25 maio 2017

Porque falo de ruínas e de destruição? (Henry Miller)

Porque são fascinantes!

 Porque se formos  sensíveis e nostálgicos são poemas! (Henry Miller)

E deles nasce vida, todo o bebé que nasce, nasce no caos.
São sempre esperança de coisas presentes no futuro.



Carta a um filho após o atentado de Manchester (João Miguel Tavares)

Numa guerra onde há quem queira destruir tudo o que amas, continuares a ser quem és e a fazer o que te apetece é a mais bela forma de resistência.
Ainda há cinco dias estavas no Meo Arena a assistir ao filme-concerto do Harry Potter – tenho pensado nisso nos últimos dias. Aquilo que aconteceu em Manchester poderia ter acontecido em Lisboa. Nós temos a sorte de viver num país pequeno, com uma comunidade muçulmana pacífica e integrada, mas os terroristas islâmicos odeiam da mesma forma ingleses, americanos, franceses, belgas, alemães, suecos ou portugueses – não porque lhes tenhamos feito alguma coisa, mas porque não aceitam a maneira como vivemos. Odeiam-nos por aquilo que somos, e esse é o pior ódio de todos. Para eles, o bem que possas fazer ao longo da tua vida não compensa todo o mal que representas neste momento. É uma ideia horrível, eu sei, mas não desesperes: cada um de nós tem a arma certa para combater essa ideia. O papá, a mamã, os teus manos – e tu também.

Desde logo, perante tanto ódio, a primeira coisa que deves sentir não é medo, mas gratidão. Uma gratidão profunda por teres tido a sorte de nascer em liberdade, num país democrático, onde cada um de nós – e também os partidos, o Governo, os tribunais – acredita que todas as pessoas têm os mesmos direitos, sejam elas velhas ou novas, ricas ou pobres, cultas ou analfabetas, homens ou mulheres, cristãs, muçulmanas ou ateias. Os terroristas islâmicos não aceitam isso. Aliás, eles odeiam tais ideias. Mas foram esses princípios, pelos quais muitos homens bons e corajosos lutaram e morreram ao longo dos séculos, que nos deram tudo o que temos: a paz, a prosperidade, a possibilidade de cada um alcançar os seus sonhos se trabalhar o suficiente e tiver suficiente talento. Eu sei que tu nunca conheceste outra forma de viver, e dás isso por adquirido, mas há muita gente que não tem a tua sorte. Tens o dever de honrar a memória de todos os que lutaram – e ainda lutam – pela liberdade.

Outra coisa que tens de fazer, apesar de todo o horror que vês na televisão, é lembrar-te que por cada gesto de ódio há mil gestos de bondade. Por cada terrorista que se faz explodir há mil pessoas que ajudam as outras, que as levam a casa, que lhes dão abrigo, que curam as suas feridas, que as consolam. A esmagadora maioria das pessoas à tua volta é gente boa, que todos os dias dá o seu melhor. Nunca, mas nunca, cedas ao desespero de achar que no mundo a maldade supera a bondade. Se nós hoje vivemos muito melhor do que há mil anos, se hoje em dia o mundo é um lugar muito menos violento, é porque no coração do ser humano a luz ganha às trevas. Pode não ganhar todas as vezes. Pode não ganhar durante muito tempo. Mas a bondade, o amor e a justiça são para nós o que os dentes e as garras são para os predadores – instintos preciosos que preservaram a nossa espécie ao longo de milénios.

E nunca te esqueças: apesar do teu tamanho e da tua idade, já tens a arma mais importante de todas para combater estes homens terríveis. Esquece as pistolas e os coletes à prova de bala – a melhor forma de derrotar os terroristas é continuares a fazer o que fazes todos os dias. Não deixares de ir a um concerto porque tens medo. Não deixares de viajar porque tens medo. Não deixares de ser simpática para quem é diferente de ti porque tens medo. Podes sentir medo, claro. Mas a tua coragem deve superar esse medo. Numa guerra onde há quem queira destruir tudo o que amas, continuares a ser quem és e a fazer o que te apetece é a mais bela forma de resistência.

21 maio 2017

Euforias de cá, depressões de lá


O nosso Presidente – sumo-sacerdote do optimismo que tanta falta nos fazia – veio anunciar outra previsão encantatória de crescimento para o final do ano: 3,2 por cento.

Para quem se habituou a queixar-se tanto, como os portugueses, das amarguras do destino – ou talvez por causa disso… –, foi mesmo uma bebedeira de proporções épicas. Tivemos quase em simultâneo e em directo nas televisões a reedição dos três F (Fátima, Futebol e Fado), ainda que o terceiro tenha sido argutamente substituído por uma enternecedora e «caetano-velosiana» balada que triunfou no Festival da Euro-visão. Já o Benfica ganhou o campeonato nacional e não a Liga dos Campeões (embora o parecesse, com tanta gente em êxtase, num efeito mimético da vitória da Selecção no Europeu de 2016). E o Papa Francisco veio santificar os dois pastorinhos no momento em que a nova mitologia de Fátima reduz as aparições a meras visões, tornando por isso ainda mais enigmático o seu mistério (e deixando a irmã Lúcia de fora) …
Mas como se tudo isto não bastasse para explicar a euforia, os indicadores registaram um crescimento económico inédito em tempos recentes, com o número mágico de 2,8 por cento. E, para compor o ramalhete, o nosso Presidente – sumo-sacerdote do optimismo que tanta falta nos fazia – veio anunciar outra previsão encantatória de crescimento para o final do ano: 3,2 por cento. Já o primeiro-ministro, apesar do seu «optimismo irritante» (segundo o Presidente), não se atreveu a comentar, porventura com receio de quebrar o encanto…
É bom demais para ser verdade? Pois é, mas seria preciso ainda acrescentar, além do boom do turismo, o enamoramento das vedetas do showbiz planetário por Portugal e em especial por Lisboa: a última a chegar e a pretender ser nossa conterrânea foi, nem mais nem menos, Madonna. Temos a de Fátima, ficamos agora com a sua versão mais maliciosa.

A propósito de euforia, poderemos partilhá-la com os franceses (e os pró-europeus de todas as latitudes) à procura de convalescer da depressão das últimas décadas, na sequência da vitória de Emmanuel Macron e da nomeação do seu Governo chefiado por Edouard Philippe, prometedor discípulo de Alain Juppé (apontado como favorito das presidenciais antes de ser derrotado nas primárias da direita).

Apesar das trapalhadas – aqui referidas há uma semana – na constituição das listas eleitorais, que ameaçavam comprometer a credibilidade de uma futura maioria presidencial, Macron conseguiu atingir, aparentemente, a fórmula que permitirá recompor a paisagem política francesa, para além das fronteiras da esquerda e da direita em ruínas – e hoje entrincheiradas nos extremos populistas de Mélenchon e Le Pen. A arquitectura engenhosa da equipa Macron-Philippe, com a inclusão do líder ecologista Nicolas Hulot entre sociais-democratas, centristas e gente não alinhada da sociedade civil, promete, pelo menos, criar um quadro político novo, influenciando o desbloqueamento da crise europeia.
Acontece, porém, que do outro lado do Atlântico os motivos de depressão precipitaram-se vertiginosamente. No Brasil, o Presidente Temer estava neste fim-de-semana à beira da destituição, arrastando com ele todo um sistema parlamentar e governativo gangrenado pela corrupção desde os tempos épicos de Lula – o que implicaria pouco menos do que uma revolução. Já quanto a Trump, tudo ultrapassa o inimaginável, mesmo para quem via o caos instalar-se a uma velocidade meteórica na Casa Branca.

As Américas vivem duas situações insustentáveis e nenhuma saída para elas se apresenta particularmente auspiciosa. Por uma vez, pelo menos, podemos cultivar a sorte de sermos europeus (e portugueses). É uma ilusão passageira, decerto, até porque não vivemos em mundos estanques e desconhecemos o que virá a seguir. Mas é, apesar da ironia, um convite para combater as tentações depressivas. 

15 maio 2017

o miúdo tem piada!!!

Salvador sabe conversar e temos de facto um jovem que incorpora esperança e outro modo de estar e viver.

o trabalho é a coisa mais importante da vida - aconselho!

confesso que ia sem nenhuma expectativa especial... a casa da Paula Rego em Cascais não foi vista com olhos de ver (foi vista antes do filme...), mas apesar de tudo não são todos os filmes que merecem referência e conselho.

agora quero voltar à casa da Paula Rego em breve.


Cada um percebe só depois, apesar da experiência individual de transformação que todos (social) temos, porque biografia de Paula Rego é intimo, abre a porta de seu lar, num inglês que para os mais distraídos só se aprende vivendo em Inglaterra, uma Mudança!

 Preparem-se para mudarem, o filme actua sobre nós.

13 maio 2017

vamos ao Penta!!!

Rui Vitória: quero humildemente agradecer ao amigo Jorge Jesus por ter participado nesta vitória!!!

11 maio 2017

já percebi: sou sufista

Sufismo: assenta prioritariamente na busca  interior, é uma forma de pensar.

Lê-se numa tarde e solta aprendizagens: é daquelas leituras impagáveis, aconselho: o Sr Ibrahim e as flores do Alcorão.

Uma leitura deve melhorar-nos e ser um inicio de coisas novas. Pica miolos leu a tentar contrariar esta ideia: E a vida não precisa necessariamente de ser triste...', porque qualquer história para ser boa e a sério tem de ter algo de triste, de mau, de luta e...  Momo foi abandonado pela mãe primeiro; mais tarde foi abandonado pelo pai, que era depressivo torna a vida do filho impossível e sem esperança, que morre por suicídio.

É estranhissimo como com as mesmas palavras se podem ter sentimentos tão diferentes. Palavras como Pai podem dizer coisas contrárias na biologia e socialmente, por exemplo.

Dançar senhor  Ibrahim!? 
Sim, é preciso, absolutamente! 'O coração da mulher/homem é como um pássaro fechado na gaiola de um corpo'. Quando tu danças, o coração canta como um pássaro que quer voar. 

A viagem por auto estrada e pelo interior podem significar o mesmo objectivo final mas duas formas de o alcançar e várias conquistas; de avião e de bicicleta, nunca há duas viagens iguais, nem dias, nem vidas.

'E a vida não precisa necessariamente de ser triste...'

O Senhor Ibrahim e as flores do Corão chegou carregado de história:

 Desejo, 

Esperança, 

Vontade, 

História,

Alma,

Vida ganha e celebrada,

Olhar verdadeiro como o abraço apertado

'E a vida não precisa necessariamente de ser triste...', ao ler esta frase duas ideias surgem logo: 

mas para qualquer história ser História boa a sério tem de ter algo de triste, de mau, de luta; algo tem que existir;

é bem verdade, a vida é um privilégio e muitas vezes vive-mo-la como direito e aproveita-mo-la/ saboreamos pouco: cada passo dado e cada palavra.

Vou ler, quem aconselhou indica boas coisas!

08 maio 2017

e se a UE ressurgisse!? da união se faz a força!

A saída da Inglaterra (que nunca esteve bem dentro; e que não estando dentro era como uma falsa aliada) com o Brexit e o aparecimento de um presidente francês independente, Macron, com ideias novas sugerem emergência de coisas boas.

Houve um número recorde de votos brancos e nulos em França.
Há uma descrença generalizada na política mas já canta o SG Gigante que A Democracia é o pior de todos os sistemas, Com excepção de todos os outros, somos todos políticos numa sociedade muito mais global  unida e menos individual e egoísta.
Os institutos que divulgaram hoje as primeiras projecções de resultados da segunda volta prevêem um número recorde de votos brancos e nulos.
O instituto Ipsos estima que 8,8% dos votos, correspondentes a 4,19 milhões, foram brancos ou nulos.
Segundo o mesmo estudo, a abstenção ter-se-á elevado a 25,3%, a mais alta numa segunda volta das presidenciais francesas desde 1969.
Segundo as primeiras projecções, Macron obteve 65,5 a 66,1% dos votos e a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, 33,9% e 34,5%.

Macron esteve por dentro (conhecendo os meandros)  mas ressurge agora por fora independente (abdicando dos gestos errados) 


A Alemanha e a Merkel sugerem estabilidade na liderança.

Em todo o lado (e tem aparecido em muito sítio) onde a extrema direita apareceu foi derrotada.

Em Portugal, o primeiro ministro, António Costa e o ministro dos negócios estrangeiros, Augusto Santos Silva já provaram pensar bem.




'Um insuspeito esquerdista, o antigo ministro das Finanças grego Varoufakis, apesar das suas distâncias confessas em relação ao que considera ser o neoliberalismo de Macron, escreveu recentemente que seria no mínimo “escandaloso para qualquer progressista” colocá-lo no mesmo plano que Le Pen. E Varoufakis recordou ainda: “Quando a troika dos credores da Grécia e o Governo de Berlim estrangulavam as tentativas do nosso Governo de esquerda recentemente eleito para libertar a Grécia da asfixia da dívida, Macron foi o único ministro de Estado na Europa a fazer todo o seu possível para ajudar-nos. E fê-lo assumindo um risco político pessoal.” Uma confissão de leitura útil também em Portugal' (Vicente Jorge Silva no Público de 05-05 de 2017)
 
A UE::  Alemanha, Hungria, Áustria, Irlanda, Bélgica, Itália, Bulgária, Letónia, Chipre, Lituânia, Croácia, Luxemburgo, Dinamarca, Malta, Eslováquia, Holanda, Eslovénia, Polónia, Espanha, Portugal, Estónia, Finlândia, República Checa, França, Roménia, Grécia e Suécia































06 maio 2017

cinema experienciado/vivido



 Fátima - João Canijo

O périplo de 11 actrizes que caminharam de Vinhais, Trás-os-Montes, até ao Santuário de Fátima.
400 quilómetros em 9 dias, já sabemos que um filme do Canijo implica alguma qualidade e este leva as pessoas a fazerem a peregrinação, a viverem toda a intensidade (tensão, atrito) de muito tempo em conjunto.

'Nesta peregrinação', diz Canijo, “tirando o ritual de rezar o terço e de alguns cânticos, fala-se muito pouco de religião”. E tricas, zangas, confrontos e rupturas, é o que há mais!

No filme é praticamente tudo improvisado, embora elas respeitem tudo o que tinha que se passar e quando em cada cena”, 

Primeiro era um filme sobre as relações humanas de um grupo de mulheres, obrigadas as estarem 24 horas sobre 24 horas, como uma prisão. Depois surgiu a ideia da peregrinação e aí surgiu-me uma ideia tão importante como a relação entre as mulheres, que é a relação da humanidade com a necessidade de fé. E em último sobre essas duas coisas. A ordem não sei bem qual é, porque elas confundem-se também e porque uma é paradoxal em relação à outra.”

'O próximo filme vai ser uma encenação do real em termos da veracidade das personagens. Isso vai ser levado mais longe do que neste. Elas são como são e elas são o que são. E depois há um desafio que, mais do que isso, é uma necessidade minha. Quero fazer um filme como fiz o ‘É o Amor’, praticamente sem equipa. E vai ser só com mulheres também.'


RITA BLANCO

 “Isso também teve tudo a ver com a minha primeira experiência. O meu pânico era, se eu perdesse forças, e começasse a ficar para trás, não iam esperar por mim. Tive essa experiência num dos primeiros dias. E ficou-me gravado na memória, como uma coisa muito dolorosa. Então, cada vez que alguma pessoa ficava para trás eu sabia o que essa pessoa estava a passar.” (Rita Blanco)

É uma excelente actriz, consegue fazer esquecer-nos, constantemente,  que está a actuar e a fazer de conta, tem alma, é uma aglutinadora das forças do grupo!
 

01 maio 2017

desfazer beatitudes!!!

mais que humanismo, o animal, plantas e terra como da nossa família
O Nelson Mandela era aquele que nunca perdia: ou ganhava ou aprendia.

Acredito na força do Homem, uma coisa que vêm de dentro e nos une a todos como comunidade, sem inferno, nem céu, nem anjos, nem ressurreição, ...

Qualquer coisa que passa na música  quando a tornamos nossa; falar de intimidade no seu estado social; estar cansados por algo bem feito; o prazer da comida; um olhar meigo e amigo, e pensar, e sonhar, e imaginar, e recordar,  e movimentar, e  falar e voar, e... 

Qualquer coisa que por estarmos vivos pulsa em todos no mundo; qualquer coisa que ultrapassa a política e não passa na televisão; falar no Cristo como pessoa sem todas as coisas que se pintaram à volta dele, como exemplo de lutador.

As ondas do mar vão e voltam a ir como poemas minutos, horas, dias, meses, anos, décadas, séculos e milénios, água...