Peço-te com o coração nas mãos que no domingo faças o que eu te digo
1.
Hoje é o último dia da campanha eleitoral.
Decidi não escrever/falar aqui de política partidária. Há demasiados “postais do dia” partidários, mas poucos postais sobre pessoas concretas, heróis improváveis, figuras da cultura ou amadas pelo povo.
Há muito poucos postais sobre quem se leva a sério, sobre a importância do detalhe, sobre o amor e o desamor, sobre a morte e a esperança, sobre o medo e a infância, sobre a vaidade e o vazio.
Não me falta lenha para todos os dias querer falar contigo.
Deixo o exercício nobre de pensar sobre a política para outros fóruns.
2.
Porém, deixa-me que te peça…
… sabendo que temos uma relação próxima, que me ouves mesmo que não concordes muitas vezes, que me ouves mesmo sabendo que não penso como tu ou que sou a tua alma gémea.
De uma maneira ou de outra, tratamo-nos como amigos.
Não me importa que sejas de esquerda ou de direita, desde que a tua esquerda ou direita consiga fazer pontes com quem não pensa como tu.
Não me importa que sejas do Sporting, Benfica ou Porto, desde que possamos ir à bola juntos.
Não me importa o quanto estás zangado ou zangada com o país, desde que isso não signifique desistência ou ressentimento.
3.
Quero pedir-te para ires votar no domingo.
Faz isso pelos comunistas que tombaram no combate contra a ditadura, pelos que deram o melhor das suas vidas ou morreram nas prisões de Salazar.
Mas faz isso também por Francisco Sá Carneiro que não poderia ter vivido o grande amor da sua vida se não existisse liberdade e democracia.
Vai votar no domingo por Mário Soares que viveu longos anos sem ver os filhos, que nasceu de boas famílias e abdicou do conforto de uma vida mansa para perseguir a utopia.
Mas faz isso também por Freitas do Amaral ou Adelino Amaro da Costa que foram referências de tolerância e de respeito por uma democracia - cristã que hoje quase já não existe.
Faz isso pelos quatro portugueses que morreram no dia 25 de Abril. Saíram de casa para festejar o fim da ditadura, mas não chegaram a ver o anoitecer de um dia que achavam iria ser o mais feliz das suas vidas.
Sai de casa e vota.
Onde quiseres, mas vota.
Faz isso por Salgueiro Maia que nunca quis nada em troca. E pelos capitães que arriscaram a vida naquela madrugada.
Mas faz também por Gonçalo Ribeiro Teles e António Guterres, por José Saramago e Agustina, por Siza Vieira e Paula Rego, por Tolentino de Mendonça e Eduardo Lourenço, por Ruy de Carvalho e Eunice…
Faz a cruz na democracia e na liberdade.
Acredita em Portugal, acredita e faz a tua parte.
Não deixes aos outros, aos ressentidos, aos vingativos, aos de maus pensamentos, a possibilidade de decidirem por quem respeita o outro em todas as circunstâncias.
Encontramo-nos no domingo, bebemos um café e damos um abraço.
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