29 janeiro 2021

Notícias do túnel (por Isabel do Carmo)

A médica Isabel do Carmo esteve internada dez dias com covid-19 no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Este é o seu testemunho, que é também um alerta e um gesto de reconhecimento.

Eu, médica, observadora diferenciada, estive internada com o diagnóstico de covid-19 durante dez dias nas enfermarias do Hospital de Santa Maria e penso que o meu testemunho pode servir de alerta e de um enorme reconhecimento. Alerta para o risco real e actual (rastrear e confinar é preciso). E dar graças à vida pela existência do nosso Serviço Nacional de Saúde.

Estive a trabalhar e a ver doentes até ao dia 23 de Dezembro, com todo o cuidado, e não foi por aí que o vírus entrou. No dia 24, juntámo-nos seis adultos e três crianças e, apesar das máscaras e das distâncias, alguma imprudência abriu por momentos a porta ao invisível. Contaminámo-nos todos e, fiados na falsa segurança do teste simples, alguns de nós multiplicaram o contágio. Os mais jovens mantiveram a sua energia transbordante, os de idade intermédia tiveram muitos sintomas, mas trataram-se em casa, os mais velhos reagiram de acordo com os factores de risco. E foi assim que ao décimo dia de febre e outras queixas o meu colega do Centro de Saúde me ordenou, e bem, que fosse à urgência covid. Se não tivesse ido tinha morrido e esse é o primeiro alerta a manifestar.

Há um momento, determinado empiricamente, em que se conclui, por estatística, que é assim. Não vale a pena correr contra as probabilidades. Claro que foi muito incómodo, muito frio, muito desaconchegado, esperar por ser chamada no pequeno telheiro improvisado no piso das entradas. Fica melhor quem está dentro das ambulâncias, que têm suporte de oxigénio e macas ou cadeiras. Esta condição de espera, este ponto de entrada, seria possível melhorar fisicamente? Talvez. Mas os doentes chegam e não podem ser mandados para trás. Seria possível desviar um meteorito que caísse em cima das nossas cabeças? Só para os encartados e teóricos comentadores, que, eles, preveriam tudo.

Resolveu-se: agora temos o hospital de campanha. Todavia, foi por ali que me salvei. Quando finalmente dei entrada no Covidário, ganhei direito a um cadeirão, a uma máscara de oxigénio e à segurança de ter entrado no circuito. Desde esse momento fui sempre a senhora Isabel, idêntica a todos os outros e nunca, e bem, a médica da casa. Algumas horas depois entrei numa box, com WC e uma porta com grande janelão de vidro. As dimensões comparei-as com outras de outras “boxes” de há muitos anos. Idênticas, mas o janelão e o calor humano pertencem a outro universo. Fiz então uma TAC num dispositivo colocado no Covidário. E é aí o extraordinário. Nunca ao longo de tantos anos de clínica tive conhecimento de tal quadro – os meus pulmões estavam infiltrados de alto a baixo e dos dois lados com múltiplos focos de inflamação, que não deixavam o oxigénio atravessar os alvéolos e passar para o sangue, onde ele é necessário à vida. Sintomas? Poucos. Mas lá estava o oxímetro a mostrar níveis baixos. Aqui reside um grande risco. Esta “hipoxemia feliz” mata. Assim morreu o pai de uma colega minha com 50% de saturação e poucos sintomas. Foi, a partir do nada ou da experiência inicial da China, que os protocolos foram sendo estabelecidos. De madrugada saí do Covidário e fui rapidamente internada nas enfermarias covid, Medicina 2C. Fizeram-me aquilo que está protocolado que se faça: oxigénio, corticóides, broncodilatadores, antibiótico se necessário. Para os meus companheiros de enfermaria, alguns hemodialisados, diabéticos, transplantados, cada protocolo era diferente. No mesmo piso, para além da porta de separação havia mais enfermaria covid, havia a zona dos intensivos e havia a zona dos intermédios com máscara permanente de oxigénio, onde ficou o Carlos Antunes e donde partiu para sempre no dia 19 de Janeiro.

Aquilo a que assisti de serenidade, de eficácia, de competência, ficará para sempre marcado como um momento muito alto da minha vida. Sei que as pessoas todas juntas não somam inteligências, multiplicam. É um fenómeno que faz parte da natureza humana, assim a humanidade sobreviveu. Observei a entrada regular e harmoniosa das assistentes operacionais, dos enfermeiros, dos fisioterapeutas, dos jovens médicos internos e das chefes seniores. Cada um sabe o gesto que tem que fazer, o equipamento em que tem que mexer, o registo necessário, a colheita de sangue a horas, a administração do medicamento. E… sabe também informar. Explica o que vai fazer e porquê.

O meu conhecimento dos espaços das urgências cresceu comigo organicamente. Fiz urgências nos bairros pobres de Lisboa, fiz no Hospital do Barreiro actos clínicos que não passavam pela cabeça de uma miúda de vinte e poucos anos, antes da classificação de Manchester andei de papel na mão a fazer triagem na sala de espera, vi crescer o Serviço de Observações das Urgências de Santa Maria com a Teresa Rodrigues a decidir os gestos urgentes. E lá continua ela a salvar gente. Sofri com os “directos” e culpabilizei-me. Vi o Carlos França instalar finalmente os Cuidados Intensivos. Vi tudo? Não. Não vi nada. Porque bastou o ano de 2020 e o inimigo ultra invisível para perceber que há uma coisa que de facto é um “milagre”: a capacidade de auto-organização, rápida, eficaz, criativa, serena. Era possível fazer tudo isto com requisição civil? Tenho dúvidas. É a cultura que está para trás que explica o “milagre”.

Com as minhas amigas enfermeiras conversávamos por vezes sobre os “territórios”. Pois o milagre também desenhou territórios. Quer isto dizer que reina a paz nos serviços de urgência do Serviço Nacional de Saúde? Não. Esta onda organizada de espaços e de recursos humanos palpita como um corpo que pede respiração. O director da Medicina, Lacerda, vai buscar enfermarias a todo o lado possível, converte serviços e adapta-os. A Sandra Brás supervisiona como um arcanjo os vários espaços e equipamentos covid-19. Os meus colegas dos Cuidados Intensivos, com 85% de lotação, estão no limite, ou seja, na zona das necessárias e rápidas escolhas. Estes doentes não são pneumonias habituais. Têm mais demora de cama (quanta?), têm uso de equipamentos que não existiam antes.

Os meus colegas não estão desesperados, nem aflitos, estão profundamente preocupados, esgotados também, a situação é dinâmica, é preciso fazer opções técnicas. Quando lançam o alarme cá para fora não é um pedido de socorro para eles. É dizer que só o confinamento melhora o problema. É explicar que quanto mais infectados, mais sintomáticos. Entre estes aumentam os de risco e quanto mais risco mais cuidados intensivos. E há uma linha vermelha que percorre este chão e é móvel – a das mortes evitáveis.

Na minha enfermaria, por sinal toda de afrodescendentes, senti no mais fundo da noite que alguém abandonava a Montanha Mágica. Com serenidade. Sem obstinação. É também uma escolha. No dia seguinte a animada Inalda, assistente operacional de São Tomé (já sou efectiva!), a enfermeira Ana, a enfermeira Marta, nos doentes o Sr. C. que ficou meu amigo e é de Cabo Verde, a Dona A., de Luanda, o Sr. D. que também é de Luanda e já venceu muitas coisas, corpos que já foram desejados, já se reproduziram, são a humanidade que ali está. A médica de Medicina Interna, Dra. Patrícia Howell Monteiro, que ainda foi contratada em exclusividade (2008/2009?), é o pilar sólido e sustentável que orienta o Henrique Barbacena, o Renato e o Francisco, que hão-de fazer o exame da especialidade proximamente. Para onde irão? O Renato está a sofrer nos cuidados intensivos, a dar o máximo. O Henrique é também professor de Farmacologia, tive o privilégio que me explicasse coisas sobre vírus. E ausculta à velha maneira, como eu. Conseguimos ter um momento para conversar e a propósito da vida e do ultra invisível contou-me como lera apaixonadamente a Estranha ordem das coisas, do Damásio, livro que a chefe Patrícia lhe ofereceu. Há muitos anos, o António Damásio também foi da nossa incubadora, o Hospital de Santa Maria. E, a propósito, eu e o Henrique conversámos sobre a dinâmica da vida, a necessidade de não fazer classificações mecanicistas. E reganhei a grande esperança do aviso da tal frase do Abel Salazar: “Um médico que só sabe Medicina, então não sabe Medicina.” Estes sabem Medicina e são uma das estruturas do SNS.


Médica, professora da Faculdade de Medicina de Lisboa, membro do grupo Estamos do Lado da Solução

28 janeiro 2021

AH, les femmes... Madeleine Pauliac.


Les Filles de l'Escadron bleu (2018) réalisé par Emmanuelle Nobécourt évoque longuement la vie de Madeleine Pauliac.

25 janeiro 2021

Carta de despedida para o meu eu negativo

Raul Minh'alma (link) é quem escreveu uma companhia noturna viciante (Durante a Queda Aprendi a Voar) lança um desafio que não sei se consagra o pior do meu EU (excesso de egocentrismo!):

Quem és tu?

Sou um recém quarentão, risonho, bem disposto; se não sempre, porque não quero ser pateta alegre, a maior parte das vezes; continuamente à procura de quem  sou; com a maleita do optimismo colada a mim mas avesso a modas.

Se fores Pessoa acho que facilmente  gosto de ti mas não é defeito, é feitio. Acredito no mundo humano de uma forma estúpida sabendo que tem defeitos, com certeza: SE FOSSE FÁCIL NÃO TINHA PIADA!

Gosto da ideia de E SPERANÇA!

Prefiro que sejam os outros a dizer quem sou, podendo sempre mudar.

Qual é o teu sonho?

Só um? Arranjar um emprego giro para um futuro!

O que estás a sentir? 

Que a vida sem limites não existe, não tem piada.
 
O que é que te assusta?

Não sair da cadeira de rodas.

Qual o teu maior medo?

Não estar à altura dos que me rodeiam, são Enormes.

Quais são os teus defeitos?

Falta de saber por onde começar, excesso de egocentrismo trazido pelas terapias; não saber explicar; enfezado; sou distraído; viver muito no mundo da luagostar da maior parte das pessoas.

Quais as tuas qualidades? 

Facilidade em descobrir o lado melhor das coisas, a teimosia, a escrita, o humanismo, gostar da maior parte pessoas, gostar de viver.

És feliz?

Não gosto da ideia de felicidade, parece-me algo oco, bacoco, algo perto de um mundo ilusório, que não existe, tudo tem metido em si parte infeliz e feliz e gosto disso.
Dentro dessa noção acho que sim, tenho poucas razões para ser infeliz... se é que tenho alguma.

Sentes que estás no teu caminho?

Estou a caminho, sim!

Somos todos egocêntricos na base mas há formas boas de lutarmos contra isso e lutarmos pelo nosso altruísmo... 

leitura do país um dia depois...


A abstenção recorde de 60.7 por cento não foi o mais grave da noite: o vírus e já haver um presidente eleito (Marcelo) à partida não serão alheios ao facto; há um crescendo nº de cidadãos que acham que a politica é uma chatice e não acham merecer seu tempo de Ego precioso.

Egos que permitem esta sensação de derrota numa esquerda dividida: Ana Gomes, Marisa Matias e João Ferreira podiam facilmente ter juntado os votos e ter-se entendido em torno de um deles... André Ventura  está na idade de crescer e não teria saído com ar de vitória que não teve!

Vai ser um problema para toda a gente: a ideia de fazer um partido a solo é no Mínimo insólita e nem na direita, nem na esquerda se avizinham aliados.

Uma direita a viver contos de fadas: o CDS morreu e Rui Rio ainda não percebeu que o presidente Marcelo (que ganha e consolida resultado) tem dado apoio à esquerda governativa de que é oposição e joga a solo, vai e vem de norte a sul.

Sem surpresa, Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito Presidente da República, com 60,70%, e conseguiu mesmo subir significativamente, em cerca de oito pontos percentuais, a percentagem de votos com que foi eleito para o primeiro mandato em 2016, quando obteve 52%. 

22 janeiro 2021

Esperança pour Biden!


Amanda Gorman reads a poem at inauguration


When day comes, we ask ourselves where can we find light in this never-ending shade?
The loss we carry, a sea we must wade.
We’ve braved the belly of the beast.
We’ve learned that quiet isn’t always peace,
and the norms and notions of what “just” is isn’t always justice.
And yet, the dawn is ours before we knew it.
Somehow we do it.
Somehow we’ve weathered and witnessed a nation that isn’t broken,
but simply unfinished.
We, the successors of a country and a time where a skinny Black girl descended from slaves and raised by a single mother can dream of becoming president, only to find herself reciting for one.

And yes, we are far from polished, far from pristine,
but that doesn’t mean we are striving to form a union that is perfect.
We are striving to forge our union with purpose.
To compose a country committed to all cultures, colors, characters, and conditions of man.
And so we lift our gazes not to what stands between us, but what stands before us.
We close the divide because we know, to put our future first, we must first put our differences aside.
We lay down our arms so we can reach out our arms to one another.
We seek harm to none and harmony for all.
Let the globe, if nothing else, say this is true:
That even as we grieved, we grew.
That even as we hurt, we hoped.
That even as we tired, we tried.
That we’ll forever be tied together, victorious.
Not because we will never again know defeat, but because we will never again sow division.

Scripture tells us to envision that everyone shall sit under their own vine and fig tree and no one shall make them afraid.
If we’re to live up to our own time, then victory won’t lie in the blade, but in all the bridges we’ve made.
That is the promise to glade, the hill we climb, if only we dare.
It’s because being American is more than a pride we inherit.
It’s the past we step into and how we repair it.
We’ve seen a force that would shatter our nation rather than share it.
Would destroy our country if it meant delaying democracy.
This effort very nearly succeeded.
But while democracy can be periodically delayed,
it can never be permanently defeated.
In this truth, in this faith, we trust,
for while we have our eyes on the future, history has its eyes on us.
This is the era of just redemption.
We feared it at its inception.
We did not feel prepared to be the heirs of such a terrifying hour,
but within it, we found the power to author a new chapter, to offer hope and laughter to ourselves.
So while once we asked, ‘How could we possibly prevail over catastrophe?’ now we assert, ‘How could catastrophe possibly prevail over us?’

We will not march back to what was, but move to what shall be:
A country that is bruised but whole, benevolent but bold, fierce and free.
We will not be turned around or interrupted by intimidation because we know our inaction and inertia will be the inheritance of the next generation.
Our blunders become their burdens.
But one thing is certain:
If we merge mercy with might, and might with right, then love becomes our legacy and change, our children’s birthright.

So let us leave behind a country better than the one we were left.
With every breath from my bronze-pounded chest, we will raise this wounded world into a wondrous one.
We will rise from the golden hills of the west.
We will rise from the wind-swept north-east where our forefathers first realized revolution.
We will rise from the lake-rimmed cities of the midwestern states.
We will rise from the sun-baked south.
We will rebuild, reconcile, and recover.
In every known nook of our nation, in every corner called our country,
our people, diverse and beautiful, will emerge, battered and beautiful.
When day comes, we step out of the shade, aflame and unafraid.
The new dawn blooms as we free it.
For there is always light,
if only we’re brave enough to see it.
If only we’re brave enough to be it.

Sondagem. Marcelo vence Presidenciais à primeira e Ana Gomes é segunda



voto secreto é a garantia de que apenas o votante saberá qual foi a candidatura que escolheu naquele processo eleitoral. É uma forma de evitar pressão sobre os eleitores, e também evitar a coação, garantindo que o voto expresse realmente a vontade do eleitor,

Sou anti estas coisas das influências...  

É importante se o Chega fica em segundo, terceiro ou quarto porque ganha força e é mais novo que os meus 40 anitos (vamos aturá-lo até que a morte nos separe... et las!); o desVentura já teve em tempos, mais novo, posições de esquerda (!?), uma tese de doutoramento de André Ventura, de 2013, criticava expansão do poder das polícias, discriminação de minorias e "populismo penal"... ele muda imenso, na presidência não há coligações mas é importante o que resulte  daí...

21 janeiro 2021

Um reerguer de uma causa democrática


Joe Biden discursa pela 1ª vez como presidente dos Estados Unidos


Parece ser visto como a chegada de um messias mas a situação em que Joe Biden e Kamala Harris (a primeira Mulher vice presidente e negra norte americana) chegam ao poder é de alguém que atravessa o deserto e traz água a um povo a morrer de sede: coronavírus + racismo + alterações climatéricas + Trumpa.

Um país, um povo: é essa união que ele pede porque da união se faz a força!!!



Hoje é dia 21, do ano 21, do século 21: se te faltarem razões para fazeres o bem que seja essa!


20 janeiro 2021

o que é uma Sindemia!? A estudar em baixo...


Não bastava ter o nome de pandemia (que anda para aí um vírus em mutação) transformou-se em SINDEMIA e ainda é só o começo que isto da vida é para valentes, não é para brincadeiras.


Mentalmente subnutridos

Uma vez vacinada a população e virada a página da pandemia, temo que se retome uma lógica de combate às desigualdades sociais sectorial, com políticas públicas que não falam umas com as outras.

A persistência das desigualdades sociais na saúde é um facto sobejamente comprovado, dado que pessoas com maior literacia, melhor estatuto profissional ou com maiores rendimentos têm uma morbilidade mais baixa e uma maior esperança de vida. Portugal, no quadro da OCDE, é, aliás, apresentado como um dos países com maiores desigualdades sociais neste domínio.

Os níveis de pobreza e as condições de vida são, por isso, fatores determinantes para a qualidade de saúde de uma população. A pandemia Covid-19 veio demonstrar esta correlação. Recentemente, Richard Horton, editor-chefe da prestigiosa revista científica The Lancet, vem defender que existe, por um lado, o vírus que causa a doença Covid-19 e, por outro, uma série de doenças não transmissíveis. Estes dois elementos interagem, ampliando e exacerbando os efeitos da pandemia num contexto social e ambiental caracterizado por profundas desigualdades sociais; portanto, na sua perspetiva, devemos considerar a Covid-19 não como uma pandemia, mas como uma sindemia.

Não é uma simples mudança de terminologia, mas uma oportunidade para entender a crise de saúde que vivemos, a partir de um quadro conceptual mais amplo, onde se evidencia que não são só os comportamentos os únicos fatores de risco, mas que outros fatores não-comportamentais, como sejam as deficitárias condições de habitação e de trabalho, têm forte impacto na prevalência dos surtos de Covid em contextos sociais mais desfavorecidos. Foi do domínio público que a pandemia de Covid-19 afetou especialmente os grupos mais desfavorecidos e mais pobres, e as gerações em idade ativa foram as que sofreram maior impacto da crise económica que emergiu espoletada por este vírus. A Covid-19 revelou uma verdade pré-existente mas até então ignorada por muitos: o que acontece num determinado grupo populacional tem efeitos em toda a sociedade. Travar o vírus só tem sido possível através de uma ação concertada.

Ora, esta evidência deve ser vista como um alerta a não desvalorizar, abrindo-se um caminho para se encontrarem soluções e abordagens mais adequadas para as políticas de saúde em Portugal. Isto, numa lógica em que as políticas de saúde devem estar presentes em todas as políticas públicas e sociais.

Escrevo estas linhas porque temo que, uma vez vacinada a população, ultrapassada a Covid-19 e virada a página da pandemia, se retome uma lógica de combate às desigualdades sociais sectorial, com políticas públicas que não falam umas com as outras, que se esqueçam, novamente, que a saúde é interministerial, transversal a todos os setores da sociedade. O alerta que aqui vos deixo podia ter muitos rostos, aqueles que me olham diariamente na minha prática profissional de assistente social numa Unidade de Emergência Social da cidade de Lisboa, mas são rostos silenciosos, sem poder para serem ouvidos. Permitam-me, assim, que lhes possa dar voz. Gostaria, pois, de enfatizar e evidenciar o confronto diário com pessoas com níveis de saúde muito debilitados, que, se não forem ultrapassados, condicionam determinantemente qualquer plano de integração e inclusão social que se possa ambicionar. A perpetuação da pobreza é, também, a perpetuação de doenças. Muitas delas transgeracionais: alcoolismo, toxicodependência, diabetes e doença mental marcam histórias de gerações que me chegam ao atendimento social. A combinação das desigualdades sociais com a problemática da saúde a elas associadas é uma batalha imperativa.

Esta pandemia também abriu uma outra janela, ao dar visibilidade pública à temática da saúde mental: o isolamento, o medo da própria pandemia, o difícil acesso aos cuidados de saúde mental (já escassos antes da pandemia), o desespero pela perda de rendimentos, a nuvem negra de uma forte crise económica começou a rasgar o silêncio que envolveu, até então, as questões da saúde mental, funcionando como “igualizador” social.  Afinal, a doença mental pode bater à porta de todos nós. Bem sei que a doença mental não escolhe classes sociais, mas as principais fundações da saúde mental estabelecem-se numa fase inicial da vida e são mais tarde apoiados por cuidados positivos, elevado capital social, uma estabilidade laboral e a sensação de que “as coisas fazem sentido”. Ora, as precárias condições de vida durante a infância e adolescência, os conflitos pessoais graves no seio familiar, a falta de condições da habitação, condicionam, irremediavelmente, a saúde mental de que cada adulto virá a ter.

Sem a implementação efetiva, por exemplo, de redes de saúde mental a nível das comunidades e na prestação de cuidados de boa qualidade e socialmente inclusivos, repetiremos erros invariavelmente. No geral, os hospitais psiquiátricos perderam o seu papel central nos sistemas de cuidados, mas os centros de saúde não incorporaram esta valência.

As depressões têm um impacto dramático na economia e na sociedade. O transtorno depressivo é a maior causa de perda de produtividade na União Europeia. O custo da depressão corresponde a 1 % da economia de toda a Europa, conforme mencionado no documento “Linhas de Ação Estratégica para a Saúde Mental e Bem-estar da União Europeia”.

As desigualdades sociais continuaram a formar “bairros sociais”, em sentido lato e figurativo, escondidos na opulência das fachadas das sociedades desenvolvidas. Pessoas, que geração após geração, são fechadas em ciclos de pobreza financeira, educacional e de saúde. A herança de um pobre não é só viver numa habitação social, o seu património transgeracional consiste na passagem de comportamento e de dependências (alcoolismo, toxicodependência), de uma apatia e consequente atitude de desistência com que diariamente me confronto no meu local de trabalho. Estilhaços de uma saúde mental pouco nutrida. Sim, a fome não se limita à falta de alimentos. A subnutrição da saúde em geral e da saúde mental em particular, em Portugal, é um problema crónico. Existem estratégias contra o extremo da fome e da pobreza, mas não existe uma ação local e concertada para a promoção de melhores condições de acesso à saúde em geral e, em particular, à saúde mental, que promovam o bem-estar da população.

A história de saúde mental em Portugal é cíclica e feita de poucos avanços e de muitos recuos, muito por falta de implementação de respostas nos territórios. O primeiro problema está ligado à pouca participação dos doentes nos seus projetos de vida e ao estigma que a esta doença está associado, e esse não se resolve por decreto, é fundamental o envolvimento de vários atores sociais.

Faço votos para que, em 2021, a sociedade não se esqueça que estamos umbilicalmente interligados: não cuidar da saúde mental tem e terá consequências que nos afetarão a todos. “Nenhum homem é uma ilha.”


Ana Sofia Branco: Assistente Social, licenciada em Serviço Social e membro da Comissão Instaladora da Ordem dos Assistentes Sociais

18 janeiro 2021

Ventura a nu, pelado!


O conhecimento da História faz-nos muita falta e é por isso que, com grande razão, se diz que um povo sem memória é um povo sem futuro.

Ora, é esse mesmo conhecimento que nos mostra que, ao longo da História, ocorreram situações de grave crise económica, política e social, sobretudo em momentos de impasse, em que as classes mais dominadas e exploradas não viram ou não tinham uma alternativa revolucionária e as classes dominantes começaram a concluir que os responsáveis políticos que tinham colocado no poder já não estavam em condições de aplicar a política e de cumprir o papel que lhes fora atribuído.

E foi precisamente nessa altura que sempre surgiram, foram lançados, apoiados e levados ao mesmo poder personagens apresentados como autênticos “salvadores da pátria” e verdadeiros campeões da luta contra a corrupção, a imoralidade, o abuso e o desperdício.

Assim, a respectiva legitimação política é sempre construída na base de um discurso radical, aparentemente muito crítico, contra a corrupção e outros males do sistema político vigente, clamando continuamente contra as “vergonhas” do mesmo, defendendo uma pretensa (e nunca totalmente explicada) ruptura com o dito sistema, invocando uma (realmente inconsistente e até inexistente) defesa dos mais pobres e desfavorecidos da sociedade e a construção de uma pretensa “nova ordem” social e política.

O certo, porém, é que esta lógica discursiva, profundamente hipócrita e enganadora, se não for incansável e consequentemente combatida e desmascarada, é susceptível de enganar incautos e arrastar indignados, e até de obter o seu voto e o seu apoio, pela empatia que o referido discurso supostamente anti-corrupção, anti-sistema e de ruptura com a podridão, a vários níveis, do regime político, pode afinal suscitar.

E de cada vez que aqueles que se dizem democratas e defensores do povo mentem, fogem às suas responsabilidades, se envolvem em esquemas de corrupção ou, com as suas políticas, agravam cada vez mais a situação de quem é pobre, fraco e vulnerável, mais força vão dando aos ditos “salvadores”…

Foi sempre deste modo que personagens como Hitler, Mussolini, Franco, Salazar e mais recentemente Bolsonaro surgiram, se alcandoraram ao poder e, uma vez aí chegados, despiram prontamente as peles de cordeiro e mostraram a sua verdadeira natureza de empedernidos e sanguinários ditadores, levando assim, com frequência, mas só nessa altura, muitos daqueles que os haviam inicialmente apoiado a perceberem, demasiado tarde, o logro em que haviam caído.

O que são verdadeiramente Ventura e Chega

Ora, é precisamente por isso que devemos atentar – e denunciá-los, com base em factos e argumentos – no que verdadeiramente são, e ao que realmente vêm, André Ventura e a sua organização instrumental, o Chega. E muito em particular impõe-se verificar se e como muitas – para não dizer praticamente todas – as características daquelas experiências históricas se estão ou não, afinal, a verificar perante os nossos olhos.

Assim, e desde logo, importa constatar que a construção desse tipo de figura mítica do “salvador da pátria”, campeão da luta contra a corrupção e pela moralidade e bons costumes assenta, em larga escala, numa gigantesca propaganda. E a essência desta, tal como o sinistro ministro da propaganda nazi, Joseph Goebbels, escrevia, em 1942, no seu diário, assenta acima de tudo na simplicidade (para não dizer no simplismo) e na repetição (até à exaustão).

É precisamente por isso que, tal como faz Ventura, a repetição infindável dos “chavões”, tão falsos quanto gerais e abstractos, da “vergonha”, da “corrupção”, da “defesa dos que trabalham e pagam impostos” (para supostamente outros, como ciganos e imigrantes, viverem à sua custa) serve precisamente para construir o discurso legitimador do personagem. Discurso legitimador esse que é depois completado pela apresentação e defesa do líder como uma figura transcendental, não raro até de inspiração divina, que – porque tem sempre razão e as suas “verdades” se não discutem nem podem discutir – expressaria a suposta vontade colectiva de todo o povo, assumindo assim a nobre missão, atribuída por esse mesmo povo, senão mesmo por Deus[1], de salvar o país do “desastre” que a “esquerda” e o “marxismo” lhe trouxeram.

Por outro lado, aos membros da organização a que preside – e que lhe é útil tão somente enquanto estrutura logística e instrumental – cabe apenas aplicar a famigerada trilogia de Mussolini do “crer, obedecer e lutar!” E é depois assim que, em nome do princípio nazi de que os fins justificam os meios, a mentira, a calúnia, o insulto, o incitamento e a prática do ódio (racial, e não só) mais primário e a intimidação e o ataque, não só verbais como até físicos, se tornam cada vez mais habituais e até legitimadas armas de acção política. 

E quando chegam ao poder – disso não tenhamos a menor dúvida – passam abertamente a defender e a praticar a tortura dos opositores políticos (apresentada, como fez Salazar, como “uns safanões a tempo nessas sinistras criaturas”) ou até o seu assassinato (em nome da “defesa da autoridade e da segurança do Estado”).

A captação dos desiludidos e os descontentes

Os grandes e obscuros interesses financeiros e políticos, que são verdadeiramente os donos deste país, reservaram, ao menos por agora, esse papel a André Ventura e ao Chega, e estão a ver até onde o conseguem levar, seguindo, como se vê, muitos dos passos dos seus antecessores históricos e fazendo o tipo de propaganda que julgam capaz de levar para o seu campo, sobretudo os descontentes, os desiludidos e os “descamisados”, a quem o campo da Liberdade, da Democracia não quis ou não foi capaz de apresentar uma verdadeira alternativa.

Por tudo isto, na campanha das eleições presidenciais agora em curso, André Ventura não avançou um único projecto ou ideia de fundo para o futuro do país e para aquilo que este exige do cargo a que se candidata, limitando-se a, nos debates em que sentiu que isso lhe seria permitido, reproduzir o estilo e, sobretudo, as inefáveis “técnicas” dos “debates” futebolísticos da CMTV: interromper sistematicamente os seus adversários, lançar-lhes repetidamente atoardas, acompanhadas da conhecida manobra de exibir factos e recortes de jornais ou outro tipo de adereços e, simultânea e significativamente, passar ao lado de todas as questões que lhe fossem colocadas e lhe não agradassem ou fossem incómodas.

E, por outro lado, como convém, repetir continuamente meia dúzia de chavões e de auto-elogios, os quais importaria denunciar e desmascarar até ao fim. Infelizmente – embora se compreenda a dificuldade de debater a sério ideias com um verdadeiro troglodita, ainda por cima quando a conduta deste é tolerada ou até, e a bem da busca das audiências baseadas na lógica do “sangue”, incentivada pelos jornalistas –, nenhum dos outros candidatos teve a frieza de ânimo, o tempo e a capacidade de pôr definitivamente a nu a completa falsidade daquele tipo de afirmações de Ventura.

Ventura posto a nu

1) “Exclusividade” da função de deputado: Ventura gosta de apresentar a coerência como um dos seus atributos. Mas – conforme já denunciei em texto anterior e aqui relembro, Ventura pregou a exclusividade da função de deputado para só ao fim de mais de 7 meses, e após inúmeras denúncias, ter finalmente largado os lugares e os vencimentos de comentador da CMTV e de consultor da Finpartner. Jurou em declarações prestadas na altura, a escassos dias das legislativas de 2019, que a sua função essencial era a de deputado e que, quando se candidatasse às eleições presidenciais, nunca suspenderia o mandato de deputado, para depois, e como todos vimos, vir apresentar e reclamar tal suspensão e martirizar-se por ela não lhe ter sido concedida. 

2) Luta contra a corrupção: Ventura apresentou-se como um campeão da luta contra a corrupção, até por ter sido inspector da Autoridade Tributária e Aduaneira, mas, afinal, não só no exercício dessas funções foi autor de um parecer que permitiu isentar uma empresa de Paulo Lalanda de Castro do pagamento de 1,8 milhões de euros de IVA, como logo depois, não deixando em definitivo a função pública (pois terá saído com uma licença sem vencimento de longa duração), foi colocar os conhecimentos que tinha adquirido naquele serviço do Estado agora ao serviço do apoio da consultora privada da “Finpartner – Consultoria, Contabilidade e Fiscalidade, SA” a grandes empresas nas actividades ditas de “planeamento fiscal”, ou seja, de eximição ao pagamento de imposto através de mecanismos e subterfúgios legais.

3) Significativa ausência: Faltou ostensivamente no parlamento – sem dar logo qualquer justificação para tão significativa ausência – à votação de diplomas legais referentes ao combate ao branqueamento de capitais.[2]

4) (In)Coerência de voto: Quando se tratou de votar no mesmo Parlamento uma proposta (do BE) de alteração ao Orçamento de Estado de 2021, anulando a transferência de mais 476 milhões de euros do Fundo de Resolução para o “buraco negro” do Novo Banco, o “coerente” André Ventura, no mesmo dia, absteve-se, votou contra e depois votou a favor da mesmíssima proposta! Para “coerência”, não está, pois, mal…

5) “Condenação” da violência doméstica: Ventura já fez uma ou outra declaração, sempre de modo meramente formal, de condenação de violência doméstica, mas, no Parlamento, absteve-se na votação de uma proposta (do PCP) de lei[3] visando um reforço da medidas de protecção das vítimas de violência doméstica, para depois, e sem apresentar qualquer alteração ou nova proposta, invocar que se abstivera por a dita proposta ser “altamente insuficiente”… Também foi possível que, no Congresso do Chega, uma proposta (do militante Rui Roque) que defendia, entre outras barbaridades, que fossem “retirados os ovários às mulheres que interrompessem voluntariamente a gravidez”, fosse recebida na mesa, por esta aceite e até levada a votação, sendo então derrotada por simples maioria.

6) “Reforma” da Saúde e da Educação: Ventura e o Chega sustentam que o Estado não deve ser prestador de quaisquer bens ou serviços, quer na área da Saúde (ou seja, a extinção do Serviço Nacional de Saúde e a assunção, pelo Estado, do papel de mero regulador desse mercado), quer na da Educação (defendendo mesmo a extinção do Ministério da Educação e a entrega das escolas públicas a empresas privadas de educação).

7) Redução do número de deputados: Ventura e o seu Chega defendem – agora que já lá estão e ambicionam ter, ainda antes dessa “reforma”, uma representação parlamentar de vários deputados – a redução para 100 do número de deputados mo parlamento. O que, com o método de Hondt, significará, acima de tudo, a dificultação da possibilidade de eleição de deputados por partidos mais pequenos e a consequente eternização no poder dos partidos políticos que têm sido maioritários, muito em particular do chamado “Bloco Central” (PS/PSD) que Ventura tanto diz combater. Por vezes, as pessoas só vêem o que iriam poupar em custos com a redução de deputados, sem se aperceberem de que, com essa mesma redução, acabaremos como nos EUA, com dois partidos apenas.

8) ONU: Ventura, à boa maneira dos fascistas de todo o mundo, desta e das anteriores épocas, e tal como consta do capítulo “Política Externa” do programa do Chega, proclama “a necessidade da reavaliação de interesse efectivo da nossa presença na ONU”, sob o “argumento” de que esta “transformou-se numa produtora e defensora do marxismo cultural e do globalismo massificador que não estamos dispostos a consumir e, muito menos, a pagar para que os outros os consumam”. 

E, numa nova e extraordinária manifestação de “coerência”, não só defende “a necessidade de imediata reversão da outorga do suicidário “Pacto para as Migrações” que a ONU pretende concretizar”, como a “eliminação da participação em agências e ONG’s que interferem na soberania nacional”. Mas, simultaneamente e por mero tacticismo, Ventura transformou-se num estrénue defensor da integração de Portugal na União Europeia e, mais do que isso, na Zona Euro, sem que tal integração lhe suscite o menor problema quanto à interferência na soberania de Portugal quando este, com tal integração, a perdeu por completo em matérias tão díspares como a orçamental, a monetária, a fiscal, a económica, a da Justiça e a da Política Externa. Para Ventura, pois, a integração na União Europeia e no Euro é boa, mas a pertença à ONU, à OMS ou OIT é que é má…

9) A “defesa” dos contribuintes: Ventura passa a vida a proclamar que quer ser “Presidente apenas dos portugueses que trabalham, que se integram e que pagam impostos”, e não da outra metade (dos subsídio-dependentes, à cabeça dos quais aponta os ciganos e os imigrantes) que viveriam à custa dos primeiros, recebendo o Rendimento Social de Inserção (RSI) e passeando pelas ruas e pelos cafés sem nada fazer.

Ora, esta atoarda xenófoba e racista, tendente a dividir os elementos do povo que ele diz defender e a atirá-los uns contra os outros, é total e revoltantemente falsa.

É que, de acordo com os próprios números da Pordata, o valor pago a título de RSI até Outubro de 2020 foi – e mesmo assim num ano de montantes mais elevados de prestações sociais devido à crise da pandemia – de 355 milhões de euros[4], abrangendo, em 2019, 135.428 famílias, das quais apenas 5.275 eram de etnia cigana, ou seja, 3,89%. O que significa que a totalidade do RSI que terá sido atribuída à totalidade das famílias ciganas não chegou sequer a 13,9 milhões de euros. 

Isto, enquanto – como um dos outros candidatos disse, e bem, a Ventura – só o buraco deixado no BES pelas empresas (o grupo Promovalor) de um dos seus amigos dilectos, Luis Filipe Vieira, ascende a 225 milhões de euros. E tudo aquilo que escapou, entre 2011 e 2014 (sem controle da mesma Autoridade Tributária em que Ventura trabalhou), para as offshores(devido ao até hoje não esclarecido “apagão informático”), ascende a mais de 10 mil milhões de euros (98% dos quais referentes ao BES). E só o buraco do Novo Banco ultrapassa já os 7.876 milhões de euros pagos pelos mesmos contribuintes portugueses que Ventura diz querer proteger contra a máquina fiscal em que ele trabalhou.

A teoria do “salvador” Ventura de que o país está pobre e carece de meios financeiros necessários para suprir carências sociais, não por causa das falcatruas financeiras da banca e não só, mas por causa do RSI dos ciganos, constitui assim uma absoluta e provocatória falsidade.

11) As “verdades” sobre os imigrantes: A “conversa” de que os imigrantes viriam para Portugal para viverem à “nossa custa”, e designadamente da Segurança Social Portuguesa, é outra das completas mentiras de Ventura. Para não irmos mais longe, o último Relatório Estatístico Anual do Observatório das Migrações mostra, com toda a clareza, que a relação entre as contribuições dos estrangeiros para a Segurança Social e os gastos desta em prestações sociais de que aqueles beneficiam é bastante positiva e favorável às primeiras. Para além de que, de uma forma geral, os imigrantes que aqui vivem e trabalham tiveram sempre rácios de prestações sociais, pagas por contribuições por eles entregues, inferiores claramente aos dos cidadãos nacionais. Em 2019, esse saldo positivo (das contribuições relativamente às prestações sociais) dos imigrantes foi, “apenas”, de 884 milhões.

Haveria e haverá, ainda muitas mais falsidades e incoerências a denunciar, mas só estas já revelam a pele de cordeiro e a alma de lobo.

Pele de cordeiro e alma de lobo

Eis, pois, como absolutas falsidades, repetidas à exaustão até parecerem verdadeiras e “explicarem” as dificuldades dos trabalhadores portugueses, constituem, afinal, a essência da propaganda do “salvador” Ventura, que apenas está à espera de poder chegar ao poder (assim lhe dêem apoio e votos), para logo despir a pele de cordeiro que, por vezes, e para conveniência eleitoral, ainda vai vestindo, e mostrar então a sua verdadeira face.

Como bem mostram as saudações nazis feitas no comício do Porto em 25 de janeiro de 2020, a manifestação à “Ku Klux Klan” feita de máscaras brancas e de tochas na mão à porta da SOS Racismo em 8 de Agosto de 2020 (e após uma pichagem da fachada do prédio feita no mês anterior, clamando “guerra aos inimigos da minha Terra”) e as ameaças brutais que logo são feitas perante quem deles discorda (inclusive nas próprias fileiras).

Entre os amigos de Ventura – que até vêm a Portugal apoiá-lo na campanha das Presidenciais – estão fascistas retintos como Marine Le Pen. A mesma que, proclamando que Ventura é “um grito que vem do coração e um sinal que vem do céu”, prega em França a proibição do ensino da língua portuguesa aos filhos dos emigrantes portugueses e cujo partido, o Reagrupamento Nacional, antes designado Frente Nacional, ataca continuamente esses emigrantes, fazendo pichagens como a de “morte aos portugueses!”. 

Ou como Matteo Salvinni, líder do partido italiano de extrema direita Liga Norte e ex-Ministro do Interior, que, entre outras proezas, em Agosto de 2019, bloqueou o navio “Open Arms”, com cerca de 150 emigrantes salvos no mar e em condições de enorme dificuldade, depois de já antes ter ordenado a prisão da alemã Carola Rackete, comandante da embarcação “Sea-Watch 3”, por esta ter insistido em desembarcar 40 emigrantes em precárias condições de saúde.

Não esqueçamos também que, internamente, os seus apoios políticos e ideológicos vêm de ex-elementos do Partido Nacional Renovador (PNR), da Nova Ordem Social (NOS), de Mário Machado, do Escudo Identitário, do grupo assumidamente neo-nazi “Blood and Honour” e de outras organizações similares.

É caso para dizer: diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és!…

E por tudo isto convém recordar as conhecidas palavras de Norberto Bobbio (mesmo que se entenda, como eu, que elas não denunciam de forma consequente a verdadeira natureza de classe e os interesses económicos e políticos que os fascistas corporizam, mas que não deixam de ser profundamente acutilantes):

“O fascista fala o tempo todo em corrupção. Fez isso em Itália, em 1922, na Alemanha, em 1933 e no Brasil, em 1964. Ele acusa, insulta, agride, como se fosse puro e honesto. Mas o fascista é apenas um criminoso comum, um sociopata que faz carreira na política. No poder, essa direita não hesita em torturar, violar e roubar a sua carteira, a sua liberdade e os seus direitos. Mais do que a corrupção, o fascista pratica a maldade.”

Não, não passarão!

António Garcia Pereira

Música para os nossos ouvidos

O Marcelo é música on the road non stop com interregno para comentários politico técnicos de mudança de óleo ou calibragem dos pneus...

17 janeiro 2021

É uma questão de pura aritmética...

O André desVentura já provou ser um palerma e deu tiros nos pés que até quem estivesse a pensar votar nele não votaria e aí votasse no que nos convenceu (Ana Gomes ontem, João Ferreira hoje e Marisa Matias amanhã), como quiseres.

Mas a questão é como o Rui Tavares explicou muito bem: a esquerda dispersa tem muitos votos mas dá poucos votos para cada e interessa ouvir as sondagens na véspera e perceber se o desVentura pode ficar em 2ª e votar em quem estiver na esquerda melhor para impedir isso.

O Marcelo vai ganhar e a abstenção vai baixar por votar ser a única forma de ir ver o sol; mas é uma vergonha para todos nós se aquilo (AV) fica em segundo.

Rita Redshoes - Mulher

16 janeiro 2021

Como é que Joe Biden seduziu os deficientes (1 em cada 5 americanos o são)?: BidenCare!


Tenho alguma dificuldade em falar em grupos: mulheres, idosos, crianças, deficientes,  porque poderão sempre dizer já tenho conhecido muitos nanana que não são assim e são até o inverso! 

Pois é, mas são a exceção que confirma a regra; as mulheres serão mais constantes e equilibradas nos diferentes campos, os idosos terão sempre um olhar mais experiente, cuidadoso e demorado sobre as coisas, as crianças serão sempre mais energéticos e inovadores, os deficientes são resilientes, empenhados, com vontade de formarem grupos, sociais.

15 janeiro 2021

quer o vírus passe ou não ELAS estão aí... isto está a mudar!

Alexandra Ocasio Cortez (link)Kamala Harris (link) e Michelle Obama (link) são só três caras que nos dão esperança, sinal de que isto está a mudar. O Feminino há muito que dá cartas e é maltratado na sociedade atual; são elas que dão estrutura às famílias!

Todas novas e americanas com toque hispano africano, todas inteligentes e risonhas, de olhar frontal!


Alexandra Ocasio, 31 anos é  também conhecida por suas iniciais AOC, é uma política, ativista e organizadora comunitária dos Estados Unidos, atualmente servindo como congressista na Câmara dos Representantes por Nova Iorque. 


Kamala Devi Harris, 56 anos, é uma advogada e política norte-americana, vice-presidente eleita dos Estados Unidos, com posse prevista para 20 de janeiro de 2021. Filiada ao Partido Democrata, é senadora dos Estados Unidos pela Califórnia desde 3 de janeiro de 2017.


Michelle LaVaughn Robinson Obama, 56 anos, é uma advogada e escritora norte-americana. É a esposa do 44.º presidente dos Estados Unidos, e a 46.ª primeira-dama dos Estados Unidos, sendo a primeira 
afro-descendente a ocupar o posto. Michelle Obama nasceu e cresceu em Chicago