26 março 2011

o mar é todo meu, nosso

'fui secretária da Sophia durante muito pouco tempo, breves meses. Tive sempre muita pena de ter deixado de trabalhar com ela. (...) depois de ter trabalhado com ela nunca mais vou poder ignorar algumas coisas. a nossa arte temos de a perseguir com a nossa vida toda. as coisas estão unidas, não estão separadas. o poeta trabalha o poema como o boi puxa o arado que lavra a terra. (...) nós não só podemos como devemos viver de acordo com aquilo em que acreditamos, aquilo que amamos.(...) também viver e dizer o que se abomina e se despreza. o tempo em que os homens renunciavam. não perder o fio de linho da palavra, a linha musical do encantamento. deus está em toda a parte. perfeito é não quebrar a imaginária linha. exacta é a recusa. e puro é o nojo. lembrar-me sempre. não me perder de mim por descuido. não me esquecer nunca. as musas são filhas da memória. ser frugal, austero, generoso. ser bom. na medida certa. ser puro e inteiro como uma criança. como fomos todos, no princípio de tudo... através do teu coração passou um barco que não pára de seguir, sem ti, o seu caminho porque é que não sou mais estas coisas todas que fiquei a saber? o génio de SOPHIA é que vivia assim todos os dias. não tinha medo nenhum. lúcida e implacável. exemplar. mergulhar na vida como no mar: de olhos abertos. nascemos para ser livres, para a felicidade. o céu é todo meu. o mar é todo meu. deus é todo meu.' (lúcia sigalho, público, 10 de julho 2004 ditado pelo guanaco com prazer, que gosto foi ouvi-lo)

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