30 julho 2014

A vida é simples ou talvez não seja...

'Um juízo de valor é um juízo sobre a correcção ou incorrecção de algo, ou da utilidade de algo, baseado num ponto de vista pessoal. Como generalização, um juízo de valor pode referir-se a um julgamento baseado num conjunto particular de valores ou num sistema de valores determinado. Um significado conexo de juízo de valor é o de um recurso de avaliação baseado nas informações limitadas disponíveis, uma avaliação efectuada porque uma decisão deve ser tomada independentemente de estar em função da utilidade, da estética, da moral, ou de qualquer outro critério valorativo.'
É um achismo: disse o Gilles Delleuze que não basta ter uma opinião ou achar que se tem uma historieta engraçada de amor ou um acidente ou doença para escrever um livro ou ter um blog. É preciso perceber-se que estamos a entrar numa exigente círculo/grupo dos pensadores letrados e que estamos a inserir-nos num patamar 'não escrevas/faças aos outros o que não queres que te façam/escrevam a ti!!! '

Hoje a grande maioria das pessoas sabe escrever e escreve, eu acho que se acha demais. 

ACHO que o PR é um banana e que desde que eu me lembro tem cargos importantes na nossa Democracia (!?).

ACHO que este (des) governo só lá está há tanto tempo por culpa nossa, é difícil imaginar pior ou talvez não seja; o PS e o Seguro (o António Costa tanto tempo à espera só o prova...) talvez não fossem melhores!

ACHO que o BE e o PCP, o Livre e os Verdes são alternativas que perdem talento se forem governar.

ACHO que o Benfica está a querer provar que 'o que está bem não se muda!' está errado e então todos os dias vêm craques novos internacionais porque 'o que é Nacional é bom' é um slogan de uma massa.

A Política... Nacionalidades!? Europeísmos!? Mundialismos!? No Distrito!? No Concelho!? Na Freguesia!? E na minha Rua? Na minha casa!? E no meu quarto!?

Não se ensina a viver.
Cada qual terá seus gestos, gostos e  responsabilidades.

Um puzzle?
Estive em frente a um com a margem montada e... agora?

Descomplica.
Se fosse fácil não tinha piada.

ês o gato Félix a dar pulos e fazer corridas?

27 julho 2014

espreguiçar




Como ato de boa educação.

Queremos uma mudança na etiqueta.

É um gesto elegante e que provoca bem estar.

Quando e como se definiu ser má educação!!!???

É descontraído.

Esticar o corpo e os músculos.

Esticar tudo!

HUMMM!!!

E, por osmose, facilita inicíos, desconstrói-se para construir!

Vamos ESPREGUIÇAAAR profundooo em público!

Que bem que sabe!!!

24 julho 2014

É altamente improvável a vida.

 

(Mercedes Sosa - Gracias a La Vida)



Cada pessoa.

Cada parte do corpo de cada pessoa se descontrói nas diferentes e variadas funções foi muita  bem esgalhado: respirar, falar e andar são só três partes de cada corpo humano.

soprar,
arfar,
suspirar,
gritar,
cantar,
sussurrar,
correr,
passear,
marchar,
lento e rápido

Cada animal com suas formas de ser/existir diferentes.

(O gato ouviu-me levantar e vir escrever e miou para lhe ir abrir a porta da rua e sair e assim o fiz: miau, até já)

A linguagem: cada língua diferente e entendermo-nos todos, criarmos maneiras de aprender e ensinar.

Cada qual pensar.

Li há uns tempos entrevista do Gabriel Garcia Márquez (ver link) que achava que tínhamos muita coisa a melhorar ainda e é verdade mas, por outro lado, o monte de coisas que conhecendo a História já melhorámos e até nesta insatisfação: podemos sempre ser melhores mas muito piores também.

Pensemos na História.

Já fomos primitivos.

Já vivemos fechados uns dos outros num mundo muito mais pequeno: hoje o mundo é aberto, maior e livre, sabemos de nascimentos de Amigos/as no Algarve no momento.

Importa pensar no que podemos fazer e ser e não no que não podemos fazer e ser!

Cada um de nós ter diferentes gestos, maneiras e formas de sermos gente: De bebés a velhotes irmos fazendo coisas diferentes e iguais, irmos descobrindo formas diferentes de viver como este blogue e a escrita.

Cada crescimento com suas múltiplas hipóteses de Ser e Existir.

É normal que suponhamos alguma entidade superior e divina, até por aqui pensamos ‘tanta magia é superior ao Ser Humano…'

Não, não é.

É a magia de seres humano.

Voar é o limite mais básico e mesmo esse foi ultrapassado pelo avião, pelo telefone, telemóvel, correio (e electrónico), internet, televisão, transportes (a invenção duma simples bicicleta é mágico, antes de existir era impossível), tudo pode ser mágico se pensarmos no começo, num bebé: 'todos os dias nasce uma pessoa, todos os dias nasce alguém': ouvir um nascimento dá esperança, saber que nasce alguém é dizer: BEM VINDO ao mundo!

19 julho 2014

mi casa es tu casa



(Terra dos Sonhos - Jorge Palma)

Numa destas insónias matinais que todos temos  pus-me a desconstruir.

Andar sempre foi entendido como dado adquirido desde que não o era, ninguém se lembra de aprender a andar, nem eu, nem tu, nem ele, nem nós, nem eles. Vamos tendo ideia do que isso é por profissão, paternidade/maternidade ou acidente: Não se pediu a queda mas se tivemos direito a ela resta-nos aproveitar/saborear.

 Andar para a Esquerda e para a direita, a base é o centro:

A Esquerda 

Tem a exigência de poder sempre melhorar mesmo quando está bom!

É bairro alto.

É individual e enfatiza cada caracteristíca, não é de tropas, é de grupinhos de fumo (ganzas são para toda a classe) e alcoól (cerveja super bock), é comida boa a melhorar (sempre).

Separa-se bastante.

Tem nichos/ninhos, zonas só suas.

É alternativa.

Sabe-lhe bem o cheiro da sardinha, da febra com pão.

É popular.

É da humildade, do sonho e do trabalho.


A direita 

É de shoppings, de tropas, de grupos.

Junta-se bastante, não é muito dada aa exigências.
É MACdonald's sem sujar.

É discotecas da moda, é muito moda! 

Bebem whisky e bebidas fortes.

É fiel mesmo quando não lhe soa bem.

Não suporta cheiros de gente e confusão

É VIP (Very Important Person).

Não vê glória no trabalho, é real e conservadora.


Ambos são do Amor e da Familía: na base todos nascemos lá.

17 julho 2014

Lou Reed - Perfect Day



Deste mundo que lês ou só vês quero que tenhas prazer, deste Blog com milhares de leitores diários quero que levem boa onda; vamos construir/criar uma cadeia de Amor, fazer o mundo todo melhor. É fácil, é simples: tu, tu, tu e tu fazem parte desta cadeia e nela melhoramos todo o enorme mundo, às vezes, basta um sorriso para melhorarmos o dia de alguém.

Que as coisas que recordas (deste Blog também) sejam motivadoras de criação de 'boas coisas' (como diz/deseja um mestre de cada vez que se despede) com vista a perfect days: 'Não tenhas medo, sai à rua e abraça alguém E vai correr bem, tu vais ver.' (Boss AC)

Já não sei onde li dizer que se somos '7 bilhões de pessoas em 31 de outubro de 2011. De acordo com projecções populacionais, este valor continua a crescer a um ritmo sem precedentes antes do século XX. 

Previsões de Cientistas americanos dizem que o mundo terá 11 bilhões de pessoas em 2090' não é muito provável que sejamos lembrados quando morrermos.

Tal como não nos lembramos da maioria das pessoas que passaram não se lembrarão de nós: então hoje e aqui vamos ser melhores!!!

greguerias

A Greguería é um género poético breve que, quase sempre, se cinge a uma frase e se caracteriza, com frequência, por um refinado humor, por vezes marcado pelo insólito. A metáfora e a comparação estão muitas vezes presentes na Greguería. 




Greguería (De griego). F. 


1. Vocerío o gritería confusa dela gente.


2. Agudeza, imagen en prosa que presenta unavisión personal, sorprendente y a veces humorística, de algún aspecto de la realidad, y que fue lanzada y asídenominada hacia 1912 por el escritor Ramón Gómez de la Serna



Como dava beijos lentos, duravam-lhe mais os amores. 

15 julho 2014

brincar com a imaginação



(Locke - Official Trailer (2014) - In Cinemas April 18)

não é óbvio o que dizer sobre este filme.

tenho curiosidade em como foi pensada a proposta.

tinha tudo para falhar.

é um filme corajoso.

é curioso a construção que fazemos de imagens múltiplas com base na voz.

A VER! ACONSELHO!

14 julho 2014

A Alemanha campeã no mundial do Brasil 2014

É a primeira selecção europeia a ganhar um Mundial nas Américas:

O que para um continente que inventou o jogo e vive o futebol de uma forma que se não O vives és alienado e ateu (ouvi no outro dia alguém dizer que 'eu não acredito em Fadas mas não me defino por isso') é marcante em termos Geo políticos e históricos.

Alemanha vence Argentina no prolongamento (1-0) e sagra-se tetracampeã

E soube-me bem escapar à lotaria dos penaltis:
22 anos de Goetze foi o puto que salvou a decisão dos penaltis!!!


 Em jeito de balanço final:

- teve gosto bom e repartido entre américa do sul e europa.

- os guarda redes deram show de bola, quando muitas vezes são vistos como quem não sabe jogar vai para a baliza mostraram serem jogadores tão importantes no jogo como os goleadores.

- a arbitragem teve a virtude de desdramatrizar e velar pelo jogo, foram uns maestros sem abuso de cartões.

- Portugal só perdeu com o campeão do mundo  (a derrota por 4 a 0 parecem uma vitória face aos 7 - 1 com o Brasil) e com um jogador a menos.

- A Alemanha provou que faz sentido o trabalho: 6 jogadores em 11 na mesma equipa, Bayern de Munique.




(Neuer e Joachim foram a imagem da Arte do trabalho competente!!!)

Alemanhaaa!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


nota final:
falar na Merkel é dar-lhe qualidades que importa retirar-lhe, é como falar no Cavaco e no Passos de Coelho quando queremos falar dos portugueses.

09 julho 2014

A nova direita



Por António Guerreiro no dia 20 de Junho de 2014

Os Intelectuais de Direita Estão a Sair do Armário é o título de uma reportagem de Paulo Moura publicada na revista 2, do PÚBLICO, no passado domingo. Tal título veicula a suposição de que o pensamento de direita foi reprimido ou levado a um regime de auto-limitação, tendo finalmente chegado o momento da sua libertação e afirmação pública. Pensar assim é um equívoco. A direita apresentada na reportagem não coincide com a direita dura, tradicional, que se sucedeu sob várias formas ao longo do século XX (essa nem precisou de se esconder no armário porque morreu de morte natural). Trata-se de uma nova direita, que emergiu publicamente em Portugal apenas um pouco mais tarde do que noutros sítios, como acontece geralmente com muitas outras coisas, mas sem ter de transpor quaisquer obstáculos. A sua emergência dá-se sobre as ruínas da esquerda, quando todo o Ocidente virou à direita e se tornou óbvio que a maior parte dos objetivos da esquerda não se conseguiram impor e muitas das suas laboriosas conquistas recuam a grande velocidade, como mostrou um dos primeiros analisadores desta Neodestra, o italiano Raffaele Simone, num livro que teve um enorme eco, mesmo fora de Itália: Il mostro mite. Perché l’Occidente non va a sinistra (“O monstro brando. Porque é que o Ocidente não segue para a esquerda”). A tese de Raffaele Simone — retomando, aliás, ideias que vêm de longe — é a de que o mundo é naturalmente de direita e, por isso, esta, para existir, só precisa de preservar uma posição “naturalista”, enquanto a esquerda é um artifício, uma construção abstracta. As esperanças que ela anuncia representam um resultado contra natura, por isso têm de ser objeto de laboriosa construção política e teórica, projectando-se num horizonte utópico. A esquerda está sempre do lado do devir, da criação de um direito; a direita naturalista preserva direitos constituídos e responde a determinações realistas. Esta nova direita é, pura e simplesmente, um realismo. Por isso é que não precisa de grandes elaborações teóricas e a sua afirmação, como mostra muito bem a reportagem de Paulo Moura e os depoimentos que recolhe (nomeadamente, os de António Araújo), faz-se privilegiadamente nos media. Esse é o seu ambiente “natural”: o da comunicação, o do divertimento, o da burguesia como classe universal. Ela não precisa de construir um pensamento, só precisa de seguir uma cultura difusa e dispersa, de não interromper o entretenimento, de alimentar o conformismo dos media, de seguir com eficácia a estratégia da sedução, de aproveitar a onda de desculturalização da política que a esquerda superlight decidiu surfar. Em suma, esta nova direita é a subjectividade desse “monstro brando” (como lhe chama Simone), tal como a soberania era, para Hobbes, a alma do Leviathan. Esta nova direita confunde-se de tal modo com um realismo que um dos seus representantes com grande destaque na reportagem de Paulo Moura é alguém como Henrique Raposo. Ele é mais do que realista, é hiperrealista; é mais do que naturalista, é a ausência de qualquer pensamento para não impedir o naturalismo; não precisa de ter um discurso, basta-lhe exibir um estilo, uma caricatura. Hoje, a questão verdadeiramente pertinente não é verificar, com algum equívoco, que os intelectuais de direita saíram do armário; é perceber que muito dos intelectuais que se afirmam de esquerda e falam em nome dela se converteram a essa cultura difusa da nova direita e aceitaram preencher as quotas de mediatização que esta lhe concede, aceitando um papel protocolar de “representação”. Também eles glorificam o novo realismo.

Não às Utopias, o mundo não é cor de rosa. Acreditar que outro mundo melhor é possível é utopia da esquerda. 'A esquerda actual é gente de direita camuflada', parece dizer, não concordo mas sou muito novo e sem experiência.

Por Falar de Amor



words and pictures é sublime.

dá leveza.

apetece abraçarmos estranhos.

alguma coisa muda em nós.

tem a Juliete Binoche a lembrar que quando falamos em cinema falamos em Arte.

dá bem estar.

aconselho vivamente: apetece ser simples, lembra limpidez!

vão ver: aproveitem!!!

numa discussão/guerra entre imagens e palavras fala-se em Amor e descobre-se que não são adversários e são complementares! :)

07 julho 2014

K de Kant (VÍDEO no final)


CP: De todos os filósofos que você estudou, Kant parece ser o mais distante do seu pensamento. Mas você diz que todos os autores que estudou têm algo em comum. Há alguma coisa em comum entre Kant e Spinoza?
GD: Eu prefiro, se me permite, a primeira parte da pergunta. Por que estudei Kant já que ele não tem nada em comum com Spinoza, nem com Nietzsche, apesar de este último ter lido muito Kant? Não temos a mesma concepção de filosofia. Mas por que, mesmo assim, Kant me fascina? Por dois motivos. Kant é tão cheio de sinuosidades. Um dos motivos é o fato de ele ter instaurado e levado a extremos o que nunca fora levado em Filosofia até então, que é a instituição de tribunais, talvez sob a influência da Revolução Francesa. Mas até então tentamos falar de conceitos como se fossem personagens. Antes de Kant, no século 18, que o precedeu, apresentou-se um novo tipo de filósofo, o investigador.

Investigação. Investigação sobre o entendimento humano, investigação sobre isso e aquilo.

O filósofo era visto como um investigador. Ainda mais cedo, no século 17, Leibniz foi, sem dúvida, o último representante desta tendência. Ele era visto como um advogado, ele defendia uma causa. E Leibniz pretendia ser o advogado de Deus! Como se Deus tivesse algo a ser repreendido. Leibniz escreveu um maravilhoso opúsculo sobre a causa de Deus.

Era a causa jurídica de Deus, a causa de Deus defendida. Há um encadeamento de personagens: o advogado, o investigador e, com Kant, houve a chegada do tribunal, do tribunal da razão. As coisas eram julgadas em função de um tribunal da razão. E as faculdades, no sentido do entendimento, a imaginação, o conhecimento e a moral eram medidas em função deste tribunal. É claro que através de um determinado método prodigioso criado por Kant que chamaram de “método crítico”, que é o método propriamente kantiano. Todo este aspecto me deixa horrorizado, mas é um horror fascinado também, pois é genial ao mesmo tempo. Dentre os inúmeros conceitos que Kant inventou, está o do tribunal da razão que é inseparável do método crítico. Meu sonho não é esse. Este é um tribunal do juízo. É o sistema do juízo, só que este não precisa mais de Deus. É um juízo baseado na razão, e não em Deus. Não abordamos este problema, mas posso fazê-lo agora, assim não precisaremos voltar a este assunto. Podemos procurar entender... Há um mistério nisso tudo. Podemos tentar entender por que alguém em particular, eu ou você, estaríamos ligados ou nos reconhecemos em determinado tipo de problema e não em outro?

O que é a afinidade de alguém com um tipo de problema? Parecem-me os maiores mistérios do pensamento. Nós nos consagramos a problemas. E não é qualquer problema, isso também vale para os cientistas. A afinidade de alguém para determinado problema e não para outro. E uma filosofia é um conjunto de problemas com consistência própria, mas não pretende cobrir todos os problemas. Ainda bem! Eu me sinto ligado aos problemas que procuram meios para acabar com o sistema do juízo e colocar outra coisa no lugar. Dentro dos grandes nomes dos que buscam isso, você tinha razão em falar de oposição, estão Spinoza, Nietzsche e, em Literatura, há Lawrence, e guardo um dos maiores para o final: Artaud.

Todos para acabar com o juízo de Deus. Isso é muito importante, não é loucura: acabar com o sistema do juízo. Todas estas coisas fariam com que eu não tivesse tanto...

Mas, por baixo disso tudo, e, como sempre, é preciso buscar os problemas que se escondem sob os conceitos. E Kant traz problemas impressionantes, são maravilhas. Ele foi o primeiro a ter feito uma inversão de conceitos impressionante. É por isso que tanto me entristece quando vejo ensinarem aos jovens, mesmo no nível de vestibular, uma filosofia tão abstrata sem tentar fazer com que participem de problemas, que são fantásticos e muito interessantes. Posso dizer que até Kant o tempo derivava do movimento. Ele era secundário em relação ao movimento. Ele era considerado como número ou medida do movimento. O que fez Kant? Não importa como, pois há criação de um conceito. Em tudo o que digo, só tem isso! Estamos sempre avançando no tema “o que é um conceito”. Ele criou um conceito porque inverteu a subordinação. Para ele, é o movimento que depende do tempo.

De repente, o tempo muda de natureza, deixa de ser circular. Porque quando o tempo está subordinado ao movimento, por razões longas demais para explicar agora, é o grande movimento periódico, é o movimento de rotação periódica dos astros. Portanto, o movimento é circular. Mas quando o tempo se liberta do movimento e que este passa a depender do tempo, o tempo se torna uma linha reta. Sempre me faz pensar na frase de Borges, apesar de ele ter alguma coisa a ver com Kant: “O labirinto mais terrível do que um labirinto circular é um labirinto em linha reta”. Isso é uma maravilha, mas é Kant! É ele que destaca o tempo. Além do mais, estas histórias de tribunal que medem o papel de cada faculdade em função de tal finalidade... Até que, no final de sua vida, ele foi um dos raros a ter escrito já muito velho um livro onde reviu tudo.

A crítica da faculdade do juízo. Ele chega à idéia de que é preciso que as faculdades se relacionem desordenadamente, que se oponham e se reconciliem, mas que haja uma batalha das faculdades e não mais as medidas que justifiquem um tribunal. Ele lançou sua teoria sobre o sublime em que as faculdades entram em discordância, em acordos discordantes. Aí, eu gosto muito disso, destes acordos discordantes, deste labirinto em linha reta, sua inversão da relação. Toda a filosofia moderna veio daí, de que não era mais o tempo que provinha do movimento e, sim, o contrário. É uma criação de conceitos fantásticos. E toda a concepção do sublime com os acordos discordantes das faculdades me tocam profundamente. É claro que ele é um grande filósofo. Um grande filósofo. Ele tem um embasamento que me entusiasma, mas o que está construído em cima disso não me toca em nada. Não estou julgando. É apenas um sistema de juízo que gostaria de ver acabado. Mas não julgo.

CP: E a vida de Kant?

GD: A vida de Kant... Isso não estava previsto!

CP: Há outro aspecto que poderia ter-Lhe interessado em Kant que é relativo a Thomas de Quincey, aquela fantástica vida regrada por hábitos, aquele passeio matinal... A vida do filósofo como se pode imaginar popularmente. Algo muito particular no qual também podemos imaginar você, com esta vida mais regrada. O hábito sendo muito importante.

GD: Acho que...

CP: Na vida de trabalho.

GD: Entendo o que quer dizer. O texto de Quincey a entusiasma e a mim também, é uma obra-prima. Mas diria que isso pertence a todos os filósofos. Eles não têm os mesmos hábitos, mas são criaturas com hábitos. Pode parecer que eles não saibam... Mas é preciso que sejam criaturas com hábitos. Acho que Spinoza não tinha uma vida muito cheia de imprevistos. Ele tinha a vidinha dele, com as lentes dele, polindo as lentes. Ele recebia algumas visitas, etc. Ganhava a vida polindo lentes. Não era uma vida agitada, a não ser pelos acontecimentos políticos. Kant também passou por fatos políticos intensos. Tudo o que dizem sobre aparelhos que Kant inventava para levantar as calças ou as meias, etc. faz dele um personagem com muito charme. Mas todos os filósofos são um pouco, como diz Nietzsche, castos, pobres, etc. Mas ele acrescenta: “Mas tentem adivinhar para que serve isso?” Para que serve a castidade, a pobreza e tudo o mais? Kant tinha seu passeio diário, mas isso não é nada. O que acontecia durante este passeio diário? O que ele olhava? Era bom saber. Se os filósofos são seres com hábitos é porque o hábito é contemplar. O hábito é a contemplação de alguma coisa. No verdadeiro sentido da palavra, "hábito" é contemplar.

O que ele contemplava em seus passeios? Não sei. Os meus hábitos... Sim, sou cheio de hábitos. Meus hábitos são as contemplações. Eu saio para contemplar. Às vezes, são coisas que sou o único a ver. Este seria um hábito.

CP: Agora, L de Literatura.

GD: Vamos ao L?

(VÍDEO) 

J de Joie [Alegria]. (vídeo no fim)




CP: J de Joie [Alegria]. É um conceito do qual você gosta muito, pois é um conceito de Spinoza, que tornou a alegria um conceito de resistência e vida. "Evitemos as paixões tristes e vivamos com alegria para ter o máximo de nossa potência; fugir da resignação, da má-consciência, da culpa e de todos os afectos tristes que padres, juízes e psicanalistas exploram". Entende-se perfeitamente do que você gosta nisso tudo. Gostaria que distinguisse a alegria da tristeza e definisse o que é a distinção de Spinoza. Você descobriu alguma coisa no dia em que leu isso?

GD: Sim, porque são os textos mais extraordinariamente carregados de afectos em Spinoza. Vou simplificar muito, mas quero dizer que a alegria é tudo o que consiste em preencher uma potência. Sente alegria quando preenche, quando efetua uma de suas potências. Voltemos aos nossos exemplos: eu conquisto, por menor que seja, um pedaço de cor. Entro um pouco na cor.
Pode imaginar a alegria que isso representa? Preencher uma potência é isso, efetuar uma potência. Mas o que é equívoco é a palavra "potência". E o que é a tristeza? É quando estou separado de uma potência da qual eu me achava capaz, estando certo ou errado.
"Eu poderia ter feito aquilo, mas as circunstâncias... não era permitido, etc." É aí que ocorre a tristeza. Qualquer tristeza resulta de um poder sobre mim.

CP: Você estava falando sobre a oposição alegria/tristeza.

GD: Eu dizia que efetuar algo de sua potência é sempre bom. É o que diz Spinoza. Mas isso traz problemas. É preciso especificar que não existem potências ruins. O que é ruim não é... O ruim é o menor grau de potência. E este grau é o poder. O que é a maldade? É impedir alguém de fazer o que ele pode, é impedir que este alguém efetue a sua potência. Portanto, não há potência ruim, há poderes maus. E talvez todo poder seja mau por natureza. Não, talvez seja muito fácil dizer isso. Mas mostra bem a ideia da ... A confusão entre poder e potência é arrasadora, porque o poder sempre separa as pessoas que lhe estão submissas, separa-as do que elas podem fazer. Tanto que foi deste ponto que partiu Spinoza. Como você citou: "A tristeza está ligada aos padres, aos tiranos..."

CP: Aos juízes.

GD: São pessoas que separam seus sujeitos do que eles podem, que proíbem as efetuações de potência. Curiosamente, há pouco, você falou da reputação de anti-semitismo de Nietzsche. Neste exemplo, vê-se esta questão muito importante. Há textos de Nietzsche que poderiam parecer preocupantes se são lidos muito rapidamente, e não da forma como propomos que os filósofos sejam lidos. Em todos os textos em que fala do povo judeu, o que Nietzsche critica nele? O que fez com que, em seguida, dissessem que Nietzsche era um anti-semita. É interessante, pois o que ele repreende no povo judeu, em condições específicas, é o fato deste povo ter inventado um personagem que não existia antes: o padre. Eu não conheço nenhum texto de Nietzsche a respeito dos judeus na forma de um ataque. O ataque é contra o povo que inventou o padre. Segundo ele, nas outras formações sociais, existem feiticeiros, escribas, mas nenhum deles é a mesma coisa que o padre. Eles inventaram uma coisa impressionante e Nietzsche, que tem grande força filosófica, não deixou de admirar o que detesta, ele disse: "Mas é incrível ter inventado o padre. É uma coisa prodigiosa". Em seguida, fez a ligação direta dos judeus com os cristãos. Só não é o mesmo tipo de padre. Os cristãos conceberam outro tipo de padre e continuaram no mesmo caminho: com o personagem do sacerdote. Pode-se ver o quanto a filosofia é concreta. Eu diria que Nietzsche é o primeiro filósofo a ter inventado, criado o conceito de padre. E, a partir daí, trouxe um problema fundamental que é: em que consiste o poder sacerdotal? Qual é a diferença entre o poder sacerdotal e o poder real? Estas são questões ainda muito atuais. Pouco antes de sua morte, Foucault tinha encontrado a mesma coisa, só que com seus próprios meios. Aí, poderíamos retomar tudo sobre o que é prolongar a filosofia. Foucault também sugere um poder pastoral, um novo conceito diferente mas que, ao mesmo tempo, se encaixa no de Nietzsche. Por aí, existe uma história do pensamento. E o que é este poder de padre e em que está ligado à tristeza? Segundo Nietzsche, o padre se define desta forma: ele inventou a idéia de que os homens estão num estado de dívida infinita. Eles têm uma dívida infinita. Antes, havia histórias de dívida, mas Nietzsche precedeu todos os etnólogos. Aliás, os etnólogos deveriam ler Nietzsche. Eles descobriram bem depois de Nietzsche que, nas sociedades primitivas, havia permutas de dívidas. Não funcionava tanto através da troca, como se pensava, mas por partes de dívidas: uma tribo tinha uma dívida para com outra tribo, etc. Eram blocos de dívidas finitas: eles recebiam e devolviam. A diferença com a troca é que havia a realidade do tempo. Era uma restituição diferida. É importante! A dívida precede a troca. São questões filosóficas: a permuta, a dívida, a dívida que precede a troca. É um grande conceito filosófico. Digo filosófico porque Nietzsche disse antes dos etnólogos. Mas enquanto as dívidas têm este regime finito, o homem pode se libertar. O padre judeu invoca, pois, em virtude de uma Aliança, a idéia de uma dívida infinita do povo judeu para com Deus, e os cristãos retomam esta idéia de outra forma, a idéia de dívida infinita ligada do pecado original. O personagem do padre é muito curioso. E cabe à Filosofia fazer o conceito. Não digo que a Filosofia seja ateia, mas, no caso de Spinoza que já tinha esboçado uma análise do padre, do padre judeu no Tratado Teológico-Político, pode acontecer que conceitos filosóficos sejam verdadeiros personagens. É por isso que a Filosofia é tão concreta. Fazer o conceito do padre é como algum artista faria o quadro ou o retrato do padre. O conceito do padre trazido por Spinoza, por Nietzsche e, depois, por Foucault, forma uma linhagem apaixonante. Eu também gostaria de entrar nesta linha e ver que poder pastoral é esse. Dizem que ele não funciona mais, mas quem o substituiu? A psicanálise é um novo avatar do poder pastoral. Em que ele se define? Os padres não são a mesma coisa que os tiranos, mas eles têm em comum o fato de manterem-se no poder através das paixões tristes que eles inspiram aos homens. Do tipo: "Arrependam-se em nome da dívida infinita, você é objeto da dívida infinita". Por esse caminho, eles têm poder! O poder é sempre um obstáculo diante da efetuação das potências. Eu diria que todo poder é triste. Mesmo se aqueles que o detêm se alegram em tê-lo. Mas é uma alegria triste. Sim, existem alegrias tristes. Mas a alegria é uma efetuação das potências. Eu repito: não conheço nenhuma potência má. O tufão é uma potência. Alegra-se na alma, mas não por derrubar casas, mas simplesmente por ser. Regozijar-se é estar alegre pelo que somos, por ter chegado onde estamos. Não se trata da alegria de si mesmo, isto não é alegria, não é estar satisfeito consigo mesmo. É o prazer da conquista, como dizia Nietzsche. Mas a conquista não consiste em servir pessoas. A conquista é, para o pintor, conquistar a cor. Isso sim é uma conquista. Neste caso, é a alegria. Mesmo que isso não termine bem, pois nestas histórias de potência, quando se conquista uma potência, ela pode ser potente demais para a própria pessoa e ela acaba não suportando. Van Gogh!

CP: Agora, uma pergunta subsidiária: você, que escapou da dívida infinita, por que se queixa da manhã à noite e é um defensor do lamento e da elegia?

GD: Esta é uma pergunta pessoal. Sim, eu sempre gostei da elegia. Ela é uma das duas fontes da poesia, uma das principais fontes da poesia. É o grande lamento. Há uma grande história a ser feita sobre a elegia. Não sei se já foi feita, mas é muito interessante. Há o lamento do profeta. O profetismo é inseparável do lamento. O profeta é aquele que se lamenta e diz: "Mas por que fui escolhido por Deus? O que eu fiz para ser escolhido por Deus?" Neste sentido, ele é o contrário do padre. Ele se queixa do que acontece com ele. O que significa: "É grande demais para mim". Eis o que é a queixa: "O que está acontecendo comigo é grande demais para mim". Aceitando, pois, o lamento, o que nem sempre se vê, pois não é só "Ai, ai, que dor!", mas também pode ser. Aquele que se queixa nem sempre sabe o que está querendo dizer. A velha senhora que se queixa de seu reumatismo está, na verdade, querendo dizer: "Que potência está se apoderando da minha perna e que é grande demais para que eu a suporte?" Se formos procurar na História, é muito interessante, pois a elegia é, antes de tudo, a fonte da poesia. É a única poesia latina. Na época, eu lia muito os grandes poetas latinos Catulo, Tibúrcio e outros. São poetas prodigiosos. O que é a elegia? Acho que é a expressão daquele que não tem mais um estatuto social, temporariamente ou não. É por isso que é interessante. Um pobre velho se queixa. Um homem nas galés se queixa. Não tem nada a ver com tristeza, é a reivindicação. Há uma coisa na queixa que é impressionante. Existe uma adoração na queixa, é como uma oração. Os queixumes populares, tudo... A queixa do profeta, a de um tema que você conhece bem, que é a queixa do hipocondríaco. O hipocondríaco é alguém que se lamenta. E as queixas do hipocondríaco são bonitas: "Por que tenho um fígado? Por que tenho um baço?" Não é o "Ai, como dói!", e sim "Por que tenho órgãos?" Por que isso, por que aquilo... O lamento é sublime! O queixume popular, o lamento do assassino, que é cantado pelo povo... São os excluídos sociais que estão em situação de lamento. Há um especialista húngaro chamado Tökel, que fez um estudo sobre a elegia chinesa no qual mostra que a elegia chinesa é, acima de tudo, animada por aquele que não tem mais estatuto social, um escravo livre. Um escravo ainda tem um estatuto, por mais desgraçado que seja. Pode ser infeliz e espancado, mas tem um estatuto social. Mas há períodos em que o escravo livre não tem estatuto social, ele está fora de tudo. Deve ter sido assim para a geração dos negros na América com a abolição da escravidão. Quando houve a abolição ou então na Rússia, não tinham previsto um estatuto social para eles e foram excluídos. Interpretam erroneamente como se eles quisessem voltar a ser escravos! Eles não tinham estatuto. É neste momento que nasce o grande lamento. Mas não é pela dor, é uma espécie de canto e é por isso que é uma fonte poética. Se eu não fosse filósofo e fosse mulher, eu gostaria de ter sido uma carpideira. A carpideira é uma maravilha porque o lamento cresce. É toda uma arte! Além do mais, tem um lado pérfido: não se queixe por mim, não me toque. É um pouco como as pessoas demasiadamente polidas. Pessoas querendo ser cada vez mais polidas. Não me toque! Há uma espécie de... A queixa é a mesma coisa: "não tenha pena de mim, disso cuido eu". Mas ao cuidar disso, a queixa se transforma. E voltamos à questão de algo ser grande demais para mim. A queixa é isto. Eu bem que gostaria de todas as manhãs sentir que o que vivo é grande demais para mim porque seria a alegria em seu estado mais puro. Mas deve-se ter a prudência de não exibi-la, pois há quem não goste de ver pessoas alegres. Deve-se escondê-la em um tipo de lamento. Mas este lamento não é só a alegria, também é uma inquietude louca. Efetuar uma potência, sim, mas a que preço? Será que posso morrer? Assim que se efetua uma potência, coisas simples como um pintor que aborda uma cor, surge esse temor. Ao pé da letra, afinal, acho que não estou fazendo Literatura quando digo que a forma como Van Gogh entrou na cor está mais ligada à sua loucura do que fazem supor as interpretações psicanalíticas, e que são as relações com a cor que também interferem. Alguma coisa pode se perder, é grande demais. Aí está o lamento: é grande demais para mim. Na felicidade ou na desgraça... Em geral, na desgraça. Mas isso é detalhe.

CP: Foi uma ótima resposta. Vamos à letra K de Kant!

GD: Aí tem menos graça.

CP: Sinto que esta vai ser rápida.

(vídeo)