17 junho 2021

CML EM (RE)AÇÃO DIRECTA




O bairro de telheiras conta com a prestimosa e generosa ação de um artista, Luís Ferreira, que se dedica a valorizar artisticamente, no jardim e junto às hortas, troncos secos de árvores cortadas, pedras, pequenas esculturas de arame ou outras. Dar vida ao que está morto e abandonado, renascer e realçar o que está vivo. As pessoas passam e gostam e não deixam de registar as obras nos seus telemóveis. Os objetos artísticos fazem parte já do mundo das crianças que habitualmente frequentam o parque ou o Pátio-Côr-De-Rosa, como eu lhe chamo.
Os troncos secos das árvores estavam ali há anos. Árvores que tiveram de ser cortadas porque estavam a apodrecer e, provavelmente, porque não foram acompanhadas e tratadas atempadamente.
Hoje deparei-me, de manhã cedo, com uma máquina e três funcionários da CML a destruir e arrancar os referidos troncos artísticos. Questionados os funcionários a resposta não pode ser outra: -"Cumprem uma ordem".
É verdade que os serviços da CML, ultimamente, andam numa azáfama de embelezamento circundante pouco habitual. E sabemos porquê.
Mas grave é o que consegui apurar de imediato como a razão mais verosímil para esta "eficiência" do serviço. Há alguns dias, uma funcionária da CML destacada para prestar serviço numa entidade pública em Telheiras, ao sair do Metro reparou no artista em "flagrante delito" na execução de um dos seus trabalhos artísticos. Interpelou-o chamando a atenção para a "ilegalidade do acto" e de imediato denunciou-o ao colega fiscal da CML que em poucos minutos se pôs no local para "tomar conta da ocorrência", identificar o "prevaricador" para a devida participação. Hoje a CML destruiu e removeu os referidos troncos artisticos.
Se a CML queria substituir os troncos secos por árvores novas, levaria o bom senso a extração desses troncos artisticos fosse de forma a preservar as obras e deslocá-las para a valorização das hortas ou de outros espaços no jardim. Mas como explicar a um betonado responsável pelo serviço da CML, como diria René Magritte, que "Ceci n'est pas une pipe"? Aquilo não são simples troncos secos e só um coração de pedra não percebe isso.
Espero que os meus concidadãos vizinhos me acompanhem neste protesto reagindo enérgica e solidariamente com o artista quando ele for notificado pelos zelosos serviços camarários do esperado auto e da respetiva multa.


16.06.21
Jorge Abegão


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