"Eu quero acompanhar o meu cantar vagabundo de todos aqueles que velam pela alegria no mundo" (caetano veloso)
30 junho 2009
o mundo gira e avança!
Tenho descoberto imensas coisas sobre o EU e este mundo em que vivemos (as coisas mudaram bué, tôtil no porto).
29 junho 2009
Estágio de vida
A minha vida dava um filme ou um livro... comecei isto com a calma (acho que agora é caracteristíca); fascinei-me pelo eu, o tu, o ele, o NÓS pode ser gigante. Várias coisas esqueço, tenho sido BELO, o mais BELO dos samurais, ainda hei-de descrever isto.
Escrevi há uns tempos 'vou fazer coisas boas disto, agrada-me compreender que tenho muitos amigos, pais que são 'só' pais, gente da saúde d'alcoitão (muitos se incluirão entre os amigos).'
Estágio de vida muitos precisam para assentar.
Do coração nasce a vida decidida descuidada
Do pôr do sol nasce a lua, da lua a madrugada, do coração nasce a vida decidida descuidada, anda cá, onde vais? anda cá, ai que cais!
28 junho 2009
o universo é d(ef)iverso
'Deficiencia é defeito, impotência. Por isso deficientes somos todos nós. Todos temos deficiências, defeito. Também no âmbito do carácter ou da moral. Devemos distinguir:
1. Um é o defeito ou deficiência inerente à espécie humana que nos vem, dizem os psicanalistas, de sermos seres falantes. Ou dito de outra maneira, de nascermos incompletos, impotentes e por isso incapazes de perfeição. A nossa tendência primitiva é para a fusão ao outro e a morte e são os que nos rodeiam e a fala que nos dirigem desde que chegamos ao mundo que nos fazem crescer, nos ensinam a força de vida contra o impulso de morte. Mas, claro, é também esse crescimento que passa obrigatoriamente por uma aprendizagem e pela estruturação de um sujeito, que nos ensina os limites e que nos cria os defeitos particulares para além do grande defeito universal humano. Neste sentido os animais podem ser perfeitos: formigas e cigarras, abelhas, and so one. Mas não sabem.
2. Outra é a deficiência ou defeito físico, ou seja, Real, que se vê e que é particular. Pode ser de nascença e é difícil porque significa que a herança simbólica que cada um recebe dos antepassados é também uma herança real, difícil de tratar simbolicamente, nunca completamente simbolizável. É por isso melhor para uma pessoas fazer-se rico, do que nascer rico. É também dessa ordem a transmissão de um sexo, mas mais fácil, pelo menos antes, de tratar simbolicamente porque era justamente em volta do feminino e do masculino que as sociedades se organizavam simbolicamente. Também porque é uma diferença equitativamente distribuída. Ou a transmissão da cor da pele que, devido à globalização e migrações, à economia colonial baseada no tráfico e na escravatura e a outros factores, pode uma herança real também difícil de tratar simbolicamente.
3. A deficiência adquirida á assimilável ao grande defeito universal, mas também é, em certas situações, difícil de simbolizar. Mas é sintoma, faz parte do defeito do ser humano, de que é uma manifestação.
O trabalho de simbolização é um trabalho que nos permite transformar a deficiência real em progresso humano. Todo o progresso é aliás esse: o progresso interior que vem do trabalho sobre os nossos defeitos, e sobretudo a nossa participação no grande defeito de estarmos vivos e falantes. Por isso o progresso é particular e intransmissível, dele só podemos dar testemunho.'
MARIA BELO, Psicanalista
1. Um é o defeito ou deficiência inerente à espécie humana que nos vem, dizem os psicanalistas, de sermos seres falantes. Ou dito de outra maneira, de nascermos incompletos, impotentes e por isso incapazes de perfeição. A nossa tendência primitiva é para a fusão ao outro e a morte e são os que nos rodeiam e a fala que nos dirigem desde que chegamos ao mundo que nos fazem crescer, nos ensinam a força de vida contra o impulso de morte. Mas, claro, é também esse crescimento que passa obrigatoriamente por uma aprendizagem e pela estruturação de um sujeito, que nos ensina os limites e que nos cria os defeitos particulares para além do grande defeito universal humano. Neste sentido os animais podem ser perfeitos: formigas e cigarras, abelhas, and so one. Mas não sabem.
2. Outra é a deficiência ou defeito físico, ou seja, Real, que se vê e que é particular. Pode ser de nascença e é difícil porque significa que a herança simbólica que cada um recebe dos antepassados é também uma herança real, difícil de tratar simbolicamente, nunca completamente simbolizável. É por isso melhor para uma pessoas fazer-se rico, do que nascer rico. É também dessa ordem a transmissão de um sexo, mas mais fácil, pelo menos antes, de tratar simbolicamente porque era justamente em volta do feminino e do masculino que as sociedades se organizavam simbolicamente. Também porque é uma diferença equitativamente distribuída. Ou a transmissão da cor da pele que, devido à globalização e migrações, à economia colonial baseada no tráfico e na escravatura e a outros factores, pode uma herança real também difícil de tratar simbolicamente.
3. A deficiência adquirida á assimilável ao grande defeito universal, mas também é, em certas situações, difícil de simbolizar. Mas é sintoma, faz parte do defeito do ser humano, de que é uma manifestação.
O trabalho de simbolização é um trabalho que nos permite transformar a deficiência real em progresso humano. Todo o progresso é aliás esse: o progresso interior que vem do trabalho sobre os nossos defeitos, e sobretudo a nossa participação no grande defeito de estarmos vivos e falantes. Por isso o progresso é particular e intransmissível, dele só podemos dar testemunho.'
MARIA BELO, Psicanalista
24 junho 2009
não se pergunta a um cego se quer ver
A psicologia pode ser perversa quando usada por quem não sabe em quem tem problemas graves de entendimento, uma psicóloga não representará todos os psicólogos tal como eu (normalmente são mulheres) não pretendo representar a classe dos técnicos superiores de política social.
23 junho 2009
cada vez melhor
O mundo é nossa casa
vastidão. chão largo. os vivos amontoam-se e festejam.
respiro pó, inspiro, expiro. a loucura de estar c os outros é sermos/existirmos sem parar. no mundo, espaço, tempo, longo e longe. telha-se a memória c medo de nos esquecermos q voltar atrás deve ser um inicio e quando abrimos os braços e rodamos sentimos vertigens, estou tonto? tanto!
vejo o mar e começo em corrida pés sobre a areia, mergulho, abro os olhos, rochas? c limos? vou tentar pôr-me em pé, ups, ups. Escorrego! vejo o oceano e é lindo e vasto, um cardume, glu, glu. Subo e saio para a luz, esfrego os cabelos... e sinto conforto-lar. A praia, gaivotas voam, ondas chegam em espumas leves à areia, o vento roda em redemoinhos deixando poisar em ritmo lento entusiasta. Casa, mundo onde todos somos, VIVEMOS
vastidão. chão largo. os vivos amontoam-se e festejam.
respiro pó, inspiro, expiro. a loucura de estar c os outros é sermos/existirmos sem parar. no mundo, espaço, tempo, longo e longe. telha-se a memória c medo de nos esquecermos q voltar atrás deve ser um inicio e quando abrimos os braços e rodamos sentimos vertigens, estou tonto? tanto!
vejo o mar e começo em corrida pés sobre a areia, mergulho, abro os olhos, rochas? c limos? vou tentar pôr-me em pé, ups, ups. Escorrego! vejo o oceano e é lindo e vasto, um cardume, glu, glu. Subo e saio para a luz, esfrego os cabelos... e sinto conforto-lar. A praia, gaivotas voam, ondas chegam em espumas leves à areia, o vento roda em redemoinhos deixando poisar em ritmo lento entusiasta. Casa, mundo onde todos somos, VIVEMOS
dorme bem, bons sonhos
matilde,
acalma-te e concentra-te. vais adormecer enquanto ouves esta melodia e descansar nas palavras.
era longa a planicíe, verde, macia, calma com espaços mais claros e levantados, alcochoados, ela recostava-se num planalto ver tudo: o livro com páginas a virar, enorme e azulado, caligrafia manual, capa grossa e um som q aquece desliza no jardim. entra um gato, ronrona e deita-se aos pés da cama, pelo cinza, focinho bigodes em jeito~amontoadp.
entraram dois meninos já conhecidos, pareciam gostar da companhia um do outro: chegavam-se perto dos pés, do gato, puseram-se de cócoras, juntos, ele começa dócil em festas-esfrega, ela aquece-se na mão dele e lê: estavam na planicíe cheirava a liríos matinais, e uma flor deixava o perfume nas mãos de matilde, ela tinha-a esmagado e estava comovida a olhar para as palmas das mãos, ela estica o braço e diz em festinhas: 'no sonho q vai vir há uma flor bem mais linda q essa num quintal em q a terra é quente e mole, macia, lisa... aconchegante como essa almofada e frio como este lençol... n chore ainda n q eu tenho uma razão para você n chorar...' FIM!
acalma-te e concentra-te. vais adormecer enquanto ouves esta melodia e descansar nas palavras.
era longa a planicíe, verde, macia, calma com espaços mais claros e levantados, alcochoados, ela recostava-se num planalto ver tudo: o livro com páginas a virar, enorme e azulado, caligrafia manual, capa grossa e um som q aquece desliza no jardim. entra um gato, ronrona e deita-se aos pés da cama, pelo cinza, focinho bigodes em jeito~amontoadp.
entraram dois meninos já conhecidos, pareciam gostar da companhia um do outro: chegavam-se perto dos pés, do gato, puseram-se de cócoras, juntos, ele começa dócil em festas-esfrega, ela aquece-se na mão dele e lê: estavam na planicíe cheirava a liríos matinais, e uma flor deixava o perfume nas mãos de matilde, ela tinha-a esmagado e estava comovida a olhar para as palmas das mãos, ela estica o braço e diz em festinhas: 'no sonho q vai vir há uma flor bem mais linda q essa num quintal em q a terra é quente e mole, macia, lisa... aconchegante como essa almofada e frio como este lençol... n chore ainda n q eu tenho uma razão para você n chorar...' FIM!
21 junho 2009
Quero ir à Cuba
Quero ir a Cuba
Caetano Veloso
Composição: Caetano Veloso
MAMÃE EU QUERO IR A CUBA
QUERO VER A VIDA LÁ
LA SUEÑO UNA PERLA ENCENDIDA
SOBRE LA MAR
MAMÃE EU QUERO AMAR
A ILHA DE XANGÔ E DE YEMANJÁ
YORUBÁ IGUAL A BAHIA
DESDE CÉLIA CRUZ
CUANDO EU ERA UN NIÑO DE JESUS
E A REVOLUÇÃO
QUE TAMBÉM TOCOU MEU CORAÇÃO
CUBA SEJA AQUI
ESSA OUVI DOS LÁBIOS DE PETI
DESDE O CHA-CHA-CHA
MAMÃE EU QUERO IR A CUBA
E QUERO VOLTAR
Caetano Veloso
Composição: Caetano Veloso
MAMÃE EU QUERO IR A CUBA
QUERO VER A VIDA LÁ
LA SUEÑO UNA PERLA ENCENDIDA
SOBRE LA MAR
MAMÃE EU QUERO AMAR
A ILHA DE XANGÔ E DE YEMANJÁ
YORUBÁ IGUAL A BAHIA
DESDE CÉLIA CRUZ
CUANDO EU ERA UN NIÑO DE JESUS
E A REVOLUÇÃO
QUE TAMBÉM TOCOU MEU CORAÇÃO
CUBA SEJA AQUI
ESSA OUVI DOS LÁBIOS DE PETI
DESDE O CHA-CHA-CHA
MAMÃE EU QUERO IR A CUBA
E QUERO VOLTAR
20 junho 2009
17 junho 2009
1977.O MUNDO É A NOSSA CASA
vastidão. chão largo. os vivos amontoam-se e festejam.
respiro pó, inspiro, expiro. a loucura de estar c os outros é sermos/existirmos sem parar. no mundo, espaço, tempo, longo e longe. telha-se a memória c medo de nos esquecermos q voltar atrás deve ser um inicío e quando abrimos os braços e rodamos sentimos vertigens, estou tonto? tanto!
vejo o mar e começo em corrida pés sobre a areia, mergulho, abro os olhos, rochas? c limos? vou tentar pôr-me em pé, ups, ups. escorrego! vejo o oceano e é lindo e vasto, um cardume, glu, glu. subo e saio para a luz, esfrego o penteado... e sinto conforto-lar.
respiro pó, inspiro, expiro. a loucura de estar c os outros é sermos/existirmos sem parar. no mundo, espaço, tempo, longo e longe. telha-se a memória c medo de nos esquecermos q voltar atrás deve ser um inicío e quando abrimos os braços e rodamos sentimos vertigens, estou tonto? tanto!
vejo o mar e começo em corrida pés sobre a areia, mergulho, abro os olhos, rochas? c limos? vou tentar pôr-me em pé, ups, ups. escorrego! vejo o oceano e é lindo e vasto, um cardume, glu, glu. subo e saio para a luz, esfrego o penteado... e sinto conforto-lar.
TURRAS 2006
Escrevi isto, p a maioria n diz nada mas para a gd minoria dirá:(foi um bonito exercitar a memória, além de q escrever à mão, n sei bem pq, é bom)
o campo começou bem antes numa amizade criada e honrada entre 3 exmos: o eléctrico, hilariante manuel, um sketch-man, o calmo e sedutor el carvalho e um meio-termo entre calma e ritmo mister joseph mary.
o local era a quinta do luís no ribatejo, ele terá sido o apoio-ranger do campo.
toni-mamute, nosso honrado mister pres, foi visto como o sub-director, tendo sido o burro c + fotos do campo.
A equipa de animação era algo miscelânea mas isso funcionou bem! os temas eram suficientemente fortes en criatividade p consagrar-se um campo histórico: a religião, a arte e a política.
adjectivos: n sei! genial, fantástico, único, marcante, de referência na história e, ...
quadro geográfico: tinha o tejo a cerca de 2 kms, portão: terreno à esq e à dta, cozinha, tanque...zona-banhos, baloiço e ao fundo a tenda-mamã, inverte-se o sentido e começando a subir latrinas à esq.... dormitório, casa de apoio, fintando o cão e ultrapassando as cabras, sobe-se buéréré, rosa-dos-ventos, o curral e o celeiro.
2006 em agosto! muitos caramelos!
o campo começou bem antes numa amizade criada e honrada entre 3 exmos: o eléctrico, hilariante manuel, um sketch-man, o calmo e sedutor el carvalho e um meio-termo entre calma e ritmo mister joseph mary.
o local era a quinta do luís no ribatejo, ele terá sido o apoio-ranger do campo.
toni-mamute, nosso honrado mister pres, foi visto como o sub-director, tendo sido o burro c + fotos do campo.
A equipa de animação era algo miscelânea mas isso funcionou bem! os temas eram suficientemente fortes en criatividade p consagrar-se um campo histórico: a religião, a arte e a política.
adjectivos: n sei! genial, fantástico, único, marcante, de referência na história e, ...
quadro geográfico: tinha o tejo a cerca de 2 kms, portão: terreno à esq e à dta, cozinha, tanque...zona-banhos, baloiço e ao fundo a tenda-mamã, inverte-se o sentido e começando a subir latrinas à esq.... dormitório, casa de apoio, fintando o cão e ultrapassando as cabras, sobe-se buéréré, rosa-dos-ventos, o curral e o celeiro.
2006 em agosto! muitos caramelos!
16 junho 2009
DEUS porque me abandonaste?
Assim um senhor que dizem que foi na terra um pai que ainda hoje veneramos, um tipo importante, começou uma luta histórica, abandonou uma fase para começar a modernidade e as ideias pela religião. Qualquer pessoa faz quebras com o passado fortes, recomeça com mais força, Também eu tive um corte que serviu para me ler. A VIDA, não respiro, posso respirar.
15 junho 2009
filhas? e os? carolina e matilde!
Gosto dela pq no seu jeito infantil parece desafiar-me a ver o mundo, ela é como um sabor achocalatado q dobra o riso e assim faz seu juízo, tem qlq coisa q encanta, um vértice do ontem hoje q circula até amaanhã, é um ser bem bonito, irrequieto, q vê como quem espreita e açambarca tudo num abraço. matilde podia ser um cachecol ou umas quentes luvas, ser persuasivo q nasce e rebola caindo num chocalhar simples. ela é a matilde.
1981
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.
Um começo, um recomeço, um voltar atrás, a vida enquanto caminho, processo longo e largo a avistar sem saídas mas com ganhos, portas de entrada, veias bem marcadas, a escuro descem para os pulsos e tropeçam nas artérias, tudo inspira, expira, suspira e explode.
Hoje e amanhã, ontem e anteontem, no fim de semana, percebe-se e entende-se um tubo longo, espreito e noto uma luz, descanso nela, e continuo para o som estridente do motor.
Avanço muito lentamente para o fim, calco com mãos as paredes, sinto os altos da empreitada, bicos do cimento, zonas com falhas grandes acentuadas.
Chegado ao fim e à luz, olho para o chão, sinto o alto, conto a altura (2 metros penso), tomo balanço e zupa. No relvado, (pufff), avanço tranquilo, dou dois passos, paro para carregar baterias, olho, começo em ritmo de corrida, encontro o pinheiro, sento-me mochila na mão, abro o saco a tirar o lanche, começa o primeiro dia do resto da MINHA muito MINHA vida.
• 1975
Os pássaros foram feitos para voar e voam.
Esses céus alongam-se e esticam e bandos circulam e cruzam-se com espaços e tempos suaves. O mundo é maior que isto e sopra longe um dia claro e longo, luzidio e transparente, potência de uma lua branca e azulada, com um som celeste e cipreste e um renascer de um vento (vuuuhu) gelado e q aquece gente a aprender a ser menino fértil em futuros presentes aviva-se passados.
E circulam triângulos e rectângulos hexágonos em rectângulos e formas preenchentes adornadas pelo viver suave, tranquilo e sereno. Mostra lá isso? O quê? O teu relógio… é um clássico, muito sedutor ao teu jeito, inebriante jeito com uma louca condição moldada no teu pulso. Era um longo ir, voltar, retornar, rebuscar
• 1979 (houve muita boa gente a nascer neste ano que se juntou ao movimento...)
Vamos juntos aprender com a vida.
A vida é gente, a gente é vida. Pessoas, malta, cambada e… movimentou-se espaços pluralmente e abertamente, às vezes singularmente. São mãos que se dão, em rodinhas largas, começou-se algo bom e ainda hoje falamos desse tempo marcante, lembra-me de caras, vestes, gritos, uma fogueira enorme, árvores à volta, vento a fazer barulho, o reflexo da lua nas pedras, lembro-me do Jonas ter feito um sketch soberbo: ele entrava, parava a olhar em volta braços abertos, procurava algo, tacteava o corpo, depois rebuscava entre as gentes sentadas, parou, ajoelhou-se, levou as mãos à cabeça, esfregou, gritou, levantou-se e saiu: bravooo, bravooo, bravissimooo uh uh.
E aí um grupo de 5 enfileirados levantam-se, começam a snifar todos para o lado direito, depois snifam para o lado esquerdo, páram, coçam os narizes e sentam-se. 1 carameloooo…. ALLEZ… 2 carameloooos… ALLEZ… 3 caramelooooooooooooos….5 tostões por causa dos trocos!
• 1980
A verdade vos libertará. Crescer é comprometer-se.
Crescer nos outros sentindo-os, virgens, algo verdes por crescer. Nós (todos) somos livres se escolher a melhor saída e compromete-mo-nos a não dar passos às arrecuas, seguir JUNTOS vendo no olhar do outro um rumo por onde queremos maior projecção, mais largo ver. Livres, iguais, fraternos e revolucionários. Apertamos mãos porque o mundo é nosso, neste presente cantamos um futuro auspicioso, vitorioso, não temos medo nenhum das sombras inclinadas, vemos a vida construída arquitectada na mudança procuramos heterogeneidade pintando-nos em baladas e guitarradas.
Sente o ritmo pulsar num leve azulado claro amanhecer, saio da tenda, meto a cabeça de fora, olho restos de farra, tudo sujo, vejo uma cabra em cima longe a comer, chamo… ela parece parar, levantar a cabeça e apontá-la na minha direcção, avançar devagar, parar, grito ‘heyyy’, avança, rebusca no lixo e uma lata enfia-se nos corninhos… ‘heyyy’, avança, chega-se à tenda, começa a lamber, recebe festinhas, agacha-se e deita-se.
• 1972
No mundo de mãos dadas lutaremos, para transformar os montes em caminhos.
Era um grande, enorme dia e esfriava, esfriava até o sol se pôr e lá no céu se erguer uma luz estrelar e no largo já estamos, entrámos pela rua do norte e rumamos os três ao centro, desviando-se cada um para o seu lado em ‘adeus’ e ‘até jás’. Lanternas? Ok! Pás? Enxadas? Foices? Bora lá! Pq no mundo/neste de mãos dadas lutaremos e àquele monte, lá bem no cimo, vou dar-lhe a forma de dúvida e solta-se um beijo suspirado e um foco de lanterna diz ‘q por ali quero ir’ c carinho soprado e revolver-lhe esse mundo. Um planeta pôs-se!
Viemos JUNTOS à caça pq o q queremos é de um jogo (pisca) q ontem fizemos sacar esta msg: ‘No mundo de mãos dadas lutaremos, para transformar os montes em caminhos‘ retiramos um copo e nele concentramos as 12 mãos porque queremos erguer a luz e o som vitral, opaco, fundido e erguer um feixe conviva. Nele realizamos e produzimos levitando. Há uma manhã tardia e uma tarde a começar, noite esplêndida! Fabricámos o dia, era um grande, enorme dia e esfriava, esfriava até o sol se pôr.
Os muros vão cair. E se até a flor perfuma a mão que a esmaga...
Ver na barreira ponto de apoio para um pé, onde fincamos o pé para ultrapassar o esforço do que é, ser agente de mudança numa zona de cruzamentos. Encontrar no outro a flor q é glória do viver, construir, saborear o bolo q se acaba de tirar da forma e q a avó nos ensinou, há mt tempo, a fazer. Encontrar no pior momento, um ponto forte para arrancar para um bom. As barreiras são pontos de passagem para outra margem, ganhos num momento de perda para um acelerar mais forte; os índios iam para uma clareira, subiam-na de frente e viravam-se para um descer a cu, iam de amuleto até ao fundo e deixavam um fundo-rabo na branca areia. Passar do presente a futuro com jeitos de derrubar a vida. Insistir na fauna e flora para um alisar do ser e da natureza. Conceber na perda um recomeçar até ganhar.
Quem veio e atravessou o rio viu a chegarem-se perto casas sob um céu largo, claro, imenso mas sempre q Lisboa canta n sei se canta, n sei se reza, pois sempre q Lisboa canta, canta o fado com certeza sorrindo por dentro e sempre a crescer. Foi atravessando o Tejo q ali notei um nascer de algo, do mar, do deserto, de um gesto, de uma cidade, de pessoas. Num brilho notou-se o crepúsculo arroxeado ao longe, assim como um laranja pôr-do-sol a clarear para o azul claro esbranquiçado da melodia q soava em ritmos samba. No caminho lá fundo eu vi um mexer sério e duro acentuado.
Utopia de um cume donde vejo o inatingível, queremos apalpá-lo e saboreá-lo, ouvi-lo. Fechado neste cerco oiço do lado de lá GENTE infantil e espreito pela fresta, ranhura e gentil, suave, dócil, acarinho com a palma da mão um vértice que voa, e suo porque quero lutar e seguir pela estrada fora até ao cruzamento e viro à esquerda. Anda, até ali, juntos (aponta), vês aquela árvore? Foi ali que nos conhecemos naquela eira, era um dia de muita nuvem e algum vento e tu estavas/eras num grupo com gritos e eu chegava lento e calmo com mais a Rita e a Joana e olharam-nos de longe, sentámo-nos a ver a vista, depois vieste calmo no nosso alcance, puseste a mão sobre o meu ombro e no jeito que ainda é o teu disseste muito suave ‘eu sou o Manuel, venham para ali cantar e tocar connosco’. E fomos e herdámos isto. Sorriram
era um sitío bem largo, nele poisavam à sombra milhões de crianças, olhando para elas lia-se futuro e ajudavam o tronco a ficar direito, grosso e a crescer. havia lá perto um pastor num terreno c um rebanho, cantava 'brincando na serra enquanto o lobo n vem' de cada vez q dizia 'lobo', tds se encolhiam.
nascia tds os dias um sol simples, fácil, maravilhoso!
a sombra traçava fronteira entre o claro e o escurecer, lá se sabia vida mas cá tb.
Era um fim de tarde na quinta, Jonas e Joaquim, caminhavam terreno abaixo, param, viram-se para um frente-a-frente: aqui? Olham os dois para o chão: sim, pode ser!
Gostas de mim? Gosto! Então vamos dançar… damos as mãos e nanananana Dançam à volta.
Começa a soar longe e em crescendo: ‘está na hora de ouvires o teu pai, puxa para ti essa cadeira…’, serve-se chá e bolinhos em jeito piquenique, aparecem esvoaçando, ‘um brinde ao mocamfe e aos turrinhas!’, ‘mas eles n estão cá connosco, estão lá no campo… snif snif… saudades q ficam neste gesto. Mas e nós? Vamos ser criativos e descansar: deixas-me usar as tuas pernas como almofada? Claro! (descansa o texto)
Acordam e a alegria serve-lhes como poisio, tanta calma farta, levantam-se e começam em movimento circular, mãos à ilharga, um finge sacar, mais uma volta, o de rosa saca, pum, cai o homem de azul… e ouve-se a marcha nupcial.
E movimentou-se o dia!
Ninguém, mas mesmo NINGUÉM, vive isolado, fora do mundo, sem os outros. A regra é um começo numa família, depois grupo de pares e socializar.
Foi assim que NOS fizemos, criando espaços e tempos de convívio.
O grupo diz-se pq se inventou; individualmente somos unicamente mais um, um sozinho, mais pequeno, vive para e com… um outro enorme qd vai colher amizade, e viver é amigos, quem serias tu sem o outro? Um vazio
O amor é um vértice do ser. Todos nascemos do amor… encontrar o outro, descobri-lo é um dom q gastamos todos os dias. É um dom único bonito, para vivermos em alcateia faz sentido uivarmos. Descobrir o outro já é uma festa.
a ideia de estar numa prisão assusta porque estamos fechados de um mundo e dos outros, e de nós, de um certo modo, neste canto da sala vejo ao longe pela fresta da janela aberta: verde e sol-liberdade! ergo um punho sozinho fazendo atenção à sombra, sei q voltarei ao mundo, n fui feito para estar preso, e disto/nisto ganharei valor. vejo as grades e penso loucamente 'espera mais um pouco! as coisas começam e acabam'. paciência!
deste malmequer (tanto mal) vem o cheiro e o som de derrocada.
e foi num feliz momento em q alma fui quebrei a história e marchei direito ao precipicío pronto para saltar e quebrar correntes, preso me soltarei.
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.
Um começo, um recomeço, um voltar atrás, a vida enquanto caminho, processo longo e largo a avistar sem saídas mas com ganhos, portas de entrada, veias bem marcadas, a escuro descem para os pulsos e tropeçam nas artérias, tudo inspira, expira, suspira e explode.
Hoje e amanhã, ontem e anteontem, no fim de semana, percebe-se e entende-se um tubo longo, espreito e noto uma luz, descanso nela, e continuo para o som estridente do motor.
Avanço muito lentamente para o fim, calco com mãos as paredes, sinto os altos da empreitada, bicos do cimento, zonas com falhas grandes acentuadas.
Chegado ao fim e à luz, olho para o chão, sinto o alto, conto a altura (2 metros penso), tomo balanço e zupa. No relvado, (pufff), avanço tranquilo, dou dois passos, paro para carregar baterias, olho, começo em ritmo de corrida, encontro o pinheiro, sento-me mochila na mão, abro o saco a tirar o lanche, começa o primeiro dia do resto da MINHA muito MINHA vida.
• 1975
Os pássaros foram feitos para voar e voam.
Esses céus alongam-se e esticam e bandos circulam e cruzam-se com espaços e tempos suaves. O mundo é maior que isto e sopra longe um dia claro e longo, luzidio e transparente, potência de uma lua branca e azulada, com um som celeste e cipreste e um renascer de um vento (vuuuhu) gelado e q aquece gente a aprender a ser menino fértil em futuros presentes aviva-se passados.
E circulam triângulos e rectângulos hexágonos em rectângulos e formas preenchentes adornadas pelo viver suave, tranquilo e sereno. Mostra lá isso? O quê? O teu relógio… é um clássico, muito sedutor ao teu jeito, inebriante jeito com uma louca condição moldada no teu pulso. Era um longo ir, voltar, retornar, rebuscar
• 1979 (houve muita boa gente a nascer neste ano que se juntou ao movimento...)
Vamos juntos aprender com a vida.
A vida é gente, a gente é vida. Pessoas, malta, cambada e… movimentou-se espaços pluralmente e abertamente, às vezes singularmente. São mãos que se dão, em rodinhas largas, começou-se algo bom e ainda hoje falamos desse tempo marcante, lembra-me de caras, vestes, gritos, uma fogueira enorme, árvores à volta, vento a fazer barulho, o reflexo da lua nas pedras, lembro-me do Jonas ter feito um sketch soberbo: ele entrava, parava a olhar em volta braços abertos, procurava algo, tacteava o corpo, depois rebuscava entre as gentes sentadas, parou, ajoelhou-se, levou as mãos à cabeça, esfregou, gritou, levantou-se e saiu: bravooo, bravooo, bravissimooo uh uh.
E aí um grupo de 5 enfileirados levantam-se, começam a snifar todos para o lado direito, depois snifam para o lado esquerdo, páram, coçam os narizes e sentam-se. 1 carameloooo…. ALLEZ… 2 carameloooos… ALLEZ… 3 caramelooooooooooooos….5 tostões por causa dos trocos!
• 1980
A verdade vos libertará. Crescer é comprometer-se.
Crescer nos outros sentindo-os, virgens, algo verdes por crescer. Nós (todos) somos livres se escolher a melhor saída e compromete-mo-nos a não dar passos às arrecuas, seguir JUNTOS vendo no olhar do outro um rumo por onde queremos maior projecção, mais largo ver. Livres, iguais, fraternos e revolucionários. Apertamos mãos porque o mundo é nosso, neste presente cantamos um futuro auspicioso, vitorioso, não temos medo nenhum das sombras inclinadas, vemos a vida construída arquitectada na mudança procuramos heterogeneidade pintando-nos em baladas e guitarradas.
Sente o ritmo pulsar num leve azulado claro amanhecer, saio da tenda, meto a cabeça de fora, olho restos de farra, tudo sujo, vejo uma cabra em cima longe a comer, chamo… ela parece parar, levantar a cabeça e apontá-la na minha direcção, avançar devagar, parar, grito ‘heyyy’, avança, rebusca no lixo e uma lata enfia-se nos corninhos… ‘heyyy’, avança, chega-se à tenda, começa a lamber, recebe festinhas, agacha-se e deita-se.
• 1972
No mundo de mãos dadas lutaremos, para transformar os montes em caminhos.
Era um grande, enorme dia e esfriava, esfriava até o sol se pôr e lá no céu se erguer uma luz estrelar e no largo já estamos, entrámos pela rua do norte e rumamos os três ao centro, desviando-se cada um para o seu lado em ‘adeus’ e ‘até jás’. Lanternas? Ok! Pás? Enxadas? Foices? Bora lá! Pq no mundo/neste de mãos dadas lutaremos e àquele monte, lá bem no cimo, vou dar-lhe a forma de dúvida e solta-se um beijo suspirado e um foco de lanterna diz ‘q por ali quero ir’ c carinho soprado e revolver-lhe esse mundo. Um planeta pôs-se!
Viemos JUNTOS à caça pq o q queremos é de um jogo (pisca) q ontem fizemos sacar esta msg: ‘No mundo de mãos dadas lutaremos, para transformar os montes em caminhos‘ retiramos um copo e nele concentramos as 12 mãos porque queremos erguer a luz e o som vitral, opaco, fundido e erguer um feixe conviva. Nele realizamos e produzimos levitando. Há uma manhã tardia e uma tarde a começar, noite esplêndida! Fabricámos o dia, era um grande, enorme dia e esfriava, esfriava até o sol se pôr.
Os muros vão cair. E se até a flor perfuma a mão que a esmaga...
Ver na barreira ponto de apoio para um pé, onde fincamos o pé para ultrapassar o esforço do que é, ser agente de mudança numa zona de cruzamentos. Encontrar no outro a flor q é glória do viver, construir, saborear o bolo q se acaba de tirar da forma e q a avó nos ensinou, há mt tempo, a fazer. Encontrar no pior momento, um ponto forte para arrancar para um bom. As barreiras são pontos de passagem para outra margem, ganhos num momento de perda para um acelerar mais forte; os índios iam para uma clareira, subiam-na de frente e viravam-se para um descer a cu, iam de amuleto até ao fundo e deixavam um fundo-rabo na branca areia. Passar do presente a futuro com jeitos de derrubar a vida. Insistir na fauna e flora para um alisar do ser e da natureza. Conceber na perda um recomeçar até ganhar.
Quem veio e atravessou o rio viu a chegarem-se perto casas sob um céu largo, claro, imenso mas sempre q Lisboa canta n sei se canta, n sei se reza, pois sempre q Lisboa canta, canta o fado com certeza sorrindo por dentro e sempre a crescer. Foi atravessando o Tejo q ali notei um nascer de algo, do mar, do deserto, de um gesto, de uma cidade, de pessoas. Num brilho notou-se o crepúsculo arroxeado ao longe, assim como um laranja pôr-do-sol a clarear para o azul claro esbranquiçado da melodia q soava em ritmos samba. No caminho lá fundo eu vi um mexer sério e duro acentuado.
Utopia de um cume donde vejo o inatingível, queremos apalpá-lo e saboreá-lo, ouvi-lo. Fechado neste cerco oiço do lado de lá GENTE infantil e espreito pela fresta, ranhura e gentil, suave, dócil, acarinho com a palma da mão um vértice que voa, e suo porque quero lutar e seguir pela estrada fora até ao cruzamento e viro à esquerda. Anda, até ali, juntos (aponta), vês aquela árvore? Foi ali que nos conhecemos naquela eira, era um dia de muita nuvem e algum vento e tu estavas/eras num grupo com gritos e eu chegava lento e calmo com mais a Rita e a Joana e olharam-nos de longe, sentámo-nos a ver a vista, depois vieste calmo no nosso alcance, puseste a mão sobre o meu ombro e no jeito que ainda é o teu disseste muito suave ‘eu sou o Manuel, venham para ali cantar e tocar connosco’. E fomos e herdámos isto. Sorriram
era um sitío bem largo, nele poisavam à sombra milhões de crianças, olhando para elas lia-se futuro e ajudavam o tronco a ficar direito, grosso e a crescer. havia lá perto um pastor num terreno c um rebanho, cantava 'brincando na serra enquanto o lobo n vem' de cada vez q dizia 'lobo', tds se encolhiam.
nascia tds os dias um sol simples, fácil, maravilhoso!
a sombra traçava fronteira entre o claro e o escurecer, lá se sabia vida mas cá tb.
Era um fim de tarde na quinta, Jonas e Joaquim, caminhavam terreno abaixo, param, viram-se para um frente-a-frente: aqui? Olham os dois para o chão: sim, pode ser!
Gostas de mim? Gosto! Então vamos dançar… damos as mãos e nanananana Dançam à volta.
Começa a soar longe e em crescendo: ‘está na hora de ouvires o teu pai, puxa para ti essa cadeira…’, serve-se chá e bolinhos em jeito piquenique, aparecem esvoaçando, ‘um brinde ao mocamfe e aos turrinhas!’, ‘mas eles n estão cá connosco, estão lá no campo… snif snif… saudades q ficam neste gesto. Mas e nós? Vamos ser criativos e descansar: deixas-me usar as tuas pernas como almofada? Claro! (descansa o texto)
Acordam e a alegria serve-lhes como poisio, tanta calma farta, levantam-se e começam em movimento circular, mãos à ilharga, um finge sacar, mais uma volta, o de rosa saca, pum, cai o homem de azul… e ouve-se a marcha nupcial.
E movimentou-se o dia!
Ninguém, mas mesmo NINGUÉM, vive isolado, fora do mundo, sem os outros. A regra é um começo numa família, depois grupo de pares e socializar.
Foi assim que NOS fizemos, criando espaços e tempos de convívio.
O grupo diz-se pq se inventou; individualmente somos unicamente mais um, um sozinho, mais pequeno, vive para e com… um outro enorme qd vai colher amizade, e viver é amigos, quem serias tu sem o outro? Um vazio
O amor é um vértice do ser. Todos nascemos do amor… encontrar o outro, descobri-lo é um dom q gastamos todos os dias. É um dom único bonito, para vivermos em alcateia faz sentido uivarmos. Descobrir o outro já é uma festa.
a ideia de estar numa prisão assusta porque estamos fechados de um mundo e dos outros, e de nós, de um certo modo, neste canto da sala vejo ao longe pela fresta da janela aberta: verde e sol-liberdade! ergo um punho sozinho fazendo atenção à sombra, sei q voltarei ao mundo, n fui feito para estar preso, e disto/nisto ganharei valor. vejo as grades e penso loucamente 'espera mais um pouco! as coisas começam e acabam'. paciência!
deste malmequer (tanto mal) vem o cheiro e o som de derrocada.
e foi num feliz momento em q alma fui quebrei a história e marchei direito ao precipicío pronto para saltar e quebrar correntes, preso me soltarei.
a MATILDE diz isto:
o zé maria é maravilha, carinho, calor, ouvido desperto e sincero, é um abraço onde posso confiar, um sim que derrota o não! sempre cheio de ideias e criatividade, sabe é tão bom recordar tudo aquilo que ele me fez passar, era eu uma criançinha em construção, o amigo secreto que me tocou tão lá no fundo e então lá ficou.
Mesmo depois de a vida lhe ter dado uma volta, o zé maria continua a surpreender tudo e todos, como um vaso de flores que, passado o Inverno longo e difícil, rompe pela terra para nos presentear uma vez mais com a sua graça, a sua esperança, o seu encanto das pétalas tão ou ainda mais coloridas que outrora!
Meu amigo, ja sabes que te adoro! É tão bom ir mantendo a conversa em dia e percebendo que tens sempre tanto para dar... obrigada por me deixares receber!
Tivesse menos uns aninhos e dizia-vos!
Mesmo depois de a vida lhe ter dado uma volta, o zé maria continua a surpreender tudo e todos, como um vaso de flores que, passado o Inverno longo e difícil, rompe pela terra para nos presentear uma vez mais com a sua graça, a sua esperança, o seu encanto das pétalas tão ou ainda mais coloridas que outrora!
Meu amigo, ja sabes que te adoro! É tão bom ir mantendo a conversa em dia e percebendo que tens sempre tanto para dar... obrigada por me deixares receber!
Tivesse menos uns aninhos e dizia-vos!
14 junho 2009
ler outras coisas: mãos!
Transitei do cristianismo para o marxismo bastando-me acreditar no homem.
http://www.youtube.com/watch?v=GmOEi6-wMOs
Intercultura, o mundo desconhecido.
Camilo Azevedo Périplo
"A esquerda falhou completamente nos países islâmicos do Mediterrâneo"
11.06.2009
Por: Alexandra Lucas Coelho O Sul do Mediterrâneo andou devagar
milhares de anos. De repente, levou com colonialismo, ditaduras,
globalização - e refugiou-se nas mesquitas. A esquerda tem culpa,
reconhece Miguel Portas. "Périplo", com texto de Portas e fotografias
de Camilo Azevedo, é uma viagem no tempo e no espaço
Das montanhas do Iémen aos desertos da Líbia, dos cemitérios do Cairo
aos rios da Mesopotâmia, dos "souks" de Alepo aos palácios de Petra, o
livro "Périplo" vai até onde acaba a oliveira na margem sul do
Mediterrâneo.
A série documental que Miguel Portas fez em 2003-4 com o realizador
Camilo Azevedo tinha as duas margens do Mediterrâneo e vem em DVD no
fim do livro. Mas o que agora está em 350 páginas de texto e
fotografias é outra coisa, antes e além das filmagens. Algo entre o
ensaio histórico e a viagem, um périplo no tempo e nestes espaços sem
paralelo em Portugal. O Norte ficará para um futuro volume.
Camilo Azevedo fez a maior parte das fotografias em viagens de
pesquisa, antes de filmar. Miguel Portas escreveu o texto depois da
série, muitas vezes recorrendo a viagens posteriores. Há lugares que
estão no livro e não estão na série, como Jerusalém. Texto e
fotografia são dois discursos paralelos, que frequentemente confluem.
Neste mundo maioritariamente islâmico, mas também judeu e cristão, o
ateu Miguel Portas demora-se nas religiões, e defende ao longo do
livro a necessidade de dialogar com elas. Não o fazer é ignorar a
maioria, e isso foi o que a esquerda fez, erradamente, quando pactuou
com as ditaduras nacionalistas árabes. E os pobres voltaram-se para o
islamismo político.
Miguel Portas diz que gostava de ter lançado "Périplo" semanas antes
da campanha oficial para as europeias, mas o livro ficou pronto apenas
dias antes. As duas primeiras apresentações, em Lisboa e Mértola,
acabaram por aparecer no portal do Bloco de Esquerda, confundindo-se
com a campanha. "Mas ainda não era campanha oficial", justifica
Portas. "O lançamento em Coimbra, já em plena campanha, não o
anunciei." De resto, diz, "é uma questão de pura formalidade", porque
a pré-campanha já vem de Outubro. "As pessoas têm várias dimensões e
nunca dissociei as partidárias e as não-partidárias, desde que cumpra
a lei."
Dizes que "Périplo" não é um livro de história, não é um ensaio, não é
uma reportagem, mas um pouco de tudo isto. Porque é que aparece tão
pouca gente a falar?
Foi uma opção. O documentário é que suscitou o livro, e no
documentário tivemos condições de filmagem sob vigilância, porque em
nenhum daqueles países se filma sem polícia.
Mesmo quando iam às ruínas perdidas da Líbia? Ou sobretudo na Líbia?
Sobretudo na Líbia. E no Egipto os mecanismos de defesa eram muito
grandes. Depois havia um outro problema. Ou se fala árabe ou a
comunicação é difícil com as pessoas comuns. E portanto tinha que
existir a mediação de um intérprete, o que não permitia confirmar a
veracidade das respostas porque era agente de polícia.
Os intérpretes eram-vos atribuídos?
Eram. Mas mesmo quando a mediação é através de uma agência, eles têm
que fazer um relatório de informação. É assim na generalidade daqueles
países.
Nunca encontrei essa realidade. Tem a ver com a câmara?
Tem. Com um pedido de filmagens. Indo a lugares históricos, num
registo cultural, estas eram as condições. Depois, eu podia ter feito
intervir bastante mais gente [a falar], mas isso tornaria o livro
dependente das minhas visitas políticas, nomeadamente à Palestina,
Líbano e Egipto, e eu não quis que o livro fosse de actualidade.
Pareceu-me mais interessante perceber porque tenho sobre a conjuntura
política daqueles países as opiniões que tenho, e para isso era pouco
relevante a reportagem de circunstância.
Interessava-me a grande paisagem civizacional, as tendências longas da
História, que podem determinar comportamentos ou ajudar a
desmistificar conflitos. Mais do que fazer um relato das minhas
viagens na Palestina, pareceu-me importante, por exemplo, trabalhar
sobre as origens do povo judeu ou do judaísmo.
É dos capítulos mais marcados pela História.
Aí, tinha duas opções. Ou fazia reportagem nos dois lados, mas não
tenho conhecimento para tirar um ponto de vista suficientemente
original face a tanta coisa escrita e editada, ou fazia um mergulho em
certas histórias da História para proporcionar a um público português
- e este livro está escrito para portugueses - análises pouco
conhecidas cá.
Mas há momentos em que aparecem resquícios dos cadernos de viagem, com
diálogos. Aproveitar mais isso podia distrair a estratégia do livro?
Tive medo de o contaminar de reportagem. A minha preocupação foi que
tanto fosse acessível ao meu filho mais velho, que gosta de História,
como a um professor, a um jornalista, como retaguarda na qual a
actualidade se inscreve. Não achei que fosse capaz de fazer sobre a
actualidade melhor do que tem sido feito.
Os capítulos também variam. Há uns que têm mais História, outros mais
viagem, com algumas peripécias. Como quando estava na Estrada dos
Sudaneses, na Líbia, e me deparo com um concerto de relâmpagos. Foi aí
que tive a minha luz, que descobri o princípio da racionalidade na
religião. Isso tem mais a ver com a literatura de viagens
introspectiva.
Tal como a parte em que falas do deserto.
Há elementos intimistas, como há outros que são quase de guia.
Isto começou por ser um livro de fotografias legendadas, com base no
acervo do Camilo, à roda de 10 mil fotos. Depois, os primeiros ensaios
que fiz não me satisfizeram. Tentei textos curtos sobre grupos de
fotografias, mas ninguém compra um livro para ver nele a mesma coisa
do documentário. Comecei a construir capítulos.
O primeiro, dos mesopotâmicos, era demasiado curto comparado com os
outros. Decidi, a partir dos mesopotâmicos e dos rios [Tigres e
Eufrates], resumir o livro do ponto de vista da grande viagem
histórica. Portanto, esse capítulo é uma espécie de apresentação.
O seguinte, do Egipto, é muito mais viajante. Mas amarrei-me a um
escrito pouco conhecido do Eça de Queirós ["O Egipto"]. Por que é que
o Eça jovem via o Egipto daquela maneira? Quase sigo a reportagem
dele.
Há um outro capítulo com base num livro, o do Cairo, mas o propósito é
revelar uma novidade. Porque se vemos a grande história do
Mediterrâneo em [Fernand] Braudel, podemos ver outra grande história
em [Schlomo Dov] Goitein [erudito judeu que estudou milhares de
documentos de mercadores judeus dos séculos IX-XIII, uma
micro-história do quotidiano]. Entre Braudel e Goitein estão as
grandes coordenadas do entendimento do Mediterrâneo. A vantagem do
Goitein é que era desconhecido em Portugal.
E orientei esse capítulo para as mulheres, porque o capítulo seguinte
seria sobre as mulheres. Portanto, cada capítulo foi tendo a sua
própria história.
Do Iémen à Líbia, quais são os teus lugares de eleição?
O vale de Hadramaut, a grande paisagem do oásis em forma de rio e da
arquitectura de terra...
No Iémen.
... Aliás, se tivesse que escolher um país seria o Iémen. Não é só o
vale de Hadramaut. São aquelas montanhas do Centro e do Norte, todas
em socalco, com quatro, cinco vezes a dimensão do Douro.
É o único país onde vi que a história fazia efectivamente parte do
presente, como força propulsora. Constrói-se como sempre se construiu.
No mundo árabe, é a única arquitectura espampanante para fora.
Normalmente, a arquitectura do mundo árabe é cega para fora, porque o
espaço público é o da família no pátio. No Iémen, não. E é assim no
Sul [com vários andares em terra] e em Sana [a norte], com construção
de pedra, cada andar construído geração a geração.
Pelo choque negativo, um outro lugar foi o Vale do Jordão [que
atravessa Israel e a Cisjordânia, ao longo da fronteira com a
Jordânia]. Creio que quando Moisés chegou ao cimo do Monte Nebo com
120 anos e Deus lhe disse "Aqui tens a Terra Prometida", o tipo disse:
"Se esta é a Terra Prometida, por aqui me fico" - e pimba, morreu no
Monte Nebo. É brutal, a secura. É uma terra abaixo do nível do mar, um
ar abafado, um rio Jordão que se salta de um pulinho, pouco mais que
um riacho, um mar que é Morto, tudo terrível.
Belíssimo mas estéril.
De cima, parece estéril. Está longe da ideia de paraíso.
Depois, se tivesse que escolher uma cidade, há três, Lisboa, Nápoles e
Istambul, que têm tanto em comum...
Mas aí já estás no Norte.
... Não, se tivesse que escolher uma cidade escolhia Alepo [Síria]. É
muito bonita, de uma pedra amarelada, tem muito boa construção, muito
varandim de madeira, e a pedra e a madeira combinam bem. E tem um
"souk" denso, fantástico, talvez o mais denso que conheci. É muito
mais bonito e interessante que Damasco.
Pensei que ias escolher Beirute.
Tenho muita ambivalência em relação a Beirute. É, de longe, onde se
respira mais liberdade.
E rapidez de reconstituição.
Destruição e reconstituição são absolutamente vertiginosas. É uma
cidade agradável para se estar, mas não diria que é bonita. Tem um
enorme excesso de construção e é dura.
No livro em que visita algum deste Sul, "Mediterrâneo, Ambiente e
Tradição", Orlando Ribeiro defende que o Mediterrâneo é um todo, uma
unidade para além das diferenças religiosas, com um carácter de
permanência que o progresso ofusca sem destruir. Disse-o em fins de
50, começos de 60. Ainda é possível dizer isto?
Que há uma unidade, creio que há - a do tempo, mais que a dos lugares.
Ou seja, não é a unidade da paisagem, é a da persistência do tempo. A
ideia de que a vida mudou, mas muito pouco ao longo de muitos séculos.
A ideia de que as mudanças passaram pelas comunidades, mas que elas as
absorveram para mudar o menos possível. Como o Mediterrâneo tem um
excesso de História, aprendeu a lidar com ela dessa forma. Isso
mantém-se.
O que acho é que a aceleração dos últimos 150 anos, em particular dos
últimos 50, é de tal modo poderosa que curto-circuita todos os
adquiridos anteriores. Mas não rebentou com eles. Há uma tentativa
desesperada de resistir à instantaneidade como forma de vida. Acho que
é isso que explica os fundamentalismos, essa dificuldade de entender a
fusão dos tempos. É a resistência do clã que se adapta ao sistema
político moderno, transformando as lideranças de clãs em lideranças
modernas dos partidos. É o modo como a penetração da cultura americana
é espantosamente compatível com o arcaísmo da vida na família
alargada. Poucos países conseguem concentrar tão bem essas
contradições como o Líbano. É uma espécie de grande concentrado do
Império Otomano, da globalização e da resistência à globalização, ao
mesmo tempo.
As religiões são chapéus de chuva, atrás dos quais se abrigam as
velhas realidades clânicas.
A imigração, que transformou o Mediterrâneo num espaço de morte, com
centenas a tentarem atravessá-lo, é uma mudança decisiva no equilíbrio
de que falava Orlando Ribeiro?
O livro acaba justamente com a imigração. Adopto a ideia de que neste
mar sempre se perseguiram os paraísos na terra, e que a viagem é uma
busca do paraíso terreal. Para concluir com a ideia - do Cláudio
Torres [co-autor do documentário] - de que o paraíso terreal mora
dentro de cada um, tem a ver com a força que leva as pessoas a
partirem. Sempre se partiu ou porque se tinha que fugir ou porque não
se tinha como ficar. Raramente partir é uma escolha. É uma escolha só
para quem pode.
Género Bruce Chatwin.
Exacto. O Chatwin sustenta que o viajante é um nómada e eu discuto isso.
No caso do Chatwin, é um luxo.
Para mim, é um luxo. É uma dádiva que tenho, uma possibilidade.
Como o rei Faisal diz a Lawrence da Arábia: só os ocidentais escolhem
o deserto.
Exactamente. O que se passa no Mediterrâneo tem que ver com uma
tendência humana muito antiga, mas com decisões de policiamento muito
modernas. A decisão de fechar o Mediterrâneo é da Europa. E aquilo que
é horroroso nas políticas de imigração - a expulsão e o repatriamento
- deixa de ser função de um estado para passar a ser função de
Bruxelas. A Europa está nesta posição extraordinária de ter uma
política de expulsão sem ter uma política de entrada nem de
integração. Mais, consome 50 por cento do orçamento em expulsões e
repatriamentos.
Isto é absurdo por razões humanas e porque dá alimento a posições
sobre a imigração como as mais recentes do parlamento italiano, que
criminalizam quem ajude um emigrante sem papéis, ou seja, criminalizam
a humanidade. São pura e simplesmente protofascistas, não têm outro
paralelo que não nos anos 30 na Alemanha. E Bruxelas foi incapaz de
contestar aquele tipo de legislação porque se inclui no quadro legal
da directiva de retorno.
Uma das perguntas para a qual não tens resposta definitiva: por que é
que se enchem as mesquitas a sul e se esvaziam as igrejas a norte?
Ensaio uma resposta, acho que é pelo menos parte da resposta. A
dificuldade de fazer em 50 anos o caminho que as sociedades do Norte
puderam fazer em 150 ou 200, ou seja, a aceleração dos tempos no
presente. Onde tive a melhor ideia disto foi em Sana, no Iémen. O
camelo ainda é meio de transporte e o último todo-o-terreno também. A
sociedade é a do petróleo e ao mesmo tempo tão arcaica, conservadora e
fechada como os sauditas das areias. Foi aí que tive a noção de como é
difícil a comunidades tribais lidarem com a avalancha de modernidade e
ao mesmo tempo com o facto de os modernistas que os dirigiram serem
ditadores.
Ficaram sem saída. A certa altura, a mesquita transformou-se num
reduto de identidade e de liberdade. Esta avalancha do moderno é de
tal modo violenta sobre uma sociedade habituada a andar devagar que
fica difícil lidar com a vertigem.
Eu não procuraria convencer o meu avô, se ele fosse vivo, de coisas
que pudesse pensar. Estou convencido de que aquilo que lhe pudesse
dizer não era aquilo que ele ouviria. Se isto é assim entre gerações
num país ocidentalizado, como não há-de ser nas terras em que a
intromissão do Ocidente é tardia, e onde as boas ideias chegam com o
colonialismo? Digamos que o europeu leva duas malas. A mala dos
direitos individuais e da revolução e a mala do colonialismo e
imperialismo económico.
Para voltar aos ditadores. Uma explicação para o reforço das mesquitas
- depois aproveitado pelo islamismo político - é a falência
pós-colonialista....
Do nacionalismo árabe, claramente.
... dos serviços públicos e de todas as redes que é suposto o Estado
construir. Esta é a história do crescimento do Hamas, da Irmandade
Muçulmana: redes sociais ligadas às mesquitas que fazem aquilo que o
Estado não faz.
No fundo, é o princípio das antigas fundações em que se alicerçou a
sociedade otomana, e até a sociedade árabe inicial. A ideia da
fundação ligada à dízima. O império nunca foi centralizado, os estados
são um produto recente. Os sistemas de dominação naquele mundo foram
sempre muito fractais, em mosaico, intercomunitários. E este princípio
de autogoverno foi seguido mesmo pelo mais perene dos impérios, o
romano. Só é brutal se há dissensões no topo, ou uma sedição que corre
o risco de contaminar o vizinho. Fora disso, procura conviver com os
poderes locais, É essa a história do Mediterrâneo. Os poderes locais
sempre foram fortíssimos.
Grande náufraga do falhanço nacionalista é a esquerda laica. No
Egipto, na Palestina - o que é que aconteceu?
A esquerda é vítima quer da força da religião como resistência
identitária quer das ditaduras. Às vezes, a diferença entre estar no
Governo ou na prisão é a diferença de uma atitude ou do modo como
acordou naquele dia o líder nacionalista. Não há meio termo. Com
excepção do Líbano e da Palestina.
No Líbano, o [historiador de esquerda] Samir Kassir acabou morto em 2005.
Aí as tradições são outras, é muito mais complicado. Há um bom
exemplo, o caso da Síria. Tem dois ou três partidos comunistas. Dois
estão no Governo, o outro está na prisão. Mas podia ter sido ao
contrário.
A esquerda foi cúmplice da modernidade dos regimes nacionalistas, mas
essa modernidade foi imposta à bruta. Nunca se procurou trabalhar com
o tempo. Todos aqueles líderes, de Ataturk [Turquia] ao xá da Pérsia
ao Nasser [Egipto], tinham os olhos postos no Ocidente e nas ideias
ocidentais que transformavam a religião num produto do passado e da
ignorância. Tentaram afrontar a religião ou nacionalizá-la.
"Périplo" é o livro de um não-crente. Mas compreendes quem procura
negociar dentro dos limites da tradição religiosa, em vez de quebrar.
Isso tem a ver com o modo como olho para as pessoas hoje, que não é
como olhava. E o modo como hoje respeito os tempos longos da história.
Isto parece estranho vindo da esquerda radical, mas tem a ver com uma
conclusão política a que cheguei também em Portugal. Uma pessoa de
esquerda nunca deve deixar de lutar por transformações, mas deve
resistir à tentação de as impor à bruta. E a esquerda do século XX
nunca soube resistir à pior das tentações do poder, que é o poder. Ou
seja, a ideia de que, em nome da razão, a pode impor de qualquer
forma.
Para mim, os fins não justificam os meios. E como entendo que a
política deve ser feita com a maioria, deve ser a possibilidade de a
maioria se apropriar da política, isto é incompatível com impor
valores à bruta. A batalha pela hegemonia ao nível dos valores implica
trabalhar com o factor tempo.
Se tivesses que apontar os falhanços da esquerda no Sul do
Mediterrâneo, quais seriam?
Em nome da modernidade, a aceitação da ditadura. O que deixou o campo
aberto às redes sociais do islamismo político. Digamos que os pobres
passaram a reconhecer-se no islamismo político.
E não na esquerda. Um tremendo falhanço.
Brutal. Há um outro dado, que se percebe bem na Palestina. Arafat é o
líder nacionalista que tem que fazer compromissos com todos os chefes
que vieram com ele de Tunes, mas ainda é o pai de uma nação sem
estado. Por baixo dele, e com a cobertura dele, todos os sistemas de
poder na sociedade se reconstituíram em ligação íntima com os
israelitas, porque já não é possível fazer comércio na Palestina sem
ser com empresas israelitas. Então, são as próprias circunstâncias de
um território ocupado, com segmentos de autogoverno, digamos, que
colocam as novas lideranças palestinianas, que vieram do exílio, na
estrita dependência do inimigo. Ao fim de alguns anos, isto não só
corrompe completamente como acaba por deixar a maioria do povo
entregue às correntes menos comprometidas com os laços económicos com
Israel.
Seres ateu e de esquerda é uma liberdade ou uma incapacidade neste
mundo? Reconhecendo que a esquerda não soube dialogar com a religião,
parece-te inevitável que esse diálogo aconteça, e que tudo terá que
ser discutido dentro dos limites dessa religião?
Não só penso que o diálogo é indispensável, como o diálogo com o
islamismo político é absolutamente indispensável. A ideia de que não
se pode ou deve dialogar com o islamismo político é um enorme erro. É
o equivalente a dizer que não se deve dialogar com aqueles povos.
Porque, se houvesse eleições realmente democráticas, os que mandam não
se aguentavam nem seis meses.
O islamismo político ganharia.
Ganharia. Depois havia de perder, mas abria-se o jogo. O partido que
actualmente governa a Turquia não é outra coisa que não uma variante
da Irmandade Muçulmana.
Então, neste universo muito mais próximo do islamismo político do que
há décadas - e já vimos como a esquerda também foi responsável por
isso -, o que é que a esquerda tem a fazer?
A esquerda árabe é tributária da formação marxista europeia e teve
sempre dificuldade em compreender o fenómeno religioso. O que faço no
livro é um exercício que hoje muita gente na esquerda faz: tentar
compreender o fenómeno religioso depois de a fractura entre religião e
ciência ter deixado de ser o que era. Hoje a ciência não tem que se
opor à fé para resolver problemas de ordem filosófica que decorrem
estritamente da crença. Não há resposta científica para algo que
decorre da fé. O facto de eu não ter religião, e de pensar que a
religião é um produto dos homens, permite-me ter a distância que de
algum modo um jornalista pode ter. Não parto para a análise da
religião com um "parti pris" de ateu. Parto para a análise da religião
como fenómeno humano, que é o que me interessa.
As religiões são profundamente desconhecedoras das suas vizinhas. Os
sunitas desconhecem tanto os xiitas quanto os católicos desconhecem os
protestantes. Em Alepo, em 2007, num encontro ecuménico, defendi isto:
pelo menos podemos concordar que o homem inventa Deus à sua
semelhança. E no fim eles declararam-me crente: você acredita no
homem. E eu disse que sim. Tive que dizer. Mas, de facto, hoje não
tenho uma crença particular no homem. Transitei do cristianismo para o
marxismo bastando-me acreditar no homem. Substituí uma crença por
outra. E hoje estou convencido de que o homem é capaz do pior e do
melhor, e que não há nenhum destino escrito. Não há uma bondade inata
que, no fim, triunfe sobre o mal. É possível, aliás, que o mal
triunfe. Tenho a certeza absoluta que se quiser algum bem tenho que
lutar muito, e que vale a pena fazê-lo. Mas hoje a minha relação com a
crença na humanidade resume-se a quase uma atitude egoísta: poder
chegar ao fim da vida e achar que, apesar de tudo, fui útil, não
sacaneei o próximo, não fiz coisas de que me tenha mesmo que
arrepender. Que a minha vida teve algum sentido - e só entendo a minha
vida com outros.
Se fosses um homem de esquerda no Egipto, o que farias?
No Egipto, não sei bem. Não há nenhum partido em que me pudesse
reconhecer. Seria provavelmente um activista social ou cultural, um
jornalista procurando ser sério, um escritor procurando ganhar espaço
de liberdade. A minha política seria a minha forma de ser útil nesse
mundo.
Ou seja, não é possível fazer política de esquerda no Sul do Mediterrâneo?
É possível. No Egipto, é que não há, neste momento, forças visíveis.
No Líbano, é um pouco diferente. Ou na Palestina, onde eu estaria com
a esquerda da Terceira Via, nem Hamas nem Fatah, que não se conseguem
entender entre si. Apesar de tudo, na Palestina há uma possibilidade
de a esquerda laica se afirmar se não estiver dividida.
Não me esqueço de um momento em Gaza, num encontro com vários
deputados, em que eu e a [eurodeputada] Luisa Morgantini estamos a
discutir com eles: "Porque é que continuam a atirar 'rockets'? Isso
não presta para nada, não tem nenhum efeito militar, só une a
sociedade israelita contra vocês. Que falta de sentido nisso!". E um
homem da FDLP [partido de esquerda] levanta-se e diz: "São capazes de
ter razão, mas digam-me lá o que faz um gato numa jaula? Pelo menos
tem que mostrar as garras. Isto são as nossas garras. A gente sabe que
não serve para nada, mas temos que mostrar qualquer coisa".
Estamos vivos.
Estamos vivos. Eu consigo compreender isto. A questão deles não é a
eficácia. A eficácia deles é demonstrarem que estão vivos.
http://www.youtube.com/watch?v=GmOEi6-wMOs
Intercultura, o mundo desconhecido.
Camilo Azevedo Périplo
"A esquerda falhou completamente nos países islâmicos do Mediterrâneo"
11.06.2009
Por: Alexandra Lucas Coelho O Sul do Mediterrâneo andou devagar
milhares de anos. De repente, levou com colonialismo, ditaduras,
globalização - e refugiou-se nas mesquitas. A esquerda tem culpa,
reconhece Miguel Portas. "Périplo", com texto de Portas e fotografias
de Camilo Azevedo, é uma viagem no tempo e no espaço
Das montanhas do Iémen aos desertos da Líbia, dos cemitérios do Cairo
aos rios da Mesopotâmia, dos "souks" de Alepo aos palácios de Petra, o
livro "Périplo" vai até onde acaba a oliveira na margem sul do
Mediterrâneo.
A série documental que Miguel Portas fez em 2003-4 com o realizador
Camilo Azevedo tinha as duas margens do Mediterrâneo e vem em DVD no
fim do livro. Mas o que agora está em 350 páginas de texto e
fotografias é outra coisa, antes e além das filmagens. Algo entre o
ensaio histórico e a viagem, um périplo no tempo e nestes espaços sem
paralelo em Portugal. O Norte ficará para um futuro volume.
Camilo Azevedo fez a maior parte das fotografias em viagens de
pesquisa, antes de filmar. Miguel Portas escreveu o texto depois da
série, muitas vezes recorrendo a viagens posteriores. Há lugares que
estão no livro e não estão na série, como Jerusalém. Texto e
fotografia são dois discursos paralelos, que frequentemente confluem.
Neste mundo maioritariamente islâmico, mas também judeu e cristão, o
ateu Miguel Portas demora-se nas religiões, e defende ao longo do
livro a necessidade de dialogar com elas. Não o fazer é ignorar a
maioria, e isso foi o que a esquerda fez, erradamente, quando pactuou
com as ditaduras nacionalistas árabes. E os pobres voltaram-se para o
islamismo político.
Miguel Portas diz que gostava de ter lançado "Périplo" semanas antes
da campanha oficial para as europeias, mas o livro ficou pronto apenas
dias antes. As duas primeiras apresentações, em Lisboa e Mértola,
acabaram por aparecer no portal do Bloco de Esquerda, confundindo-se
com a campanha. "Mas ainda não era campanha oficial", justifica
Portas. "O lançamento em Coimbra, já em plena campanha, não o
anunciei." De resto, diz, "é uma questão de pura formalidade", porque
a pré-campanha já vem de Outubro. "As pessoas têm várias dimensões e
nunca dissociei as partidárias e as não-partidárias, desde que cumpra
a lei."
Dizes que "Périplo" não é um livro de história, não é um ensaio, não é
uma reportagem, mas um pouco de tudo isto. Porque é que aparece tão
pouca gente a falar?
Foi uma opção. O documentário é que suscitou o livro, e no
documentário tivemos condições de filmagem sob vigilância, porque em
nenhum daqueles países se filma sem polícia.
Mesmo quando iam às ruínas perdidas da Líbia? Ou sobretudo na Líbia?
Sobretudo na Líbia. E no Egipto os mecanismos de defesa eram muito
grandes. Depois havia um outro problema. Ou se fala árabe ou a
comunicação é difícil com as pessoas comuns. E portanto tinha que
existir a mediação de um intérprete, o que não permitia confirmar a
veracidade das respostas porque era agente de polícia.
Os intérpretes eram-vos atribuídos?
Eram. Mas mesmo quando a mediação é através de uma agência, eles têm
que fazer um relatório de informação. É assim na generalidade daqueles
países.
Nunca encontrei essa realidade. Tem a ver com a câmara?
Tem. Com um pedido de filmagens. Indo a lugares históricos, num
registo cultural, estas eram as condições. Depois, eu podia ter feito
intervir bastante mais gente [a falar], mas isso tornaria o livro
dependente das minhas visitas políticas, nomeadamente à Palestina,
Líbano e Egipto, e eu não quis que o livro fosse de actualidade.
Pareceu-me mais interessante perceber porque tenho sobre a conjuntura
política daqueles países as opiniões que tenho, e para isso era pouco
relevante a reportagem de circunstância.
Interessava-me a grande paisagem civizacional, as tendências longas da
História, que podem determinar comportamentos ou ajudar a
desmistificar conflitos. Mais do que fazer um relato das minhas
viagens na Palestina, pareceu-me importante, por exemplo, trabalhar
sobre as origens do povo judeu ou do judaísmo.
É dos capítulos mais marcados pela História.
Aí, tinha duas opções. Ou fazia reportagem nos dois lados, mas não
tenho conhecimento para tirar um ponto de vista suficientemente
original face a tanta coisa escrita e editada, ou fazia um mergulho em
certas histórias da História para proporcionar a um público português
- e este livro está escrito para portugueses - análises pouco
conhecidas cá.
Mas há momentos em que aparecem resquícios dos cadernos de viagem, com
diálogos. Aproveitar mais isso podia distrair a estratégia do livro?
Tive medo de o contaminar de reportagem. A minha preocupação foi que
tanto fosse acessível ao meu filho mais velho, que gosta de História,
como a um professor, a um jornalista, como retaguarda na qual a
actualidade se inscreve. Não achei que fosse capaz de fazer sobre a
actualidade melhor do que tem sido feito.
Os capítulos também variam. Há uns que têm mais História, outros mais
viagem, com algumas peripécias. Como quando estava na Estrada dos
Sudaneses, na Líbia, e me deparo com um concerto de relâmpagos. Foi aí
que tive a minha luz, que descobri o princípio da racionalidade na
religião. Isso tem mais a ver com a literatura de viagens
introspectiva.
Tal como a parte em que falas do deserto.
Há elementos intimistas, como há outros que são quase de guia.
Isto começou por ser um livro de fotografias legendadas, com base no
acervo do Camilo, à roda de 10 mil fotos. Depois, os primeiros ensaios
que fiz não me satisfizeram. Tentei textos curtos sobre grupos de
fotografias, mas ninguém compra um livro para ver nele a mesma coisa
do documentário. Comecei a construir capítulos.
O primeiro, dos mesopotâmicos, era demasiado curto comparado com os
outros. Decidi, a partir dos mesopotâmicos e dos rios [Tigres e
Eufrates], resumir o livro do ponto de vista da grande viagem
histórica. Portanto, esse capítulo é uma espécie de apresentação.
O seguinte, do Egipto, é muito mais viajante. Mas amarrei-me a um
escrito pouco conhecido do Eça de Queirós ["O Egipto"]. Por que é que
o Eça jovem via o Egipto daquela maneira? Quase sigo a reportagem
dele.
Há um outro capítulo com base num livro, o do Cairo, mas o propósito é
revelar uma novidade. Porque se vemos a grande história do
Mediterrâneo em [Fernand] Braudel, podemos ver outra grande história
em [Schlomo Dov] Goitein [erudito judeu que estudou milhares de
documentos de mercadores judeus dos séculos IX-XIII, uma
micro-história do quotidiano]. Entre Braudel e Goitein estão as
grandes coordenadas do entendimento do Mediterrâneo. A vantagem do
Goitein é que era desconhecido em Portugal.
E orientei esse capítulo para as mulheres, porque o capítulo seguinte
seria sobre as mulheres. Portanto, cada capítulo foi tendo a sua
própria história.
Do Iémen à Líbia, quais são os teus lugares de eleição?
O vale de Hadramaut, a grande paisagem do oásis em forma de rio e da
arquitectura de terra...
No Iémen.
... Aliás, se tivesse que escolher um país seria o Iémen. Não é só o
vale de Hadramaut. São aquelas montanhas do Centro e do Norte, todas
em socalco, com quatro, cinco vezes a dimensão do Douro.
É o único país onde vi que a história fazia efectivamente parte do
presente, como força propulsora. Constrói-se como sempre se construiu.
No mundo árabe, é a única arquitectura espampanante para fora.
Normalmente, a arquitectura do mundo árabe é cega para fora, porque o
espaço público é o da família no pátio. No Iémen, não. E é assim no
Sul [com vários andares em terra] e em Sana [a norte], com construção
de pedra, cada andar construído geração a geração.
Pelo choque negativo, um outro lugar foi o Vale do Jordão [que
atravessa Israel e a Cisjordânia, ao longo da fronteira com a
Jordânia]. Creio que quando Moisés chegou ao cimo do Monte Nebo com
120 anos e Deus lhe disse "Aqui tens a Terra Prometida", o tipo disse:
"Se esta é a Terra Prometida, por aqui me fico" - e pimba, morreu no
Monte Nebo. É brutal, a secura. É uma terra abaixo do nível do mar, um
ar abafado, um rio Jordão que se salta de um pulinho, pouco mais que
um riacho, um mar que é Morto, tudo terrível.
Belíssimo mas estéril.
De cima, parece estéril. Está longe da ideia de paraíso.
Depois, se tivesse que escolher uma cidade, há três, Lisboa, Nápoles e
Istambul, que têm tanto em comum...
Mas aí já estás no Norte.
... Não, se tivesse que escolher uma cidade escolhia Alepo [Síria]. É
muito bonita, de uma pedra amarelada, tem muito boa construção, muito
varandim de madeira, e a pedra e a madeira combinam bem. E tem um
"souk" denso, fantástico, talvez o mais denso que conheci. É muito
mais bonito e interessante que Damasco.
Pensei que ias escolher Beirute.
Tenho muita ambivalência em relação a Beirute. É, de longe, onde se
respira mais liberdade.
E rapidez de reconstituição.
Destruição e reconstituição são absolutamente vertiginosas. É uma
cidade agradável para se estar, mas não diria que é bonita. Tem um
enorme excesso de construção e é dura.
No livro em que visita algum deste Sul, "Mediterrâneo, Ambiente e
Tradição", Orlando Ribeiro defende que o Mediterrâneo é um todo, uma
unidade para além das diferenças religiosas, com um carácter de
permanência que o progresso ofusca sem destruir. Disse-o em fins de
50, começos de 60. Ainda é possível dizer isto?
Que há uma unidade, creio que há - a do tempo, mais que a dos lugares.
Ou seja, não é a unidade da paisagem, é a da persistência do tempo. A
ideia de que a vida mudou, mas muito pouco ao longo de muitos séculos.
A ideia de que as mudanças passaram pelas comunidades, mas que elas as
absorveram para mudar o menos possível. Como o Mediterrâneo tem um
excesso de História, aprendeu a lidar com ela dessa forma. Isso
mantém-se.
O que acho é que a aceleração dos últimos 150 anos, em particular dos
últimos 50, é de tal modo poderosa que curto-circuita todos os
adquiridos anteriores. Mas não rebentou com eles. Há uma tentativa
desesperada de resistir à instantaneidade como forma de vida. Acho que
é isso que explica os fundamentalismos, essa dificuldade de entender a
fusão dos tempos. É a resistência do clã que se adapta ao sistema
político moderno, transformando as lideranças de clãs em lideranças
modernas dos partidos. É o modo como a penetração da cultura americana
é espantosamente compatível com o arcaísmo da vida na família
alargada. Poucos países conseguem concentrar tão bem essas
contradições como o Líbano. É uma espécie de grande concentrado do
Império Otomano, da globalização e da resistência à globalização, ao
mesmo tempo.
As religiões são chapéus de chuva, atrás dos quais se abrigam as
velhas realidades clânicas.
A imigração, que transformou o Mediterrâneo num espaço de morte, com
centenas a tentarem atravessá-lo, é uma mudança decisiva no equilíbrio
de que falava Orlando Ribeiro?
O livro acaba justamente com a imigração. Adopto a ideia de que neste
mar sempre se perseguiram os paraísos na terra, e que a viagem é uma
busca do paraíso terreal. Para concluir com a ideia - do Cláudio
Torres [co-autor do documentário] - de que o paraíso terreal mora
dentro de cada um, tem a ver com a força que leva as pessoas a
partirem. Sempre se partiu ou porque se tinha que fugir ou porque não
se tinha como ficar. Raramente partir é uma escolha. É uma escolha só
para quem pode.
Género Bruce Chatwin.
Exacto. O Chatwin sustenta que o viajante é um nómada e eu discuto isso.
No caso do Chatwin, é um luxo.
Para mim, é um luxo. É uma dádiva que tenho, uma possibilidade.
Como o rei Faisal diz a Lawrence da Arábia: só os ocidentais escolhem
o deserto.
Exactamente. O que se passa no Mediterrâneo tem que ver com uma
tendência humana muito antiga, mas com decisões de policiamento muito
modernas. A decisão de fechar o Mediterrâneo é da Europa. E aquilo que
é horroroso nas políticas de imigração - a expulsão e o repatriamento
- deixa de ser função de um estado para passar a ser função de
Bruxelas. A Europa está nesta posição extraordinária de ter uma
política de expulsão sem ter uma política de entrada nem de
integração. Mais, consome 50 por cento do orçamento em expulsões e
repatriamentos.
Isto é absurdo por razões humanas e porque dá alimento a posições
sobre a imigração como as mais recentes do parlamento italiano, que
criminalizam quem ajude um emigrante sem papéis, ou seja, criminalizam
a humanidade. São pura e simplesmente protofascistas, não têm outro
paralelo que não nos anos 30 na Alemanha. E Bruxelas foi incapaz de
contestar aquele tipo de legislação porque se inclui no quadro legal
da directiva de retorno.
Uma das perguntas para a qual não tens resposta definitiva: por que é
que se enchem as mesquitas a sul e se esvaziam as igrejas a norte?
Ensaio uma resposta, acho que é pelo menos parte da resposta. A
dificuldade de fazer em 50 anos o caminho que as sociedades do Norte
puderam fazer em 150 ou 200, ou seja, a aceleração dos tempos no
presente. Onde tive a melhor ideia disto foi em Sana, no Iémen. O
camelo ainda é meio de transporte e o último todo-o-terreno também. A
sociedade é a do petróleo e ao mesmo tempo tão arcaica, conservadora e
fechada como os sauditas das areias. Foi aí que tive a noção de como é
difícil a comunidades tribais lidarem com a avalancha de modernidade e
ao mesmo tempo com o facto de os modernistas que os dirigiram serem
ditadores.
Ficaram sem saída. A certa altura, a mesquita transformou-se num
reduto de identidade e de liberdade. Esta avalancha do moderno é de
tal modo violenta sobre uma sociedade habituada a andar devagar que
fica difícil lidar com a vertigem.
Eu não procuraria convencer o meu avô, se ele fosse vivo, de coisas
que pudesse pensar. Estou convencido de que aquilo que lhe pudesse
dizer não era aquilo que ele ouviria. Se isto é assim entre gerações
num país ocidentalizado, como não há-de ser nas terras em que a
intromissão do Ocidente é tardia, e onde as boas ideias chegam com o
colonialismo? Digamos que o europeu leva duas malas. A mala dos
direitos individuais e da revolução e a mala do colonialismo e
imperialismo económico.
Para voltar aos ditadores. Uma explicação para o reforço das mesquitas
- depois aproveitado pelo islamismo político - é a falência
pós-colonialista....
Do nacionalismo árabe, claramente.
... dos serviços públicos e de todas as redes que é suposto o Estado
construir. Esta é a história do crescimento do Hamas, da Irmandade
Muçulmana: redes sociais ligadas às mesquitas que fazem aquilo que o
Estado não faz.
No fundo, é o princípio das antigas fundações em que se alicerçou a
sociedade otomana, e até a sociedade árabe inicial. A ideia da
fundação ligada à dízima. O império nunca foi centralizado, os estados
são um produto recente. Os sistemas de dominação naquele mundo foram
sempre muito fractais, em mosaico, intercomunitários. E este princípio
de autogoverno foi seguido mesmo pelo mais perene dos impérios, o
romano. Só é brutal se há dissensões no topo, ou uma sedição que corre
o risco de contaminar o vizinho. Fora disso, procura conviver com os
poderes locais, É essa a história do Mediterrâneo. Os poderes locais
sempre foram fortíssimos.
Grande náufraga do falhanço nacionalista é a esquerda laica. No
Egipto, na Palestina - o que é que aconteceu?
A esquerda é vítima quer da força da religião como resistência
identitária quer das ditaduras. Às vezes, a diferença entre estar no
Governo ou na prisão é a diferença de uma atitude ou do modo como
acordou naquele dia o líder nacionalista. Não há meio termo. Com
excepção do Líbano e da Palestina.
No Líbano, o [historiador de esquerda] Samir Kassir acabou morto em 2005.
Aí as tradições são outras, é muito mais complicado. Há um bom
exemplo, o caso da Síria. Tem dois ou três partidos comunistas. Dois
estão no Governo, o outro está na prisão. Mas podia ter sido ao
contrário.
A esquerda foi cúmplice da modernidade dos regimes nacionalistas, mas
essa modernidade foi imposta à bruta. Nunca se procurou trabalhar com
o tempo. Todos aqueles líderes, de Ataturk [Turquia] ao xá da Pérsia
ao Nasser [Egipto], tinham os olhos postos no Ocidente e nas ideias
ocidentais que transformavam a religião num produto do passado e da
ignorância. Tentaram afrontar a religião ou nacionalizá-la.
"Périplo" é o livro de um não-crente. Mas compreendes quem procura
negociar dentro dos limites da tradição religiosa, em vez de quebrar.
Isso tem a ver com o modo como olho para as pessoas hoje, que não é
como olhava. E o modo como hoje respeito os tempos longos da história.
Isto parece estranho vindo da esquerda radical, mas tem a ver com uma
conclusão política a que cheguei também em Portugal. Uma pessoa de
esquerda nunca deve deixar de lutar por transformações, mas deve
resistir à tentação de as impor à bruta. E a esquerda do século XX
nunca soube resistir à pior das tentações do poder, que é o poder. Ou
seja, a ideia de que, em nome da razão, a pode impor de qualquer
forma.
Para mim, os fins não justificam os meios. E como entendo que a
política deve ser feita com a maioria, deve ser a possibilidade de a
maioria se apropriar da política, isto é incompatível com impor
valores à bruta. A batalha pela hegemonia ao nível dos valores implica
trabalhar com o factor tempo.
Se tivesses que apontar os falhanços da esquerda no Sul do
Mediterrâneo, quais seriam?
Em nome da modernidade, a aceitação da ditadura. O que deixou o campo
aberto às redes sociais do islamismo político. Digamos que os pobres
passaram a reconhecer-se no islamismo político.
E não na esquerda. Um tremendo falhanço.
Brutal. Há um outro dado, que se percebe bem na Palestina. Arafat é o
líder nacionalista que tem que fazer compromissos com todos os chefes
que vieram com ele de Tunes, mas ainda é o pai de uma nação sem
estado. Por baixo dele, e com a cobertura dele, todos os sistemas de
poder na sociedade se reconstituíram em ligação íntima com os
israelitas, porque já não é possível fazer comércio na Palestina sem
ser com empresas israelitas. Então, são as próprias circunstâncias de
um território ocupado, com segmentos de autogoverno, digamos, que
colocam as novas lideranças palestinianas, que vieram do exílio, na
estrita dependência do inimigo. Ao fim de alguns anos, isto não só
corrompe completamente como acaba por deixar a maioria do povo
entregue às correntes menos comprometidas com os laços económicos com
Israel.
Seres ateu e de esquerda é uma liberdade ou uma incapacidade neste
mundo? Reconhecendo que a esquerda não soube dialogar com a religião,
parece-te inevitável que esse diálogo aconteça, e que tudo terá que
ser discutido dentro dos limites dessa religião?
Não só penso que o diálogo é indispensável, como o diálogo com o
islamismo político é absolutamente indispensável. A ideia de que não
se pode ou deve dialogar com o islamismo político é um enorme erro. É
o equivalente a dizer que não se deve dialogar com aqueles povos.
Porque, se houvesse eleições realmente democráticas, os que mandam não
se aguentavam nem seis meses.
O islamismo político ganharia.
Ganharia. Depois havia de perder, mas abria-se o jogo. O partido que
actualmente governa a Turquia não é outra coisa que não uma variante
da Irmandade Muçulmana.
Então, neste universo muito mais próximo do islamismo político do que
há décadas - e já vimos como a esquerda também foi responsável por
isso -, o que é que a esquerda tem a fazer?
A esquerda árabe é tributária da formação marxista europeia e teve
sempre dificuldade em compreender o fenómeno religioso. O que faço no
livro é um exercício que hoje muita gente na esquerda faz: tentar
compreender o fenómeno religioso depois de a fractura entre religião e
ciência ter deixado de ser o que era. Hoje a ciência não tem que se
opor à fé para resolver problemas de ordem filosófica que decorrem
estritamente da crença. Não há resposta científica para algo que
decorre da fé. O facto de eu não ter religião, e de pensar que a
religião é um produto dos homens, permite-me ter a distância que de
algum modo um jornalista pode ter. Não parto para a análise da
religião com um "parti pris" de ateu. Parto para a análise da religião
como fenómeno humano, que é o que me interessa.
As religiões são profundamente desconhecedoras das suas vizinhas. Os
sunitas desconhecem tanto os xiitas quanto os católicos desconhecem os
protestantes. Em Alepo, em 2007, num encontro ecuménico, defendi isto:
pelo menos podemos concordar que o homem inventa Deus à sua
semelhança. E no fim eles declararam-me crente: você acredita no
homem. E eu disse que sim. Tive que dizer. Mas, de facto, hoje não
tenho uma crença particular no homem. Transitei do cristianismo para o
marxismo bastando-me acreditar no homem. Substituí uma crença por
outra. E hoje estou convencido de que o homem é capaz do pior e do
melhor, e que não há nenhum destino escrito. Não há uma bondade inata
que, no fim, triunfe sobre o mal. É possível, aliás, que o mal
triunfe. Tenho a certeza absoluta que se quiser algum bem tenho que
lutar muito, e que vale a pena fazê-lo. Mas hoje a minha relação com a
crença na humanidade resume-se a quase uma atitude egoísta: poder
chegar ao fim da vida e achar que, apesar de tudo, fui útil, não
sacaneei o próximo, não fiz coisas de que me tenha mesmo que
arrepender. Que a minha vida teve algum sentido - e só entendo a minha
vida com outros.
Se fosses um homem de esquerda no Egipto, o que farias?
No Egipto, não sei bem. Não há nenhum partido em que me pudesse
reconhecer. Seria provavelmente um activista social ou cultural, um
jornalista procurando ser sério, um escritor procurando ganhar espaço
de liberdade. A minha política seria a minha forma de ser útil nesse
mundo.
Ou seja, não é possível fazer política de esquerda no Sul do Mediterrâneo?
É possível. No Egipto, é que não há, neste momento, forças visíveis.
No Líbano, é um pouco diferente. Ou na Palestina, onde eu estaria com
a esquerda da Terceira Via, nem Hamas nem Fatah, que não se conseguem
entender entre si. Apesar de tudo, na Palestina há uma possibilidade
de a esquerda laica se afirmar se não estiver dividida.
Não me esqueço de um momento em Gaza, num encontro com vários
deputados, em que eu e a [eurodeputada] Luisa Morgantini estamos a
discutir com eles: "Porque é que continuam a atirar 'rockets'? Isso
não presta para nada, não tem nenhum efeito militar, só une a
sociedade israelita contra vocês. Que falta de sentido nisso!". E um
homem da FDLP [partido de esquerda] levanta-se e diz: "São capazes de
ter razão, mas digam-me lá o que faz um gato numa jaula? Pelo menos
tem que mostrar as garras. Isto são as nossas garras. A gente sabe que
não serve para nada, mas temos que mostrar qualquer coisa".
Estamos vivos.
Estamos vivos. Eu consigo compreender isto. A questão deles não é a
eficácia. A eficácia deles é demonstrarem que estão vivos.
12 junho 2009
Depressão
Se já 'caminhei' até aqui com tudo o que esteve implicíto e dizem (não me lembro bem...) que foi imenso e raras foram os momentos de dúvida, sou levado a acreditar em mim e na minha auto-confiança. Como é que Alguém deprime? O que leva a deixar de crer na vida? Ainda bem que não sei, também se já vim até aqui acho que não vou aprender... ou melhor até o rUdolfo late 'tens mesmo bom feitio!'
Por favor refilem
http://www.youtube.com/watch?v=x25F3-sR2Yo&feature=email
Conheçam ou reconheçam. Os deficientes vivem num mundo à parte, atenção ou mais atenção com o mundo que vos rodeia... desde estacionamentos à simples atenção de quem está à vossa volta.
Neste país há vizinhos sem rampas.
Conheçam ou reconheçam. Os deficientes vivem num mundo à parte, atenção ou mais atenção com o mundo que vos rodeia... desde estacionamentos à simples atenção de quem está à vossa volta.
Neste país há vizinhos sem rampas.
10 junho 2009
Afasia
N sei se entendi bem o q é suposto:
A ldeia com que fiquei do rápido talk with misses rita sra enf, foi de
num curto espaço vos dar um testemunho de um afásico . eu- com alusão
a como está a ser o processo... bem, digamos q eu talvez seja um mau
exemplo, pq me sinto relativamente surpreendido c o meu optimismo face
à situação ou venham ter um tec pq mt aprendem s a vida. Chamo-lhe
estágio de vida e vejo isto como 'há males q vêm por bem',
relativamente ao q estão a estudar: é bonito escolherem para as vossas
vidas cuidarem do próximo, como profetas. Acho q passei a acreditar em
milagres.
Ora. Afasia: claro q me custa n poder falar a cada momento ou pelo
menos comentar mas há tantos q falam q n dizem nada de jeito.
Há males q vêm por bem
Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo de todos aqueles q velam
pela alegria no mundo.
A gente vai continuar
As gds pessoas revelam-se em gds momentos qd presos ou hospitalizados
A ldeia com que fiquei do rápido talk with misses rita sra enf, foi de
num curto espaço vos dar um testemunho de um afásico . eu- com alusão
a como está a ser o processo... bem, digamos q eu talvez seja um mau
exemplo, pq me sinto relativamente surpreendido c o meu optimismo face
à situação ou venham ter um tec pq mt aprendem s a vida. Chamo-lhe
estágio de vida e vejo isto como 'há males q vêm por bem',
relativamente ao q estão a estudar: é bonito escolherem para as vossas
vidas cuidarem do próximo, como profetas. Acho q passei a acreditar em
milagres.
Ora. Afasia: claro q me custa n poder falar a cada momento ou pelo
menos comentar mas há tantos q falam q n dizem nada de jeito.
Há males q vêm por bem
Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo de todos aqueles q velam
pela alegria no mundo.
A gente vai continuar
As gds pessoas revelam-se em gds momentos qd presos ou hospitalizados
ética
a ética é estar a altura do q nos acontece disse o gilles deleuze..
pede a sra enf marta, n sei se percebi bem, para relacionar ética c
'isto' do acidente. vocês, alunos das médicis ou enfermas, escolheram
uma profissão
mt bonita: passar uma vida a ajudar à vida. começo por uma palavra q
como q descobri agora 'optimismo', q ética deve vir de uma pessoa
óptima de coração gd q saiba açambarquar todo o outro em carinho com
virtude e sentimentos gratos por existir. nem sei se alguma vez fui
forte na ética, que o diga quem de mim gosta. Um futuro melhor, mais
ético, posto estar numa fase de me pôr à prova, quero um futuro melhor
claro! vocês são sementes que brotarão ou germinarão um bem ou vários,
não tenham medo do q vão ser.
ligar isto ao eu, eu vejo o meu corpo, como um ser q viveu, vive e
viverá, falará e andará, quase q posso apostar, terra quente, apanho e
passo nas vossas faces...
pede a sra enf marta, n sei se percebi bem, para relacionar ética c
'isto' do acidente. vocês, alunos das médicis ou enfermas, escolheram
uma profissão
mt bonita: passar uma vida a ajudar à vida. começo por uma palavra q
como q descobri agora 'optimismo', q ética deve vir de uma pessoa
óptima de coração gd q saiba açambarquar todo o outro em carinho com
virtude e sentimentos gratos por existir. nem sei se alguma vez fui
forte na ética, que o diga quem de mim gosta. Um futuro melhor, mais
ético, posto estar numa fase de me pôr à prova, quero um futuro melhor
claro! vocês são sementes que brotarão ou germinarão um bem ou vários,
não tenham medo do q vão ser.
ligar isto ao eu, eu vejo o meu corpo, como um ser q viveu, vive e
viverá, falará e andará, quase q posso apostar, terra quente, apanho e
passo nas vossas faces...
António Feio, um bacano!
António Feio tem 54 anos. Quatro filhos. Uma irmã a quem
diagnosticaram um cancro no pâncreas e que está safa. Tem um cancro no
pâncreas e está a fazer tudo para se safar. É actor e encenador. Às
vezes, interpreta o bacano. E é o bacano.
Há cerca de dois meses - ele não sabe bem, porque ele e datas, datas e
ele... - foi diagnosticado a António Feio um cancro no pâncreas.
Recentemente, na entrega dos Globos de Ouro da SIC, o actor e
encenador agradeceu ao país a atenção. E ao pâncreas, pelo
proporcionado...
O assunto não é para brincadeiras. Mas que há-de ele fazer senão
reinar com a situação? "Reinar" é uma expressão sua. "Estás a mangar
comigo", também podia ser. Mas não a usou.
Há momentos em que começa a falar como o Toni, o personagem que
interpreta na série Conversa da Treta, ao lado de José Pedro Gomes.
Fala como falam pessoas de todos os dias, que encontramos no café, no
supermercado, na rua.
A Treta é uma leitura do mundo a partir de um quadro C e D - como
arrumam as classes sociais nas televisões. Nesse quadro, como noutros,
usa-se o "'bora" como se se dissesse "embora lá". Mesmo nas classes A
e B, diz-se "embora lá"?
Ai temos um problema?, 'bora lá resolvê-lo. António Feio é assim.
'Bora lá ligar o descomplicómetro e chegar às pessoas. 'Bora lá fazer
o que há a fazer, deixem-se de tretas. 'Bora lá fazer de uma ida ao
Monumental uma grande festa, com direito a gelado.
Se não fizer, como justificar o estar?
E agora, António? Agora, toca a fazer o que é possível ser feito.
É um fazedor. Um encenador que se ocupa da carpintaria de uma peça,
que dirige actores, que aponta o foco a quem tem ao lado (como em O
Que Diz Molero). Trabalhou em dobragens de desenhos animados.
Trabalhou na formação de jovens actores (Carla Chambel, Marco Horácio,
Nuno Lopes - que lhe ofereceu o seu Globo de Ouro - foram alguns). É
um trabalhador.
Ele acredita que ainda tem muito para fazer. Enquanto isso, the show
must go on e a Verdadeira Treta continua em digressão pelo país.
Pelo meio, está a fazer químio e rádio. (Não é preciso completar:
todos sabem o que significa.)
Como é que está a lidar com o interesse (algo mórbido) - nosso,
inclusive - pela sua doença?
Tem sido um pouco ao sabor do vento. À partida é um problema que é
meu, não é? Tento preservar o lado mais íntimo.
Vamos começar do princípio. Como é que soube? O que é que o fez fazer exames?
Eu andava pelo Hospital da Luz porque a minha irmã teve um problema
idêntico ao meu. Um cancro no pâncreas. A origem era diferente; mais
simples de resolver do que o meu. A minha irmã, com um problema
desses, assustou-me imenso!
Pelo cuidado com a sua irmã ou pelo receio de que pudesse padecer do mesmo mal?
A hipótese de lhe acontecer alguma coisa apavorou-me. Foi há três,
quatro meses. Eu andava com dores de estômago desde o Natal. Comia e
ficava inchado. No período de visitas ao Hospital da Luz, saí dez
minutos, fui fazer uma endoscopia. Havia uma inflamação, uma gastrite,
nada de especial. Entretanto, o processo da minha irmã foi evoluindo e
eu continuei com queixas. Decidi voltar ao hospital. "Eu não estou
bem, vejam o que tenho." Fizeram-se exames mais aprofundados,
ecografias, umas coisas. E aí, foi, surgiu, pronto, foi-me
diagnosticado o cancro no pâncreas.
Qual era o cenário?
Não era muito favorável. O que me sugeriram foi fazer rádio e
quimioterapia. "Vamos ver estas hipóteses." Continuei a fazer
espectáculos. Fui a Madrid falar com um cirurgião. E a Paris a um
hospital de reconhecidos méritos. E mandei o meu processo para os
Estados Unidos. As opiniões não variavam muito. O diagnóstico era que
eu teria de fazer rádio e químio. Para haver uma regressão do tumor e
poder ser operado - é o objectivo final. Com o oncologista que me
acompanha, decidi fazer só químio.
Contudo, para a semana [entrevista realizada a 29 de Maio], começa a
fazer as duas coisas, rádio e químio.
Houve uma evolução positiva, mas não o suficiente para ser operado.
Por isso, solução número dois: rádio e químio.
Em que dia soube?
Eh pá, eu datas...
Mesmo uma data tão impactante quanto esta? O tempo passou a correr de
maneira diferente no calendário? As coisas mudaram radicalmente?
Não necessariamente. É óbvio que passei a ter uma vida diferente. Por
me sentir doente e por me diagnosticarem uma doença complicada. Tive
um azar..., uma coisa estúpida. No primeiro dia em que fiz químio, uma
terça-feira, fui a uma farmácia aviar um medicamento - para minimizar
o efeito de náuseas e vómitos. A farmacêutica da minha zona deu-me um
medicamento errado! Um medicamento para diabéticos obesos.
Enganou-se no pacote? Como compreender isso?
Não há explicação. A receita, apesar de ser passada à mão, era
legível. Creio que quis dar-me um genérico por não ter aquele
medicamento; e baralhou-se, não sei o que foi. Andei de terça a sexta
a tomar seis comprimidos por dia. O medicamento que me tinha sido
receitado era de 10 mg e o que a senhora da farmácia me deu era de
1000 mg! Uma dose de cavalo. Tive sorte de não ter entrado em coma.
Ainda tinha alguma - bastante - resistência física.
Como descobriu que estava a tomar o comprimido errado?
Fui ao hospital. Eu estava de rastos! "Arranjem-me qualquer coisa que
me ponha melhor." Nesse dia a diferença foi brutal. Na terça-feira
seguinte, quando fui à nova sessão de químio, uma das médicas
perguntou-me o que estava a tomar; quando lhe mostrei aquele remédio,
entrou em pânico!
Há um lado cómico nisso. Parece um sketch da treta... É inverosímil.
Claro! Parece um sketch, sim. Limitei-me a ir à farmácia apresentar
queixa. Escrevi no livro de reclamações. Nada contra a senhora, mas é
um perigo. Pensei fazer queixa na Ordem, mas acabei por desistir.
Estou à espera que me digam alguma coisa.
Quando soube, com quem partilhou? Como foi o primeiro impacto?
Quando fui fazer o exame conclusivo, tinha os meus filhos todos
comigo, e irmãos, sobrinhos, toda a família. Souberam todos ao mesmo
tempo que eu.
Um problema? Um cancro? A doença? Aquilo? A terminologia importa.
Chamo-lhe "cancro", abertamente.
Não é duro olhar ao espelho e dizer, com as letras todas: "Tenho um cancro."
Não é fácil. Olha, tenho um cancro. É isto. Não sei o que é ter um
cancro. Agora, estou a aprender. Sou muito realista. Sou muito
prático. Lido bem com situações complicadas - acho bem.
A sua atitude perante as coisas, seja uma encenação ou a doença, é:
"Ai temos um problema? 'Bora lá resolvê-lo."
É nitidamente a minha atitude.
Nunca é: "Ai, pobre de mim"?
Há alturas em que dou por mim a pensar em cenários complicados...
Tenho medo da operação. Mas sei que é a minha única safa. Se quero ser
operado? Tenho o mesmo medo que tive quando a minha irmã foi operada.
Entre o António Feio de há um ano e o António Feio de hoje, o que
sinto é que não tenho a mesma pedalada. Estou a 70 por cento. Mas já
estive a 30, 40 por cento. Na semana do erro da farmacêutica, devia
estar a 10 por cento de mim próprio. Não me aguentava nas canetas. E o
problema a fervilhar na cabeça...
Ainda não falou dessa parte, da vivência íntima do problema. Só falou
dos sintomas e do modo como lida com ele.
Acho que tenho reagido bem. Não senti pena de mim. Nem raiva, que é
uma coisa frequente - porquê eu? Mas, também, desde miúdo achava que
as pessoas morriam aos 50. Achava que os meus pais, quando tivessem 50
anos, eram velhos e morriam! [riso] Ficou qualquer coisa disso. Eu já
vivi bastante. Se tivesse um acidente de automóvel [bate na madeira],
um AVC, um treco desses e já fui, não ia mal servido. Não tive uma
vida má. Não tenho nenhum problema em morrer. [pausa] Não me apetece
muito. Mas se me dissessem: "Vais morrer amanhã!", "Olha, paciência."
Isso é pose, de si para si, para lidar com isso?
Não sei. É o que penso.
É um modo de não sucumbir ao medo.
Não me apetece ficar em pânico. Não! Sei que estou a fazer o que é
possível para resolver o problema. Não é uma ideia agradável, mas não
é um bicho de sete cabeças. No dia em que tiver de ir, vou. O chamado
"está-se bem". Não sinto uma grande frustração, "eh pá, houve tanta
coisa que não fiz". Não fiz porque não quis fazer. Aquilo que
realmente queria fazer fiz. Tenho 54 anos. Os meus filhos são
crescidos... Se calhar o que me faz pensar mais no assunto, de uma
maneira diferente, é o meu rapaz com 17 anos... Quero vê-lo crescer
mais. Ainda não tem grande rumo para a vida, e isso gostava de ver
resolvido. As mais velhas têm as suas vidinhas, fazem o seu caminho.
O facto de ter corrido bem com a sua irmã...
É um exemplo de sucesso próximo. Anima-me. Falamos todos os dias.
Sobre o assunto não falamos muito. Pergunto-lhe se ela está bem, ela
pergunta-me se eu estou bem. Vamos medindo. Ah, hoje estou assim, ah,
hoje estou cansado, ah, hoje tenho febre. É uma característica dos
Feios. Preservamos o espaço de cada um. Até ao meu caso, nunca falei
com ela sobre a doença. Ia lá, perguntava o que é que iam fazer, o que
é que tinham feito, qual era o passo seguinte.
Não falam do que sentem?
Às vezes. O médico perguntou à minha irmã se ela tinha tido sintomas,
indícios que a pudessem levar a pensar que tinha qualquer coisa. A
única coisa que disse foi que nos últimos tempos se sentia triste.
Engraçado. Eu também me sentia um bocado triste. Mas numa vida nem
tudo corre às mil maravilhas. É natural que uma pessoa se sinta um
bocado triste. Vai andando. A doença é silenciosa...
Um actor trabalha com o corpo. Nunca falou com o cancro?
Não. E não tenho essa relação física com a doença. Ela manifestava-se
por dores. Hoje não as tenho. Fisicamente, nos espectáculos, sentia
limitações. Perguntava aos meus colegas: "Nota-se que não estou com o
mesmo power?"
Contaram-me que o José Pedro Gomes soube que as cerejas têm uma acção
benéfica sobre o pâncreas e...
Aparece-me lá em casa, de vez em quando, com cerejas! Tenho um clã que
me apoia. O ponto por onde começámos: o mediatismo da doença. É
normal!, eu vejo a preocupação das pessoas. Não quero dar uma de
herói. Sou um mariquinhas de caca como qualquer ser humano nestas
condições. Tenho medo, tenho pavor. Mas não vou andar aqui a
choramingar. Sinto-me bem. Neste momento, não sinto que tenho um
cancro. Psicologicamente sei que o tenho e é difícil deixar de pensar
nisso.
De hoje a uma semana, com sessões de químio e rádio, será diferente? O
cabelo vai cair?
Não. Já fiz dois meses de químio e este produto que faço não é...
depilatório. Esta imagem que tenho passado - da boa disposição -, esta
reacção que tenho tido - não entrar em parafuso - leva a que a maior
parte das pessoas que me abordam não o façam com pena ou comiseração.
É simpático.
Foi surpreendente o sketch de Os Contemporâneos em que participou,
fazendo paródia da sua própria doença.
Brinco muito comigo. Brinco com tudo. Até com isso se pode brincar.
Não estou a gozar. Se ficar com as calças rasgadas em público, é
ridículo, não quero, não gosto; mas eh pá, vou ter de reinar com a
situação. Relativizar. Passei a pensar de maneira diferente. Toda a
gente se queixa. Ai, ai, ai, ui, ui, ui, e isto e aquilo, e que
chatice, e apanhei muito trânsito, e para a semana vou ter de fazer
não sei o quê. Talvez precisem de levar com uma coisa assim para abrir
a pestana e perceber que não tem importância. Também penso que isto
tem alguma lógica...
Lógica?
Quando se tem pouco cuidado com a saúde, é natural que surjam
problemas. Fumo desde miúdo que nem um cavalo, sempre tive uma
alimentação desregrada, sempre me deitei tarde.
Drogas?
Não. Sempre tive muito receio. "E se eu gosto?" E nunca tive
necessidade. Bebia copos; cervejas, à noite. Andei muitos anos à noite
e nunca ninguém me viu entornado, a fazer figuras tristes. Sou low
profile.
Nem depois dos 50? É verdade que depois dos 50 teve uma espécie de
adolescência tardia? Os Porsches e as saídas nocturnas têm que ver com
isso?
Não. Tenho Porsches há vários anos. Sou fã! Só tenho esse carro. E
subo passeios, e se for preciso metê-lo na lama, meto, e não tenho
problemas se chegar ao carro e ele estiver riscado.
Não condiz com o indivíduo low profile, moderado.
Ando de Porsche moderadamente. O primeiro Porsche tive-o há 15 anos.
Era um Porsche em 25.ª mão, muito baratinho. Fui fazendo upgrades. Já
tive aí uns dez Porsches! Mudava de carro no dia dos meus anos. Até
chegar ao que tenho, há cinco ou seis anos. Tem 450 cavalos! Não lhe
posso dar uso como ele merecia. Não posso andar a assapar que nem um
maluco. O gozo? Olhar e dizer: tenho um carro muito bonito. [sorriso]
Se for preciso meter o pé no acelerador, passo por eles todos. É uma
sensação de poder, que o próprio carro tem. Depois, o Porsche é um
carro de velhos, só os velhos têm dinheiro para o comprar. Quando um
gajo é puto e brinca com os carros, há uns de que gosta mais. Há
miúdos que gostam mais do carro dos bombeiros. Eu gostava do Porsche.
As garinas vão atrás do Porsche?
Não.
As mulheres interessavam-se pelo personagem público António Feio e por
alguns códigos de poder - como o Porsche?
Não tenho razão de queixa. E não tenho dúvida de que saí com mulheres
que se aproveitaram. Que estavam à espera que pagasse o jantar.
Rapidamente pus de lado. Faz-me confusão. Por uma questão de espinha
dorsal. Sempre que emprestei dinheiro, dei-me mal. Não há memória de
ter emprestado e de me terem pago de volta. As pessoas, quando estão
aflitas, rebaixam-se, fazem o que for preciso. Mas, assim que têm
aquilo que procuram, desligam. E raramente dão uma satisfação, e
passam a assobiar. Já me aconteceu várias vezes.
Nunca pediu dinheiro emprestado?
Claro que pedi.
Que importância teve o dinheiro na sua vida?
Comecei a trabalhar muito novo. O meu primeiro cachet foi aos 11 anos.
Nós não éramos pobrezinhos. O meu pai era engenheiro agrónomo,
trabalhava para o Estado, ganhava razoavelmente. A minha mãe houve
fases em que trabalhou, outras não. Os meus irmãos e eu não estudámos
em colégios particulares, mas andámos no ensino oficial. Nunca tive
uma bicicleta. Não havia dinheiro para comprar uma bicicleta. Os meus
pais passaram-me a noção de que o dinheiro não cai das árvores. O meu
pai dizia: "Quando há, há, e é para todos; quando não há, não há."
O seu personagem mais famoso é o Toni, da Conversa da Treta. O mundo a
que ele pertence tem no dinheiro um tópico fundamental.
As minhas despesas: vivo numa casa que está paga. Roupa, comida,
gasolina. Faço uma vida normal. Tenho quatro filhos, alguns a estudar
no estrangeiro. Ainda apoio os meus filhos. Porque quero ajudá-los.
Odeio gente forreta. Vamos almoçar e a conta é muito rachadinha, mas
eu comi uma sobremesa e tu não? Não, racho a meio. O dinheiro é para
usar. Felizmente, de há muitos anos para cá, não tenho problemas
económicos. Preocupo-me com isso. Organizo a minha vida com um ano de
antecedência. Já sei o que vou fazer para o ano. [pequena pausa] Agora
é mais complicado.
Continua a organizar, acreditando que vai ultrapassar isto?
Sim, sim. Mas não tenho noção do que vai acontecer. Tenho sempre um
"se". Ao longo da vida aprendi a não fazer planos rigorosos. Há sempre
um projecto que cai. Há sempre uma coisa que afinal passa para o ano
seguinte. É o "em princípio". Em princípio, vou fazer isto.
Neste período da doença, lembra-se mais do rapazinho que foi? Que
fazia teatro entre profissionais.
Vim de Lourenço Marques com sete anos, estive em Lisboa até aos 14.
Ontem fui a uma entrevista da RTP Memória. Passaram imagens minhas e
do Ruy de Carvalho numa peça, Viajante sem Bagagem. Eu tenho para aí
12 anos e mantenho um diálogo, taco a taco, com o Ruy de Carvalho!
Tenho dificuldade em perceber que aquele sou eu. Uma cena de quatro,
cinco minutos. A voz...
Diz isso com orgulho do puto... É desse que se lembra? Quando recorda
a sua infância, que imagens aparecem?
Essencialmente, imagens do tempo em que vivi em Carcavelos, na Praceta
do Junqueiro, junto à praia, com um pinhal por detrás. E mais tarde em
Moçambique, daquela liberdade.
Não são imagens do miúdo que está em cima do palco. São imagens de um
miúdo, que por acaso fez teatro e cuja experiência foi determinante.
É um misto. Como comecei a trabalhar muito cedo, as memórias estão
também ligadas ao trabalho.
Foi o Carlos Avillez que o convidou para a primeira peça. Começou a
fazer teatro para agradar à sua mãe, que frequentava o Teatro
Experimental de Cascais?
Não. Foi um desafio. Era uma actividade. Como um jogo. E conhecia
gente gira, e maluca. A peça tinha cenários do Almada Negreiros.
Conheci muito bem o Almada Negreiros. O gajo achava piada ao puto...
Lembro-me de o ver a desenhar. Sabia que era o Almada Negreiros, "este
senhor é um grande pintor". "Ah, sim." Um gajo, quando é puto, "iô,
tá-se". Estreei-me com a Mirita Casimiro.
Corre que uma vez lhe telefonou a Amélia Rey Colaço...
Uma vergonha! Tocou o telefone, atendi. Pensei que estavam a gozar, um
colega. A Dona Amélia tinha aquela voz [assume um tom gongórico]. (Era
um ser extraordinário. Trabalhei com ela nesse espectáculo.) "António
Feio? Daqui fala Amééélia Rey Colaaaçooooo." A primeira coisa que me
saiu foi: "Olheeee, e daqui fala Robles Monteeeiroooo." A minha sorte
foi que ela já estava um bocadinho surda e não deve ter ouvido. O
Robles Monteiro era o marido e tinha morrido há anos. Seria uma graça
de muito mau gosto. Senti-me tão entalado que a primeira coisa que fiz
foi levantar-me! Estava sentado e, por respeito à Dona Amélia,
levantei-me! Ainda hoje trato a Eunice [Muñoz] por Dona Eunice.
O seu mundo era feito dessas referências?
Já era crescidinho quando trabalhei com a Amélia. Era uma referência.
Não a conhecia. A Eunice, sim. Tinha trabalhado com ela na televisão,
na rádio, em várias coisas. Em três anos fiz tudo o que havia para
fazer. Não havia miúdos. Era preciso um miúdo para uma coisa qualquer,
marchava eu.
Não ficou um miúdo insuportável, com excesso de atenção?
Não. Sempre fui tranquilito. Nunca fui vedeta, nunca me subiu. Não vou
dizer que não era engraçado chegar à escola e a malta toda
conhecer-me. Era o aluno mais famoso da escola, não é? Em Moçambique,
além da notoriedade, havia inveja. Uma vez fui proibido de ir a uma
festa. Um amigo - que ainda hoje é meu amigo - proibiu-me de ir ao
aniversário dele. As meninas estavam todas muito eufóricas porque eu
ia à festa... Mas nunca fui peneirento.
Era giro?
Em puto, era. Muito pequenino, loirinho, cabelo liso. Só aos 16, 17
anos dei um pulo, cresci. Nas imagens da RTP Memória: aquele brilho no
olhar, aquela garra...
Donde é que vinham? E a confiança.
Não sei. A minha mãe era uma pessoa divertida. "Mãe, um dia quando for
rico, monto-lhe um negócio." Era uma agência de viagens. Para a minha
mãe poder organizar viagens aqui e ali. Eu andava sempre com a minha
mãe. Morávamos em Carcavelos. "Amanhã vamos ao [antigo] Monumental
comer um gelado." E era uma aventura! Vínhamos de comboio ou
autocarro. "Vamos ao Galeto!" O meu pai era diferente. Calmo.
A sua mãe encenava esses momentos, fazia deles uma festa.
Sim. Eu gostava muito de viver. Se me dessem um papelinho, eu gostava
do papelinho, do brinquedo, de uma porcaria qualquer. Ir lá atrás é
meio estranho, é meio esquisito. Uma pessoa sente que já é outra
coisa.
É o filho mais novo.
Houve uma fase em que era muito "eu e a minha mãe". A minha mãe
acompanhava-me a trabalhos. A estúdios, Tóbis, RTP, Emissora Nacional.
Era o menino da mamã!
Era a mãe babada acrítica ou era do estilo "nunca está bem"?
Era babada. Tudo o que eu fazia era para ela motivo de orgulho.
Transpunha para mim aquilo que gostaria de ter feito. Gostaria de ter
sido actriz. Quando foi para o Teatro Experimental de Cascais, fez um
papel pequenino na Casa de Bernarda Alba. Morreu há muitos anos.
Não realizou o sonho de ser actriz por causa do casamento?
Foi por falta de oportunidade. Fez teatro amador. O meu pai ajudava,
mas era incapaz de saltar para um palco. O sentido de humor que tenho
vem do meu pai. Era dos que faziam tudo pela calada. Apanhei isso. O
meu filho, vejo agora, é igual. Não sei se é bom. É muito fechado e
reservado. Eu sou assim. Não tenho problema em abrir o jogo e falar
consigo (que não conheço de lado nenhum) sobre tudo e mais alguma
coisa. Mas depois há umas zonas onde ninguém entra.
Foi uma aprendizagem que teve de fazer desde pequeno? Para demarcar o
território do miúdo a quem acham graça e do miúdo igual aos outros, de
porta fechada.
Sim. E sou assim por feitio. Sou do estilo: em vez de passar por ali
onde sei que me vou chatear, vou dar a volta ao quarteirão. Pago para
não me chatear. Se houvesse uma instituição "Você não quer ser
chateado?", eu pagava uma quota mensalmente! Para não ter de levar com
as coisas que me chateiam.
É mais actor, mais encenador?
Não acho que seja mais esse ou o outro. Senti que podia ser mais útil
enquanto encenador, pela iniciativa que posso provocar. Enquanto
actor, faço aquilo que me mandam fazer ou fico à espera que me
convidem; a minha sorte fica em mãos alheias.
Tem trabalhado nos últimos anos com a produtora UAU e o seu parceiro
preferencial tem sido o José Pedro Gomes. Porquê?
É importante fazer o repertório que temos feito, mais não seja para
captar público, para termos gente. Lembro-me de ir ao Teatro
Monumental e de aquilo estar esgotado! Mil e tal lugares. E lembro-me
dos anos em que o teatro não tinha ninguém. Representei muitas vezes
para dez espectadores, cinco, três. As pessoas gostam de teatro; é
preciso dar-lhes aquilo que elas querem. Ou, pelo menos, arranjar a
maneira de não as afastar. Aí, entra o meu lado de encenador. Quando
via um texto e acreditava nele, pensava: "Gostava de ver este
espectáculo." Sou um público normal.
Quando vai a Londres ver peças, é com esse intuito? Pesquisar,
perceber o que pode encenar cá.
Às vezes vou ver por ver. Quanto ao prazer de ser actor, a grande
mudança é o Arte [de Yasmine Reza]. Eu estava numa de representar o
menos possível.
Antes do Arte, houve O Que Diz Molero, de Dinis Machado, adaptado por
Nuno Artur Silva. Não lhe provocou o mesmo impacto?
Considero o Molero uma peça de encenador. O Austin lê 20 páginas do
relatório do Molero e o Mister Deluxe comenta e diz de vez em quando:
"É óbvio." [riso] Provavelmente é a coisa mais bonita que fiz na vida.
O Arte foi um texto que me reconciliou com o grande prazer de
representar. É uma síntese do que pode ser o teatro de qualidade e o
sucesso de público. Curiosamente, é uma peça de que a Yasmine Reza não
gosta muito. Aquilo saiu-lhe da mão, ganhou asas.
Alguns personagens escaparam-lhe da mão? Chateia-o que o grande
público olhe para si apenas como o Toni? O gajo do bairro, com
esquemas, algo mânfio.
As pessoas distinguem. Numa classe mais "piupular" é mais comum essa
identificação. Se um cromo tipo Toni me vir na rua, acha que eu faço
parte do grupo. O público que vai ver percebe que o que fazemos é um
boneco.
O boneco, com gestos, expressões e uma grande dose de improvisação,
compõe-no como? Onde é que apanha aquilo?
Veículo privilegiado: a observação. Sou muito observador. Se alguém me
perguntasse como está vestida, qual a cor dos olhos?..., não sei. Num
assunto de crime, sou péssima testemunha. Mas observo coisinhas,
pormenores, relações, os "filmes" que passam no café. As refeições,
faço-as sozinho, rápido, em pé; mas naquele bocadinho que estou ali,
percebo muita coisa. E para um actor tudo é matéria.
Estar em cima do palco, e desde cedo, é um desafio. "E se eles não
gostam de mim?"
Muitas vezes penso isso. E com a noção de que não gostavam.
Provavelmente eu também estava a fazer coisas em que não acreditava...
Falo de uma rejeição mais profunda...
É muito violento para um ser humano. Lidar com a exposição e com a
rejeição. É um susto. Sempre tive esta coisa: a minha profissão é
tudo. Se me saísse o Euromilhões, era incapaz de deixar de trabalhar.
Ia aproveitar para viajar. Não ponho a hipótese de não fazer nada como
actor ou encenador. Se não fizer nada, não sou útil. Não tenho
justificação para estar.
[já depois de desligado o gravador, António Feio acrescenta]
Quero ir a Las Vegas, ver os cinco melhores espectáculos do mundo.
Tenho de ir ver isso porque depois, se calhar, não tenho tempo... Isso
já me irrita. Querer fazer isto porque amanhã, se calhar, já cá não
estou.
De vez em quando desata a falar como o Toni. Dizer "um gajo mara",
como disse em off, é muito diferente de dizer "porque depois não tenho
tempo".
Um gajo marar... Pois. Mas a ideia que está por detrás é: tenho
urgência. O tempo está contado. Fazer isso a correr porque amanhã não
posso - isso não!, não faço. Amanhã eu posso! Se não puder, paciência.
a
anabela.mota.ribeiro@publico.pt
Olha, tenho um cancro. É isto. Não sei o que é ter um cancro. Agora,
estou a aprender
http://www.youtube.com/watch?v=4DV8Pq-ffX4
pois...
diagnosticaram um cancro no pâncreas e que está safa. Tem um cancro no
pâncreas e está a fazer tudo para se safar. É actor e encenador. Às
vezes, interpreta o bacano. E é o bacano.
Há cerca de dois meses - ele não sabe bem, porque ele e datas, datas e
ele... - foi diagnosticado a António Feio um cancro no pâncreas.
Recentemente, na entrega dos Globos de Ouro da SIC, o actor e
encenador agradeceu ao país a atenção. E ao pâncreas, pelo
proporcionado...
O assunto não é para brincadeiras. Mas que há-de ele fazer senão
reinar com a situação? "Reinar" é uma expressão sua. "Estás a mangar
comigo", também podia ser. Mas não a usou.
Há momentos em que começa a falar como o Toni, o personagem que
interpreta na série Conversa da Treta, ao lado de José Pedro Gomes.
Fala como falam pessoas de todos os dias, que encontramos no café, no
supermercado, na rua.
A Treta é uma leitura do mundo a partir de um quadro C e D - como
arrumam as classes sociais nas televisões. Nesse quadro, como noutros,
usa-se o "'bora" como se se dissesse "embora lá". Mesmo nas classes A
e B, diz-se "embora lá"?
Ai temos um problema?, 'bora lá resolvê-lo. António Feio é assim.
'Bora lá ligar o descomplicómetro e chegar às pessoas. 'Bora lá fazer
o que há a fazer, deixem-se de tretas. 'Bora lá fazer de uma ida ao
Monumental uma grande festa, com direito a gelado.
Se não fizer, como justificar o estar?
E agora, António? Agora, toca a fazer o que é possível ser feito.
É um fazedor. Um encenador que se ocupa da carpintaria de uma peça,
que dirige actores, que aponta o foco a quem tem ao lado (como em O
Que Diz Molero). Trabalhou em dobragens de desenhos animados.
Trabalhou na formação de jovens actores (Carla Chambel, Marco Horácio,
Nuno Lopes - que lhe ofereceu o seu Globo de Ouro - foram alguns). É
um trabalhador.
Ele acredita que ainda tem muito para fazer. Enquanto isso, the show
must go on e a Verdadeira Treta continua em digressão pelo país.
Pelo meio, está a fazer químio e rádio. (Não é preciso completar:
todos sabem o que significa.)
Como é que está a lidar com o interesse (algo mórbido) - nosso,
inclusive - pela sua doença?
Tem sido um pouco ao sabor do vento. À partida é um problema que é
meu, não é? Tento preservar o lado mais íntimo.
Vamos começar do princípio. Como é que soube? O que é que o fez fazer exames?
Eu andava pelo Hospital da Luz porque a minha irmã teve um problema
idêntico ao meu. Um cancro no pâncreas. A origem era diferente; mais
simples de resolver do que o meu. A minha irmã, com um problema
desses, assustou-me imenso!
Pelo cuidado com a sua irmã ou pelo receio de que pudesse padecer do mesmo mal?
A hipótese de lhe acontecer alguma coisa apavorou-me. Foi há três,
quatro meses. Eu andava com dores de estômago desde o Natal. Comia e
ficava inchado. No período de visitas ao Hospital da Luz, saí dez
minutos, fui fazer uma endoscopia. Havia uma inflamação, uma gastrite,
nada de especial. Entretanto, o processo da minha irmã foi evoluindo e
eu continuei com queixas. Decidi voltar ao hospital. "Eu não estou
bem, vejam o que tenho." Fizeram-se exames mais aprofundados,
ecografias, umas coisas. E aí, foi, surgiu, pronto, foi-me
diagnosticado o cancro no pâncreas.
Qual era o cenário?
Não era muito favorável. O que me sugeriram foi fazer rádio e
quimioterapia. "Vamos ver estas hipóteses." Continuei a fazer
espectáculos. Fui a Madrid falar com um cirurgião. E a Paris a um
hospital de reconhecidos méritos. E mandei o meu processo para os
Estados Unidos. As opiniões não variavam muito. O diagnóstico era que
eu teria de fazer rádio e químio. Para haver uma regressão do tumor e
poder ser operado - é o objectivo final. Com o oncologista que me
acompanha, decidi fazer só químio.
Contudo, para a semana [entrevista realizada a 29 de Maio], começa a
fazer as duas coisas, rádio e químio.
Houve uma evolução positiva, mas não o suficiente para ser operado.
Por isso, solução número dois: rádio e químio.
Em que dia soube?
Eh pá, eu datas...
Mesmo uma data tão impactante quanto esta? O tempo passou a correr de
maneira diferente no calendário? As coisas mudaram radicalmente?
Não necessariamente. É óbvio que passei a ter uma vida diferente. Por
me sentir doente e por me diagnosticarem uma doença complicada. Tive
um azar..., uma coisa estúpida. No primeiro dia em que fiz químio, uma
terça-feira, fui a uma farmácia aviar um medicamento - para minimizar
o efeito de náuseas e vómitos. A farmacêutica da minha zona deu-me um
medicamento errado! Um medicamento para diabéticos obesos.
Enganou-se no pacote? Como compreender isso?
Não há explicação. A receita, apesar de ser passada à mão, era
legível. Creio que quis dar-me um genérico por não ter aquele
medicamento; e baralhou-se, não sei o que foi. Andei de terça a sexta
a tomar seis comprimidos por dia. O medicamento que me tinha sido
receitado era de 10 mg e o que a senhora da farmácia me deu era de
1000 mg! Uma dose de cavalo. Tive sorte de não ter entrado em coma.
Ainda tinha alguma - bastante - resistência física.
Como descobriu que estava a tomar o comprimido errado?
Fui ao hospital. Eu estava de rastos! "Arranjem-me qualquer coisa que
me ponha melhor." Nesse dia a diferença foi brutal. Na terça-feira
seguinte, quando fui à nova sessão de químio, uma das médicas
perguntou-me o que estava a tomar; quando lhe mostrei aquele remédio,
entrou em pânico!
Há um lado cómico nisso. Parece um sketch da treta... É inverosímil.
Claro! Parece um sketch, sim. Limitei-me a ir à farmácia apresentar
queixa. Escrevi no livro de reclamações. Nada contra a senhora, mas é
um perigo. Pensei fazer queixa na Ordem, mas acabei por desistir.
Estou à espera que me digam alguma coisa.
Quando soube, com quem partilhou? Como foi o primeiro impacto?
Quando fui fazer o exame conclusivo, tinha os meus filhos todos
comigo, e irmãos, sobrinhos, toda a família. Souberam todos ao mesmo
tempo que eu.
Um problema? Um cancro? A doença? Aquilo? A terminologia importa.
Chamo-lhe "cancro", abertamente.
Não é duro olhar ao espelho e dizer, com as letras todas: "Tenho um cancro."
Não é fácil. Olha, tenho um cancro. É isto. Não sei o que é ter um
cancro. Agora, estou a aprender. Sou muito realista. Sou muito
prático. Lido bem com situações complicadas - acho bem.
A sua atitude perante as coisas, seja uma encenação ou a doença, é:
"Ai temos um problema? 'Bora lá resolvê-lo."
É nitidamente a minha atitude.
Nunca é: "Ai, pobre de mim"?
Há alturas em que dou por mim a pensar em cenários complicados...
Tenho medo da operação. Mas sei que é a minha única safa. Se quero ser
operado? Tenho o mesmo medo que tive quando a minha irmã foi operada.
Entre o António Feio de há um ano e o António Feio de hoje, o que
sinto é que não tenho a mesma pedalada. Estou a 70 por cento. Mas já
estive a 30, 40 por cento. Na semana do erro da farmacêutica, devia
estar a 10 por cento de mim próprio. Não me aguentava nas canetas. E o
problema a fervilhar na cabeça...
Ainda não falou dessa parte, da vivência íntima do problema. Só falou
dos sintomas e do modo como lida com ele.
Acho que tenho reagido bem. Não senti pena de mim. Nem raiva, que é
uma coisa frequente - porquê eu? Mas, também, desde miúdo achava que
as pessoas morriam aos 50. Achava que os meus pais, quando tivessem 50
anos, eram velhos e morriam! [riso] Ficou qualquer coisa disso. Eu já
vivi bastante. Se tivesse um acidente de automóvel [bate na madeira],
um AVC, um treco desses e já fui, não ia mal servido. Não tive uma
vida má. Não tenho nenhum problema em morrer. [pausa] Não me apetece
muito. Mas se me dissessem: "Vais morrer amanhã!", "Olha, paciência."
Isso é pose, de si para si, para lidar com isso?
Não sei. É o que penso.
É um modo de não sucumbir ao medo.
Não me apetece ficar em pânico. Não! Sei que estou a fazer o que é
possível para resolver o problema. Não é uma ideia agradável, mas não
é um bicho de sete cabeças. No dia em que tiver de ir, vou. O chamado
"está-se bem". Não sinto uma grande frustração, "eh pá, houve tanta
coisa que não fiz". Não fiz porque não quis fazer. Aquilo que
realmente queria fazer fiz. Tenho 54 anos. Os meus filhos são
crescidos... Se calhar o que me faz pensar mais no assunto, de uma
maneira diferente, é o meu rapaz com 17 anos... Quero vê-lo crescer
mais. Ainda não tem grande rumo para a vida, e isso gostava de ver
resolvido. As mais velhas têm as suas vidinhas, fazem o seu caminho.
O facto de ter corrido bem com a sua irmã...
É um exemplo de sucesso próximo. Anima-me. Falamos todos os dias.
Sobre o assunto não falamos muito. Pergunto-lhe se ela está bem, ela
pergunta-me se eu estou bem. Vamos medindo. Ah, hoje estou assim, ah,
hoje estou cansado, ah, hoje tenho febre. É uma característica dos
Feios. Preservamos o espaço de cada um. Até ao meu caso, nunca falei
com ela sobre a doença. Ia lá, perguntava o que é que iam fazer, o que
é que tinham feito, qual era o passo seguinte.
Não falam do que sentem?
Às vezes. O médico perguntou à minha irmã se ela tinha tido sintomas,
indícios que a pudessem levar a pensar que tinha qualquer coisa. A
única coisa que disse foi que nos últimos tempos se sentia triste.
Engraçado. Eu também me sentia um bocado triste. Mas numa vida nem
tudo corre às mil maravilhas. É natural que uma pessoa se sinta um
bocado triste. Vai andando. A doença é silenciosa...
Um actor trabalha com o corpo. Nunca falou com o cancro?
Não. E não tenho essa relação física com a doença. Ela manifestava-se
por dores. Hoje não as tenho. Fisicamente, nos espectáculos, sentia
limitações. Perguntava aos meus colegas: "Nota-se que não estou com o
mesmo power?"
Contaram-me que o José Pedro Gomes soube que as cerejas têm uma acção
benéfica sobre o pâncreas e...
Aparece-me lá em casa, de vez em quando, com cerejas! Tenho um clã que
me apoia. O ponto por onde começámos: o mediatismo da doença. É
normal!, eu vejo a preocupação das pessoas. Não quero dar uma de
herói. Sou um mariquinhas de caca como qualquer ser humano nestas
condições. Tenho medo, tenho pavor. Mas não vou andar aqui a
choramingar. Sinto-me bem. Neste momento, não sinto que tenho um
cancro. Psicologicamente sei que o tenho e é difícil deixar de pensar
nisso.
De hoje a uma semana, com sessões de químio e rádio, será diferente? O
cabelo vai cair?
Não. Já fiz dois meses de químio e este produto que faço não é...
depilatório. Esta imagem que tenho passado - da boa disposição -, esta
reacção que tenho tido - não entrar em parafuso - leva a que a maior
parte das pessoas que me abordam não o façam com pena ou comiseração.
É simpático.
Foi surpreendente o sketch de Os Contemporâneos em que participou,
fazendo paródia da sua própria doença.
Brinco muito comigo. Brinco com tudo. Até com isso se pode brincar.
Não estou a gozar. Se ficar com as calças rasgadas em público, é
ridículo, não quero, não gosto; mas eh pá, vou ter de reinar com a
situação. Relativizar. Passei a pensar de maneira diferente. Toda a
gente se queixa. Ai, ai, ai, ui, ui, ui, e isto e aquilo, e que
chatice, e apanhei muito trânsito, e para a semana vou ter de fazer
não sei o quê. Talvez precisem de levar com uma coisa assim para abrir
a pestana e perceber que não tem importância. Também penso que isto
tem alguma lógica...
Lógica?
Quando se tem pouco cuidado com a saúde, é natural que surjam
problemas. Fumo desde miúdo que nem um cavalo, sempre tive uma
alimentação desregrada, sempre me deitei tarde.
Drogas?
Não. Sempre tive muito receio. "E se eu gosto?" E nunca tive
necessidade. Bebia copos; cervejas, à noite. Andei muitos anos à noite
e nunca ninguém me viu entornado, a fazer figuras tristes. Sou low
profile.
Nem depois dos 50? É verdade que depois dos 50 teve uma espécie de
adolescência tardia? Os Porsches e as saídas nocturnas têm que ver com
isso?
Não. Tenho Porsches há vários anos. Sou fã! Só tenho esse carro. E
subo passeios, e se for preciso metê-lo na lama, meto, e não tenho
problemas se chegar ao carro e ele estiver riscado.
Não condiz com o indivíduo low profile, moderado.
Ando de Porsche moderadamente. O primeiro Porsche tive-o há 15 anos.
Era um Porsche em 25.ª mão, muito baratinho. Fui fazendo upgrades. Já
tive aí uns dez Porsches! Mudava de carro no dia dos meus anos. Até
chegar ao que tenho, há cinco ou seis anos. Tem 450 cavalos! Não lhe
posso dar uso como ele merecia. Não posso andar a assapar que nem um
maluco. O gozo? Olhar e dizer: tenho um carro muito bonito. [sorriso]
Se for preciso meter o pé no acelerador, passo por eles todos. É uma
sensação de poder, que o próprio carro tem. Depois, o Porsche é um
carro de velhos, só os velhos têm dinheiro para o comprar. Quando um
gajo é puto e brinca com os carros, há uns de que gosta mais. Há
miúdos que gostam mais do carro dos bombeiros. Eu gostava do Porsche.
As garinas vão atrás do Porsche?
Não.
As mulheres interessavam-se pelo personagem público António Feio e por
alguns códigos de poder - como o Porsche?
Não tenho razão de queixa. E não tenho dúvida de que saí com mulheres
que se aproveitaram. Que estavam à espera que pagasse o jantar.
Rapidamente pus de lado. Faz-me confusão. Por uma questão de espinha
dorsal. Sempre que emprestei dinheiro, dei-me mal. Não há memória de
ter emprestado e de me terem pago de volta. As pessoas, quando estão
aflitas, rebaixam-se, fazem o que for preciso. Mas, assim que têm
aquilo que procuram, desligam. E raramente dão uma satisfação, e
passam a assobiar. Já me aconteceu várias vezes.
Nunca pediu dinheiro emprestado?
Claro que pedi.
Que importância teve o dinheiro na sua vida?
Comecei a trabalhar muito novo. O meu primeiro cachet foi aos 11 anos.
Nós não éramos pobrezinhos. O meu pai era engenheiro agrónomo,
trabalhava para o Estado, ganhava razoavelmente. A minha mãe houve
fases em que trabalhou, outras não. Os meus irmãos e eu não estudámos
em colégios particulares, mas andámos no ensino oficial. Nunca tive
uma bicicleta. Não havia dinheiro para comprar uma bicicleta. Os meus
pais passaram-me a noção de que o dinheiro não cai das árvores. O meu
pai dizia: "Quando há, há, e é para todos; quando não há, não há."
O seu personagem mais famoso é o Toni, da Conversa da Treta. O mundo a
que ele pertence tem no dinheiro um tópico fundamental.
As minhas despesas: vivo numa casa que está paga. Roupa, comida,
gasolina. Faço uma vida normal. Tenho quatro filhos, alguns a estudar
no estrangeiro. Ainda apoio os meus filhos. Porque quero ajudá-los.
Odeio gente forreta. Vamos almoçar e a conta é muito rachadinha, mas
eu comi uma sobremesa e tu não? Não, racho a meio. O dinheiro é para
usar. Felizmente, de há muitos anos para cá, não tenho problemas
económicos. Preocupo-me com isso. Organizo a minha vida com um ano de
antecedência. Já sei o que vou fazer para o ano. [pequena pausa] Agora
é mais complicado.
Continua a organizar, acreditando que vai ultrapassar isto?
Sim, sim. Mas não tenho noção do que vai acontecer. Tenho sempre um
"se". Ao longo da vida aprendi a não fazer planos rigorosos. Há sempre
um projecto que cai. Há sempre uma coisa que afinal passa para o ano
seguinte. É o "em princípio". Em princípio, vou fazer isto.
Neste período da doença, lembra-se mais do rapazinho que foi? Que
fazia teatro entre profissionais.
Vim de Lourenço Marques com sete anos, estive em Lisboa até aos 14.
Ontem fui a uma entrevista da RTP Memória. Passaram imagens minhas e
do Ruy de Carvalho numa peça, Viajante sem Bagagem. Eu tenho para aí
12 anos e mantenho um diálogo, taco a taco, com o Ruy de Carvalho!
Tenho dificuldade em perceber que aquele sou eu. Uma cena de quatro,
cinco minutos. A voz...
Diz isso com orgulho do puto... É desse que se lembra? Quando recorda
a sua infância, que imagens aparecem?
Essencialmente, imagens do tempo em que vivi em Carcavelos, na Praceta
do Junqueiro, junto à praia, com um pinhal por detrás. E mais tarde em
Moçambique, daquela liberdade.
Não são imagens do miúdo que está em cima do palco. São imagens de um
miúdo, que por acaso fez teatro e cuja experiência foi determinante.
É um misto. Como comecei a trabalhar muito cedo, as memórias estão
também ligadas ao trabalho.
Foi o Carlos Avillez que o convidou para a primeira peça. Começou a
fazer teatro para agradar à sua mãe, que frequentava o Teatro
Experimental de Cascais?
Não. Foi um desafio. Era uma actividade. Como um jogo. E conhecia
gente gira, e maluca. A peça tinha cenários do Almada Negreiros.
Conheci muito bem o Almada Negreiros. O gajo achava piada ao puto...
Lembro-me de o ver a desenhar. Sabia que era o Almada Negreiros, "este
senhor é um grande pintor". "Ah, sim." Um gajo, quando é puto, "iô,
tá-se". Estreei-me com a Mirita Casimiro.
Corre que uma vez lhe telefonou a Amélia Rey Colaço...
Uma vergonha! Tocou o telefone, atendi. Pensei que estavam a gozar, um
colega. A Dona Amélia tinha aquela voz [assume um tom gongórico]. (Era
um ser extraordinário. Trabalhei com ela nesse espectáculo.) "António
Feio? Daqui fala Amééélia Rey Colaaaçooooo." A primeira coisa que me
saiu foi: "Olheeee, e daqui fala Robles Monteeeiroooo." A minha sorte
foi que ela já estava um bocadinho surda e não deve ter ouvido. O
Robles Monteiro era o marido e tinha morrido há anos. Seria uma graça
de muito mau gosto. Senti-me tão entalado que a primeira coisa que fiz
foi levantar-me! Estava sentado e, por respeito à Dona Amélia,
levantei-me! Ainda hoje trato a Eunice [Muñoz] por Dona Eunice.
O seu mundo era feito dessas referências?
Já era crescidinho quando trabalhei com a Amélia. Era uma referência.
Não a conhecia. A Eunice, sim. Tinha trabalhado com ela na televisão,
na rádio, em várias coisas. Em três anos fiz tudo o que havia para
fazer. Não havia miúdos. Era preciso um miúdo para uma coisa qualquer,
marchava eu.
Não ficou um miúdo insuportável, com excesso de atenção?
Não. Sempre fui tranquilito. Nunca fui vedeta, nunca me subiu. Não vou
dizer que não era engraçado chegar à escola e a malta toda
conhecer-me. Era o aluno mais famoso da escola, não é? Em Moçambique,
além da notoriedade, havia inveja. Uma vez fui proibido de ir a uma
festa. Um amigo - que ainda hoje é meu amigo - proibiu-me de ir ao
aniversário dele. As meninas estavam todas muito eufóricas porque eu
ia à festa... Mas nunca fui peneirento.
Era giro?
Em puto, era. Muito pequenino, loirinho, cabelo liso. Só aos 16, 17
anos dei um pulo, cresci. Nas imagens da RTP Memória: aquele brilho no
olhar, aquela garra...
Donde é que vinham? E a confiança.
Não sei. A minha mãe era uma pessoa divertida. "Mãe, um dia quando for
rico, monto-lhe um negócio." Era uma agência de viagens. Para a minha
mãe poder organizar viagens aqui e ali. Eu andava sempre com a minha
mãe. Morávamos em Carcavelos. "Amanhã vamos ao [antigo] Monumental
comer um gelado." E era uma aventura! Vínhamos de comboio ou
autocarro. "Vamos ao Galeto!" O meu pai era diferente. Calmo.
A sua mãe encenava esses momentos, fazia deles uma festa.
Sim. Eu gostava muito de viver. Se me dessem um papelinho, eu gostava
do papelinho, do brinquedo, de uma porcaria qualquer. Ir lá atrás é
meio estranho, é meio esquisito. Uma pessoa sente que já é outra
coisa.
É o filho mais novo.
Houve uma fase em que era muito "eu e a minha mãe". A minha mãe
acompanhava-me a trabalhos. A estúdios, Tóbis, RTP, Emissora Nacional.
Era o menino da mamã!
Era a mãe babada acrítica ou era do estilo "nunca está bem"?
Era babada. Tudo o que eu fazia era para ela motivo de orgulho.
Transpunha para mim aquilo que gostaria de ter feito. Gostaria de ter
sido actriz. Quando foi para o Teatro Experimental de Cascais, fez um
papel pequenino na Casa de Bernarda Alba. Morreu há muitos anos.
Não realizou o sonho de ser actriz por causa do casamento?
Foi por falta de oportunidade. Fez teatro amador. O meu pai ajudava,
mas era incapaz de saltar para um palco. O sentido de humor que tenho
vem do meu pai. Era dos que faziam tudo pela calada. Apanhei isso. O
meu filho, vejo agora, é igual. Não sei se é bom. É muito fechado e
reservado. Eu sou assim. Não tenho problema em abrir o jogo e falar
consigo (que não conheço de lado nenhum) sobre tudo e mais alguma
coisa. Mas depois há umas zonas onde ninguém entra.
Foi uma aprendizagem que teve de fazer desde pequeno? Para demarcar o
território do miúdo a quem acham graça e do miúdo igual aos outros, de
porta fechada.
Sim. E sou assim por feitio. Sou do estilo: em vez de passar por ali
onde sei que me vou chatear, vou dar a volta ao quarteirão. Pago para
não me chatear. Se houvesse uma instituição "Você não quer ser
chateado?", eu pagava uma quota mensalmente! Para não ter de levar com
as coisas que me chateiam.
É mais actor, mais encenador?
Não acho que seja mais esse ou o outro. Senti que podia ser mais útil
enquanto encenador, pela iniciativa que posso provocar. Enquanto
actor, faço aquilo que me mandam fazer ou fico à espera que me
convidem; a minha sorte fica em mãos alheias.
Tem trabalhado nos últimos anos com a produtora UAU e o seu parceiro
preferencial tem sido o José Pedro Gomes. Porquê?
É importante fazer o repertório que temos feito, mais não seja para
captar público, para termos gente. Lembro-me de ir ao Teatro
Monumental e de aquilo estar esgotado! Mil e tal lugares. E lembro-me
dos anos em que o teatro não tinha ninguém. Representei muitas vezes
para dez espectadores, cinco, três. As pessoas gostam de teatro; é
preciso dar-lhes aquilo que elas querem. Ou, pelo menos, arranjar a
maneira de não as afastar. Aí, entra o meu lado de encenador. Quando
via um texto e acreditava nele, pensava: "Gostava de ver este
espectáculo." Sou um público normal.
Quando vai a Londres ver peças, é com esse intuito? Pesquisar,
perceber o que pode encenar cá.
Às vezes vou ver por ver. Quanto ao prazer de ser actor, a grande
mudança é o Arte [de Yasmine Reza]. Eu estava numa de representar o
menos possível.
Antes do Arte, houve O Que Diz Molero, de Dinis Machado, adaptado por
Nuno Artur Silva. Não lhe provocou o mesmo impacto?
Considero o Molero uma peça de encenador. O Austin lê 20 páginas do
relatório do Molero e o Mister Deluxe comenta e diz de vez em quando:
"É óbvio." [riso] Provavelmente é a coisa mais bonita que fiz na vida.
O Arte foi um texto que me reconciliou com o grande prazer de
representar. É uma síntese do que pode ser o teatro de qualidade e o
sucesso de público. Curiosamente, é uma peça de que a Yasmine Reza não
gosta muito. Aquilo saiu-lhe da mão, ganhou asas.
Alguns personagens escaparam-lhe da mão? Chateia-o que o grande
público olhe para si apenas como o Toni? O gajo do bairro, com
esquemas, algo mânfio.
As pessoas distinguem. Numa classe mais "piupular" é mais comum essa
identificação. Se um cromo tipo Toni me vir na rua, acha que eu faço
parte do grupo. O público que vai ver percebe que o que fazemos é um
boneco.
O boneco, com gestos, expressões e uma grande dose de improvisação,
compõe-no como? Onde é que apanha aquilo?
Veículo privilegiado: a observação. Sou muito observador. Se alguém me
perguntasse como está vestida, qual a cor dos olhos?..., não sei. Num
assunto de crime, sou péssima testemunha. Mas observo coisinhas,
pormenores, relações, os "filmes" que passam no café. As refeições,
faço-as sozinho, rápido, em pé; mas naquele bocadinho que estou ali,
percebo muita coisa. E para um actor tudo é matéria.
Estar em cima do palco, e desde cedo, é um desafio. "E se eles não
gostam de mim?"
Muitas vezes penso isso. E com a noção de que não gostavam.
Provavelmente eu também estava a fazer coisas em que não acreditava...
Falo de uma rejeição mais profunda...
É muito violento para um ser humano. Lidar com a exposição e com a
rejeição. É um susto. Sempre tive esta coisa: a minha profissão é
tudo. Se me saísse o Euromilhões, era incapaz de deixar de trabalhar.
Ia aproveitar para viajar. Não ponho a hipótese de não fazer nada como
actor ou encenador. Se não fizer nada, não sou útil. Não tenho
justificação para estar.
[já depois de desligado o gravador, António Feio acrescenta]
Quero ir a Las Vegas, ver os cinco melhores espectáculos do mundo.
Tenho de ir ver isso porque depois, se calhar, não tenho tempo... Isso
já me irrita. Querer fazer isto porque amanhã, se calhar, já cá não
estou.
De vez em quando desata a falar como o Toni. Dizer "um gajo mara",
como disse em off, é muito diferente de dizer "porque depois não tenho
tempo".
Um gajo marar... Pois. Mas a ideia que está por detrás é: tenho
urgência. O tempo está contado. Fazer isso a correr porque amanhã não
posso - isso não!, não faço. Amanhã eu posso! Se não puder, paciência.
a
anabela.mota.ribeiro@publico.pt
Olha, tenho um cancro. É isto. Não sei o que é ter um cancro. Agora,
estou a aprender
http://www.youtube.com/watch?v=4DV8Pq-ffX4
pois...
08 junho 2009
ele é uma das pessoas melhores que eu conheço, não merece isto!
Já caminhei caminhos longos, já estive em hibernação, fechado,
enclausurado, fugido ao mundo, aos poucos acordei fui olhando para a
vida, vendo o corpo respirar, ver gente amiga, gostando do q sou,
aprendendo a ser melhor e resolvi q gostava de viver. Posso ser um calmo, sereno gangster ou um pistoleiro.
A memória (essa chata...) trama-me mais vezes que o querido. Este blogue já foi criado no meu estágio de vida, talvez auto-criado modelado gerado, as coisas que um morto-vivo faz...
Há um mundo em défice esquecido, não se dá por ele... ninguém pensa em que alguém que pode ser espectador de um mundo que já viveu, eu por exemplo a ver futebol...
enclausurado, fugido ao mundo, aos poucos acordei fui olhando para a
vida, vendo o corpo respirar, ver gente amiga, gostando do q sou,
aprendendo a ser melhor e resolvi q gostava de viver. Posso ser um calmo, sereno gangster ou um pistoleiro.
A memória (essa chata...) trama-me mais vezes que o querido. Este blogue já foi criado no meu estágio de vida, talvez auto-criado modelado gerado, as coisas que um morto-vivo faz...
Há um mundo em défice esquecido, não se dá por ele... ninguém pensa em que alguém que pode ser espectador de um mundo que já viveu, eu por exemplo a ver futebol...
06 junho 2009
O mundo é a nossa casa
Numa fase em que ando meio alheado do mundo, acho que a polis continua a querer ser liderada pelo povo. A vida tem mudado e o mundo: Al-Bahma, independência da Madeira e um tratado europeu (nem nas juntas temos poder, europa soa-me a longe).
Esquerda: ps, be e pcp. Direita: psd e pp.
Uma esquerda com uma pequena alternativa intelectual e outros também pequenos operarios, um centro grande maior com uma luta com valores de uma rev. francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Falta-lhe realismo ou não conhecem o povo português. Na direita o americanismo é latente com seus podres evidentes e algum elitismo, põem-se à margem da sujidade e do suor, esse do trabalho, mais facilmente vemos uma direita engravatada num mercedes que em tractores e fatos-macaco, óleo. A esquerda gosta de aparência liberal mas e muito mas. Este país está mal desde que o conheço sempre em renasceres...
Esquerda: ps, be e pcp. Direita: psd e pp.
Uma esquerda com uma pequena alternativa intelectual e outros também pequenos operarios, um centro grande maior com uma luta com valores de uma rev. francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Falta-lhe realismo ou não conhecem o povo português. Na direita o americanismo é latente com seus podres evidentes e algum elitismo, põem-se à margem da sujidade e do suor, esse do trabalho, mais facilmente vemos uma direita engravatada num mercedes que em tractores e fatos-macaco, óleo. A esquerda gosta de aparência liberal mas e muito mas. Este país está mal desde que o conheço sempre em renasceres...
03 junho 2009
realismo?
"Ver bens no mal que me acontece acho que é uma forma do meu ser... sou irritantemente optimista."
By zmbelo
By zmbelo
02 junho 2009
diabinho uhuhuh
Deus escreve direito por linhas tortas e tem escrito muito. Vejamos, olhemos, eu na altura do acidente andava desatento, desatinado. Andava à toa na vida e fui chamado de urgência a um confronto... que dura até hoje... expectactivas no caso nem o sr vulpeee (nome inventado jamaicano...), já se bateram todas. Vou andar com apoio é certo, sem ele confio em minha força de vontade e trabalho. Falar pelos cotovelos, não consigo.
O optimismo não pode ser defeito... não pode!
Falo comigo e digo, 'opá, bora lá!'
O optimismo não pode ser defeito... não pode!
Falo comigo e digo, 'opá, bora lá!'
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