Querido Banzão,
Quero falar sobre ti sem adjectivos, quero tornar a minha
escrita mais simples. Tem a primeira dificuldade de descrever ser feito de
adjectivos que não quero usar!
Vim para o Porto, para Gaia.
Falar/escrever sobre ti representa algum egocentrismo, alguma
vaidade: tu és eu e eu sou tu. Gosto do que somos, mesmo quando estamos longe,
ou até mais, vives em mim e eu em ti!
Estando longe permites-me um olhar
distante.
Já várias vezes tenho pensado, e tem evoluído, que quero e
preciso encontrar um equilíbrio entre espaços: estar bem onde estou!
Desde os seis anos que sempre vivi e cresci aí com curtas
passagens por Alemanha - Berlim, Lisboa - Benfica e Centro de Medicina de
Reabilitação de Alcoitão (CMRA).
Viver num espaço significa sermos criados por ele, por suas
pessoas, somos formados de onde e como vivemos, educar implica deixarmos partir
para crescer sozinhos.
Percebes melhor qualidades e defeitos quando te deparas com
um mundo novo e desconhecido, quando vives com novas pessoas que não tem
memória de quem és, sem vivermos com quem nos conhece.
É preciso sairmos do conforto do lar para crescer, longe de
ti, Banzão.
Fazes falta, mesmo se voltar cá ao fim de semana é receber um
arraial de mimos, fazes-me falta de imensas maneiras: nas imagens dos passeios
com as manas Joaquim à volta do pinhal, nas pessoas (os pais e tios, amigos e A
Sunny) e nos animais (a Ginja e o Félix) com
quem vivo, és muito Amor, nos espaços: no mar e nas ondas, na praia e na areia,
na serra com sua vida: na terra, nas flores e nas árvores onde acampava em
noitadas com os amigos, o pinhal onde és minha casa, as noitadas adolescentes,
o ar, a luz, as brisas leves que respiro, o céu, as ideias, o escrever, o ler,
as escolas preparatória da Sarrazola, onde íamos por exemplo roubar fruta em
grupo nas horas livres.
Falar sobre ti, Banzão, é falar sobre a minha vida,
sobre o melhor que eu tenho.
A certa altura tornaste-me adepto algo fanático do futebol,
por ele me tornei social ou por ser social me tornei jogador de futebol. O
futebol é potenciador de conversas masculinas. Sempre gostei de conversar com elas também ou até mais
com elas. Elas são mais potenciadoras de diversos assuntos que eles? Caio
sempre neste erro de generalizar, falar em plurais.
Depois cresci e interessei-me por muitas coisas e mundos!
Descontracção é o que me suscitas e uma responsabilidade em
ser descontraído.
É exigente este espaço, estradas de terra batida, pinhais
circundados por elas, obriga a querermos preservar a natureza de onde vimos e
assimilá-la para a darmos ao outro; tu és muito habitado como segunda casa, de
férias e de fim-de-semana.
Sou apaixonado por ti, ganhei a virtude de viver aqui mais
com a população rural, outra classe; com mais reserva, mais fugido ao mundo e
às pessoas.
Perto da capital: de três quartos de hora de carro quando
viemos para cá, em 86, a meia hora agora, em 2015, podemos sempre ter acesso a
outro tipo de cultura mais citadina, a distância não promove ausências, acaba
por potenciar momentos mais intensos e trazer sossego e calma.
És conhecido pelas teus dotes românticos terem sido abordados
por escritores, falada como referência mundial do Surf e Bodyboard, tens o
ponto mais ocidental da Europa continental: o cabo da Roca, tens oceano e serra
no mesmo espaço.
Quero elogiar-te!
Se alguma vez mudar mais efectivamente de casa, despedir-me
de ti mais longamente, vai custar ou não quero.
Vivenda agradável cercada por teu jardim tem vida e boa
energia.
Tens gestos admiráveis e sabores da cozinha mais bonita que
conheço.
Teu corredor grande à entrada dá ideia de Democracia com
muitas portas e livros, um mundo em cada um e uma.
A mesa na sala ensina que as refeições são alimento do corpo
e da alma, potencia a conversa.
Cada quarto tem magia.
Tens lareira perante uma zona onde recolhemos
à noite.
É difícil sentirmo-nos mal ali.
Abraço minha casa que te amo!
Zé Maria
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