Não era previsível que a maioria dos cidadãos do
Reino Unido votassem a favor da saída da União Europeia ou que Donald
Trump fosse eleito Presidente dos Estados Unidos.
Não era previsível que um partido derrotado nas eleições legislativas em Portugal conseguisse um inédito apoio parlamentar dos partidos à sua esquerda para formar Governo, que esse Governo sobrevivesse até hoje, possa completar a legislatura e o partido em questão esteja em condições de alcançar a maioria absoluta nas próximas eleições.
(Por cá, o mais certo é Costa não abandonar as mãos que o apoiaram...mesmo se já não vai precisar do apoio da esquerda para ter maioria absoluta, vê-se que ter que trabalhar com tanta diferença: BE, PCP e Verdes - ajuda à igualdade.)
Não era previsível que um candidato quase sem historial político ganhasse as presidenciais francesas e que o partido formado com base nessa candidatura se encontre à beira de alcançar o maior número de deputados no Parlamento, renovando radicalmente a paisagem política do país. E não era também previsível que a primeira-ministra britânica, a quem se vaticinava há menos de um mês uma folgada maioria em Westminster, tenha ficado dependente de um partido norte-irlandês para formar um novo Governo e levar por diante – em posição obviamente muito debilitada – a negociação do Brexit com a União Europeia. Não, não era de todo previsível.
Não era previsível que um partido derrotado nas eleições legislativas em Portugal conseguisse um inédito apoio parlamentar dos partidos à sua esquerda para formar Governo, que esse Governo sobrevivesse até hoje, possa completar a legislatura e o partido em questão esteja em condições de alcançar a maioria absoluta nas próximas eleições.
(Por cá, o mais certo é Costa não abandonar as mãos que o apoiaram...mesmo se já não vai precisar do apoio da esquerda para ter maioria absoluta, vê-se que ter que trabalhar com tanta diferença: BE, PCP e Verdes - ajuda à igualdade.)
Não era previsível que um candidato quase sem historial político ganhasse as presidenciais francesas e que o partido formado com base nessa candidatura se encontre à beira de alcançar o maior número de deputados no Parlamento, renovando radicalmente a paisagem política do país. E não era também previsível que a primeira-ministra britânica, a quem se vaticinava há menos de um mês uma folgada maioria em Westminster, tenha ficado dependente de um partido norte-irlandês para formar um novo Governo e levar por diante – em posição obviamente muito debilitada – a negociação do Brexit com a União Europeia. Não, não era de todo previsível.
(e May passou de prazo em Juin...)
Se cada caso é um caso, esta conjugação de imprevisibilidades, de
volatilidades, num tão curto espaço de tempo, não deixa de ser
perturbante, como se tivéssemos perdido as referências em que nos
habituáramos a confiar, desde os instrumentos habituais de previsão e
análise – sondagens, estudos de opinião – até à nossa própria percepção
da realidade.
Tanto assim é que os próprios actores dos
acontecimentos tendem a ser ultrapassados por eles, como vimos em
Portugal com a anterior maioria governativa mas, sobretudo, como sucedeu
por duas vezes no Reino Unido, com os clamorosos erros de previsão dos
líderes conservadores: David Cameron ao apostar no referendo sobre o
Brexit, convicto de que a maioria dos britânicos não desejavam sair da
União Europeia (UE), ou a sua sucessora Theresa May, acreditando num
triunfo eleitoral esmagador sobre os trabalhistas que lhe daria um
trunfo decisivo no processo negocial com a Europa.
Pode dizer-se que May foi vítima da sua própria mediocridade
política, da sua incoerência de princípios – apoiou, embora frouxamente,
Cameron, também ele dúplice, aliás, quanto à permanência do Reino Unido
na UE – ou do clima de tensão suscitado pelos atentados terroristas de
Manchester e Londres. Mas o processo dos acontecimentos em apenas
algumas semanas, contrariando a grande maioria das expectativas e
convicções iniciais, mostra como a velocidade de propagação do
imprevisível pode provocar um abalo sísmico do que supúnhamos ser as
tendências solidamente implantadas da realidade.
Imprevisível, de
facto, um líder tão pouco carismático e anacrónico como Jeremy Corbyn –
típico representante do velho socialismo britânico de extracção
trotskista – ter-se tornado, no tempo de uma campanha que deveria servir
para enterrá-lo definitivamente, o emblema da insubordinação face a um remake
amadorístico de Thatcher, como é May. As receitas arcaicas de Corbyn,
com o regresso ao Estado providência e nacionalizador dos saudosos
tempos do Labour, disfarçando o seu jogo duplo sobre o Brexit, acabaram
por parecer quase uma ousadia refrescante face ao conservadorismo amorfo
e enfatuado de May.
Não são apenas a pós-verdade e os «factos
alternativos», tão caros a Trump, que estão em voga. Vivemos também numa
era do imprevisível, em que as certezas aparentemente implantadas podem
voar em estilhas por força do que nos surge – para o mal ou para o bem –
como um sinal de mudança ou novidade. Nada se perde tudo se
transforma.
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