15 junho 2009

1981
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

Um começo, um recomeço, um voltar atrás, a vida enquanto caminho, processo longo e largo a avistar sem saídas mas com ganhos, portas de entrada, veias bem marcadas, a escuro descem para os pulsos e tropeçam nas artérias, tudo inspira, expira, suspira e explode.
Hoje e amanhã, ontem e anteontem, no fim de semana, percebe-se e entende-se um tubo longo, espreito e noto uma luz, descanso nela, e continuo para o som estridente do motor.
Avanço muito lentamente para o fim, calco com mãos as paredes, sinto os altos da empreitada, bicos do cimento, zonas com falhas grandes acentuadas.
Chegado ao fim e à luz, olho para o chão, sinto o alto, conto a altura (2 metros penso), tomo balanço e zupa. No relvado, (pufff), avanço tranquilo, dou dois passos, paro para carregar baterias, olho, começo em ritmo de corrida, encontro o pinheiro, sento-me mochila na mão, abro o saco a tirar o lanche, começa o primeiro dia do resto da MINHA muito MINHA vida.

• 1975
Os pássaros foram feitos para voar e voam.
Esses céus alongam-se e esticam e bandos circulam e cruzam-se com espaços e tempos suaves. O mundo é maior que isto e sopra longe um dia claro e longo, luzidio e transparente, potência de uma lua branca e azulada, com um som celeste e cipreste e um renascer de um vento (vuuuhu) gelado e q aquece gente a aprender a ser menino fértil em futuros presentes aviva-se passados.
E circulam triângulos e rectângulos hexágonos em rectângulos e formas preenchentes adornadas pelo viver suave, tranquilo e sereno. Mostra lá isso? O quê? O teu relógio… é um clássico, muito sedutor ao teu jeito, inebriante jeito com uma louca condição moldada no teu pulso. Era um longo ir, voltar, retornar, rebuscar

• 1979 (houve muita boa gente a nascer neste ano que se juntou ao movimento...)
Vamos juntos aprender com a vida.

A vida é gente, a gente é vida. Pessoas, malta, cambada e… movimentou-se espaços pluralmente e abertamente, às vezes singularmente. São mãos que se dão, em rodinhas largas, começou-se algo bom e ainda hoje falamos desse tempo marcante, lembra-me de caras, vestes, gritos, uma fogueira enorme, árvores à volta, vento a fazer barulho, o reflexo da lua nas pedras, lembro-me do Jonas ter feito um sketch soberbo: ele entrava, parava a olhar em volta braços abertos, procurava algo, tacteava o corpo, depois rebuscava entre as gentes sentadas, parou, ajoelhou-se, levou as mãos à cabeça, esfregou, gritou, levantou-se e saiu: bravooo, bravooo, bravissimooo uh uh.
E aí um grupo de 5 enfileirados levantam-se, começam a snifar todos para o lado direito, depois snifam para o lado esquerdo, páram, coçam os narizes e sentam-se. 1 carameloooo…. ALLEZ… 2 carameloooos… ALLEZ… 3 caramelooooooooooooos….5 tostões por causa dos trocos!

• 1980
A verdade vos libertará. Crescer é comprometer-se.
Crescer nos outros sentindo-os, virgens, algo verdes por crescer. Nós (todos) somos livres se escolher a melhor saída e compromete-mo-nos a não dar passos às arrecuas, seguir JUNTOS vendo no olhar do outro um rumo por onde queremos maior projecção, mais largo ver. Livres, iguais, fraternos e revolucionários. Apertamos mãos porque o mundo é nosso, neste presente cantamos um futuro auspicioso, vitorioso, não temos medo nenhum das sombras inclinadas, vemos a vida construída arquitectada na mudança procuramos heterogeneidade pintando-nos em baladas e guitarradas.
Sente o ritmo pulsar num leve azulado claro amanhecer, saio da tenda, meto a cabeça de fora, olho restos de farra, tudo sujo, vejo uma cabra em cima longe a comer, chamo… ela parece parar, levantar a cabeça e apontá-la na minha direcção, avançar devagar, parar, grito ‘heyyy’, avança, rebusca no lixo e uma lata enfia-se nos corninhos… ‘heyyy’, avança, chega-se à tenda, começa a lamber, recebe festinhas, agacha-se e deita-se.

• 1972
No mundo de mãos dadas lutaremos, para transformar os montes em caminhos.

Era um grande, enorme dia e esfriava, esfriava até o sol se pôr e lá no céu se erguer uma luz estrelar e no largo já estamos, entrámos pela rua do norte e rumamos os três ao centro, desviando-se cada um para o seu lado em ‘adeus’ e ‘até jás’. Lanternas? Ok! Pás? Enxadas? Foices? Bora lá! Pq no mundo/neste de mãos dadas lutaremos e àquele monte, lá bem no cimo, vou dar-lhe a forma de dúvida e solta-se um beijo suspirado e um foco de lanterna diz ‘q por ali quero ir’ c carinho soprado e revolver-lhe esse mundo. Um planeta pôs-se!
Viemos JUNTOS à caça pq o q queremos é de um jogo (pisca) q ontem fizemos sacar esta msg: ‘No mundo de mãos dadas lutaremos, para transformar os montes em caminhos‘ retiramos um copo e nele concentramos as 12 mãos porque queremos erguer a luz e o som vitral, opaco, fundido e erguer um feixe conviva. Nele realizamos e produzimos levitando. Há uma manhã tardia e uma tarde a começar, noite esplêndida! Fabricámos o dia, era um grande, enorme dia e esfriava, esfriava até o sol se pôr.

Os muros vão cair. E se até a flor perfuma a mão que a esmaga...

Ver na barreira ponto de apoio para um pé, onde fincamos o pé para ultrapassar o esforço do que é, ser agente de mudança numa zona de cruzamentos. Encontrar no outro a flor q é glória do viver, construir, saborear o bolo q se acaba de tirar da forma e q a avó nos ensinou, há mt tempo, a fazer. Encontrar no pior momento, um ponto forte para arrancar para um bom. As barreiras são pontos de passagem para outra margem, ganhos num momento de perda para um acelerar mais forte; os índios iam para uma clareira, subiam-na de frente e viravam-se para um descer a cu, iam de amuleto até ao fundo e deixavam um fundo-rabo na branca areia. Passar do presente a futuro com jeitos de derrubar a vida. Insistir na fauna e flora para um alisar do ser e da natureza. Conceber na perda um recomeçar até ganhar.

Quem veio e atravessou o rio viu a chegarem-se perto casas sob um céu largo, claro, imenso mas sempre q Lisboa canta n sei se canta, n sei se reza, pois sempre q Lisboa canta, canta o fado com certeza sorrindo por dentro e sempre a crescer. Foi atravessando o Tejo q ali notei um nascer de algo, do mar, do deserto, de um gesto, de uma cidade, de pessoas. Num brilho notou-se o crepúsculo arroxeado ao longe, assim como um laranja pôr-do-sol a clarear para o azul claro esbranquiçado da melodia q soava em ritmos samba. No caminho lá fundo eu vi um mexer sério e duro acentuado.

Utopia de um cume donde vejo o inatingível, queremos apalpá-lo e saboreá-lo, ouvi-lo. Fechado neste cerco oiço do lado de lá GENTE infantil e espreito pela fresta, ranhura e gentil, suave, dócil, acarinho com a palma da mão um vértice que voa, e suo porque quero lutar e seguir pela estrada fora até ao cruzamento e viro à esquerda. Anda, até ali, juntos (aponta), vês aquela árvore? Foi ali que nos conhecemos naquela eira, era um dia de muita nuvem e algum vento e tu estavas/eras num grupo com gritos e eu chegava lento e calmo com mais a Rita e a Joana e olharam-nos de longe, sentámo-nos a ver a vista, depois vieste calmo no nosso alcance, puseste a mão sobre o meu ombro e no jeito que ainda é o teu disseste muito suave ‘eu sou o Manuel, venham para ali cantar e tocar connosco’. E fomos e herdámos isto. Sorriram

era um sitío bem largo, nele poisavam à sombra milhões de crianças, olhando para elas lia-se futuro e ajudavam o tronco a ficar direito, grosso e a crescer. havia lá perto um pastor num terreno c um rebanho, cantava 'brincando na serra enquanto o lobo n vem' de cada vez q dizia 'lobo', tds se encolhiam.
nascia tds os dias um sol simples, fácil, maravilhoso!
a sombra traçava fronteira entre o claro e o escurecer, lá se sabia vida mas cá tb.

Era um fim de tarde na quinta, Jonas e Joaquim, caminhavam terreno abaixo, param, viram-se para um frente-a-frente: aqui? Olham os dois para o chão: sim, pode ser!
Gostas de mim? Gosto! Então vamos dançar… damos as mãos e nanananana Dançam à volta.
Começa a soar longe e em crescendo: ‘está na hora de ouvires o teu pai, puxa para ti essa cadeira…’, serve-se chá e bolinhos em jeito piquenique, aparecem esvoaçando, ‘um brinde ao mocamfe e aos turrinhas!’, ‘mas eles n estão cá connosco, estão lá no campo… snif snif… saudades q ficam neste gesto. Mas e nós? Vamos ser criativos e descansar: deixas-me usar as tuas pernas como almofada? Claro! (descansa o texto)

Acordam e a alegria serve-lhes como poisio, tanta calma farta, levantam-se e começam em movimento circular, mãos à ilharga, um finge sacar, mais uma volta, o de rosa saca, pum, cai o homem de azul… e ouve-se a marcha nupcial.
E movimentou-se o dia!


Ninguém, mas mesmo NINGUÉM, vive isolado, fora do mundo, sem os outros. A regra é um começo numa família, depois grupo de pares e socializar.
Foi assim que NOS fizemos, criando espaços e tempos de convívio.
O grupo diz-se pq se inventou; individualmente somos unicamente mais um, um sozinho, mais pequeno, vive para e com… um outro enorme qd vai colher amizade, e viver é amigos, quem serias tu sem o outro? Um vazio
O amor é um vértice do ser. Todos nascemos do amor… encontrar o outro, descobri-lo é um dom q gastamos todos os dias. É um dom único bonito, para vivermos em alcateia faz sentido uivarmos. Descobrir o outro já é uma festa.


a ideia de estar numa prisão assusta porque estamos fechados de um mundo e dos outros, e de nós, de um certo modo, neste canto da sala vejo ao longe pela fresta da janela aberta: verde e sol-liberdade! ergo um punho sozinho fazendo atenção à sombra, sei q voltarei ao mundo, n fui feito para estar preso, e disto/nisto ganharei valor. vejo as grades e penso loucamente 'espera mais um pouco! as coisas começam e acabam'. paciência!
deste malmequer (tanto mal) vem o cheiro e o som de derrocada.
e foi num feliz momento em q alma fui quebrei a história e marchei direito ao precipicío pronto para saltar e quebrar correntes, preso me soltarei.

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