11 janeiro 2022

Debates-novela por Rita Figueiras

Legislativas 2022: para que servem estes debates eleitorais?

Num tempo de crescente animosidade, intolerância, tribalismo e trincheiras, este tipo de debate, apesar de poder ser cativante, não serve definitivamente a democracia.

Se dúvidas houver, basta estar atento às palavras que muitos jornalistas-comentadores usam no pós-match. Para além da sacrossanta pergunta “Quem ganhou o debate?”, as metáforas mais correntes são de desporto e de guerra: “arsenal”, “armas”, “aniquilar”, “massacre”, “fora de jogo”, “claques”, “derby”. Curiosa é também a opção de alguns meios darem notas aos candidatos, colocando-se no papel de avaliadores das performances estruturadas nas regras mediáticas. Não ponho todos os comentadores no mesmo saco, mas mesmo os que querem fazer análises substantivas estão limitados pelas características dos frente-a-frente.

Além da sacrossanta pergunta 'Quem ganhou o debate?', as metáforas mais correntes são de desporto e de guerra: 'arsenal', 'armas', 'aniquilar', 'massacre', 'fora de jogo', 'derby'

Este formato-performance atesta a crescente profissionalização mediática dos políticos, com uma especialização em beligerância. Alguns fazem-no de modo óbvio – berram, humilham e ofendem à descarada –, outros, mais sofisticados, de forma sibilina, desferem ataques mortíferos para neutralizarem o oponente. O modelo contribui para a crescente aceleração do tempo da política, encolhe ainda mais a duração dos soundbites e consolida o processo de substituição do pensamento pela performance. Negar o formato, ou não saber jogar as regras do jogo, projeta uma imagem de incompetência e desadequação. Mas, de que modo é que ser bem sucedido neste tipo de formato nos informa acerca das capacidades dos candidatos para o exercício de cargos políticos?

Aqui chegados, há uma questão que se impõe: porquê este modelo? porquê tantos debates e tão curtos? Estaremos perante uma imposição das televisões (a dramatização do espetáculo garante audiências)? uma escolha dos políticos? uma decisão conjunta?

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