29 fevereiro 2020

É difícil não falar sobre ele... mesmo falando contra ele

... mesmo sabendo que ele se alimenta disso e que as novas gerações (filhos e netos) vão sofrer na pele com os seus populismos.

O académico de 2013 é adversário do político de 2020: são a antítese um do outro, apaixonou-se pelo que criticava e resolveu imitá-lo (link).

Mete medo os políticos novos que têm aparecido por aí, na sociedade moderna!

26 fevereiro 2020

Entre o longe e o perto

Das coisas mais fascinantes que temos é a nossa relação com o espaço e o tempo.

Proximidade e intimidade, por vezes, são só um olhar com um desconhecido.

A Largura espacial, muitas vezes, normalmente, é temporal.

Num tempo em que é cada vez mais fácil estar perto comunicando à distância;

Temos evoluído a passos gigantescos: os nossos avós não saberiam viver hoje em dia, teriam que reaprender tudo!

Num tempo em que as comunicações ganharam novos métodos: a escrita pela Internet, entro-vos pela casa, sento-me no sofá.

Os telefones que transformam a nossa voz ausente em presente.

Estar longe pode significar atrasado e/ou adiantado.

Perto do momento é estar em cima da hora.

O ser humano é impressionante: a capacidade que tem de imaginar, fazer presente o longe; construir imagens, ideias por dentro; fazer perto o longe e longe o perto.

Recordações;

Preocupações;

Imaginações;

Sonhos;

Pensamentos;

Respiro, inspiro, expiro e vivo!

24 fevereiro 2020

sobre a Serenidade...



(Mar de Munir Houssin Made in nordeste)


A Serenidade implica dares-te tempo e espaço.

A Serenidade procura Amor e encontra.

A Serenidade pode estar em nós no sitio mais cheio de gente.

Podes estar sereno onde há barulho e luz.

A Serenidade canta serena e respira tranquilidade.

Estar sereno por vezes é necessário.

Para renovares energia.

Recebe e entrega sopro e balançar das ondas.

Estar sereno é uma responsabilidade para connosco mesmos.

Há quem não saiba estar sereno, nem passar serenidade.

É um dom, um jeito de estar/de ser.

A Serenidade não se tem, procura-se!

Não se é sereno sempre, é preciso aprender a ser a maior parte do tempo... 

22 fevereiro 2020

porque é que a Eutanásia NÃO deve ser Referendada?

Não supõe que haja mais gente a querer morrer, só que temos essa opção em casos extremos; não estaremos a sobreviver em estado vegetal ad eternum (para sempre)!

O voto por referendo (ainda mais numa altura em que a abstenção está pelas horas da morte...) é anti democrático: era bem provável que em nome dos valores da igreja católica se votasse por prolongar a vida em condições sobre humanas porque só Deus

Os deputados são quem é eleito para nos representar, e a eles devemos essa responsabilidade; têm plenas condições para votar por nós; tirá-la porque e quando é importante é como não acreditar na DEMOCRACIA.

Não se morrerá só porque sim, por ser mais fácil.

Com esta votação aprovada a favor da Eutanásia as pessoas têm mais respeito e maior dignidade pela vida e pela forma de morrer.

Cada caso é um caso tem aqui maior relevância.


De Bruno Nogueira (link): (surpreende quando diz coisas inteligentes sem tempo para pensar, vejam vídeo)

"A lei que foi hoje aprovada na assembleia sobre a despenalização da eutanásia é um grito importante da liberdade individual de cada ser humano. Ainda falta muito caminho, mas a noite fez-se mais clara. Os que são a favor hão de poder, finalmente, tomar essa decisão, que só diz respeito a quem a toma, e os que são contra podem tomar a decisão de optar por um fim diferente para a vida, se assim o entenderem.
É uma lei bonita em que ninguém sai a perder, e é isso que custa a entender nos adeptos fervorosos do não: a incapacidade de perceberem que o melhor para eles não serve toda a gente. Que a vitória do sim não os obriga a escolherem a eutanásia como solução final. Que a ideia de corpo decomposto e em dor física ou psicológica até um final divino é uma ideia que pode servir uns e revoltar outros. Que sofram os que querem esse caminho (não há julgamentos morais), e que partam com hora marcada os que querem dar por findo o capítulo.
Cuidar da vida é também deixá-la quando ela nos trai. Negar a morte a alguém não pode ser assunto de quem vive com o corpo todo. Hoje ganhou a liberdade de escolha, para o sim e para o não.
Será que uma vida só termina quando o coração se demite das suas funções? Um dia também eu terei essa pergunta por perto. E felizmente, se tudo correr bem, poderei ser eu a escolher a minha resposta", concluiu"

19 fevereiro 2020

Quando a energia te aproxima do nós

Rejuvenescer (link) faz-nos volver a los deciete e não sei quando ver a reportagem (link) mas as duas fazem sentido ser pensadas ao mesmo tempo.

Perceber que somos bastante mais do que o exterior, já se escrevia/dizia no Principezinho de Saint Éxupery que 'O essencial é invisível aos olhos, e só se pode ver com o coração'.

E isso é verdade, para problemas de toda a ordem: 

racismo. sexismo, machismo, forças etárias, corpos eficientes e limitados, interesses e desinteresses, classe social, modas, belezas versus conhecimentos. exotismo, etc.

temos nas diferenças nossa maior qualidade!


por mais Venturas e desventuras que a vida tenha...

... elas aparecem encapuçadas, os meninos Bem de direita fascizóides utilizam-se destas falhas para chegar ao poder e não se deve falar neles porque é o que querem, são abjectos!

... estar na AR;

... a conversar com pessoas do gabarito do Ricardo Sá Fernandes e do Miguel Sousa Tavares; conversar que é como quem diz disparar asneiras para o ar, discutir fazendo barulho.

É preciso cuidado com estes tipos que com casos como os do Marega vão conquistando o seu povinho com os seus argumentos de quem defende os oprimidos trabalhadores que descontaram toda a vida contra o estrangeiro;

Esquecem-se que quando emigram passam a ser eles os emigrantes.

Falam sobre qualquer tema, importante ou não, como parecendo estar na CMTV a discutir bola, até deve haver pessoas mais entendidas para discutir a dita.

17 fevereiro 2020

Moussa Marega ou tenho vergonha da ser português!


Marega (link) está nas capas das noticias, não pelo golo que marcou mas por ter abandonado o campo/jogo do Guimarães - Porto, quando foi alvo de insultos racistas numa atitude corajosa e digna.

Já escrevi aqui e aqui (dois links) porque acho estúpido estas opiniões preconceituosas de um tempo anterior ao existirem humanos, existirem Pessoas.

Ruud Gullit (link) teve a atitude elevada e louvável reconhecendo a saída e criticando os restantes jogadores por não o terem acompanhado!

Não há nada na raça/cor que defina a nossa personalidade, é triste que pessoas como o André Ventura sejam do Benfica... e ele é a prova mais clara que não se é inteligente devido à cor branca..

preciso de TI!

Que não seja entendido isto como um pedido de casamento:
Preciso de quem tenhas vontade para partilhar a vida comigo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, respeitando-nos mutuamente em todos os dias combinados.

Mais a sério: sou o Zé Maria, tenho 39 anos e despistei-me no passado dia 18.10.2006 da estrada, contraí um TCE (Traumatismo Crânio Encefálico), desde aí, vou andado e falando melhor mas preciso de um auxiliar para me deslocar as terapias, dança inclusiva, cinema, lazer alguém que ande comigo e me apoie, de preferência alguém que more na zona de Sintra, praia das Maçãs.

Nesse sentido, a  CAVI AlmaSã, (é em Almada)  informa que irá dinamizar, no final do presente mês, uma formação, total de 50h, em modelo b-learning (presencial e online). É preciso: curriculum vitae, certificado de habilitações literárias, carta de motivação. Apenas podem ser candidatas as pessoas que preencham, cumulativamente, os seguintes requisitos:
- Idade igual ou superior a 18 anos;
- Escolaridade obrigatória.

Por favor, contacta-me para zemariabelo@gmail.com!

Não é preciso ter conhecimentos na área da fisioterapia e não tem que ser mais que um amigo com carta de condução.

É uma boa maneira de cuidares e arranjares um salário: O salário a pagar aos assistentes pessoais tem uma referência de 900 euros para 40 horas semanais, sendo que o salário é proporcional às horas semanais trabalhadas e contratualizadas com o CAVI, a combinar!

Obrigado!

16 fevereiro 2020

em cartas da prisão

No meio das trevas, sorrio à vida, como se conhecesse a fórmula mágica que transforma o mal e a tristeza em claridade e em felicidade. Então, procuro uma razão para esta alegria, não a acho e não posso deixar de rir de mim mesma. Creio que a própria vida é o único segredo.

Rosa Luxemburgo

15 fevereiro 2020

As novas tendências são feias...



Lá Isso É - Sérgio Godinho

O fascismo é uma minhoca 
que se infiltra na maçã 
ou vem com botas cardadas
ou com pezinhos de lã


O PAN e o novo CDS têm menos votos nas estimativas de voto do que o execrável André Ventura, Chega!; o Livre foi uma esperança gorada e triste, aquela senhora que tanto prometeu saiu-se uma desilusão; já não há geringonça; o Passos Coelho e o Cavaco reaparecem!

O PS está a arrastar-se mas o Paulo Pedroso apareceu com pinta e inteligência, deixou-se de politica.



Uma má piada recebida no Whattsapp (que implica uma explicação do meu fraco humor mas não devia divulgá-la!) divide os portugueses em (só?) dois: os que trabalham e são correctos e os que abusam da boa vida e estão errados; uns são protegidos por um estado criado a favor desses malandros, o governo muda e a trafulhice não muda com os governos sejam eles de esquerda, de direita, do centro e está sempre do mesmo lado, do rico.

Uma das coisas mais bonitas que temos hoje em dia é o Estado Social, protege ricos e pobres, doentes e com saúde, quem só quer fazer/viver do lazer e do trabalho, protege todos: isso é muito bonito, esta igualdade quando nasces.

Não há gente protegida quando nasce nem maltratada à nascença. 

Temos nessa igualdade que vai dar em pessoas diferentes desde os tons dos olhos às pestanas nossa maior riqueza humana! 

Não percebo como se pode dizer mal da diversidade cultural de Portugal; defende-se todos iguais e de cabeça
rapada, é isso!?

O conto "A cigarra e a formiga" versão Portugal 2020.🇵🇹️🐜🦗


A burra da formiga trabalha no duro o ano todo, constrói a sua casa e acumula provisões
para o Inverno. 

Enquanto isso, a cigarra passa os dias no ginásio 💪, no café ou a arranjar as unhas de
gel e o caraças 💅

As noites são no Bibá la noche com as amigas. #girlpower 🍸🍻🥃🍾


Chegado o inverno 🌨️🌩️☃️, a formiga refugia-se em casa onde tem tudo o que precisa até á
primavera. 🍞🍗🥣🔥


A cigarra, cheia de frio e de fome, vai ao programa da Cristina queixar se à Cristina Ferreira que não
é justo que a formiga tenha direito a casa e comida quando outros, com menos sorte que ela, passem
frio e fome. O Hernáni Carvalho diz que é uma vergonha. 👎👎👎


A CMTV não perde a oportunidade e faz um directo à porta de casa da formiga, passando imagens
da formiga ao quentinho com a mesa cheia de comida.


O povo fica revoltado ao saber que o seu país, dito desenvolvido, deixa sofrer a pobre cigarra
enquanto que outros andam a viver à grande e à francesa. 🇫🇷️


É organizada uma marcha de apoio à cigarra. #jesuiscigarra 🙏


É feito um episódio especial do Prós e Contras - RTP onde se questiona como é que a formiga
enriqueceu às custas da cigarra.
De um lado da bancada, os defensores da igualdade (pró-cigarra). do outro lado, os sem-coração 💔
(Que defendem a egoísta e insensível formiga)


Em resposta às mais recentes sondagens. O governo prepara uma lei sobre a igualdade económica
com efeitos retroactivos (desde o verão) 
Os impostos da formiga aumentam consideravelmente e ainda incorre numa multa por não ter
prestado assistência à cigarra. Os descontos da segurança-social também sobem, de modo a ser
justamente partilhados com a cigarra. #rendimentominimo 🤑


A casa da formiga é penhorada pela finanças por não ter conseguido pagar os impostos.


A formiga, decepcionada, faz as malas e emigra para um país onde o seu esforço seja reconhecido e
onde possa desfrutar dos frutos do seu trabalho árduo.  🇦🇺️🇨🇦️🇧🇻️🇨🇵️🇩🇪️🇫🇮️🇭🇲️🇯🇵️🇮🇸️🇱🇺️🇷🇴️🇺🇲️


A antiga casa da formiga é convertida numa habitação social para cigarras. Que, irresponsavelmente,
não param de fazer filhos 🍆💦👨‍👧‍👦👩‍👧‍👦 e que vivem de doações de comida, cerveja e de coca-cola.
O pouco que recebem dos descontos da formiga mal dá para os bens essenciais, como por exemplo
sapatilhas da Nike e caps da Obey, 🕶️👚👟👠💍💄👜🎮


A casa deteriora-se por falta de cuidados. 
O governo é fortemente criticado pela falta de meios colocados à disposição da cigarra, que vive
agora em condições quase desumanas.


A oposição propõe uma comissão de investigação multi-partidária que custará milhões de euros.


Entretanto a cigarra morre de overdose.


Os media garantem que a morte da cigarra deveu-se à falta de apoio social por parte do governo, que
falhou em acabar com as desigualdades sociais e a injustiça económica.


A casa acaba por ser ocupada por uma família de aranhas imigrantes. traficantes de droga e que
aterrorizam a vizinhança.


O governo felicita-se pela diversidade cultural de Portugal

10 fevereiro 2020

como eu já disse: Racismo é burrice!!!

Dizer que Portugal é um país racista é uma generalização sociológica pelo menos tão abusiva quanto a pretensão oposta: a de que Portugal não é um país racista. 

Falar de racismo não é pior do que estar calado. Isso é conformarmos-nos com a ideia de que o racismo é um monstro inevitável que mais vale deixar estar — como se estivesse adormecido. Receá-lo assim é como dizer às nossas filhas que não usem mini-saias para não despertarem vontades agressoras. Tem de se falar de racismo, explicá-lo, e quando for o caso, denunciá-lo. Se o monstro existe, mesmo adormecido, é melhor despertá-lo e combatê-lo, até porque nada nos garante que não esteja a ser nutrido enquanto achamos que dorme. 

Mas dizer que Portugal é um país racista é uma generalização sociológica pelo menos tão abusiva quanto a pretensão oposta: a de que Portugal não é um país racista. O contrato social que fez o estado de direito democrático a que chamamos Portugal — com a sua Constituição e os valores que a norteiam, do 25 de abril e dos três D — não é racista. E a todos aqueles que lutaram por isso estamos gratos, porque instituíram um regime político com o quadro de valores necessário para que se possa continuar a aprofundar princípios de justiça e de igualdade. 

Posto isto, é evidente que há racismo em Portugal. Sabemos que a potência colonial que foi o Estado Novo assentou numa visão racista da sociedade, antiga e demasiado entranhada para que simplesmente se esfumasse com a deposição do regime que a alimentou. Sabemos que nos anos 70 e 80 do século passado grande parte dos nossos avós não olhavam angolanos, guineenses ou moçambicanos como cidadãos plenos e lembramo-nos das muitas “anedotas de pretos” que ouvíamos nas escolas ou mesmo em reuniões de família. 

 Mas se fizermos este esforço de memória, não podemos deixar de reconhecer que muito caminho se fez ao longo destas décadas em que vigoraram os princípios da liberdade e da igualdade de direitos. E que aliás coincidiram, pelo menos desde meados dos anos 80, com o crescimento em Portugal de comunidades oriundas dos países antes colonizados. 

 Se o racismo persiste, a verdade é que a convivência com comunidades racializadas num ambiente democrático também o foi desnaturalizando e tornando inaceitável na maior parte das esferas da vida pública. E a verdade é que não se contam hoje as mesmas anedotas que contávamos, não sem pelo menos a consciência da gravidade do que elas representam. 

Mas, se é verdade que este caminho foi feito, também é verdade que houve outros de sentido bem diferente e negativo. A sociedade é complexa e acolhe tendências contraditórias. 

 Primeiro, os anos 80 e 90 foram vendo crescer um racismo de submundo, contra as instituições, que aproveitou os lugares de onde elas estavam ausentes para brutalizar. Vimos as investidas violentas do racismo nos ataques nocturnos dos gangues de skinheads ou nas claques de futebol. E nunca deveremos esquecer-nos de como foi assassinado Alcindo Monteiro. A estas investidas a sociedade respondeu com a devida intolerância à intolerância, muitas vezes com exposição ao risco. Um dia, o estado de direito português deveria mostrar o seu maior reconhecimento pelo trabalho extraordinário de associações como a SOS racismo. 

Segundo, as décadas que contam a idade da democracia mantiveram em silêncio uma separação social atroz. Os bairros periféricos guetizaram-se, pobres e impermeáveis à capacitação que a escola devia assegurar. Foram décadas que passaram sem que acontecesse a dissolução da desigualdade social expressa na cor da pele. Pelo contrário, nesses bairros a desigualdade social guardou a diferença de cor e, certamente, só muito pouco realismo não reconheceria o contrário: que a diferença de cor inibiu o caminho da maior igualdade. 

Terceiro, se nos deixa facilmente perplexos ver as babás negras atrás das famílias brancas nos calçadões brasileiros, mais facilmente não vemos a cor sempre igual da pele de quem está a varrer as folhas dos jardins públicos, ou o lixo do chão dos supermercados aonde vamos diariamente fazer as nossas compras, pessoas nossas concidadãs, demasiado caladas. Até que a excepção que o nosso estado de direito gostaria que fosse regra, sem o conseguir, rompe e grita que quer tudo aquilo a que tem direito. E com razão nos censura a distracção. E exige que deixemos de não ver aquilo que vemos todos os dias que saímos à rua. 

Há uns meses o repórter brasileiro Gilberto Porcidonio lançava no Twitter a provocação «Se o racismo acabasse HOJE, o que você faria?» E é um lençol de respostas que descrevem gestos tão banais mas que «só surpreendem quem não tem pele preta»: «Eu iria ao shopping de chinelo FÁCIL.», «Pegaria o celular da bolsa dentro de loja sem medo», «andaria atrás das pessoas tranquilo sem querer passar na frente delas logo», «Correria na rua, com tranquilidade», etc. 

Surpreende e revolta o grau de auto vigilância e a falta de liberdade a que estão sujeitas pessoas por causa da cor da sua pele. É no Brasil, mas sabemos que também é cá. O exemplo de Cláudia Simões é dolorosamente ilustrativo. Tivesse ela sido mais submissa, tivesse tido presente qual era a cor da sua pele e a cor da pele da sua filha, tivessem percebido as duas que não podem estar à vontade na rua… afinal, para demasiados, esta não é realmente a terra delas, tenham ou não passe, tenham ou não cartão do cidadão. 

Mas, além de tudo o que se disse, o racismo está hoje a assumir uma nova e grave dimensão, inédita na história da democracia portuguesa. Tenta por todos os meios desvincular-se da marginalidade. Tenta, com alarmante sucesso, entrar nas instituições públicas e por elas ser reconhecido. Por exemplo, nas forças de segurança, a braços com a endémica falta de meios económicos e de reconhecimento positivo. As investidas do racismo nas forças de segurança parecem ser bem mais do que uma infiltração de marginais. 

O caminho é o mesmo que quase leva o racismo à Assembleia da República. A Assembleia que ainda há um ano premiava um trabalho jornalístico sério sobre racismo é a mesma em que hoje tem assento um representante que propõe que outra deputada portuguesa «seja devolvida ao seu país de origem». 

Este tipo de discurso é um rastilho em palha seca, pronta a arder, num tempo em que as pessoas têm dificuldade em encontrar alternativas dentro do arco da democracia e em que o descontentamento flui e se mostra por redes e canais que antes não conhecíamos. 

É por essas redes que o monstro oportunista busca o seu alimento e vai também surgindo em plena luz do dia. Alimenta-se de todos os descontentamentos que puder parasitar, sempre pretexto para encontrar falsos culpados, sejam os “pretos”, os ciganos que roubam, e agora os chineses que transmitem doenças. Mas também sugando os restos bolorentos de um nacionalismo que infelizmente ainda encontra ecos vários no nosso tempo. 

O racismo é verdadeiramente um morto-vivo que se vai nutrindo em vários ressentimentos sociais. Alimenta-se mesmo de cada palavra contra si proferida, receamos, pensando numa lógica de soma incontrolada de reações e de reações a reacções. Mas mais receio devemos ter se nos calarmos. Porque o racismo tem vítimas. Agora são umas, depois virão outras. Se não lhe fechamos a primeira porta, vai ser cada vez mais difícil fechar-lhe portas nos nossos locais de trabalho, nos espaços de convívio e até nas nossas casas. 

Erramos muito, e talvez irreversivelmente, se encaramos o ressurgimento do racismo como qualquer coisa que existe apesar da democracia e da Constituição Portuguesa. É o regime que está em causa quando o seu consenso fundamental, mais activamente ou mais resignadamente subscrito da esquerda à direita, é visado. 

Erramos se achamos que o arco das forças e sensibilidades políticas que devem opor-se ao ressurgimento do racismo são apenas de esquerda, ou pior, são apenas a parte da esquerda mais ligada ao activismo anti-racista. Aliás, também a direita democrática e dos direitos tem de ser convocada. Erramos ao achar que o activismo anti-racista faz mal quando enfatiza, e até grita, a sua luta.

Erramos ao não reconhecer legitimidade a uma política das identidades sempre que a identidade é usada como um jugo de discriminação e desigualdade. E não erramos menos se fizermos das identidades um direito à intolerância, um direito a calar quem quer que seja. Nem a pluralidade de abordagens, nem a diferença geracional podem ser obstáculos ao entendimento fundamental de que o inimigo a combater é o racismo. 

Erramos ao não identificar o modo parasitário como o racismo bebe de diversas fontes, umas antigas, mas outras novas, como um morto-vivo. 

Erramos profundamente se cedemos ao tribalismo das redes sociais, ao maniqueísmo entre formas de luta. Erramos se acusamos de racismo quem nunca o foi apenas por não se reconhecer num activismo anti-racista. 

E erramos se censuramos a um activista anti-racista não estar tão atento como outros à crise climática, à luta dos trabalhadores, ou à corrupção. Por definição, os activismos são particulares. 

E erramos se cedemos ao hábito que diminui a legitimidade de novas vozes com valores certos, mesmo se gritados com menos cordialidade académica e numa linguagem pouco apreciada. Assim, sobram-nos os melindres cívicos e alienamos o que deveria sobrelevar todas as razões. Todos são necessários diante de uma ameaça aos valores do regime, que começará no racismo e não parará antes de pôr em causa todas as garantias fundamentais ligadas ao direito à diferença, escolhida ou não, sem prejuízo da igualdade de direitos e de oportunidades em liberdade.

temas a discutir nas presidenciais

1) crise ecológica e da forma como vamos fazer-lhe frente politicamente;

2) crise da representação democrática e da falta de confiança na política;

3) Portugal: como recuperar uma visão sobre o seu modelo de desenvolvimento e a forma de reformar e preservar o seu estado social;

 

08 fevereiro 2020

Jogo do tempo



Cinema Paradiso Original Trailer (1988)

Volta e meia fala-se nele cá em casa: no cinema Paradiso é usual fazer tudo!

Dormir, fazer barulho, rir, chorar, bocejar, mijar, VIVER!

Lembrava-me da criança Toto (de Salvatore) e do seu sorriso, do amigo projeccionista Alfredo, da relação de cumplicidade entre eles e do cinema Paradiso; sabia que era um filme mítico mas não me lembrava do enredo e da paz que passa aquela amizade.

É daqueles filmes que nos melhora: para ver e rever, ver e rever muitas vezes, não perde actualidade!!!

Foi mágico reencontrar um tempo, feito em 1988, sobre 1980; realizado há 32 anos, sobre uma história bonita passada há 40 anos na  Sicília, assim:

Salvatore Di Vitta, um reconhecido cineasta italiano, recebe um telefonema inesperado da sua mãe na Sicília, onde nasceu e cresceu, que lhe dá a conhecer a morte de Alfredo, o projeccionista local que deixava Totó - o diminutivo por qual Salvatore era conhecido - ver todos os filmes que passavam pelo Cinema Paraíso. De alguma forma, Alfredo ocupou o papel de pai de Totó, desaparecido durante a II Guerra, e ofereceu-lhe um mundo de magia que era o seu acolhedor refúgio naqueles dias e que, mais tarde, viria a ser o seu próprio mundo. Agora, Totó tem de voltar à sua terra natal para enterrar o homem que determinou a sua vida e receber o seu último legado. "Cinema Paraíso", de Giuseppe Tornatore, é um dos bastiões do cinema italiano: conquistou em Cannes o Prémio Especial do Júri e a Academia de Hollywood escolheu-o como o melhor filme de língua estrangeira. Um filme nostálgico que encerra uma emotiva homenagem à Sétima Arte.

ensinar a voares pelas tuas asas!!!

Desafio nº 197 (link): esta professora, a Margarida, gosta mesmo de ensinar e desenvolveu o método perfeito para te fazer escrever, combateres-te a ti próprio por regras e libertações que te libertam, ela é como alguém que ensina limitações a serem esbatidas para voares melhor por ti.


 Obrigado pelos desafios, PROFESSORA!
Vamos ligar estas palavras em pares (liguem as da a linha de cima com as da linha de baixo como preferirem):

FURACÃO    TRABALHO     DESILUSÃO    FELICIDADE

VIOLETA       AMARELO           AZUL             CASTANHO

Depois, sabendo que as duas palavras de cada par estão sempre próximas no texto, o que vos surge?


Este é o meu mas se ainda não publicou, prefiro não publicar: não está suficientemente bom para corresponder à exigência  que a caracteriza nos seus desafios e de que gosto.

Assim, eram quatro cores  (amarelo, castanho, violeta e azul)  
diferentes associadas a quatro palavras (furacão, felicidade, trabalho, desilusão) 
podiam ser tons, cheiros, sentimentos: podia ser imensa coisa 
mas a regra era essa em setenta e sete palavras. 

E sem regras não há jogo, nem dificuldade.

Podia ficar amarelo como um furacão, 
Castanho de desilusão;
Violeta de felicidade; 
Azul de trabalho sonhador

A dificuldade se fosse fácil não tinha piada 

Assim era a vida 
Colorida
Exigente
Difícil
Divertida

07 fevereiro 2020

moving from within by Lynn Crane

Moved to stilness
           Listening
An impulsive beckoms to move
Slowly
I ever that familiar place
            Dance
Immersing myself in movement,                  feelings              toughts
                                                      rhythm,                images
The essence of my being expressing itself
A moments speaks to me                           Discovering
                                       Dialoguing                               Clarifyung
Spiralling in the floot where once again stilness calls
I hear the echo of a long part of me.
Living quietly
Tears flowing
Still waters
Amareness of breath
Rising falling
Rising falling
The dance of life

05 fevereiro 2020

diferenças

E quanto mais avançamos no tempo (já estamos em 2020...) mais percebemos que o Amor ao raio X (LINK) não tem cor, raça, sexo. idade, eficiências.



Não merecemos ser representados pelos André Ventura nem pelas Joacines e devemos ir ver Polanskis ao cinema (só porque acalma o tempo dele), tem qualidade!






01 fevereiro 2020

outras perspectivas



Western  - Official Trailer

Rever um filme acordado após ter visto o mesmo filme algo adormecido com o companheiro cinéfilo a ficar pasmado imbuído em tanta qualidade e elogios.

Os alemães são, normalmente, um país receptor de emigração e não imigrante, ali é ao contrário.

Ver no sofá com luz e não numa sala de cinema do Nimas escura também mudou; gosto de cinema mas ter acesso a um filme desta qualidade, por acaso, também soube bem.

Muito gira a troca na aprendizagem de palavras.

E o jogo de sedução que é preciso entre a cultura que recebe e que parte.

A perspectiva é fundamental em quem somos, ficarmos melhor, mais alegres com memórias mais claras e sons mais abertos.

Um grupo de trabalhadores alemães chega a uma zona remota da Bulgária para construir uma central hidroeléctrica. Ali, a maioria deles  adopta uma atitude de superioridade em relação aos habitantes locais, o que rapidamente os torna indesejados. A única excepção é Meinhard, um homem tranquilo e pouco dado a excessos que, por isso mesmo, depressa começa a ser ostracizado pelos colegas. Com o tempo, Meinhard (Meinhard Neumann) começa a fazer algumas amizades junto da  população. Com eles, apesar das diferenças culturais e da barreira linguística, vai descobrir um sentimento de comunidade que nunca tinha experimentado na sua própria terra…
Estreado na secção “Un Certain Regard” no Festival de Cinema de Cannes, um filme dramático sobre preconceito, rivalidade e poder, escrito, produzido e realizado pela alemã Valeska Grisebach (“És a Minha Estrela”, “Sehnsucht”). PÚBLICO