No dia 1 de Janeiro de 2012, Cavaco Silva referiu a "situação difícil em que o país se encontra", expondo em especial as "dificuldades económicas". No dia 1 de Janeiro de 2011, o Presidente tinha notado: "os tempos que atravessamos são de grandes dificuldades". Acrescentou que "seria faltar à verdade afirmar que essas dificuldades vão desaparecer", sublinhando: "é imprescindível que estejamos unidos para enfrentar as dificuldades". E concluiu: "temos capacidade de ultrapassar as dificuldades". No dia 1 de Janeiro de 2010, Cavaco disse: "tenho a obrigação de alertar os Portugueses para a situação difícil em que o País se encontra", e apontou "a difícil situação das nossas contas públicas", terminando com uma referência a uma conjuntura "de grandes dificuldades". No dia 1 de Janeiro de 2009, o Presidente afirmou que era altura de "enfrentar as dificuldades", disse que não esconderia a verdade da nossa "situação difícil", previu que 2009 seria "um ano muito difícil" e concluiu que aquele era "tempo de resistir às dificuldades". No dia 1 de Janeiro de 2008, Cavaco fez notar que a conjuntura internacional era "difícil" e registou as "dificuldades de crescimento da nossa economia". No dia 1 de Janeiro de 2007, começou por dizer que o "quadro internacional" se apresentava "particularmente difícil", e depois lembrou as "dificuldades por que passam alguns". Perante estes factos, devem tirar-se duas conclusões:
1. Portugal vive tempos difíceis, que colocam algumas dificuldades;
2. Cavaco Silva pode ser um robô.
O discurso de ano novo do Presidente tem sido uma oportunidade de ouro para os portugueses distraídos perceberem melhor o seu país. Os cidadãos do país cujos salários estão entre os mais baixos da Europa e cuja taxa de desemprego é das mais altas, interrogam-se periodicamente acerca dos tempos em que vivem. Serão estes tempos muito fáceis, ou apenas moderadamente fáceis? Por sorte, todos os anos, o Presidente da República revela os resultados da análise exaustiva que fez a Portugal e comunica a todos que, na sua opinião, estes tempos são difíceis. E trazem consigo dificuldades. Claro que os cidadãos menos sofisticados protestam que assim também eles fazem previsões, porque é evidente que os tempos estão difíceis uma vez que vivemos em Portugal, e isto está difícil desde 1143. Não reparam que o diagnóstico de Cavaco é mais completo do que isso. Não são apenas tempos difíceis: são tempos difíceis repletos de dificuldades, subtileza que costuma escapar aos analistas. Além disso, mesmo em tempos de crise, Cavaco consegue transmitir uma mensagem de esperança - e de poupança. Numa altura em que se fala tanto de corte de custos, Cavaco sugere, com o seu discurso, que a figura do Presidente pode ser substituída por um gravador. De cinco em cinco anos, os cidadãos votariam na marca de pilhas a colocar no aparelho. E, no primeiro dia de cada ano, a maquineta anunciava dificuldades difíceis, sem cobrar salário nem auferir reforma. E ainda dizem que Cavaco Silva não aponta caminhos e soluções.
(ricardo araújo pereira)
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