
"Eu quero acompanhar o meu cantar vagabundo de todos aqueles que velam pela alegria no mundo" (caetano veloso)
26 novembro 2025
a imaginação e ficção

24 novembro 2025
tudo é política, até eleições
Os comentadores mostram, mesmo se não têm consciência disso, o estado de exasperação do discurso político. São convocados por um vazio que lhes coube em jeito de missão preencher.

15 novembro 2025
há males que vêm por bem
13 novembro 2025
O aleatório é mágico...
09 novembro 2025
- Os primeiros laços no ser -
A Verónica era uma mulher inteligente, forte, boa, realista, velhota e com uma alma cheia de força feminina nos seus 75 anos de idade, pedia mais. Funcionária de uma antiga escola secundária renovada e profícua de juventude e de novidades.
As durezas da vida tinham-na
tornado algo bruta e com longos momentos masculinos.
Cada Ano Letivo Novo lhe dava
brilho no olhar sentir que a escola se rejuvenescia, mas essa energia ia-se ao
longo do ano passar com as épocas festivas. Passagem de ano, Páscoa, Carnaval, Verão,
fins de semana motivavam o ritmo oscilante em que vivia.
Sentia-se envelhecer, o corpo
emperrar, ganhar sons ferrugentos e melancolia no olhar, cada dia pior; às
vezes, porque de vez em quando era melhor; mais míope; os ouvidos ensurdeciam;
o sabor e gosto perdiam-se; o faro passou a ser cada vez mais unicamente uma
cidade capital no Algarve e o tato parecia ter ganho novas credenciais pela
perda dos outros sentidos: via, ouvia, cheirava e saboreava pela ponta dos
dedos e pela palma das mãos. Mas a alma jovem parecia contrária a esse corpo
antigo: desabrochava.
Estava a envelhecer e gostava que os jovens do liceu alimentassem a curiosidade nela nas horas vagas, transbordava experiência que enriquecia com as novas brincadeiras sorridentes, energéticas, alegres e contagiavam.
Era bom um professor faltar, mas
contrária à sua profissão e missão; só auxiliava porque havia necessidade, mas as
ausências cada vez mais comuns, davam-lhe alimento ao sabor, davam-lhe alunos e
dotavam de vida as horas mortas.
Pontuava o seu ser nas horas
quando faltava um professor e que insistia em dar alguma alma contrariando a
frase inicial deste conto ‘A Verónica era uma mulher boa, realista’, tornando-a
algo mágica, longe da realidade.
Inês era uma caloira de 15 anos,
baixinha, tinha a alcunha de ‘anã’, era mimada, muito magrinha, quase enfezada,
branquinha, olhar esperto e muito desenrascada que já aprendera que tinha mais
a ganhar em passar as horas soltas e iniciais da manhã que nas aulas. Passava,
primeiro, célere pelo bar, madrugando para comprar algo a partilhar com a
amiga velhota Verónica.
Com quem partilhava amigos, conversas
e curiosidades: isto do mundo é muito curioso, todos sabemos que é bom comer
e descansar, mas quando abusamos há logo uma alma carinhosa que nos apelida de
Preguiçosos. E o Amor? Passamos sempre mais tempo a trabalhar: coisa suja e
cansativa, que dizes disto meu velho?
Verónica ri e responde: não
sei se é tão verdade como isso, como se diz. Comer e descansar é bom, mas não
em excesso, depende muito do momento, da idade, da altura do ano. Quando temos
algo para fazer não há fome, nem cansaço que nos demova. O amor é das coisas
mais mal-amadas nesta vida, sem razão, tens razão; falo do amor na amizade,
entre nós dois por exemplo, o palmier e o sumo que nos trazes a partilhar…
![]() |
- As Verónicas são corajosas e têm muita qualidade - |
Após o primeiro período, após as
férias, Matilde e Xavier e Matias também começaram a aparecer, mas só nas horas
livres por convite de Inês; a Matilde era gordinha, de cor e com a boca cheia
de asneiras e sorriso fácil; o Matias era beto, feinho, aloirado, animado, alto
e encorpado; Xavier era o bonacheirão, bonito e gordinho.
Verónica surpresa: tantos? Inês,
podias ter avisado que melhorava o estabelecimento para receber convidados
deste nível. Verónica: acho que está muito acima do requerido, esperado
e perspetivado pelo nosso humilde público e convidados. Somos só três, quatro
contigo… e sem cerimónias, somos simples ora essa.
Matilde: sentimo-nos honrados
por nos receberem no vosso simpático e cordial esconderijo.
Matias: claro, a Inês tem
publicitado muito as horas que passa em convívio consigo, ficamos com pena de
não termos tido a honra antes. Verónica: o problema foi vosso, da vossa
falta de organização, já podiam ter aparecido antes… Matilde: não somos
baldas como certas pessoas diz fingindo olhar para o céu a assobiar. E
não tínhamos noção que a Verónica tinha um sorriso tão bom e bonito. Verónica:
não quero que faltem às aulas para partilhar vida comigo, vocês vêm à escola
para aprender. Mas ainda não se apresentaram, quem são vocês?
Inês: bem eu sou a Inês,
diz sorrindo… Verónica: de ti, já estou farto de saber, mas e os
outros!? Matias: first the ladies e faz sinal com a mão ‘avança’.
Matilde: eu!?
Opaaaa, o meu nome é Matilde e não gosto de ser chamada por Lady, prefiro
Madame ou em tuga: dama!
Xavier a rir: eu,
sou o damo dela, o Xavier pa… Matilde interrompe: seu parvo, sou nada
dele, eu aqui e tu aí e aponta com as mãos.
Matias: sou
eu que educo estas 4 crianças, sou o Matias e ainda vem que encontro uma voz
mais serena, saudável e adulta para me ajudar, prazer!
Os protestos do
público à provocação fazem-se ouvir… buuuuuu!
Verónica ainda a rir: muito
prazer juventude, espero que se sintam à vontade para vir cá dar sem a Inês e
que as horas lives sejam passadas com maior gosto aqui
Verónica:
quem sou eu com 75 anos de idade, sou experiência por sentir, sorriso por
fortalecer e muito ainda por descobrir.
Sou contínua
ou auxiliar da ação educativa para os doutores e uma boa companhia.
Já pouco
oiço, vejo, cheiro e saboreio, mas tenho imensa curiosidade no mundo por
tatear.
O mundo real está muito por criar e imaginar, venha ele...
Burlões
Há um
mundo ficcional dentro de cada um de nós, um mundo habitual de espaços e
passos, momentos movimentos emoções e palavras. Temos pessoas em nós
mesmos que inventar e ficcionar, pessoas que existem. Os sonhos são criados com
alusões ao passado e despertares de futuros em aberto, por fechar e concluir.
Temos a responsabilidade
(parecia tudo muito bonito não era!?) de criar mundos melhores para nós e para
os outros. E (é engraçado) inventar, fazer acreditar na viagem; sermos
realizadores ou escritores burlões: caraterizar para onde queremos ir e voar em
novos amanhãs por inventar.
Temos,
à nossa disposição um leque de atores com quem estamos habituados a ser movidos
e ideias a pensar a serem estimuladas.
A principal luta é entre Nós e os outros, o egoísmo e o altruísmo.
Eu: tenho sentido crescer o
egoísmo em mim e não gosto, é que vejo, oiço, sinto, cheiro e gosto sempre por
mim e não consigo abstrair-me disso, como é convosco?
Tu: tenho o problema
oposto, contrário, sou demasiado virado para o outro, para fora, raramente penso
em mim, tenho uma fraca autoestima.
Ele: o problema dele é um
misto dos vossos dois, parece que sou um misto dos dois, nunca sou eu, nem o
outro. Sou sempre algo que nunca está aqui e agora; estou sempre noutro lugar
ou tempo. Lá longe, ontem ou amanhã, é horrível.
Nós: vocês não vêm? Até nos
fazem soltar preconceitos numerários ‘lá estão eles nas individualidades’. Eu:
calma, vocês têm mesmo a mania das grandezas, não temos de esperar pelos nomes?
Vós: esperai, esperai que eles são
muitos e muito dados a individualidades, são muito singulares. Eles: não sei se
é inteligente esperar por todos ELES, vêm aos magotes e roubam-nos as melhores
mesas, sou muito altruísta, mas a funcionalidade do grupo primeiro. Para
ajudarmos uns não podemos prejudicar o todo. Vós: já sou de um tempo passado
onde não havia tanta literatura e a modos que já me sinto meio deslocado entre
vós com o meu linguajar meio ancestral. Desculpem, mas vou-me isolar, prefiro
ir entrando se não vos incomodares?
Ele: Ora essa VÓS não devíeis
ter vindo, pelo menos, trajado com esse jeito de ancião clássico, faz-te muita
falta quem te componha, uma Vossa, talvez.
Vós: tendes razão, mas na
malta nossa já ninguém acompanha minhas valsas, agora é só tunx, tunx a dançar
sozinhos e a abanar o capacete.
RIEM-SE TODOS!
PASSADO: esta geração já
não é como as de antigamente, em que o grupo era mais valorizado.
PRESENTE: pareces um velho
do restelo, na atualidade, já não há lutas entre gerações.
FUTURO: o grupo é feito de
vários indivíduos e é nisso valorizado, no futuro. Mas não alimento
rivalidades.
EGOÍSMO: não faz sentido
haver guerras entre pessoas, entre espaços e tempos, faz parte da vida e de
quem escreve estes textos escolher como mais gostam e sentem, é a vida!
O grupo aumenta e o
burburinho também, começam a chegar as primeiras carrinhas com nomes. O NÓS:
vamos entrando, vamos entrando, bora, bora, vão-se acomodando e apresentando,
diz para os mais anónimos.
O ELES aparecem e dizem
‘que balbúrdia, ainda bem que o livro de cheques é nosso amigo e a máquina do
multibanco está bloqueada pelo Futuro’.
Eu: isto da literatura e da
escrita é uma forma de nos tirar daqui para ali e de agora para ontem e/ou
amanhã, é genial o que nos faz viajar e voar, viver, imaginar, sonhar, é passar
a vida do 8 para 800000, para escrever um número que saibas ler.
Tu: As letras e os números
são um bocadinho contrários uns aos outros, não é? Há contactos ténues, acho
que a escrita está mais à frente.
Ele: ora, isso é
incalculável, não estão numa corrida e isso é escrito por um indivíduo de
letras, tu. Se soubesses o mundo como está os números, nem sei se podemos
competir, está tudo embrulhado numa coisa maior que é o mundo.
Eu: pois, têm razão, esta
forma de pensar é pequena. Não é tudo um combate, devemos pensar muito mais em
comunicação que em adversários. não somos todos oponentes, devemos funcionar
como partes da mesma equipa.
NÓS: que discurso beato, somos todos irmãos e
amigos e queremos todos o mesmo…
EU: que mentira, sou
contrário ao grupo?
TU: que mentira, isto é bem
mais complicado, o Grupo é feito de muitos EU’s diferentes.
ELE: o ego não está oposto
ao grupo, ao NÓS.
NÓS: proponho que vamos entrando e discutimos isso à mesa.





