"Eu quero acompanhar o meu cantar vagabundo de todos aqueles que velam pela alegria no mundo" (caetano veloso)
29 fevereiro 2024
- Os livros oferecem desafios –
68 – A Amizade –
Não é sorte.
Ou, talvez seja, encontrar tal pessoa X em dado lugar Y em Z
tempo possa ser acaso, mas manter a relação já implica gostares, necessitares
algo nela.
A necessidade fica aquém do grau de amor que uma amizade
precisa.
Há gente com muita qualidade a manter amizades, nunca uma
amizade é mantida apenas por uma pessoa, no entanto: ‘eu não tenho amigos
porque amigos me não têm!’
Um conhecido que vês uma vez ou duas não se pode chamar de
amigo, é provável que nunca mais se vejam se não fizerem por isso.
Nem sempre estamos abertos para a amizade, nem sempre temos
vontade de estar com essas pessoas.
A amizade é mais dada às pessoas que são extrovertidas, pouco
introvertidas.
Fazem mais facilmente amigos, as pessoas que saem da caixa
constantemente.
Talvez não: há vários tipos de amizades.
É individual, mas há quem só a conheça em grupo.
Há pessoas e profissões que sabem ser amigas, profissões da
saúde e do cuidado onde és melhor por tratares bem do outro.
Pode praticar-se a amizade: o bem receber e acolher num
sorriso.
Que têm na sua personalidade ser amigas.
Em grupos que se encontram habitualmente há sempre rotinas da
amizade a que sabe bem regressar e reencontrar porque sabe bem-estar com
aquelas pessoas.
Adoça-te a alma, gostas de pensar nelas.
Diariamente,
Semanalmente,
Mensalmente,
Anualmente.
Só no telemóvel ou por email.
Só por escrito ou por voz.
Conservar amigos implica vontade, trabalhar para isso.
Não é certa, a amizade, é preciso sabermos cuidar dela.
Não é constante.
Deixá-la respirar.
Quando andas em grupo e tens atividades parece mais óbvio.
Quando és calado, isolado, introvertido talvez prefiras estar
longe dos amigos.
O tempo e o espaço são dois padrões, limites.
Não há regras para a amizade, é daquelas magias humanas e
sociais que cada um utiliza como, quando e onde quer.
23 fevereiro 2024
- Solidão –
Eu não ando só, só ando em boa
companhia!
Antes só que mal acompanhado.
É preciso grande saber para ser feliz
sozinho.
Aprender e há pessoas que têm grande
qualidade no estar sozinho.
Há outras que ganham energia nas
outras pessoas.
Nunca ninguém está realmente sozinho.
Só talvez quando pensas e imaginas
sonhos.
Sozinho: ou está sempre ou nunca.
Depende do que consideras que é estar
sozinho.
Podemos estar cheios de pessoas à
volta.
E sentir solidão sem termos sótão.
Basta que não estejamos em sintonia
com os outros.
Ter muitos amigos e nenhum perto.
Atualmente, dificilmente, estás só,
na prática.
Só se quiseres, e, às vezes, nem
querendo.
Em teoria, podes sempre escolher
estar acompanhado.
Por telemóvel.
Por computador.
Por televisão.
Podes sempre preferir, e às vezes,
conseguir ter o privilégio de estar sozinha.
Há quem tenha grande qualidade a
estar sozinha.
É preciso ter experiência, treino.
Há quem tenha tele móvel.
E pouco contato com eles.
Com pessoas.
Gente estranha.
Refugiada.
O telemóvel já pouco serve para
conversar, falar.
Estar só é bom, pode ser
gratificante.
Quando a casa está repleta de gente.
Na multidão às vezes esconderes-te é
um refúgio.
No silêncio da noite.
No silêncio.
Há alturas em que é claustrofóbico
estar no meio das multidões.
No trânsito.
Em fila.
No comboio na primeira e na última carruagem.
o processo educativo...
- O
Processo educativo –
Processo
educativo torna o tema pesado.
A
ideia de processo é fabril.
Ultrapassa
a ideia de família e de casa.
De
filho passas a ser aluno.
Educação
é mais artesanal e primária.
Mais
escolar.
De mãe
e pai passas a ter professoras e professores.
Doutoras
e doutores,
Cientistas
e mestres.
Nas
mais variadas áreas,
Conhecimentos
E
interesses.
Sais
de casa para as escolas.
Há
muitos locais onde és pessoa e nele há uma troca onde educas e és educado.
Em
todas as relações te formas, cresces, melhoras e/ou pioras.
Tenho
ideia de que o crescimento.
É feito ao longo da vida, Step by Step.
Nunca paras de crescer, é vida, é o nosso fado!
Podemos ser educados em todo o lado, até no WhatsApp!
Pode
nem sempre complicado,
Nem sempre
ser pesado.
Ser
mais leve e livre.
Mais
descontraído.
Não é
defeito, é feitio.
Todos
somos melhor ou mais mal-educados.
E há
nesta coisa da sociedade complicações.
E
simplicidades.
Para
cada um.
Cada
pessoa.
Cada
espaço tem cuidado nas relações.
É
preciso alguma vontade de seres melhor.
Ser
melhor não é o mesmo para toda a gente.
Se
conseguirmos guardar o Amor com que fomos criados.
Oiço
muita gente queixar-se da escola.
Que
nos padroniza, forma iguais.
É com
cada um ser diferente.
E
identificar suas diferenças.
Se
queremos como pais proteger os filhos.
Talvez
seja uma intrusão num papel de professor
Treinador
que não é nosso e os educadores são cada vez mais.
Somos
todos educadores uns dos outros.
Devemos
acreditar no papel social.
E
acreditar que a certa altura os filhos
Têm
que voar e seguir vidas a solo.
Ser
autónomos.
Todos
tivemos essa luta que na fase adolescente
É
complicada.
O processo
será sempre diferente por mais alunos, filhos, professores e pais existam.
Por
mais pessoas que existam serão sempre diferentes.
Não há
duas vidas iguais.
20 fevereiro 2024
OUVIR este senhor, Luís Osório, alimenta o dia!!!
1. Diogo Ribeiro tem 19 anos e alcançou o topo do mundo.
Fê-lo numa modalidade onde os maiores especialistas diziam que nunca um português haveria de ganhar uma medalha de ouro – e se quisessem candidatar-se a um milagre teriam de treinar nos Estados Unidos ou num centro de alto rendimento em Londres, Paris ou Melbourne. Diogo Ribeiro tem 19 anos, pouco mais de 1,80 metros, nunca treinou fora de Portugal e é bicampeão do mundo de natação numa especialidade de gigantes de dois metros, os 50 e 100 metros mariposa, as últimas provas em que um português poderia ganhar se porventura acreditasse em milagres.
2.
Ainda não tem vinte anos, mas aquilo que viveu ofereceu-lhe a possibilidade de ter experiências para a troca – é como se tivesse três ou quatro coleções de cromos a mais que agora distribui pelos lugares e pessoas por onde passa.
É que Diogo Ribeiro ainda há dois anos estava numa cama de hospital depois de um desastre de mota.
Quando viu a cara pesarosa dos médicos que o receberam teve a certeza absoluta, mesmo que por umas horas, de que não iria voltar a poder competir, que nunca mais poderia regressar a uma piscina.
Ficou internado com hematomas em todo o corpo, queimaduras nas pernas, um pé fraturado, uma enorme dificuldade em respirar, o ombro deslocado e sem um bocadinho do indicador direito.
Chorou pelo fim de uma carreira em que acreditava.
Só que as lágrimas deram lugar ao combate.
Os exames foram animadores e ele recuperou.
Um mês de cama onde pensou muito sobre o que desejava para si. Sobre os erros que não poderia voltar a cometer. Sobre a dedicação que teria de ser multiplicada. No silêncio jurou que nunca mais falharia no essencial: fazer o melhor possível para atingir o seu limite era a única opção.
3.
E falou com o pai.
Um pai que mitificou a partir do momento que teve a consciência de que nunca mais o iria ver.
Um pai que perdeu aos 4 anos.
Um pai que o ajudou a definir-se na ausência e uma mãe que o definiu quase por completo. A Teresa que hoje também aplaudimos. Porque foi ela quem o convenceu a inscrever-se na natação para não se perder na obsessão por uma ausência.
Não se perdeu.
Na solidão de milhões de braçadas na piscina, o Diogo foi capaz de encontrar um sentido.
E depois na solidão de um hospital, foi capaz de encontrar o segredo para se tornar o melhor do mundo.
Aos 19 anos é o melhor nadador português da história.
E nos próximos Jogos Olímpicos poderá reservar o seu lugar no Olimpo.
Texto e programa de Luís Osório
18 fevereiro 2024
Joseph Conrad
“A vida é uma coisa divertida – aquele arranjo
misterioso de lógica impiedosa com um
propósito fútil. O máximo que você pode
esperar disso é algum conhecimento de si
mesmo – que chega tarde demais – uma
colheita de arrependimentos inextinguíveis
(...)'
“Droll thing life is--that mysterious
arrangement of merciless logic for a futile
purpose. The most you can hope from it is
some knowledge of yourself--that comes too
late--a crop of unextinguishable regrets (...)'
10 fevereiro 2024
Que Deus nos LIVRE!
06 fevereiro 2024
A sobreposição de Lisboa in DN
O atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa não nasceu na cidade. O seu antecessor também não, e o último presidente da câmara nascido na cidade não era branco. Para quem como eu cresceu em Lisboa, é tudo normal, e seria uma normalidade ainda mais merecida se as suas elites fossem a cara da diversidade histórica e atual.
Em 2018, um estudo da Universidade Católica apoiado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos sobre Identidades Religiosas e Dinâmica Social na Área Metropolitana de Lisboa remata que, dos inquiridos - uma amostra com base no perfil da população -, apenas 33% dos seus habitantes nasceram na região.
Escrito de outra forma, isso quer dizer que 66% da população da Área Metropolitana de Lisboa nasceu noutro sítio, sejam outras localidades do país, Europa, Ásia, América ou África.
Por isso, não é de surpreender que, em 2020, a autarquia de Lisboa tenha definido a cidade - de forma unânime - como antirracista.
Mais audaz, é a candidatura da capital portuguesa a Património Mundial da UNESCO como Lisboa Histórica Cidade Global sugerindo a sua história passada, os “Descobrimentos” e a diversidade de povos presentes em Lisboa como indicadores da primeira cidade global. Digo audaz, porque essa promoção histórica esconde que boa parte dessa diversidade de povos não era livre.
Essa tentativa de ocultar alguns processos históricos é parte da sobranceria de uma suposta sociedade ocidental tolerante que nos impede de olhar realmente para o que somos e permite simularmos que somos outra coisa.
Sobre o nascimento de Lisboa, tanto do ponto de vista mitológico - como cidade fundada por Ulisses -, como do das disputas históricas que a colocam como povoado fenício, cartaginês ou tartesso, em todos os casos, a cidade é composta por populações dos dois lados do Mediterrâneo.
É de interesse geral saber que após o Período Pré-histórico, a população de Lisboa se baseava estruturalmente em berberes com influências fenícias e de Cartago. É essa a população - base de uma Lisboa posteriormente existente, que substituiu e assimilou as últimas comunidades de caçadores - recoletores da região. Somos mouros, portanto.
Do período árabe, há alguns fatores distintivos da cidade. Ibn Hude al-Gudame foi um escritor negro que foi nomeado Váli (governador) de Lisboa no século X, o primeiro caso na península e de acordo com José-Augusto França “a aceitação do negro al-Gudame como governador (...) não deixará de significar uma abertura de espírito dos habitantes da cidade”.
Também vos podia falar da alface (palavra árabe) que veio definir a alcunha dos seus habitantes, ou da forma como atribuímos a categoria de saloios aos habitantes da sua periferia rural, cunho derivado do grupo de muçulmanos que eram taxados para cultivar fora das fronteiras do burgo.
Podemos lembrar, aos que estão tão preocupados com os que vêm de fora, que foram os Cruzados, um grupo de estrangeiros formado por flamengos, normandos, ingleses, escoceses e germanos, que conquistaram a cidade para ser anexada ao reino de Portugal, numa guerra santa que incluiu o saque, violações em massa e a decapitação do seu bispo (sim, as três principais religiões monoteístas conviviam na cidade).
E não esquecer a forte influência negra na cidade, propositadamente esquecida e arrumada em categorias marginais da aprendizagem. Saber que há 600 anos e durante séculos, onde agora é a Madragoa e a Lapa, havia o Bairro do Mocambo, um bairro formal e fiscal, com a originalidade de ser o único bairro na Europa com uma denominação de língua africana: umbundo.
Os africanos que, enquanto pessoas escravizadas vindas diretamente de África ou do Brasil, contribuíram com a fofa e com o lundum para a fruição que originou o fado, ou para o estabelecimento de uma das mais importantes romarias religiosas da cidade até ao Santuário da Atalaia, no Montijo.
Da história e do presente, nunca houve substituição em Lisboa, mas sim sobreposições: de civilizações e pessoas, em que quem vem fica, montando a sua vida sobre o que existe e acrescentando de si, construindo novos entornos.
Uma marcha sobre Lisboa, contra a sua islamização e com tarjas anunciando que vão “reconquistar Lisboa aos Mouros”, só não é caricato porque sabemos o que querem, mas faz lembrar aquela vez em que um grupo de nazis portugueses foi à Alemanha conviver com os seus congéneres e foram expulsos, por serem mouros.
Pelo caminho, e tendo em conta que o líder do Chega já falou várias vezes - inclusive no Parlamento - sobre a teoria da substituição populacional em curso e sabendo que elementos do Chega estão envolvidos na mobilização para hoje, 3 de Fevereiro, o tempo que se dá a André Ventura nos media podia servir para saber o que diz sobre este assunto, não?
Investigador