Não termos um corpo preparado para voar é a mais óbvia!
Em entrevista à (link) Plural&Singular, Adolf Ratzka, o fundador do Independent Living Institute da Suécia e o pioneiro do Movimento de Vida Independente na Europa, falou sobre a implementação desta filosofia num mundo perfeito e a que é feita no mundo real, mas também teceu alguns comentários à realidade portuguesa que, no seu olhar, assumidamente, superficial considerou que pode ser propícia à implementação de mudanças a este nível.
“O impacto da assistência pessoal não se pode medir meramente em custos financeiros para o país, existe todo um impacto não visível de forma direta. O facto de com a assistência pessoal as pessoas com diversidade funcional poderem sair à rua, socializar, ter atividades de lazer, estudar e trabalhar, faz com que sejamos mais vistos, e com isso haja uma maior consciencialização de que temos necessidades. Tudo isto funciona como uma bola de neve que vai crescendo”, Diogo Martins do Centro de Vida Independente.
Um livro da poesia inglesa de Fernando Pessoa foi o gatilho para a criação de uma banda de rock, Alexander Search, em que os músicos, tal como o poeta, assumem personagens e cujo álbum de estreia foi editado em 01.07.2017 (agorinha: tem menos de um ano).
Alexander Search é o nome do projecto, do disco de estreia e também é o nome de um dos heterónimos ingleses de Fernando Pessoa, “pessoa inspiradora” para o pianista e compositor Júlio Resende.
“Uma vez comprei um livro da poesia inglesa de Fernando Pessoa, fiquei muito tocado e muito perturbado com o que li, e inspirou-me para trazer ao de cima uma ideia antiga de ter uma banda de rock, com letras em inglês”, contou Júlio Resende, em entrevista à agência Lusa.
Há cerca de dois anos, o músico começou “a construir canções, uma atrás da outra”, tendo depois chamado quatro “companheiros de viagem musical”, o cantor Salvador Sobral, o músico eletrónico André Nascimento, o baterista Joel Silva e o guitarrista Daniel Neto.
Alguns poemas foram usados na íntegra, mas outros não. “Isto é música, as letras foram sacrificadas à música, porque é um disco. A música é o primordial aqui”, referiu Júlio Resende, considerando que “a carga juvenil e rebelde, nalguns dos poemas”, remete para o rock.
“A poesia só por si tem uma atitude rock, de alguma catarse”, defendeu.
O pianista é secundado por Salvador Sobral, para quem a poesia em causa “é uma poesia de Fernando Pessoa que está viva, imatura também às vezes, rebelde e inconsciente na sua adolescência, inocente também”. “Acho a música rock super adaptável a este tipo de poesia”, disse.
Na banda, cada um dos músicos assume uma personagem, que, segundo Júlio Resende, “está continuamente em processo, como estavam as personagens de Fernando Pessoa”.
Salvador Sobral “foi o primeiro a encontrar uma identidade mais assinalável” – Benjamin Cymbra. “Adorei logo a ideia, gosto de sair de mim, de ser outra pessoa, com outras características de personalidade, outras roupas que nunca usaria o Salvador Sobral”, afirmou entusiasmado à agência Lusa.
Com a ajuda da figurinista Maria Gonzaga, criou a roupa de Benjamin Cymbra, “um fato de época do fim do século XIX, inicio do século XX”, que veste nas atuações.
Salvador Sobral idealizou Benjamin Cymbra “mais sério em palco”, ao contrário dele que é “super louco”. “Mas percebi que, no palco, não dá para fugir muito de mim, porque sou eu e quero expressar-me daquela maneira. Achei que ele podia ser mais sério, mas não consegui. Então ele é muito posto, mas quando chega ao palco sou sempre eu”, confessou.
Benjamin Cymbra tem características de personalidade que Salvador gostava que fossem suas: “É mais comedido, uma pessoa super ponderada, mais sensata”. “Eu gostava de ser não tão impulsivo ou não tão inconsequente”, partilhou.
Já Júlio Resende criou Augustus Search, “um pescador de Province Town, cidade piscatória norte-americana para onde foram muitos portugueses” e onde o pianista “esteve para nascer”. “Achei piada a isso e transformei-me em Augustus, pescador. Tudo o resto da biografia está um pouco em construção. A personalidade está a ser construída e a do Júlio também, felizmente”, referiu.
A “possibilidade de mutação, aceitar a mudança e a incoerência” agradam a Júlio Resende. “Acho que o rock e a incoerência estão também ligados”, disse. E Salvador Sobral reforça: “A própria poesia de Fernando Pessoa sempre foi muito incoerente”.
“Ele não se importava de contrariar-se no mesmo poema. Acho que até há um poema que fala de contradição e eu adoro isso. Uma pessoa que não tem medo de contrariar-se e que se contraria no próprio poema é genial, só um génio é capaz de fazer isso”, defendeu o cantor.
No projeto há mais três personagens: Sgt. William Byng (André Nascimento), Mr. Tagus (Joel Silva) e Marvell K. (Daniel Neto).
Para encontrar o vocalista, Júlio Resende avaliou “30 candidatos”. “Houve pessoas a cantar canções da Eurovisão, mas há dois anos as músicas não eram grande coisa. Desses escolhi 15 e disse: aquele que pagar mais fica na banda e assim foi, como sabem ele é um homem abastado”, contou o pianista, com ironia, fazendo referência à vitória de Salvador Sobral este ano, no Festival Eurovisão da Canção, que o colocou sob forte atenção mediática.
Salvador Sobral corrobora a fantasia, mas sublinha que é rico “em outras coisas”. “Quando vou na estrada, tenho um carro do ano 2000, as pessoas olham para mim e perguntam: ‘Como é que tens esse carro?’ Acham que uma pessoa aparece na televisão e é riquíssima”, contou.
A estreia dos Alexander Search ao vivo está marcada para 13 de julho, no festival Super Bock Super Rock, em Lisboa, no entanto a banda atuou em novembro de 2016, na Casa Fernando Pessoa, no encerramento do ciclo “Dias do Desassossego”.
Quem achar que poderá ouvir no festival o tema “Amar pelos dois”, que deu a Salvador Sobral a vitória na Eurovisão, desengane-se.
No concerto “não haverá espaço para nada” dos outros projetos dos cinco músicos, tal como nos outros espetáculos “também não há espaço para Alexander Search”, que é só mesmo rock com palavras de Pessoa.
Organização eficiente, projecção conseguida, nível geral das canções a concurso sofrível e o mesmo protagonista de há um ano: Salvador Sobral. Ganhou a canção israelita de Netta, mas foi dele o momento musical da noite no Festival Eurovisão da Canção em Lisboa.
Há um ano concorreu e venceu. E este ano, sem competir, voltou a conquistar. Ouvidas todas as canções da noite não se vislumbrou outra participação que tivesse o mesmo nível. Foi ao intervalo que Salvador Sobral, na companhia do ídolo Caetano Veloso, e do pianista Júlio Resende, voltou a Amar pelos dois, lidando com a nudez musical, o quase silêncio, a curva das palavras, conseguindo, os três, criar qualquer coisa elevada, íntima, comovente. Antes havia cantado Mano a mano, o novo single, e deu-se a mesma simbiose entre piano, voz, espaço e emoção. Há dias, em conversa com ele, havia-nos dito que não acreditava que a sua vitória no ano passado viesse a alterar o padrão musical do festival, como alguns, romanticamente, chegaram a antecipar. E assim aconteceu. Tudo como se previa. Profissionalismo estilizado. Sonoridades pop internacionais que tentam apenas ser funcionais. Música europeia burocrática, a que falta alma, conceitos, nervo e um contexto sociocultural que as afirme como vida e não apenas como mero produto descartável. É verdade que houve canções que revelam inquietações humanitárias ou inclusivas, como a francesa, a italiana ou a irlandesa, e que é sempre relevante retirar leituras sociopolíticas das actuações ou votações, da mesma forma que pode ser divertido observar essa competição à parte que são as prestações mais excêntricas, como a húngara, a israelita ou a moldava. E no entanto, paradoxalmente, apesar da agitação e diversidade estilística, do metal às baladas R&B americanizadas, que as canções emanam, parece tudo monocromático, porque exteriorizado. É como se tudo fosse estranho às próprias canções. É a encenação que as serve e não o contrário. Observa-se o seu interior e não está lá quase nada. Vazio. Dessa forma, genericamente, o que se ouviu foi sofrível. Entre algumas excepções, como a canção francesa, alemã ou sueca, esteve também a portuguesa, O jardim, defendida por Cláudia Pascoal e Isaura, apesar do último lugar. Não criaram grande empatia até porque a pesada herança e as comparações com Salvador a isso impeliam, mas é uma canção pop electrónica que produz envolvimento, através da simplicidade dos movimentos harmónicos. No meio do artifício reinante, a forma honesta como as duas portuguesas defenderam a sua canção foi salutar. No final, acabou por ganhar a exuberância pop da canção de Israel, interpretada por Netta, prevalecendo a votação do público, dando por terminada uma cerimónia que começou muito bem com fado. Na abertura, Ana Moura e Mariza trataram de mostrar com desenvoltura o lado mais consolidado e poetizado do país, enquanto Branko (na companhia de Sara Tavares, Dino D’Santiago, Mayra Andrade e Plutónio) ou os Beatbombers (DJ Ride e Stereossauro) trataram de expor uma identidade mais cosmopolita, em construção, mas talvez até mais ajustada à realidade do país de hoje. De resto, foi uma noite em que a RTP voltou a mostrar estar ao nível do que se lhe exigia. Apesar do incidente de segurança quando um homem invadiu o palco durante a actuação da inglesa SuRie, o que se viu foi um excelente palco, luzes, realização e som. Um quarteto de apresentadoras (Daniela Ruah, Catarina Furtado, Sílvia Alberto e Filomena Cautela) que se revelou eficaz. E uma dupla de comentadores (Hélder Reis e Nuno Galopim) que tinha a difícil tarefa de ser viva sem ser histriónica, adicionar conhecimento sem se focar no que é lateral, e conseguiu-o, o que, diga-se, está longe de ser a norma em acontecimentos deste género. Ficou a ideia que, em termos globais, a organização, não só na cerimónia, como nos dias que a antecederam, esteve ao nível do melhor que já se fez neste âmbito. Apesar do investimento na operação ter sido o menor desde 2008 (cerca de vinte milhões de euros), a verdade é que, ainda assim, representou um grande esforço para a televisão pública portuguesa. Especular-se-á sempre como olhar para um evento deste género: mera despesa ou investimento, tendo em atenção a audiência gigantesca, a cobertura de mais de mil jornalistas, os alojamentos esgotados, o comércio agitado, enfim, a projecção do país, a cadeia de valor do turismo acrescentado e o impacto económico global do evento. Mas nem tudo se mede por números. Na forma como se mostrou o país não se evitou o traço grosso — inevitável num acontecimento de massas como este —, mas ainda assim prevaleceu quase sempre o equilíbrio, tentando-se abranger múltiplos olhares, experiências, patrimónios e formas de sentir, misto de história e agitação do presente. Por último, há que referir que nada disto teria sido possível se a RTP não tivesse encetado no ano passado um trabalho de revisão do modelo como era encarado o festival da canção, elevando nitidamente a fasquia. Depois foi com Amar pelos dois, a canção que acabou por atribuir sentido ao que se estava a fazer, acontecendo no momento certo e mostrando o caminho. Espera-se que não seja pelo último lugar na classificação deste ano que agora se vacile. Os irmãos Sobral venceram no ano passado, obrigando à organização este ano do evento em Portugal. Já está. Perdemos. Mas a organização convenceu e mostrou-se música portuguesa digna num acontecimento em que essa qualidade nem sempre está presente. Ganhámos, outra vez.
Não percebo, porque é que o filme não tem nem nos placards publicitários algum comentário ao Eusébio.
Sim Ruth foi o nome de código usado para entrar em Portugal e no BENFICA sem se dar por ele mas se queres vender mais explicas que o filme é sobre a vida dele... do melhor jogador português de todos os tempos: Alternativo, alternativo mas... (!?).
É uma boa maneira de fazer as pazes com o que não foi o Benfica este ano!
O actor Igor Regalla faz um papelão num elenco de qualidade, muito bom: aconselho!
Cumpre-se um ano sobre a sua vitória na Eurovisão. A realização em Portugal da nova edição, decorrente desse triunfo, é o culminar desse processo. Nesse contexto, olha para esta semana como sendo de celebração ou de libertação?
É uma boa pergunta. Parte de mim espera que sim, que essa libertação aconteça. Espero passar o testemunho e deixar de ser encarado como o vencedor do festival — porque vai haver um novo ganhador — e voltar a ser apenas o Salvador Sobral da música. Parte de mim tem esperança de que isso aconteça. O ideal seria que a Cláudia Pascoal e a Isaura ganhassem para Portugal, embora já não me livre de ter sido o primeiro a fazê-lo. Acha mesmo possível que Portugal volte a ganhar?
É difícil pelas questões políticas e até práticas, porque não sei se teríamos dinheiro para voltar a receber um festival destes. Assisti à final do ano passado em Londres e sentia-se que entre os ingleses reinava a ideia de que iriam ficar inevitavelmente mal classificados por causa do “Brexit”. A dimensão política acaba por ter peso no resultado final?
Tem peso, mas não diria que é decisivo. Agora há países que votam preferencialmente noutros, a partir dessas lógicas. Ficou a ideia de que, independentemente dessas lógicas, ganhou em conjunto com a sua irmã no ano passado porque a canção era a melhor. Distinguia-se das outras, para além de haver a personalidade da sua interpretação e o carisma, que também conquistaram. Teve essa consciência na altura?
Tive a plena noção de que prevaleceu a aposta na diferença. É normal. Quando as pessoas comem todos os dias hambúrguer, de repente, um dia, comem, sei lá, um peixe grelhado, e aquilo faz-lhes sentido e gostam dessa mudança, trazendo as coisas outra vez para o simples e para o despojado. Aquela canção respirava no meio daquele foguetório, e as pessoas sentiram-no e valorizaram-no. Era uma canção rica harmonicamente, melódica e liricamente. E também emocionalmente. Tinha conteúdo. Era a melhor canção e não tenho vergonha de o dizer, só porque sou eu que a canto. É verdade. Era mesmo a melhor.
Quem já o viu em palco percebe que tem uma grande capacidade em encaixar-se nas canções, fazendo-as suas de imediato. Isso é qualquer coisa que lhe sai de forma intuitiva ou foi sendo trabalhado com afinco, ou um pouco das duas?
Uma psicóloga disse-me: “Tens muita sensibilidade para perceber as pessoas, e isso é bom porque consegues perceber o que estão a sentir, mas também é mau porque às vezes podes manipulá-las.” Por isso não sei muito bem responder. Parece-me que em mim se confunde aquilo que sai de forma espontânea com aquilo que pode ser também um mecanismo de chegar às pessoas com qualquer coisa que sinto que posso partilhar com elas para lhes agradar. Algures, entre aquilo que quero e o que as pessoas querem, deverá estar a verdade. Mas é totalmente genuína essa entrega. Quando estou contra alguma coisa, insurjo-me imenso. Ainda agora, numa entrevista a uma TV russa, disse de forma peremptória que não faria uma coisa que queriam que fizesse. Portanto, as coisas partem sempre de mim.
Procura talvez a empatia, mas existem opções que são nitidamente suas e reveladoras. Por exemplo, quando escolhe interpretar canções da Joni Mitchell perante uma multidão que, na sua grande maioria, nunca ouviu falar dela.
Sim, é verdade, sei que a maior parte daquelas pessoas não a conhece. Mas não é apenas aí que esticamos a corda. Fazemos imensos solos nos concertos de 20 minutos ou coisa que o valha. Ou seja, fazemos o que nos apetece, o que é óptimo. E as pessoas estão abertas. O mais incrível é isso. É perceber que estão disponíveis para serem surpreendidas. O problema é que a maior parte das rádios só lhes oferece porcaria.
Foi dizendo que tinha muita dificuldade em lidar com a fama. Um ano depois, como é que encara o que aconteceu?
Olho com mais tranquilidade. Antes bateu-me muito mal tudo aquilo, a fama completamente repentina. Se pensarmos, não deve haver muitos casos na história deste país de uma fama assim tão instantânea. Por norma, a coisa é gradual. Não foi o caso. De repente, num dia, por causa de uma canção, tornei-me conhecido. Não estava preparado. Quando cheguei a Portugal, depois da vitória, foi duro. Fartava-me de chorar. Dizia para mim próprio: “O que é que fui fazer?” Não podia sair à rua. Mas depois o tempo foi passando, estive todo aquele tempo no hospital por causa da operação e as pessoas foram percebendo, mais ou menos, como sou, e respeitam-me. Já perceberam que não gosto de tirar fotos, por exemplo. Dizem que gostam muito do meu trabalho e eu agradeço. É simples. Já estou mais em paz com isso, até porque a Eurovisão me trouxe muitas coisas boas. Fui tocar a festivais de jazz onde nunca sonharia tocar. Toquei por Espanha em teatros lindíssimos. Enfim, coisas que não imaginava e que devo à Eurovisão. Portanto, existe uma relação de amor-ódio, mas na balança do que esta experiência me trouxe, vislumbro mais coisas positivas do que negativas.
Não era fácil, pela fama repentina ou pela saúde, gerir a sua personapública. Houve polémicas e interpretações sobre afirmações suas, mas preservou-se, sem deixar de falar de coisas controversas, ou até íntimas. Foi muitas vezes desarmante, outras irónico ou mesmo cáustico, mas sempre íntegro. Pareceu-nos que acabou por lidar bem com a fama.
Obrigado. Fiz um esforço enorme para isso. A sério. Dava por mim a pensar, em diferentes contextos, o que é que posso dizer aqui? Ou o que é que deveria dizer aqui? O que é que posso acrescentar? Ao mesmo tempo, como é que posso manter a minha intimidade e privacidade? Como se faz? Foi um esforço meu e também da minha equipa, de perceber, dentro do que era possível, e por paradoxal que pareça, como ser o mais discreto possível, sem deixar de tentar ser pertinente de alguma forma.
Mesmo no concerto do Estoril, que antecedeu o internamento, onde existia uma forte componente emocional, com desejo de amparo do público, sentiu-se essa justeza.
Sim. Mesmo no hospital, as coisas poderiam ter resvalado, e isso não aconteceu. Existem sempre aquelas pessoas que escrevem e relatam as suas experiências nesses contextos, mas eu não sou essa pessoa. Nem sequer os meus amigos via no hospital. Era só a minha família. Sempre quis o máximo de tranquilidade e discrição. Nesse sentido, sim, é verdade, tudo o que aconteceu à minha volta poderia ter sido muito pior e não foi.
Uma das muitas coisas boas que lhe aconteceram foi ter conhecido Caetano Veloso, com quem vai cantar no sábado, na cerimónia final do festival. Como vai ser isso?
Porra! Sei lá! Acho que vou desmaiar. É pena, porque não estou a conseguir aproveitar por inteiro o momento. Estou muito nervoso, o que é uma chatice. Antes nunca ficava nervoso e agora não durmo nada. É surreal. Sempre ouvi o Caetano. É a minha maior referência. A seguir ao Chet Baker, que já não posso conhecer, o Caetano é o máximo. Depois conheci-o e ele é uma pessoa humilde, sem merdas, um tipo que adora música e que está uma noite inteira a tocar. Quando o fui ver ao Casino Estoril, depois do concerto, nos bastidores, ele vira-se para mim e diz: “Cara! Não cantei bem porque você estava no público!” Eu só me ria, a pensar, mentiroso, com 75 anos e continua a puxar pelos agudos e graves de uma forma que não dá para acreditar! Então, tudo isto é surreal. Naturalmente, cantar com estas pessoas que tanto admiro devo-o, sem dúvida, à Eurovisão.
O que é que vão cantar em conjunto?
Ainda não sei se vamos cantar o meu novo single, que se chama Mano a mano, e que vai sair agora, com letra da Maria do Rosário Pedreira e música do Júlio Resende. O que está certo é que vamos cantar o Amar pelos dois, com o Júlio ao piano. É uma raridade na Eurovisão, haver alguém a tocar mesmo um instrumento, porque a base instrumental é sempre em playback.
Ninguém faz nada acontecer sozinho, mas é inegável que o renovado interesse em Portugal à volta da Eurovisão, para além da organização desta semana, muito exigente do ponto de vista financeiro, a si se deve. Sente esse grande encargo?
Sim. Sabe o que penso muitas vezes? É horrível o que vou dizer, mas é verdade! Penso que se houver um ataque terrorista a culpa é minha! Em Lisboa, felizmente, nunca aconteceu nada do género, e dou por mim a ter esse tipo de pensamentos. É uma parvoíce, mas pronto. Mas, sim, tudo o que envolve esta semana é surreal. O turismo aumentou 40% em Maio, o que é uma brutalidade. Nunca pensei que tivesse esta dimensão. É uma verdadeira seita... [risos] Por estes dias, na rua, grupos de estrangeiros vêem-me e começam a chamar-me. É estranho. Duzentos milhões de pessoas vêem isto. É uma loucura. E agora a China e os EUA também vão transmitir, portanto vai crescer.
Como tem sido o regresso à música depois da operação?
Tenho tocado com diferentes bandas, em particular no espaço da Fábrica Braço de Prata, para treinar, porque a minha voz sofreu algumas alterações. Fazia retenção de líquidos, tinha uma barriga muito grande, e o diafragma estava alto. Agora, como é óbvio, perdi os líquidos, o diafragma desceu e a voz alterou-se. Desde Março — sem dizer nada a ninguém — que ando a tocar. Tenho agora uma banda que se chama Impro.Jazz e estamos a fazer coisas com o grupo de teatro Os Improváveis. Eles estão a actuar e nós (eu, o José Salgueiro e o Ruben Neves) a tocar, improvisando em conjunto. É giro. Depois tenho um grupo de música da América Latina, os Alma Nuestra, que apresenta boleros tocados em jazz com arranjos nossos. Depois existe também a minha banda, claro, e muitos ensaios também com o projecto Alexander Search. E é isso. Tocar. Nomeou várias formações diferentes, o que não é inusitado no universo do jazz, mas suponho que à sua volta existam pessoas a aconselhá-lo para se concentrar apenas num só projecto, ou a assumir apenas o seu mais pessoal
Sim, completamente! Mas eu adoro tudo! Também levo na cabeça por conciliar o tocar em auditórios com o tocar na Fabrica Braço de Prata. Mas, por enquanto, ainda consigo aliar isso tudo. Gosto de demasiadas coisas e de muitos músicos, para só ter a minha banda. É como disse, é natural um músico de jazz tocar com várias formações. O que não invalida que tenha o meu projecto como Salvador Sobral. Em princípio vai haver um álbum em Outubro, mas agora quero é tocar. Vou muito ao cinema também. Ando a ler imenso. Vou muito a Paris passear e ler. É o que tenho feito. Em Paris sou totalmente anónimo, o que é óptimo.
Essa multiplicidade de projectos pode também levar a que as pessoas olhem para si mais como intérprete do que como compositor, ou isso para si não é sequer uma questão?
Cheguei a uma conclusão há pouco tempo: a minha capacidade como compositor está aquém da capacidade como intérprete. E estou em paz com isso. Claro que posso melhorar, mas no próximo disco não vou ter tantas composições minhas como no primeiro. O próximo disco só vai ter três ou quatro canções minhas. Pedi ao Gonçalo M. Tavares, que fez um poema incrível, e o Mário Laginha fez a música. Pedi também ao Miguel Esteves Cardoso, que disse logo que sim, mas está a demorar, e o Mário Laginha também irá musicar essa. Depois existem músicas do Júlio Resende, uma outra da minha irmã ou do Samuel Úria. Coisas diferentes que irei interpretar.
À boleia da sua vitória criou-se a ideia de que a música portuguesa estaria numa fase de grande efervescência, o que até será verdade do ponto de vista da qualidade e diversidade, mas a verdade é que continua a haver poucos criadores com uma vida economicamente sustentável.
Sim, é verdade. São tempos difíceis. Os CD não vendem. As editoras têm dificuldade em investir em artistas porque sentem que o retorno é difícil. Conheço músicos tão talentosos que não o conseguem. O meu amigo Diogo Picão, por exemplo, tem um disco pronto e aquilo não avança. Não há maneira. Claro que há muitas excepções, como a Ana Moura ou o António Zambujo, mas o panorama está longe de estar consolidado. Depois existe o mercado externo. Claro que a Eurovisão terá ajudado alguma coisa, mas a música portuguesa continua por descobrir lá fora, mas pode ser que isso mude. Afinal, estamos na moda.
A exportação será um dos seus principais objectivos?
Sim, agora sou representado por uma agência internacional. Para já vou fazer uma digressão por Espanha e também vamos à Polónia e Eslovénia, portanto existe esse desejo de me internacionalizar. Nesse campo em particular, como aqui, a Eurovisão abre algumas portas e fecha também outras. A luta é mostrar que sou mais do que a Eurovisão. É necessário perder essa etiqueta. Por exemplo, apetecia-me ir tocar a França, mas não queria que fosse algo circunscrito ao circuito dos emigrantes. Nada contra, mas não sou esse artista. Não quero ficar vinculado como o vencedor da Eurovisão, mas sim como o músico Salvador Sobral. Mas estou disponível para tudo. Se as pessoas ouvirem aquela canção e as outras dos discos, é bom na mesma. O disco que fiz em Dezembro, o Excuse Me, foi o mais vendido em Portugal e tem um solo de bateria de seis minutos. Fico feliz por isso. Sei que compraram o disco pelo Amar pelos dois, mas pelo menos ouviram aquele solo de bateria algumas vezes! E isso deixa-me feliz, poder levar o jazz às pessoas.
Apesar de a canção que lhe deu fama ser em português, não faltará quem pense que, para o propósito da exportação, seria melhor adoptar o inglês. Como se posiciona?
O disco que deverá sair em Outubro terá uma música em francês, outra em espanhol e uma outra em inglês. Portanto, no fim de contas, será o português a predominar. E é isso. O verdadeiro idioma é a música, não é a língua. Posso cantar em qualquer língua, se a canção for bonita e me fizer pleno sentido. Tem facilidade em se colocar na pele das canções, mas ainda assim, dentro da paleta de emoções passíveis de representar, existem algumas que lhe serão mais difíceis de expor. Não se sente raiva, por exemplo, nas suas canções. Não é bem. Faço isso muitas vezes. Se existem canções que pedem uma interpretação enraivecida, vou lá. No disco ao vivo, na canção Nada que esperar, no final começo aos gritos em espanhol a falar da fama. É um protesto contra a fama. No poema que o Gonçalo M. Tavares escreveu para o novo disco — vou revelar — o poema começa logo com uma frase que acho que diz tudo: “A fama é uma forma falsa de sair à rua.” Bonito, não é? Acho que espelha tudo o que é a fama. Em Portugal não vivo num mundo real. Saio à rua e as pessoas tratam-me demasiado bem, e por causa da minha saúde são muito protectoras. Se peço um hambúrguer, são capazes de me dizer: “Tem a certeza?” Já me aconteceu! Tive de dizer que eu é que sabia o que era bom para mim. Não vivo no mundo real, vivo no mundo dos famosos, que é muito mais simpático. Por isso é que adoro ir para Paris, ainda por cima eles lá são uns cabrões! Tratam-me mal e eu adoro...[risos] É a minha quota-parte de necessidade de ser maltratado. Mas essa relação que as pessoas hoje em dia estabelecem consigo tenderá também a transformar-se. Espero que sim. Provavelmente virei a ter saudades deste período. Agora entro num táxi e são capazes de me oferecer a corrida, como já me aconteceu, e dou por mim a pensar: agora que posso pagar é que me vêm com estas delicadezas, mas há dois anos, quando andava aí a cantar nos bares e não tinha dinheiro nenhum, népias! Mas nada a fazer. É assim. Acho que sim. Não tanto pelo festival em si, mas pelo simbolismo de várias outras coisas. O estar saudável é importante, claro. Logo a seguir ao festival, vou tocar aos Açores. Portanto, sim, o festival simboliza o fim deste ciclo, marcado pela vitória, pela fama exagerada e pela operação. Abra-se um novo ciclo! Aquando da operação, o cenário que lhe era descrito como sendo o mais provável dava-lhe confiança ou predominava a incerteza sobre o que poderia acontecer? Agora olho para trás e não me lembro de nada. A sério. A minha mente decidiu apagar quase tudo. Não sei como consegui viver ali quatro meses, naquele hospital, entre paredes. Antes de ir para o hospital, estava num quarto, às voltas, a ler. Mas, sim, obviamente que tive medo e existia incerteza. O momento logo a seguir à operação foi também difícil. O corpo fica maluco. Não percebes o que está a acontecer. É um corpo estranho que entra dentro do teu corpo. É uma loucura, com sintomas estranhos que vais tendo. Depois da operação foi complicado. Só agora é que a minha voz está a recuperar, portanto, sim, o festival representa o fim de um ciclo e o início de outro. Sai de cena o vencedor da Eurovisão e fica apenas o Salvador Sobral da música. Ouviu as canções concorrentes à edição deste ano? Não. Apenas conheço a canção portuguesa e a de Israel, porque o YouTube me obrigou a vê-la. Coisas da tecnologia. De repente, o YouTube achou que eu iria gostar da canção de Israel, e então abri aquilo e saiu-me de lá uma música horrível. Eu pensei: YouTube, muito obrigado, mas não é por aqui. Felizmente, este ano, não tenho de ouvir nada. Não creio que tenha mudado alguma coisa. No ano passado, as pessoas diziam: “Agora que ganhaste, isto vai mudar!” Não creio. Talvez no futuro.
Sozinho ou com olhares que melhoram, é essencial começares bem o dia: acompanhado ou contigo e tua imaginação, deixa-a levar para cima e para o alto, um passo leva ao outro, quando são bem dados melhoram o caminho.
Tudo muda se pensas fora de ti em outra/os… o nosso umbigo ocupa muito espaço…
O que comeram?
Como encararam os olhares, e os mo(vi)mentos longe!?
Tomaste banho ou não quiseste gastar água!?
O que vestiste e como?
Descontraído ou mais preocupado!?
Esvaziaste a barriga com alívio?
Tranquilos, conversadores ou com vontade de voltar para a cama e dormir?
Bem dispostos?
Que vão fazer hoje?
Juntos e/ou separados?
Juntos sempre em teoria mas na prática cada um espalha o seu Amor por seu lado.
Como encaram/s essa tarefa?
Não sei se à tranquilidade falta agitação:
Há um conjunto de gestos que todos fazemos, cada qual os seus, aprimorando os seus gostos, para fugir ao nosso Ego. A vida vai avançando com suas características: onde vives, com quem vives, porquê!? Idade, género, cultura (para exemplo: ciências, artes, humanidades e economia), religião... há imensas coisas, por exemplo, o teu nome próprio e apelidos podem entregar-te estatuto e personalidade conforme lidas com eles. Com quem vives, mais ou menos, torna-se essencial em quem és e no que escolhes fazer da vida.
Os filmes que vês, a arquitectura e o conforto, mobilidade e acessos dos sítios onde passas mais tempo, quem cuida de ti, como cuidam, se vais a museus, se viajas muito ou pouco e por onde, a tua apetência por piqueniques, se és mais triste ou alegre, expansivo ou retraído, com quem falas e sobre o quê, se és muito sociável ou não, etc, etc, etc, tudo te forma e faz melhor ou pior, diferente.
O que fazes nos tempos livres, como ocupas o tempo livre, se imaginas/tornas o mundo melhor, o que queres, fazes por isso, em que te empenhas e como, se comunicas muito ou pouco.
A tua personalidade vai-se criando em todas as tuas pequenas escolhas e gestos: vais escolhendo o teu caminho melhor e/ou pior, retas, curvas, encruzilhadas, subidas e/ou descidas, solavancos, barulho, silêncio, saúde, doente. sonolento, desperto, com céu estrelado e aberto, nublado, chuviscando, ventoso, calor e/ou frio.
Cada um tem o seu caminho, a sua estrada com períodos mais lentos ou rápidos, convém-te ires encontrando formas de te ires enriquecendo e distraindo olhando para o outro ao lado, distraíres-te de ti e ganhando novos sabores/gostos.
Coisas como a música, a leitura, a escrita, a amizade, os desportos, a cozinha, a televisão; cada pessoa, cada sonho, cada palavra, cada texto, cada amor... sei lá, tudo é muito, gosto da vida e suas curiosidades.
Lembra-te de olhares para as estrelas e não para baixo, para os teus pés. Tenta encontrar/achar sentido no que você vê e pergunte sobre o que faz o Universo existir. Seja curioso!
A
memória
(link) é curta e agora (quando a nau vai torta) aparecem os
abutres e os corvos, à procura dos restos cadavéricos dos
marinheiros.
Já o mister Rui Vitória é mau treinador, cagarolas e é
capaz de embarcar rumo à Arábia
Saudita atrás de dinheiro fácil...
Ele
diz que não e diz
«Tenho
contrato de dois anos com o Benfica e tenho um enorme prazer em
representar este clube. Quando vim para o Benfica, não disse que ia
ganhar nada… disse que ia trabalhar muito. Não sou rato do porão,
nem vou fugir daqui para fora! Há muito tempo, desde Janeiro, que
estou com o presidente a preparar a próxima época. Num grande clube
é preciso trabalhar o presente e também o futuro. Está tudo
planeado para próxima época e não tenho mais nada na cabeça», em
conferência de imprensa.
Ele é dos nossos, defende sempre a equipa e cada jogador em primeiro lugar, criou um, criou um 'um por todos e todos por um!', teve vários gestos em que mostrou que era ELE quem geria e bem a equipa dentro do balneário.
E prosseguiu:
Este
ano as coisas não correram bem e sou o primeiro a assumir as
responsabilidades. Não ando com medalhas ao peito, mas se tiver de
as meter, meto - tenho seis títulos no Benfica; ajudei o clube com
muitos milhões; muito trabalho foi feito com jogadores da formação;
a assistência nos estádios… Nada me envergonha, nem a mim nem
jogadores. Época não correu bem? Mas se formos a ver o Benfica está
a fazer uma das melhores décadas da sua história graças ao
trabalho deste presidente. Olhar de forma reduzida é ver árvore e
não a floresta. «As pessoas são livres de fazer as análises que
quiserem. O meu futuro é: dois anos contrato com o Benfica e estamos
a preparar a próxima época. Às vezes as derrotas são caminho
para novas vitórias», rematou.
O
discurso seguiu a mesma linha quando questionado sobre o plantel da
próxima época: «Esta não é a melhor altura para falar disso.
Quando terminar o campeonato falaremos disso. Temos um jogo amanhã e
não vou falar da equipa do próximo ano. Estamos a preparar a equipa
para a época que vem.»
O
futebol é jogado por pessoas e ele é um treinador jovem (48 anos) humanista e sabe pensar no homem como um todo, como poucos.