(Nota
Introdutória - Nunca imaginei que alguma vez iria publicar um texto de
um dos mais radicais plumitivos da Direita que opina com regularidade no
espaço público, a saber, Henrique Raposo. Mas, perdoem-me os que me
leem e seguem, não resisti. É que o escriba, tem jeito e o retrato que
faz de Marcelo é arrasador. E mais, é insuspeito por vir de quem vêm.
Provavelmente retrata aquilo que alguns sectores de Direita pensam de
Marcelo. Contudo, eles são pragmáticos. No dia das eleições lá colocarão
a cruz. E talvez nem precisem de tapar os olhos e engolir sapos como
tiveram os comunistas que fazer em 1986 quando votaram em Mário Soares
contra Freitas do Amaral a conselho do próprio Álvaro Cunhal. - Estátua
de Sal, 09/01/2016)
Leiam:
Marcelo
Rebelo de Sousa costumava passar o Ano Novo no Brasil com o amigo
Ricardo Salgado. Contudo, Marcelo não apanhava sol à beira da piscina ou
mar. Não queria chegar ao Portugal invernoso com um brutal bronzeado,
porque achava que o público da TVI iria ficar enraivecido com aquele
sinal de riqueza. Este episódio (descrito há tempos por Pedro Santos
Guerreiro) diz-nos quase tudo sobre a cobardia intrínseca desta
personagem. Um homem que recusa apanhar sol no Brasil só porque isso
pode parecer mal ao povo é uma pessoa tão calculista que não pode
merecer confiança. Há qualquer coisa de Dâmaso Salcede em Marcelo. É uma
cabeça pequenina, escorregadia, que sobrevive pela lisonja. O curioso é
que, ao contrário do Salcede original, a cópia marcelista tem boa
imprensa. Porquê? Nasceu no topo social de Lisboa. Se passassem férias
no Brasil com um amigo banqueiro, Passos, Cavaco ou Seguro nem sequer
teriam arrancado como políticos, teriam sido destruídos à nascença. E,
se tivessem protagonizado a cómica cena brasileira (recusar apanhar
sol), seriam ridicularizados todos os dias. Marcelo pode quase tudo,
porque é do círculo social certo. Passos, Cavaco e Seguro não podem
quase nada, porque vêm de sítios com marquises.
A
questão Ricardo Salgado vai muito além deste episódio brasileiro.
Durante um ano, o Marcelo-comentador falou sobre o caso BES como se o
Marcelo-cidadão não fosse amigo de Salgado e como se a sua companheira
ou ex-companheira não fizesse parte da administração do banco. Debaixo
do silêncio crítico do tal meio lisboeta, Marcelo pôde assim defender as
posições do amigo Ricardo como se fosse um agente neutral e arbitral,
como se fosse um anjo caído dos céus. Ora, perante o descalabro do BES,
Marcelo só tinha uma saída transparente: recusar comentar o caso. No
entanto, o “professor” nunca mostrou esse respeito pelos espectadores e
pela ideia de espaço público. O que não surpreende. Durante as últimas
décadas, Marcelo foi o grande mordomo do regime e um dos responsáveis
pela ausência de debate sério sobre os problemas de Portugal. Sim,
Henrique Neto tem razão quando acusa Marcelo de ser um dos
co-responsáveis pela situação do país. O ex-discípulo de Marcello
Caetano foi o idiota útil dos donos do sistema, o fala-barato que encheu
o ar com pólvora seca. Alguém se lembra de uma crítica forte de Marcelo
aos Salgados e aos Sócrates? Nos milhares de horas gravadas por
Marcelo, alguém consegue sacar uma ideia, uma causa, um projeto?
Esta
falta de transparência está relacionada com a sua tibieza intrínseca,
que está a ficar claríssima nesta campanha eleitoral. Marcelo não
acredita em nada. É uma máquina discursiva sem nada lá dentro. E chega a
ser patético ou até comovente, diga-se, a forma como ele procura
agradar a toda a gente. Por exemplo, disse a Marisa Matias que não iria
tocar na lei do aborto, mas, se tivesse pela frente um candidato
católico a lutar pelo “não”, Marcelo teria dito o exato contrário ou,
pelo menos, teria dito que é necessário mudar a lei (recorde-se que
Marcelo defendeu o “não” há dez anos). Já senti repulsa por Marcelo, mas
confesso que agora só sinto pena.
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