15 abril 2013

monólogo interior, STOP




Estás a parar para começar e paraste para te ouvir, riscaste, não há censuras. Foda-se! não consigo fazer isto, ouve-te, não faças barulho, o barulho do camião a passar ajudou-me a escrever: descrição, o silêncio da alma o que é que ela diz? se calhar não tenho nada para dizer como o texto do Tiago (colega de workshop), serão todos iguais ao meu, o frenesim de se ouvir, desconstruir, que raio sempre nos ensinaram o contrário. Autocarro, e se tentasses pensar num tema? Sair-me-ia qualquer coisa sobre sexo, não vou ler um texto de um pensamento meu sobre sexo, não vou ler, estou a escrever, vou ler, vou reler este texto. stop.

Há bichos na minha cabeça pequenos aos saltos, loucura, estou a endoidecer, não estou nada. Estas guerras entre mim e mim aborrecem-me, gostava de ser mais decidido, talvez não, ser decidido é chato, lá estás tu com as morais sobre o bom e o mau, pensas demais, foi o que ele (o formador) pediu, que pensasse, que escrevesse e eu quero, estou a ser capaz, tanto como qualquer outro que me ouvisse a mim, não me tenho ouvido muito, tenho feito coisas contra mim, ouvir-mo-nos é difícil e eu não sabia, ouvir-me confunde-me, o melhor é fazer orelhas moucas a mim, estou a baralhar-me. Espera, estás a dialogar, tu e tu outra vez? quantos eus? encontrar um eu, não existe, és muitos, tens que te ouvir a todos os eus. Esqueçam isso: se ouvir um dá trabalho, ouvir todos é endoidecer, a loucura outra vez, isto começou nos bichos aos saltos, serão os eus? estava consciente que queria ouvir-me, mas não era isto que estava a pensar. Será que o Freud fazia este exercício? o Freud... o Freud é que podia tentar ouvir-me e escrever-me, ou outra pessoa qualquer, alguém capaz, de que eu gostasse, se calhar não gostava de me ouvir. De loucos, pára com a paranóia da loucura! já parei mas vai voltar, tenho pensamentos a mais para a velocidade da caneta, não consigo por causa disso, estás a conseguir, não acreditas em ti, eu adoro-me, pronto não há censuras mas não devia ter escrito isto, que vaidade "eu adoro-me" ainda por cima não é verdade. Quem quer escrever verdades!? Que raio queres tu escrever? parei, é impossível não parar. Sala com as pessoas: também pararam vocês? ontem frases curtas, hoje tenho que me censurar a não meter pontuação... ele (o formador) dá connosco em doidos. A loucura outra vez, eu disse que ela ia voltar. Mas isto solta-nos, esvazia-nos, já me sinto mais livre, é do chá. Quanto estará o Benfica? toda a gente vai achar que és viciado em futebol, ontem futebol hoje futebol. E daí? gosto sim. Quando é que isto acaba? quando decidires? e quando é que dcido? agora? ainda não, deixa ir... todos nos bancos a escrever sozinhos. o que é que terão para dizer? não tem que fazer sentido, fabuloso, não há problema dizers seja o que seja, mas a minha cabeça será lida como sem sentido? e que sentido é que ela tem?! stop.

Um cigarro. Um cigarro enche-te a cabeça de fumo, mas relaxa ou as pessoas acham que sim, e se te esticasses como o Basile (colega de workshop)? olhavas para a lua, já acendeste o cigarro e não te podes esticar porque escreves. Então para quê a discussão? não sabia que discutia tanto, se calhar é agora, deu-lhe para isto a cabeça, sempre que a tentas ouvir ela vai discutir, ela não quer que a oiças. Bela ideia ir para o chão, foi o Basile, aí está um gajo descontraído ou bom fingidor, gostava de ser descontraído, tenho tentado, se calhar não somos o que queremos, somos e pronto. Tenho sido. stop.

(meu 20.10.2005)



no computador:

tenho vivido muito em monólogo interior, ups, talvez não, estar sem a fala correta não permite pensar mais nem melhor, dar mais valor à conversa, ao espaço, ao tempo, ao ruído, ao silêncio, ao olhar, stop.

(15 de abril de 2013)

Sem comentários: