13 abril 2009

um nome giro, dentro da onda, é favaios

Cão como nós

Todos os dias entra pelo quarto de rompante, salta para cima da cama e acorda-me com beijnhos. Não deu conta que cresceu e que já ocupa quase tanto espaço da cama como eu. Teve como qualquer pequeno, e como explica o Dr. Freud, a sua fase oral em que adoptou para brinquedo as pantufas, minhas e da minha irmã. Rói-as assim como rói com vontade: nêsperas, bolas de golfe, embalagens de iogurte e os pés da mesa da sala. Rói-as de tal maneira que por aqui o inconsciente pode deixar os sonhos descansados.
Porque não pode estar sempre em casa fechada como me aconselhou o Afonso dos Maias é mais viajada com 6 meses do que a minha mãe com 6 anos, dito pela própria. Bairro Alto, Porto Covo, Serra de Sintra, as praias da Aguda, Pequena e Grande foram algumas das visitas.
Quando me leva à praia e me sento a descansar, o lugar preferido dela para escavar sem mais poder é debaixo das minhas pernas, escava, escava, escava até poder ficar de cabeça para baixo enfiada na areia e rabo para o ar.
A Ginja tem 6 meses, cadelinha filha de pastora alemã e pai incógnito. Termos responsabilidade por alguém faz-nos crescer, desde o dar comida, ao educar para que ela tenha hábitos, levá-la ao veterinário e limpar os cócós à volta da casa, é preciso cuidar. Ajuda-nos a fugir a um certo egocentrismo.
Gosto de ver crescer a cadela, sou muito pai babado. Senti-la meiga e esperta, muito independente; ouvir um qualquer elogio ao pêlo preto bonito e aos cuidados que tenho com ela fico por dentro sorridente de bem estar. Tenho gostado imenso desta relação, com ela sinto-me acompanhado e ao mesmo tempo com calma para o silêncio e o mar. Será que é mesmo verdade aquela ideia de os cães à imagem dos donos? Cão como eu.

Contraceptivo falhado

Nota Introdutória: Este texto é profundamente machista e broncamente racista, assustem-se já as almas menos receptivas ao estilo.


Do ponto de vista do pai tudo parece estranho. Não entendo as movimentações femininas dela, aquelas ânsias. Chego à conclusão em estilo pai solteiro: nunca entendi as mulheres.

Parece que rapariga cresceu e chegou-lhe a adolescência e os desejos.
Os conselhos médicos indicaram que tomar a pílula era potenciador de cancro da mama e de desestabilizações hormonais. Pai galinha que sou, levei a sério. A saúde antes da rambóia, pensei eu, incauto fui!

Numa fase mais propícia aos instintos naturais do sexo começaram a surgir os pretendentes, alguns abnegados passavam dias e dias, chuva ou sol, tentando espreitá-la nas poucas saídas que fazia, sempre sob a presença do meu olhar atento, feroz e castrador. Tivemos várias discussões noite dentro noite fora, em que os seus chiares agudos e femininos me pareciam muito pouco respeitosos para um pai à procura de um sono recuperador.

As filhas também não percebem os pais, e o diálogo intergeracional muitas vezes não tem saída. Como se não bastasse os avós protegem a neta, dizem que já tem idade para saber de seu faro o que quer. Querem que eu a deixe tomar a pílula. O tanas é que deixo!

Certa noite saio de boa fé e a caminho do carro percebo que ela se esgueira pinhal fora com um preto. Uma fúria desmedida! Arranco no carro pronto a desancá-la em frente ao namorado e a arrastá-la para casa contra o chiar mais uivado que ela pudesse lançar. "Onde está a sociedade patriarcal dos bons costumes, que libertinagem vem a ser esta!? Só namora com quem eu quero e quando eu quiser, é demasiado nova para estas rebeldias, avarias de adolescente!" Vou o caminho todo a dizer impropérios, pronto para dar-lhe uma sova.

Quando a encontro, eis que estavam sem vergonha nem ar pecador no auge da sedução. Não queriam soltar-se, grudados. O preto nem tugia, nem mugia. Ela fez o olhar-suplicante-derrete-pais-babados. Agora está grávida! Põe-se a hipótese de aborto: ela não está em idade, nem nós temos condições de ter crianças nesta fase.

E o preto onde anda? Nunca mais o vi!

A Ginja cá continua com o período do cio a acabar, fechada em casa de castigo e desolada com saudades do namorado que a abandonou mal soube da gravidez.


Agora, já mais crescida (4/5 anos), ela está mais caseira, já não vem quando chamo porque não tenho voz certa e palavrosa mas lambe-me as mãos com carinho e quando pode até me lambe o focinho, continuo (mais) babado por ela e pêlo doce, pêlo fino. Os olhos dizem do dentro de si, o que não alcançam porque está longe e frio. Focinho envolve-se nos lenços finos e longos, suavemente um cheiro suave e dócil a maresia e fóssil do será. Talvez lhe falte autoridade paterna pois estou materno... volta sentindo ser seu aquele espaço sem o ocupar pois tem dúvidas e não as quer vivenciar já, agora!

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