09 novembro 2025

Burlões

Há um mundo ficcional dentro de cada um de nós, um mundo habitual de espaços e passos, momentos movimentos emoções e palavras. Temos pessoas em nós mesmos que inventar e ficcionar, pessoas que existem. Os sonhos são criados com alusões ao passado e despertares de futuros em aberto, por fechar e concluir.

Temos a responsabilidade (parecia tudo muito bonito não era!?) de criar mundos melhores para nós e para os outros. E (é engraçado) inventar, fazer acreditar na viagem; sermos realizadores ou escritores burlões: caraterizar para onde queremos ir e voar em novos amanhãs por inventar.

Temos, à nossa disposição um leque de atores com quem estamos habituados a ser movidos e ideias a pensar a serem estimuladas.

A principal luta é entre Nós e os outros, o egoísmo e o altruísmo.



 Estavam os seis sujeitos à espera dos nomes para entrar na comunicação real; ainda sem o feminino e o masculino, que iria tornar a refeição um manjar hiperbólico. O Eu, o Tu e o Ele individual conservavam-se à parte em diálogo do Nós, Vós e Eles de grupo geral das massas.

Eu: tenho sentido crescer o egoísmo em mim e não gosto, é que vejo, oiço, sinto, cheiro e gosto sempre por mim e não consigo abstrair-me disso, como é convosco?

Tu: tenho o problema oposto, contrário, sou demasiado virado para o outro, para fora, raramente penso em mim, tenho uma fraca autoestima.

Ele: o problema dele é um misto dos vossos dois, parece que sou um misto dos dois, nunca sou eu, nem o outro. Sou sempre algo que nunca está aqui e agora; estou sempre noutro lugar ou tempo. Lá longe, ontem ou amanhã, é horrível.

Nós: vocês não vêm? Até nos fazem soltar preconceitos numerários ‘lá estão eles nas individualidades’. Eu: calma, vocês têm mesmo a mania das grandezas, não temos de esperar pelos nomes? Vós:  esperai, esperai que eles são muitos e muito dados a individualidades, são muito singulares. Eles: não sei se é inteligente esperar por todos ELES, vêm aos magotes e roubam-nos as melhores mesas, sou muito altruísta, mas a funcionalidade do grupo primeiro. Para ajudarmos uns não podemos prejudicar o todo. Vós: já sou de um tempo passado onde não havia tanta literatura e a modos que já me sinto meio deslocado entre vós com o meu linguajar meio ancestral. Desculpem, mas vou-me isolar, prefiro ir entrando se não vos incomodares?

Ele: Ora essa VÓS não devíeis ter vindo, pelo menos, trajado com esse jeito de ancião clássico, faz-te muita falta quem te componha, uma Vossa, talvez.

Vós: tendes razão, mas na malta nossa já ninguém acompanha minhas valsas, agora é só tunx, tunx a dançar sozinhos e a abanar o capacete.

 


RIEM-SE TODOS!

 

PASSADO: esta geração já não é como as de antigamente, em que o grupo era mais valorizado.

PRESENTE: pareces um velho do restelo, na atualidade, já não há lutas entre gerações.

FUTURO: o grupo é feito de vários indivíduos e é nisso valorizado, no futuro. Mas não alimento rivalidades.

EGOÍSMO: não faz sentido haver guerras entre pessoas, entre espaços e tempos, faz parte da vida e de quem escreve estes textos escolher como mais gostam e sentem, é a vida!

O grupo aumenta e o burburinho também, começam a chegar as primeiras carrinhas com nomes. O NÓS: vamos entrando, vamos entrando, bora, bora, vão-se acomodando e apresentando, diz para os mais anónimos.

O ELES aparecem e dizem ‘que balbúrdia, ainda bem que o livro de cheques é nosso amigo e a máquina do multibanco está bloqueada pelo Futuro’.

Eu: isto da literatura e da escrita é uma forma de nos tirar daqui para ali e de agora para ontem e/ou amanhã, é genial o que nos faz viajar e voar, viver, imaginar, sonhar, é passar a vida do 8 para 800000, para escrever um número que saibas ler.

Tu: As letras e os números são um bocadinho contrários uns aos outros, não é? Há contactos ténues, acho que a escrita está mais à frente.

Ele: ora, isso é incalculável, não estão numa corrida e isso é escrito por um indivíduo de letras, tu. Se soubesses o mundo como está os números, nem sei se podemos competir, está tudo embrulhado numa coisa maior que é o mundo.

Eu: pois, têm razão, esta forma de pensar é pequena. Não é tudo um combate, devemos pensar muito mais em comunicação que em adversários. não somos todos oponentes, devemos funcionar como partes da mesma equipa.

NÓS:  que discurso beato, somos todos irmãos e amigos e queremos todos o mesmo…

EU: que mentira, sou contrário ao grupo?

TU: que mentira, isto é bem mais complicado, o Grupo é feito de muitos EU’s diferentes.

ELE: o ego não está oposto ao grupo, ao NÓS.

NÓS: proponho que vamos entrando e discutimos isso à mesa.

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