18 julho 2010

ALMA

'O corpo refugiou-se na ALMA com tempo presente (agora) e espaço encorajador (aqui), adoro a minha casa no banzão!'


'Quando se pensa numa pessoa com deficiência vem sempre associada a noção de perda: diferente, mas menor. Como se a pessoa tivesse perdido alguma coisa. NÃO SE PERDEU MAS GANHOU-SE.

Vou tentar esclarecer um bocadinho melhor esta minha ideia.

Existem dois tipos de situações na deficiência, em geral: ou a pessoa já nasceu assim, ou a pessoa adquire uma deficiência por doença ou acidente. São duas situações bem diferentes mas que levam ao mesmo lugar: o da diferença corporal.

Na primeira situação a pessoa sempre se conheceu assim, já nasceu com a diferença, mesmo que tenha consciência da sua diferença, nunca viveu uma situação dita normal.

A deficiência faz parte da sua identidade. Portanto, não perdeu nada, é igual a qualquer outra pessoa.

No segundo caso dá-se uma ruptura - por vezes dolorosa - e a pessoa tem que se habituar a uma situação corporal que desconhece.

É um mundo novo que lhe surge pela frente. Mas, se perguntarem à maioria das pessoas que tiveram acidentes e ficaram com uma deficiência qualquer, essas pessoas normalmente dizem, que preferem o acidente à situação anterior (é claro que isto não é generalizável: há situações dramáticas).

Mas as pessoas que o dizem, dizem-no porque a situação da deficiência é uma situação de uma GRANDE RIQUEZA INTERIOR.

Aprende-se a lidar com a dor, com a diferença e a ser mais tolerante.

Só mais uma coisa: a deficiência tem uma característica intrínseca que a distingue das outras minorias, como por exemplo as minorias étnicas: nesses casos as pessoas herdam uma característica familiar e cultural, ou seja herdam uma identidade, mesmo que depois a rejeitem.

No caso da deficiência isso não acontece: a pessoa vê-se numa situação em que está isolado em relação ao seu contexto familiar e social. Isolado, no sentido em que não tem modelos de referência.

Daí a tendência para os cidadãos com deficiência se juntarem em grupos. E a biologia/deficiência transfigura-se: torna-se social e cultural.

Para mim a deficiência é essencialmente uma questão cultural.

Hoje em dia, a diferença entre o normal e o anormal é indistinto e móvel:

confunde-se com a evolução da tecnologia e a história da medicina. Senão vejamos: todos nós conduzimos carros a velocidades que ultrapassam as nossas capacidades físicas; todos nós voamos de avião e não somos pássaros. Todos nós falamos ao telefone sem sair de casa, ou do lugar onde estamos. Todos nós usamos a Internet para comunicar com o exterior, etc, etc.'


Clara Soares Belo (Breakdance ou Clarabela)

1 comentário:

Leonor disse...

GOsto da tua forma de pensar e da tua riqueza interior! Gosto muito :)