Conheçam Francisco Bosco em debate: ser pai no séc XXI com Ricardo Araújo Pereira.
Há
um aspecto das eleições francesas que tem sido incompreensivelmente
desprezado pelos analistas: Macron tem mais ou menos a minha idade.
Depois de Justin Trudeau, é o segundo rapaz da minha geração a ascender
ao poder. Este facto sugere-me duas reflexões diferentes. Primeira: eu
já sou uma pessoa que se refere a outras como “rapazes da minha
geração”. A minha avó costumava usar a mesma formulação, no caso dela
para designar rapazes de idade igual ou superior a 80 anos. Segunda:
isto significa que a minha geração vai começar a mandar no mundo. Temo o
pior.
Não sei se estamos preparados. Está tudo contra nós. Somos
a última geração a saber o que é viver sem internet, smartphones, redes
sociais e apps. Aqueles que vieram depois de nós já não sabem o que
isso é e têm dificuldade em imaginá-lo. Para eles, nós nascemos no
século XIX. Talvez nunca uma geração tenha estado tão distante da
seguinte, quanto à experiência de ser humano neste planeta. “No teu
tempo já havia carros?”, perguntam
-me, por vezes, pessoas de gerações
mais novas. Depois de mandar essas pessoas para o quarto de castigo,
ponho-me a pensar no que aquela pergunta revela: a nova geração olha
para a nossa como nós olhávamos para o Marquês de Pombal – e os jovens,
mesmo os que não são jesuítas, não consideram certamente agradável um
governo do Marquês de Pombal. Eles são pessoas do futuro que, por
qualquer razão inexplicável, estão a viver no presente connosco. Agora
que mandamos nós, temos de lidar com as gerações anteriores, que acham
que nós não sabemos nada, e com as gerações seguintes, que também acham
que nós não sabemos nada. Uma coisa é a geração anterior lamentar a
nossa falta de experiência, outra coisa é acontecer o mesmo com a
geração seguinte. Infelizmente, é possível que os jovens tenham razão:
nós temos menos capacidade do que eles no que respeita a lidar com o
mundo tal como ele é hoje. Tinha de me calhar a mim: quando finalmente
atinjo a maturidade, o mundo muda radicalmente e faz-me criança outra
vez. É preciso ter azar.
E há mais. Tenho a suspeita muito forte de
que, em breve, os cientistas descobrirão uma maneira de viver para
sempre. Tudo indica que não faltará muito. E eu até desconfio que sei
quando é que isso vai acontecer. Em princípio será exactamente um dia
depois de eu ter morrido
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