26 abril 2015

carta para o Banzão



Querido Banzão, 

Quero falar sobre ti sem adjectivos, quero tornar a minha escrita mais simples. Tem a primeira dificuldade de descrever ser feito de adjectivos que não quero usar!

Vim para o Porto, para Gaia.

Falar/escrever sobre ti representa algum egocentrismo, alguma vaidade: tu és eu e eu sou tu. Gosto do que somos, mesmo quando estamos longe, ou até mais, vives em mim e eu em ti! 
Estando longe permites-me um olhar distante.

Já várias vezes tenho pensado, e tem evoluído, que quero e preciso encontrar um equilíbrio entre espaços: estar bem onde estou!

Desde os seis anos que sempre vivi e cresci aí com curtas passagens por Alemanha - Berlim, Lisboa - Benfica e Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão (CMRA).

Viver num espaço significa sermos criados por ele, por suas pessoas, somos formados de onde e como vivemos, educar implica deixarmos partir para crescer sozinhos.

Percebes melhor qualidades e defeitos quando te deparas com um mundo novo e desconhecido, quando vives com novas pessoas que não tem memória de quem és, sem vivermos com quem nos conhece.

É preciso sairmos do conforto do lar para crescer, longe de ti, Banzão.

Fazes falta, mesmo se voltar cá ao fim de semana é receber um arraial de mimos, fazes-me falta de imensas maneiras: nas imagens dos passeios com as manas Joaquim à volta do pinhal, nas pessoas (os pais e tios, amigos e A Sunny) e nos animais (a Ginja e o Félix) com quem vivo, és muito Amor, nos espaços: no mar e nas ondas, na praia e na areia, na serra com sua vida: na terra, nas flores e nas árvores onde acampava em noitadas com os amigos, o pinhal onde és minha casa, as noitadas adolescentes, o ar, a luz, as brisas leves que respiro, o céu, as ideias, o escrever, o ler, as escolas preparatória da Sarrazola, onde íamos por exemplo roubar fruta em grupo nas horas livres. 

Falar sobre ti, Banzão, é falar sobre a minha vida, sobre o melhor que eu tenho.

A certa altura tornaste-me adepto algo fanático do futebol, por ele me tornei social ou por ser social me tornei jogador de futebol. O futebol é potenciador de conversas masculinas. Sempre gostei de conversar com elas também ou até mais com elas. Elas são mais potenciadoras de diversos assuntos que eles? Caio sempre neste erro de generalizar, falar em plurais. 

Depois cresci e interessei-me por muitas coisas e mundos!
 
Descontracção é o que me suscitas e uma responsabilidade em ser descontraído.

É exigente este espaço, estradas de terra batida, pinhais circundados por elas, obriga a querermos preservar a natureza de onde vimos e assimilá-la para a darmos ao outro; tu és muito habitado como segunda casa, de férias e de fim-de-semana.

Sou apaixonado por ti, ganhei a virtude de viver aqui mais com a população rural, outra classe; com mais reserva, mais fugido ao mundo e às pessoas.

Perto da capital: de três quartos de hora de carro quando viemos para cá, em 86, a meia hora agora, em 2015, podemos sempre ter acesso a outro tipo de cultura mais citadina, a distância não promove ausências, acaba por potenciar momentos mais intensos e trazer sossego e calma.

És conhecido pelas teus dotes românticos terem sido abordados por escritores, falada como referência mundial do Surf e Bodyboard, tens o ponto mais ocidental da Europa continental: o cabo da Roca, tens oceano e serra no mesmo espaço.

Quero elogiar-te!

Se alguma vez mudar mais efectivamente de casa, despedir-me de ti mais longamente, vai custar ou não quero.

Vivenda agradável cercada por teu jardim tem vida e boa energia.

Tens gestos admiráveis e sabores da cozinha mais bonita que conheço.

Teu corredor grande à entrada dá ideia de Democracia com muitas portas e livros, um mundo em cada um e uma.

A mesa na sala ensina que as refeições são alimento do corpo e da alma, potencia a conversa.

Cada quarto tem magia.

Tens lareira perante uma zona onde recolhemos à noite.

É difícil sentirmo-nos mal ali.

Abraço minha casa que te amo!

Zé Maria

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