se não tivesse tido o acidente tinha sido treinador de jovens craques: adoro vê-los crescer e fazer parte desse crescimento.

Começou por uma formação sobre Ética em que aprendi o que ensinava a ensinar, foi uma maldade este gozo, era um pouco sarrafeiro enquanto Estrela, menos do que dizem por aí os invejosos da má língua ou tinha outra ética; mais tarde comecei a acompanhar os jogos em casa e depois fora.

Muita magia, uma grande carreira passou ao lado de quem era!



Falar de cada um é realçar individualidades e não quero, os Juvenis da União M. têm um todo nesta equipa que ultrapassa isso, quando penso em vocês/neles nascem sorrisos e felicidade. 

Revivi meus estados de alma neles, escrevi textos motivacionais,  criei um blogue, apaixonei-me; espero que tenham vindo, alguns, pelo menos um,  assistir porque quero fazer uma confissão:

Queridas vedetas, a vossa equipa é muito melhor agora do que eram as minhas dos 9 aos 25 (1988 a 2016) , não têm nenhum jogador com o talento que eu tinha mas vocês são melhores no conjunto.

 É entre os melhores que sabe bem estar!

Fazer este papel de motivador, apesar de me parecer, que pouco ajuda, faz-me sentir parte da mesma equipa vitoriosa que somos, faz-me sentir um de nós.

 Vocês são muito fortes, OBRIGADO!



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